Meu amigo encontrou um esconderijo secreto da esposa e decidiu averiguar

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há 3 anos

À noite, a esposa dizia: “Vou passear, volto já já”. Ele não ligava. Quando ela saía de casa, o marido, Carlos, se sentia livre até para jogar meias no teto se quisesse. Natália dava essas saídas duas a três vezes por semana. Carlos se surpreendia apenas quando estava muito frio, e Natália decidia “passear” mesmo assim.

— Vai pegar uma gripe, hein! — ele dizia.

— Calma, vou pegar um casaco. — sorria a esposa.

Uma vez, Carlos se ofereceu para acompanhá-la, mas ela disse: “Não, amor, gosto de ir sozinha”. “Nossa, tá bom”, — ele respondeu.

E tudo estava bem: enquanto Natália passeava, Carlos jogava meias no teto. Depois, porém, ocorreu algo estranho.

Em um domingo, Carlos levantou cedo, pois perdeu o sono. Notou, então, que a sola do chinelo dele havia descolado do solado, mas não se preocupou: lembrou-se que tinha um chinelo reserva. Abriu o armário da entrada, procurando a caixa de papelão em que guardava o calçado: “Ai, ai, onde está você, meu chinelinho?”

Pegou a caixa mais próxima. Nela, estavam os saltos de Natália e, bem ao lado, algumas notas de 100. A primeira reação dele foi de alegria: “Dinheiro!” Depois ficou encucado: “Mas de onde?!”

Natália era uma mulher organizada, mantinha sempre a casa em ordem e tudo no seu devido lugar. Ela não poderia simplesmente esquecer dinheiro dentro de uma caixa de sapatos. “Será que fui eu que esqueci?”, perguntou-se Carlos. Não, não fazia sentido. Se tivesse sido ele, esqueceria os trocados em qualquer lugar, menos junto dos calçados da esposa.

Os dois tinham o hábito de colocar dinheiro em espécie sempre no mesmo local, na gaveta da escrivaninha. Usavam-no sempre que precisassem. Além do mais, ao fim do mês, Carlos e Natália se sentavam à mesa para calcular todas as despesas de cada um, não escondendo nada um do outro. Por isso, foi uma baita surpresa!

Carlos entrou no quarto para acordar Natália e esclarecer o mistério, mas logo teve outra ideia: que forma melhor de saber o que acontecerá com o dinheiro, se não seguir para onde irão as notinhas?!

À noite, novamente, Natália disse: “Vou passear”. Assim que saiu, Carlos correu para a caixa, em busca do dinheiro, mas não o encontrou.

“Hum...”, disse Carlos para si mesmo.

Após alguns dias, o dinheiro retornou para a caixa de sapatos. E depois sumiu. E então surgiu mais uma vez.

Para ele, estava tudo claro: a caixa continha uma “conta secreta” da esposa. Mas o que ela fazia com o dinheiro? Gastava com o quê? E onde?

Carlos começou a perguntar aos amigos o que fazer, implorando por conselhos. Eu sugeri perguntar à Natália diretamente, mas ele preferiu a dica de outro amigo nosso: seguir a esposa à noite.

E, como de costume, Natália saiu para “dar uma caminhada”, mas, dessa vez, Carlos foi atrás. Primeiro, a esposa entrou em um mercado. Ele a via pelo reflexo do vidro — por qual ala passava, que produtos escolhia. Mesmo assim, não conseguiu determinar com exatidão o que ela comprava.

Natália saiu com uma sacola e seguiu na direção contrária de casa. Atrás, ia o marido, com cuidado para não ser visto. Ela chegou a um prédio velho e entrou. Ele quis entrar e abordá-la logo na escada, mas decidiu conduzir a investigação mais adiante para reunir todas as evidências possíveis.

O que Carlos estava pensando? Que a mulher o traía, é claro! E ainda achou um lugar conveniente, perto de casa. Mentia para o marido que iria passear e comprava lanches para desfrutar com seu novo Don Juan.

