E se todas as rochas da Terra desaparecessem amanhã
Você está no interior há vários dias, descansando em sua casa de madeira. De manhã, acorda com a sensação de estar flutuando em algum lugar. Ao olhar pela janela, vê que tudo está se movendo. Então corre para fora, mas depois de um único passo seu pé afunda no chão.
Não choveu, o solo não está molhado, mas parece que você pisou em uma cama macia. Aí vê a sua casa e a do seu vizinho serem de alguma forma levadas embora. Os moradores do vilarejo não entendem o que está acontecendo. Você encontra um de seus amigos e ele diz que a casa dele desapareceu completamente como se tivesse sido roubada por alguém. Você se lembra da cara residência de tijolos de barro dele e não consegue imaginar ninguém a levando embora.
Em seguida, percebe que todas as casas que estão flutuando são de madeira. As outras, feitas de tijolos, também desapareceram. Bem no centro da vila, algo como um deslizamento de terra se formou, levando tudo ao redor. Você tenta correr, mas o chão parece nadar sob seus pés. Não tem cara de ser um terremoto. É como se fosse uma enorme jangada no meio do mar. No início, é difícil manter o equilíbrio e você cai algumas vezes. Vários deslizamentos de terra estão se formando ao redor.
Você vê carros à frente, corre até eles para pedir ajuda e descobre que a estrada sumiu. Aí vai até um veículo em que uma jovem está ouvindo rádio. Todos as emissoras transmitem a mesma mensagem: “Por algum motivo, as pedras desapareceram em todo o mundo.”
Agora imagine que você é um alpinista profissional que está escalando uma montanha íngreme há várias horas. Finalmente, alcançou o topo. Levanta as mãos e grita de alegria. Um segundo depois, o grito de alegria se transforma em horror. A montanha se dissipa bem abaixo de seus pés. Você não acredita no que seus olhos veem, mas está caindo. Felizmente, direto na água.
Então sai lá do fundo e vê uma praia bem onde a montanha estava havia poucos instantes. Você nada até a costa, mas ela parece ter sido levada embora. A areia não desapareceu pois é feita de pedacinhos de quartzo, e não de pedra. Não só as rochas na superfície sumiram, como também as placas tectônicas, o que fez toda a paisagem mudar.
O Everest virou nada mais que um morro baixo de neve e gelo. As rochas estão desaparecendo em todo o mundo, causando calamidades globais. Não há mais colinas no planeta. Se você quiser ver o mundo do alto, vá até a Antártica e escale uma enorme geleira lá.
Todas as casas feitas de concreto, tijolo ou argila estão se dissipando, pois esses materiais são feitos com pedra brita. Em todo o mundo, a humanidade perdeu seus monumentos. Exposições de arte moderna e museus históricos estão perdendo suas exibições com pedras e argila. Os ricos apaixonados por arte compraram esculturas de pedra em leilões por milhões de dólares ontem, e esta manhã acordaram sem nada, nem mesmo com um teto sobre suas cabeças.
As joias feitas com pedras preciosas também se foram. Permaneceram apenas os metais. Antes do incidente, as principais reservas de metais ficavam escondidas nas rochas, e agora estão no solo ou nas profundezas. Você pode caminhar pela rua e encontrar peças de ouro, prata e outros objetos de valor espalhados. Mas as pessoas não ligam para riquezas agora. Elas fogem de suas casas, deixando o que resta das cidades. Todas as vias e todos os arranha-céus estão arruinados. Acessórios de metal e vidro caem no chão. Enormes vórtices de lama se formam em todo o mundo e puxam tudo para dentro como buracos negros.
A madeira se torna o recurso mais valioso. As pessoas cortam árvores freneticamente e constroem casas de madeira. Cientistas de todo o mundo estão pasmos: eles não conseguem trabalhar nessas novas condições. Laboratórios e centros de pesquisa são destruídos e muito material científico está enterrado sob os escombros. Alguém levanta a hipótese de que a composição molecular das rochas mudou repentinamente e elas se desfizeram.
Vários meses se passaram. As pessoas estão se acostumando com o novo estilo de vida. Não há fábricas de processamento de metal, então todos aprendem a lidar sozinhos com ferro, alumínio e outros metais. Os detectores de metal encontram facilmente esses materiais no subsolo. Às vezes, é preciso cavar muito para consegui-los. As regras de construção mudaram. Ninguém mais constrói fundações de concreto. Todos buscam facilidade e praticidade. As pessoas vivem em pequenas casas de madeira e as isolam com vidro, algodão e lã.
