Fiquei ressentido com uma professora de educação física da 5a série, por ter me repreendido por um esbarrão involuntário numa menina que eu nem conhecia. Depois disso nunca mais quis olhar ou falar com ela. Nos anos seguintes, por sorte, era outro professor.
Internautas compartilharam relatos de suas mágoas e traumas de infância que os perseguem até os dias de hoje
“Os traumas da infância são como cicatrizes no corpo: você olha para a maioria delas e não consegue se lembrar como surgiram ou o que aconteceu. Mas algumas são tão profundas que parecem marcar toda a sua pele. Elas ainda doem, fazem os olhos lacrimejar” — comentou uma de nossas leitoras em um post sobre a perda da confiança quando criança. Há quem diga que as tristezas da infância devem ser esquecidas, mas fazer isso na prática é mais difícil do que parece. Principalmente quando você — pequeno e indefeso — foi acusado injustamente, punido, humilhado por professores e pelas pessoas que mais ama no mundo: seus pais.
Nós, do Incrível.club, desejamos que os relatos compartilhados pelos nossos leitores e internautas possam se tornar uma lição para pais e mães. Estamos certos de que eles podem inspirar muitos a repensar alguns pontos de sua relação com os filhos. Acompanhe!
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Minha amiga da cidade veio passar um tempo na casa dos avós, que fica na minha vila no interior. No final de semana, o pai dela também veio para cá, e aproveitando que a família estava reunida, decidiu convidar a todos para irem relaxar na sauna tradicional russa. Minha amiga então me convidou para que me juntasse a eles. Primeiro entrou na sauna o pai dela, e depois foi a nossa vez. Mas então, mais tarde, começaram a me acusar de ter roubado um relógio. Minha mãe acreditou que eu não tinha roubado nada. No entanto, espalharam para toda a vila que eu era uma ladra.
Alguns dias depois, encontraram o relógio no vestiário da sauna, onde o pai da minha amiga certamente o tinha tirado do punho. Mas ainda assim ninguém veio se desculpar comigo. © Клара Мукабаева / Facebook -
Uma situação ainda me abala desde a infância. Tinha por volta dos 6-8 anos. Estava caminhando pela vila com um grupo grande de amigos de diferentes idades. Um garoto, cerca de cinco anos mais velho do que eu, de repente puxou o meu laço de cabelo com muita força (meu cabelo era comprido e minha mãe fazia uma trança presa com um laço todas as manhãs). Isso não apenas doeu, mas também desfez o penteado. Fiquei com muita raiva, xinguei o menino e fui para casa. No fim, alguém reclamou para os meus pais que eu estava xingando e eles me puniram me deixando de castigo. Afinal, não se deve falar palavrões. Fiquei tão ressentida que chorei! E até hoje não consigo entender porque meus pais fizeram isso comigo. Ah, o garoto era terrível! © Анастасия Жукова / AdMe
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Na época da escola, por volta do 6º ou 7º ano do Ensino Fundamental, tive de trabalhar durante as férias de verão — trabalhava com uma enxada no campo para o colégio. Era uma forma de compensar as aulas perdidas, então eu e uma amiga tivemos de fazer isso depois de termos ficado um tempo doentes. Um dia, sumiu dinheiro de uma bolsa na sala dos professores. E acabaram nos culpando e nos enviando para a sala do diretor. Lá, todos os professores estavam presentes — nos humilharam e nos interrogaram. Muitos ainda se vangloriavam enquanto faziam isso. Começamos a chorar em pânico. Um tempo depois, nos deixaram ir para casa.
Ainda me lembro de como corri assustada para casa, caí nos joelhos da minha mãe e chorei. Estava em pânico. Depois, tudo se esclareceu: uma funcionária da limpeza havia roubado o dinheiro, uma quantia aproximada de 5 reais. Nunca ninguém nos pediu desculpa. © Наталья Карташова Летуновская / Facebook
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Meus pais me comparavam a outras garotas na infância o tempo todo. Hoje em dia, depois de terem se tornado avós, voltaram com as comparações, desta vez com o neto: bebê tal já consegue andar, criança tal já consegue recitar poemas aos 3 anos... Eu corto isso na hora. Cada pessoa tem suas individualidades, e não há necessidade de comparar todo mundo. © Микс-Свет Вав / Facebook
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É triste falar sobre isso, mas os meus pais até hoje ainda desempenham um péssimo papel como pais. Nunca escutei nenhuma palavra de apoio deles, e por qualquer erro que eu cometia era tão condenado que eu simplesmente parei de lhes contar qualquer coisa da minha vida ainda nos tempos de escola.