Ele tinha certeza que o relacionamento deles estava arruinado: a traição ocorria bem embaixo do seu nariz, e ele não notou. Mas Carlos estava decidido em ir até o fim — pegar a esposa em flagrante e desmascarar a grande armação, mas tudo no seu tempo.

“Ela vai ver só!”, gritou por telefone enquanto falava comigo e voltava para casa.

Meu amigo descobriu que a esposa ia até o último andar daquele prédio e em qual apartamento exatamente entrava. Em casa, ele fingiu estar tudo bem, como se nada tivesse mudado. Na noite seguinte, porém, Carlos disse a esposa que dormiria no quarto da filha deles, que já havia crescido e se mudado para o alojamento da faculdade, usando a desculpa de que Natália roncava demais. Aliás, meu amigo ama muito a filha, por isso não falou nada para ela sobre a traição da mãe e nem que os pais provavelmente iriam se separar.

Nesse dia, então, ele decidiu ir até o tal do apartamento e falar com o “destruidor de lares”. Carlos não tinha intenções de ter uma conversa civilizada, ele até planejava em como arrombaria a porta caso o homem não quisesse abri-la.

“Bom, verei na hora”, decidiu meu amigo.

Tocou a campainha. Ninguém abriu. “Está se escondendo, o pilantra!” — pensou Carlos. — “Deve estar com medo”.

Em seguida, começou a bater e gritar: “Abra a porta!”

Após uns três minutos, a porta se abriu lentamente. Carlos adentrou com fumaça saindo pelos ouvidos, e o punho tensionado. Ele não conseguiu se segurar.

Então, viu uma senhora. Com uma bengala. Com óculos espessos como o fundo de uma garrafa. E coberta em uma manta de tricô.

“Mas cadê ele...” — perguntou Carlos desconcertado.

“Ele, quem?” — respondeu a velhinha. — “E quem é você?”

Meu amigo olhou em volta e percebeu que não havia nenhum homem, que aquele apartamento era daquela senhora: o cheiro dos móveis antigos e do carpete confirmaram a sua suspeita.

Carlos, então, viu uma sacola de compras na mesa da cozinha. A mesma sacola que Natália segurava após sair do mercado.

“O que tem na sacola?” — perguntou Carlos, já se sentindo um grande tonto àquela altura.

... Sim, Natália visitava essa senhorinha — que já não podia andar até o mercado, que já não enxergava ou escutava bem. Ela comprava comida, preparava alguma coisa, lavava roupas e arrumava a casa. Essa velhinha não era parte da família. Natália fazia aquilo apenas para ajudar alguém que precisava de ajuda. Natália tinha algo que muitos de nós nos esquecemos com frequência: compaixão!

O casal, finalmente, conversou. Carlos admitiu o tamanho da besteira que havia feito: seguir a esposa e desconfiar que ela o traía. Uma pergunta, porém, ainda o intrigava: por que Natália não disse nada?

— Amor, é muito simples, — ela começou a se explicar. ­—, eu sei que você diria que não temos dinheiro nem para nós mesmos, que dirá para ajudar uma senhora qualquer.

— Hum... Sim... Eu realmente diria isso. Tudo bem, vamos amanhã juntos visitar essa velhinha, pois me parece que ela não tinha batatas, e você vai precisar de ajuda para carregá-las.

Incrível.club publica este texto com a permissão do autor do livro “Cartas Para Minha Filha”, blogueiro e escritor Alexey Belyakov.

Comentários

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EU GOSTO DE AJUDAR AS PESSOAS E JA FIZ ALGUNS TRABALHOS NO BAIRRO ONDE MORO, AJUDO A BATER LAJE E OUTRAS COISAS

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achei que ela podia contar no começo com o marido para ajudar, mas as vezes a gente nao conta pq o parceiro nem sempre entende

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Eu já distribui com um amigo comida para moradores de rua, mas a realidade é bem complicada e vai mais além de pessoas necessitadas que não tem onde morar, nem tudo é o que parece ser

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acho que quando um casal não conversa, dá esse tipo de ruido entre os dois, se ele fosse mais compreensivo e humano, talvez ela tivesse chamado ele a mais tempo

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