Eis o motivo de os dois lados da Lua parecerem mundos diferentes

Curiosidades
há 8 meses

Você já viu o outro lado da Lua? Ah, te peguei. Claro que não. Mas talvez você já tenha visto em fotos! Nesse caso, você já se perguntou por que os dois lados são tão diferentes? Bem, vou te contar. Não conseguimos ver o outro lado da Lua. Muitas pessoas acreditam que isso ocorre porque a Lua não gira em torno do seu eixo... Mas isso não é verdade! A Lua gira. Só que ela apenas faz isso na mesma proporção que seu movimento orbital. Esse é um caso particular de travamento de maré chamado “rotação síncrona”. A primeira vez que vimos o lado distante foi só em 1959, graças às missões soviéticas Luna e, mais tarde, ao programa Apollo dos EUA.

Mais tarde, quando a Luna 3 e outras naves espaciais transmitiram as primeiras imagens do lado distante, elas revelaram um hemisfério muito mais cheio de crateras e que se parecia mais com Mercúrio ou a Lua Calisto de Júpiter. Ele era completamente diferente do que estávamos acostumados. E foi aí que aprendemos o quão “uau” o outro lado realmente é. ...Não, sério, olha só isso. O lado mais próximo pode ostentar sua crosta mais fina e lisa. Essas belas manchas escuras são chamadas de “mares lunares”, que são
remanescentes de antigos fluxos de lava. E, quando digo “antigos”, é isso mesmo: eles têm mais de 3 bilhões de anos!

Enquanto isso, a crosta do outro lado é mais espessa e cheia de crateras. Os fluxos de lava quase não tiveram efeito sobre essas crateras de impactos. Ela também é desprovida de quaisquer mares de grande porte. Meio que parece um queijo branco seco. Para ser sincero, você não concorda que o lado mais próximo é muito mais bonito? Deixe sua opinião nos comentários! Então, há apenas 50 anos, aprendemos sobre as diferenças aparentes... Mas os cientistas descobriram algo estranho. Ambos os lados são diferentes, mesmo na composição geoquímica. E não é só nisso! Nosso lado era vários quilômetros mais estreito que o outro. Mas de onde vieram essas diferenças significativas em uma bola de pedra flutuante comum?

Para os cientistas, era um mistério. E começaram a surgir muitas teorias. “A teoria da Lua derretida” foi a principal por um tempo. Ela dizia que a Lua era assim por culpa da Terra. Isso aconteceu há vários bilhões de anos. A Lua “nasceu” devido à uma colisão. Um dia, um objeto do tamanho de Marte colidiu com a Terra. Naquele momento, um pedaço dele se partiu, e mais tarde se tornou a Lua. No entanto, esse pedaço estava em algum lugar 15 vezes mais perto da Terra do que está agora. Alguns artistas criaram imagens da chamada “lua primitiva”. Ao contrário da nossa linda bola branca, a Lua primitiva era uma fervente bola escarlate de aparência estranha.

Esse “pedaço” não nos deixou depois da separação. Ele ficou sob um travamento de maré logo após. A Terra depois da colisão ainda era um inferno incandescente, cheia de fogo e lava. Ela fervia a uma temperatura de 2.480 graus Celsius. E, como a Lua sempre esteve voltada para nós com uma face, esse lado “derreteu” um pouco. Isso explicaria o porquê de a superfície da Lua — o chamado “manto” — ser mais fina no lado próximo do que no lado distante. Durante a ebulição da Terra, certos elementos evaporaram dela. Eles então foram parar na Lua. Isso explicaria a diferença na composição geoquímica entre os dois lados. Mas havia uma inconsistência nessa teoria. Se foi isso que aconteceu, de onde vieram os elementos químicos estranhos e raros, como isótopos incomuns de fósforo, potássio ou tungstênio? O lado mais próximo está cheio deles! E não teria como serem oriundos da Terra.

Havia também outras teorias. Uma delas diz que inicialmente tínhamos duas luas pequeninas. Mais tarde, elas se fundiram em uma grande — daí a diferença em sua composição. Mas... Essa teoria parece um pouco maluca e também tem inconsistências. Por exemplo, a transição entre os dois lados é muito suave. Se a nossa Lua fosse na verdade duas luas minúsculas, essa transição seria mais abrupta. Então, os cientistas estavam meio perdidos sobre isso. Mas recentemente eles finalmente descobriram o que realmente aconteceu com a Lua. Tudo graças aos orbitadores GRAIL da NASA. Eles passaram mais de um ano ao redor da Lua, mapeando-a e estudando sua composição.