Eis algumas frases que ficarão marcadas na minha memória para toda a vida: “Para quê você quer cursar medicina? Mesmo que por algum milagre consiga passar no vestibular e se matricular na faculdade, simplesmente não será capaz de estudar. Isso não é do seu nível de forma alguma, lá só estudam deuses!”.
Minha mãe: “Na infância, não me contavam sobre o amor, então eu não tenho como falar sobre ele para você” ou “Se você fosse inteligente, nunca teria permitido que isso acontecesse”.
Uma vez, meu padrasto gritou furioso comigo por causa de alguma besteira: “Saia de casa!”. E minha mãe simplesmente não fez nada. Foi nessa noite que saí de casa para sempre. © Aleksei Rudich / AdMe
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Uma vez, sem nem tentar entender a situação, meu pai me deu um tapão na cabeça de que me lembro até hoje. Ele já passou dos 70 anos, é doente e não se lembra de ninguém. Mas, às vezes, aparentemente, o hábito é mais forte e ele consegue gritar com as pessoas e ficar todo agitado. Sim, ainda fico nervosa com isso, mesmo já não tendo mais medo dele há muito tempo.
Tremo ao lembrar da minha infância. Sempre tive medo de acabar ficando igual a ele quando me tornasse mãe. Mas Deus teve misericórdia de mim. © Ira Irina / Facebook -
Na época, tinha 10 anos, era 1989 na União Soviética. Na loja de departamento local, eu tinha escolhido um anel de metal prateado com uma pedra azul para a minha mãe. Ele custava cerca de 8 rublos e 50 centavos. Para efeitos de comparação, o salário da minha mãe era de 90 rublos. Todo o dinheiro que meus pais me davam para comprar sorvete ou ir ao cinema eu guardava, e assim economizei por muito tempo para poder comprar o anel. Então, um dia, o comprei, voltei para casa e a presenteei. Estava muito feliz, e pensei que ela também fosse ficar muito animada com o presente. Minha mãe pegou a bijuteria, analisou e me disse: “Não uso esse tipo de anel, apenas os feitos de ouro”. Essa frase me matou.
Depois consegui economizar 30 rublos e os escondi na carteira. Mas o dinheiro sumiu. Ninguém me devolveu ou assumiu ter pegado. Depois disso, minha mãe se tornou uma estranha para mim. E ainda fez muitas outras coisas cruéis comigo. © Ирина / AdMe -
Fui acusado de envenenar uma amiga aos 5 anos de idade. Tudo aconteceu no jardim da infância. Minha amiga Lena, com a qual tinha brincado de manhã, se sentiu mal depois da soneca da tarde e começou a ter diarreia e a vomitar... Mas havia uma testemunha (uma professora) que alegava ter me visto dando frutinhas do jardim à Lena. Simplesmente não consigo descrever o que senti na hora. Nada do que eu e a Lena falamos foi levado a sério.
Minha mãe trabalhava nesse jardim de infância e acabou levando uma prensa. Ela pareceu se sentir culpada. Mas, no início da noite, todo mundo da nossa turma começou a ter diarreia também. Todos ficaram desesperados, correram para chamar a ambulância e médicos epidemiologistas. Um verdadeiro escândalo! No fim, descobriram que a causa da intoxicação foram morangos trazidos pelo comitê dos pais no dia anterior em um balde galvanizado...