Durante todo esse tempo, você desenvolveu uma incrível sensação de equilíbrio interior. É difícil derrubá-lo, pois os terremotos frequentes lhe dão muita prática. Além disso, você sente os menores movimentos de solo. Sempre viaja com pouca bagagem e consegue reconhecer com antecedência um deslizamento de terra que se aproxima. Para se preparar para o inverno que se aproxima, faz uma caminhada para conseguir metais, árvores e areia para isolamento. Logo percebe que não vai precisar deles, pois sente o calor vindo diretamente do subsolo.
O calor do núcleo do planeta agora atinge a superfície, pois uma espessa camada de rochas desapareceu. Mais cedo ou mais tarde, o solo ficará tão quente que será difícil andar sobre ele com os pés descalços. A neve cai, mas derrete antes de atingir o solo. O ar esquenta tanto no inverno que as pessoas andam com roupas leves.
Em algumas centenas de anos, nosso planeta perderá enormes reservas de água. O líquido irá evaporar, condensar em nuvens enormes, chover e então evaporar novamente. Haverá cada vez menos água. O aquecimento dos oceanos causará a extinção do fitoplâncton e das algas, que fornecem à Terra a maior parte do oxigênio. Em seguida, as árvores vão secar por causa da falta de umidade...
Ou então os oceanos resfriarão o núcleo e assim perderemos o campo magnético da Terra. Nesse caso, o funcionamento da atmosfera será interrompido e não conseguiremos nos proteger da radiação cósmica. Em qualquer caso, a humanidade vai ter que se preparar para mudar de casa.
Sem pedras, é difícil extrair metais e construir naves espaciais, mas também temos algumas vantagens. Graças ao acesso aberto ao calor da Terra, a humanidade tem fornecimento ilimitado de energia. Com os metais disponíveis, as pessoas constroem máquinas simples que podem encontrar e minerar ainda mais. Então, aparecem mecanismos mais complexos. A escala de trabalho está se expandindo, e tudo isso graças à energia interna da Terra.
O trabalho na criação de uma nova civilização de madeira e metal está em pleno andamento, sete dias por semana. Muitos lagos e rios em todo o mundo secaram completamente. A falta de água é compensada com o derretimento das geleiras, mas não por muito tempo. O clima está ficando mais quente a cada mês e o solo ficando mais instável.
Vários sistemas de segurança residenciais para evitar deslizamentos de terra se tornaram muito populares. Se um deles começar embaixo da casa, um dispositivo especial concentra todo o calor interno em um único ponto e cria um fluxo de ar quente. Em seguida, o telhado se abre e uma enorme bola de lona é lançada, que é então preenchida com o calor coletado. Em poucos segundos, ela sobe e levanta toda a casa com seus habitantes.
Às vezes, quando muitos deslizamentos de terra ocorrem, é possível observar milhares de casas voadoras enchendo o céu. Cada moradia possui um volante que pode controlar o voo e escolher a direção. Quando a residência chega a uma área segura, ela pousa lentamente, o fluxo de ar quente é interrompido e o balão se dobra para dentro do telhado.
Está ficando muito quente na Terra. Está difícil para as pessoas viverem aqui. Felizmente, isso acabará em breve. Elas criaram uma tecnologia que pode levá-las em uma jornada pelo espaço. Não, não é uma arca enorme. Não teria como todas se reunirem em um só lugar para construí-la, pois a paisagem do planeta está sempre mudando. Em vez disso, centenas de milhões de casas estão voando para o espaço.
Elas são equipadas com super propulsores, oxigênio, suprimento de alimentos e painéis solares. Todas as construções estão conectadas em uma única rede e as pessoas mantêm a comunicação. Se algo quebrar em uma casa ou ficar sem combustível, as demais virão para ajudar.
As pessoas deixam a órbita da Terra e observam o planeta derreter lentamente. Ele parece um ovo que cozinhou por muito tempo. Rios de magma jorram do solo, raios de luz saem das nuvens negras. Nosso mundo ficou tão quente quanto na época em que surgiu. Felizmente, não é preciso voar para tão longe. Os humanos vão colonizar Marte.