O cometa Halley é um aviso de coisas ruins que estão por vir?

Curiosidades
há 7 meses

Algumas pessoas, como os ilhéus de Andaman — uma comunidade que vive no Golfo de Bengala — os veem como tochas acesas lançadas ao ar por espíritos da floresta. Outros, como alguns aborígenes australianos, pensam que são bastões flamejantes montados por xamãs. Se você perguntar a um astrônomo, porém, ele lhe dirá que um cometa é um grande objeto feito de poeira e gelo que orbita o Sol. Indiscutivelmente um dos objetos espaciais mais famosos desse tipo é o Halley, que deixou um grande impacto na nossa história e o entendimento dessas misteriosas “estrelas cadentes”. Quando passou pela Terra em agosto de 1835, por exemplo, foi responsabilizado pelo incêndio na cidade de Nova York que seguiu por várias noites. Ao mesmo tempo, os índios Seminole na Flórida viram a longa cauda dele e acreditaram que era o dia em que perderiam sua independência.

O Halley voltou em 1910, e muita gente mais uma vez o viu como um sinal de azar. Em Chicago, as pessoas fizeram de tudo para proteger suas janelas da perigosa cauda do corpo espacial. Outras compraram todo tipo de “dispositivos”, como guarda-chuvas ou máscaras de proteção contra cometas. Mas o que há de tão intrigante nesse objeto do espaço? Como é que ele aparece ao redor da Terra de vez em quando? E, o mais importante, ele é realmente perigoso?
O Halley é o que os astrônomos chamam de cometa “periódico”, pois nos visita a cada 75 anos ou mais. Em raras ocasiões, alguns sortudos conseguem vê-lo duas vezes na vida. Ele passou pela Terra pela última vez em 1986 e espera-se que volte em 2061. Apesar desse retorno programado, sua órbita não pode ser prevista com precisão. Isso se deve em parte aos processos químicos que acontecem dentro dos cometas. A órbita do Halley também pode mudar devido a interações aleatórias com outros planetas e objetos espaciais no nosso Sistema Solar.

Seu nome oficial é 1P barra Halley, e foi dado pelo astrônomo inglês Edmond Halley. Foi ele quem estudou os relatos de um cometa se aproximando da Terra em 1531, 1607 e 1682. Com base em seus cálculos, concluiu que essas três ocorrências foram, de fato, o mesmo objeto, que retornou várias vezes. Ele também previu seu retorno em 1758. A descoberta do Halley também apontou que alguns cometas, como este, orbitavam o Sol, mas sua jornada não era circular. Se você olhar em 2D, a órbita do Halley se parece com um fio elíptico pendurado na nossa estrela. Infelizmente, o astrônomo não viveu para ver o retorno corretamente previsto. Mas deixou seu nome no corpo espacial.

De acordo com a Agência Espacial Europeia, o primeiro avistamento do Halley foi em 30 de março de 239 antes de Cristo. Os astrônomos asiáticos registraram isso nas crônicas de Shih Chi e Wen Hsien Thung Khao. Mas outro estudo afirma que podemos tê-lo avistado pela primeira vez ainda mais cedo do que isso, durante os tempos dos gregos antigos. Escritos desse período relataram um enorme meteoro que caiu no norte da Grécia, deixando a população local perplexa. Isso logo se tornou uma das atrações turísticas mais populares do mundo antigo. Mas os autores também notaram um cometa no céu no momento em que o meteoro caiu. Eles descreveram ainda o fato de que o objeto espacial incomum permaneceu no céu por cerca de 75 dias. O próprio Shakespeare parece ter escrito sobre o Halley em sua peça “Júlio César”, por volta do ano de 1600. Neste trabalho, ele incluiu uma frase agora famosa falando de cometas como sinais incomuns, dizendo: “Os próprios céus resplandecem...”