Alguém se desculpou comigo? Não. Mas por causa disso eu odeio tirar conclusões precipitadas e fazer acusações. Lição de vida. © Наталья Нестерова / Facebook
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Ainda me lembro de como me acusaram de ter roubado uma boneca de uma amiga no jardim da infância, e eu não tinha pegado nada. Foi um escândalo! E mais tarde alguém ainda colocou essa boneca dentro do capuz do meu casaco. Eu, claro, perdi a amiga. A encontrei tempos depois, aos 15 anos, na escola. Nós rimos dessa história, mas ainda guardo ressentimento... © Yulia Pobyvaylo / Facebook
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Estávamos sendo ameaçados de castigos terríveis pelos professores no jardim de infância. Contei isso aos meus pais, e eles não acreditaram. Mais tarde, quando já era muito mais velho, contei-lhes como tinha sido punido no jardim da infância tendo de ficar na cama segurando um travesseiro com os braços estendidos, e como, aos 4 anos de idade, tive de lamber geleia diretamente da mesa depois de tê-la derramado sem querer. Meus pais ficaram chocados e perguntaram o porquê de eu não ter lhes contado isso na época. Eu então disse que tinha falado e que eles simplesmente não deram atenção ao que a criança boba estava dizendo. © goodvin / Pikabu
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Tínhamos um aquário em casa, e um dia um peixinho dourado desapareceu do nada. Toda a minha família me interrogou furiosamente se eu tinha feito algo com o peixe. Mesmo tendo dito diversas vezes que não era minha culpa, ninguém me escutava. “Admita que foi você que o tirou do aquário! Não vai acontecer nada”. Quase chorei com toda a pressão e falta de confiança. Poucos dias depois encontraram o peixe morto dentro de uma concha no aquário. © BlackCrazy / Pikabu
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Minha mãe amava minha sobrinha mais do que a mim. Ela sempre recebia mais doces (“ela é gordinha”), mais frutas (“ela mora na cidade”), mais dinheiro (“eles estão passando por dificuldades”). No geral: “Ela é inteligente, linda, já você...” © Наталья Ольховская / Facebook
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Lembro-me de quando, na escola, uma menina que me odiava perdeu 5 rublos. Ela me viu com essa mesma quantia de dinheiro e decidiu que eu tinha roubado dela. Em casa, minha mãe não acreditou que eu não tinha roubado, apesar de ela mesma ter me dado aquele dinheiro para lanchar no colégio! Solucei, argumentei... Desde então nunca esqueci esse incidente e a sensação de que até a pessoa mais próxima, aquela que deveria sempre estar do meu lado e me proteger, não acredita em mim... © Valerie Kotena / Facebook
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Desde a infância, eu e minha mãe sempre tivemos uma relação complicada. Não consigo perdoá-la nem mesmo pelo fato de ela sempre ter cortado meu cabelo como o de um menino, embora eu quisesse muito usar tranças e laços no cabelo, como todas as outras meninas da minha idade na época. Ela me batia e me punia por qualquer coisa. Se eu me machucasse ou ficasse com medo, minha mãe não se importava, não me confortava... Apenas gritava que eu era medíocre, burra e que era sempre a culpada de tudo.
Ela estragou meu sonho de estudar artes, e novamente apenas porque, segundo sua opinião, eu era burra e meu lugar era com a vassoura limpando a casa. Mesmo eu sempre tendo desenhado muito bem, desde muito pequena. Hoje desenho retratos a lápis e gosto do resultado. Mas isso só depois de uma grande pausa, pois como em casa me ensinavam que eu era medíocre, passei a não acreditar em mim também.
Fiquei 20 anos parada. Apenas hoje, depois dos 40 anos, voltei a desenhar. Meu marido me convenceu a não jogar o meu talento fora por causa do meu ressentimento da infância.
Quando eu tinha 22 anos, minha mãe reconheceu que nunca tinha me amado. Ela amou apenas o meu irmão mais novo. E o amou tanto que hoje, aos 33 anos, ele nunca teve de trabalhar, se tornou dependente químico e já foi condenado na justiça duas vezes...
Tenho minha família. Meu marido e meus dois filhos. O mais velho, de 19 anos, quer trabalhar com música. Eu o apoio: se ele gosta, que continue a tocar violão. Nunca irei proibi-lo, e muito menos lhe dizer as coisas terríveis que minha mãe costumava me falar.
Meu filho mais novo tem 3 anos. Eu amo os dois igualmente. Nunca irei diferenciá-los. Não falo com a minha mãe já há 3 anos e nunca mais irei. Tentei agradá-la por toda a minha vida, mas recentemente cheguei à conclusão de que um filho não deve sacrificar sua vida apenas para ganhar o agrado de seus pais. Isso simplesmente não é normal. Uma criança deve ser amada! © Валерия Голубицкая / AdMe
Você já passou por algum momento difícil que marcou a sua infância e a sua vida? Compartilhe seus relatos com a gente na seção de comentários.