Usando esses dados, os cientistas criaram cerca de 360 ​​simulações de computador! Elas continham diferentes objetos impactantes de vários tamanhos, viajando em velocidades diferentes. Os cientistas estavam comparando os resultados com a nossa Lua atual, e tentaram determinar qual resultado era o mais próximo do que temos hoje. E assim, finalmente resolveram esse mistério de 50 anos. A resposta está em uma colisão com um planeta anão. Essa colisão ocorreu há 4,3 bilhões de anos. Esse enorme objeto era ligeiramente maior que Ceres. Para quem não sabe, Ceres é um dos planetas anões do nosso sistema solar. Seu diâmetro é de 933 quilômetros. Daria para dizer que caberiam nele 1 França ou 1 Alemanha.

Então, esse objeto gigante colidiu com a Lua, em algum lugar perto do polo sul. Essa colisão foi tão forte, que mudou a imagem da Lua para sempre. Ele deixou um rastro de 5.630 quilômetros para trás. Você levaria cerca de 14 horas de avião para voar essa distância! Essa cratera cobriu todo o lado da Lua mais próximo de nós. Isso causou danos ao manto dela. Também criou a chamada Bacia do Polo Sul-Aitken, ou Bacia do SPA. Essa é uma cratera de impacto e tem um diâmetro de 2.570 quilômetros. Algo como o equivalente a 1 Reino Unido mais 1 Alemanha. Ela é pequena, mas é importante! A formação dessa bacia foi um evento decisivo na história da Lua. Ela é a segunda maior cratera de impacto do sistema solar!

A colisão também fez com que uma forte onda de calor se espalhasse pela Lua. Essa onda se espalhou sobre os restos desses minerais raros e quentes que os cientistas encontraram no lado próximo. Foi assim que nosso belo lado se tornou o lar de algo chamado “terreno lunar Procellarum KREEP”, ou, com a abreviação do inglês, PKT. É basicamente uma anomalia de composição: uma concentração de potássio, fósforo e outros elementos raros, como tório. Você pode dizer que esses minerais são um presente para nós das profundezas do espaço. De qualquer forma, houve muitas — e quero dizer MUITAS — colisões na história da Lua. Todas elas apenas aprofundaram mais essa já enorme cratera. É por isso que o manto do lado mais próximo foi ficando cada vez mais fino com os anos.

Além disso, nossos “minerais preciosos” emitiam muito calor. Então o manto derreteu um pouco mais... e mais... e ops, isso acidentalmente fez com que os vulcões da Lua despertassem. A atividade vulcânica aumentou no lado próximo. Intensos fluxos de lava encheram as antigas crateras vazias. Tchã-rã! E nasceu o belo mar lunar. Foi assim que tudo aconteceu. Todas essas informações foram encontradas graças aos pesquisadores das universidades de Brown, Purdue, Stanford e do laboratório JPL da Nasa. A pesquisa foi publicada no Journal of Geophysical Research: Planets, então você pode ler sobre isso com mais detalhes se estiver interessado. Ainda há muitas coisas que precisamos aprender sobre a Lua. A maior prioridade é a missão de retorno para a Bacia do Polo Sul-Aitken. Amostras trazidas de lá serão usadas para determinar com mais precisão a idade da Lua, sua história e a natureza da crosta e do manto.

Outro alvo crítico é o Mar de Moscou. Esse é o nome de uma grande planície de lava no outro lado da Lua. Estudá-lo nos ajudará a entender melhor a diferença entre os dois lados, além de nos dizer como o outro lado foi formado. Todo esse conhecimento é significativo para a compreensão da história da Lua. Mas também é útil para a exploração espacial em geral. Os cientistas usam a Lua como ponto de referência para determinar a idade de outros planetas e mundos inteiros no espaço. A Lua nos ajuda a determinar a cronologia da vida de todo o Sistema Solar. Vamos torcer por novas pesquisas e descobertas emocionantes.

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