Essa não foi a última vez que escritores famosos sentiram uma certa conexão com esse objeto. Mark Twain chegou a dizer em 1909: “Eu cheguei com o Cometa Halley em 1835. Ele virá novamente no próximo ano, e espero ir com ele.” Surpreendentemente, Twain morreu em 21 de abril de 1910, um dia depois que o Halley emergiu de trás do outro lado do Sol.
Demos uma olhada melhor no cometa quando ele passou por nós em 1986. Várias espaçonaves foram enviadas na direção dele para coletar amostras de sua composição. Essa frota de naves espaciais, apelidada de Halley Armada, voou nas proximidades, uma delas tirando várias fotos do núcleo do cometa pela primeira vez na história. Também tínhamos telescópios muito melhores para observá-lo enquanto passava por aqui. Com base nos estudos atuais, há pouca ou nenhuma chance de que o Halley possa realmente representar algum perigo para o nosso mundo. A maioria das coisas ruins associadas a ele era apenas invenção.

Melhor ainda, os cometas, em geral, podem ter possibilitado a vida na Terra! Especialistas acreditam que no início da história do nosso planeta, colisões com esses corpos espaciais trouxeram uma quantidade significativa de água para cá, o que ajudou a formar nossos oceanos. Os cometas também podem ter nos presenteado com material orgânico necessário para a formação da vida. No entanto, não os confunda com asteroides, que são pequenos corpos rochosos do espaço que também orbitam o Sol. Os cometas são compostos mais de amônia congelada, metano ou água. E contêm apenas pequenas quantidades de material rochoso. Por causa de sua composição, às vezes são apelidados de “bolas de neve sujas”. E são feitos de quatro partes: um núcleo, uma cabeleira, uma cauda de poeira e uma cauda de íons. O núcleo é a maior parte de sua massa total. Existem mais de 3.000 cometas que conhecemos, mas os astrônomos pensam que pode haver até um bilhão deles em nosso Sistema Solar.

Um brilhante o suficiente para ser visível da Terra sem a ajuda de um telescópio é chamado de grande cometa, que pode ser visto a cerca de cada dez anos. As pessoas viram outros por milênios. No entanto, os cientistas concluíram que, como eles liberam muito material cada vez que orbitam perto do Sol, sua vida útil pode ser de apenas milhares de anos. Se você comparar isso com a idade do Sistema Solar — que é de 4,6 bilhões de anos — é um número relativamente pequeno. Como esses corpos espaciais ainda estão presentes no Sistema Solar hoje, deve haver uma fonte deles em algum lugar lá fora. Caso contrário, todos teriam desaparecido há muito tempo.

Outro famoso é o chamado Hale Bopp, que chegou muito perto da Terra em janeiro de 1997. A última vez em que foi visto perto do nosso planeta antes disso foi durante a Era do Bronze, em 2000 antes de Cristo. Este cometa é muito maior e mais espetacular que o Halley. Seu núcleo se estende por até 40 km de diâmetro e pode ser visto daqui a olho nu.
O Borrelly foi o segundo a ser estudado de perto por uma nave espacial. A Deep Space 1 da NASA se aproximou em 2001 e deu aos cientistas um relatório detalhado do núcleo negro dele. Este cometa é surpreendentemente assimétrico, mas o motivo de sua forma incomum ainda está em debate. O Halley parece ter se formado na Nuvem de Oort, nas bordas externas do Sistema Solar. Mas dizem que o Borrelly vem de uma nuvem gelada de rochas para lá de Netuno, que é chamada de Cinturão de Kuiper.

O Hyakutake nos deu um grande show quando passou a apenas 15 milhões de quilômetros daqui, em março de 1996. Ele parecia um respingo azul-gelo com uma tênue cauda de gás. E também surpreendeu os astrônomos, pois produziu raios-x 100 vezes mais intensos do que os cientistas haviam previsto. Uma nave espacial chamada Ulysses passou pela cauda de Hyakutake em maio de 1996, relatando que tinha pelo menos 570 milhões de km de comprimento. Isso é o dobro do tamanho da cauda de qualquer outro cometa conhecido.

O Wild 2 foi examinado pela espaçonave Stardust da NASA em 2004. A sonda conseguiu voar a 235 km do núcleo dele, dando-nos algumas das melhores imagens de cometas até hoje. Foi também a primeira vez que obtivemos amostras de partículas de poeira de um desses objetos. A preciosa carga voltou à Terra em janeiro de 2006. Seu objetivo era verificar as condições sob as quais o Wild 2 — e o Sistema Solar, aliás — se formaram bilhões de anos atrás. Ele tem cerca de 5 km de diâmetro e é coberto de crateras e falésias.

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