Dublê profissional revela os segredos e truques da profissão (e vamos te contar tudo)
A maioria das pessoas fica impressionada com as cenas perigosas dos filmes de ação ou das novelas. Poucos, no entanto, conhecem, de fato, como as coisas funcionam nos bastidores e quem são as pessoas que se dedicam à preparação e execução dessa parte tão importante do ramo do entretenimento. Algumas perguntas, inclusive, ficam no ar: será que se machucam? O que leva alguém a escolher o trabalho de dublê?
O Incrível.club ama trazer coisas interessantes para você. Por isso, entrevistamos um dos maiores nomes no ramo, que vai contar tudo sobre a aventura de ser dublê e revelar algumas curiosidades. Fique conosco e saiba mais sobre essa profissão arriscada e muito interessante.
O que é um dublê?
A palavra dublê, quer dizer corpo duplo em inglês (double body), ou seja, a pessoa que trabalha substituindo outra em algum momento. No ramo existe o dublê de corpo, que é o que está disponível para fazer, por exemplo, cenas de nudez ou de gêmeos, e o de ação que faz o trabalho arriscado como tombos, atropelamento, capotamentos, etc. Um dublê pode ser especializado em um ou nos dois ramos.
Nem de longe a palavra dá a verdadeira dimensão da importância desses profissionais, que arriscam suas vidas para nos proporcionar cenas eletrizantes de todo tipo. Para se tornar um profissional do ramo, é preciso bastante treinamento e vários cursos. Isso garante que tudo acontecerá com muita segurança para os profissionais envolvidos e que a cena sairá perfeita.
Quem é o nosso entrevistado?
Walter Bezerra é dublê profissional e coordenador de dublês em cenas de ação desde a década de 90, e tem muitos cursos no currículo, entre eles os de artes marciais e de tiro. Ele possui uma carreira sólida de quase 30 anos, em filmes, novelas, seriados e comerciais dos mais variados. A seguir, um pequeno resumo do seu trabalho:
- Novelas: Avenida Brasil, A Força do Querer, A Viagem, Sonho Meu, Tocaia Grande, Tropicaliente, Irmãos Coragem, O Rei do Gado, Malhação, Salve Jorge, O velho Chico e outras.
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Séries de TV: Vida ao Vivo, Você Decide, Comédia da Vida Privada, Terça Nobre, Brava Gente, A Grande Família, Sítio do Pica-Pau Amarelo, A Diarista, Carga Pesada, Geral.com, Os Caras de Pau, Por Toda Minha Vida, As Cariocas, Cidade dos Homens e outras.
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Minisséries: Ilda Furacão, Decadência, Chiquinha Gonzaga, Fim do Mundo, Memorial de Maria Moura, Incidente em Antares, Presença de Anita, Guerra e Paz, Engraçadinha, Dalva, O Brado Retumbante, O Canto da Sereia, etc.
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Especiais de TV: Xuxa, Especial de Natal, O Auto da Compadecida, A Desinibida do Grajaú, As Noviças Rebeldes, Noivas de Copacabana, O Palhaço Assassino, Garotas de Programa, Angélica, Linha Direta (Justiça e Mistério), Juro que Vi, Fim de Ano Globo 2015, Juntos a Magia Acontece, Fora de Hora.
Por que decidiu ser dublê?
Walter contou, em entrevista, que na infância assistia ao seriado “Duro na queda” e o personagem principal foi a inspiração para que ele estudasse para viver dessa profissão. Para quem não conhece, a série, que fez muito sucesso na década de 80, era protagonizada pelo ator Lee Majors, que interpretava um dublê de cinema que era caçador de recompensas nas horas vagas.
Trabalhos com pessoas famosas
Em mais de 30 anos de profissão, Walter já foi ator, dublê e coordenador de cenas de ação em mais de uma centena de novelas, seriados e minisséries. No programa Linha Direta, da Rede Globo, ele participou direta ou indiretamente em mais de 500 episódios. Dois desses episódios foram indicados ao Prêmio Emmy (“Chacina da Candelária” e “Césio 137”).
Também atuou em mais de 40 longas nacionais e internacionais, inclusive a filmes como O que é isso, companheiro? e Velozes e Furiosos 5. Além de vários comerciais e programas de TV, Walter dublou inúmeros atores brasileiros e estrangeiros em cenas difíceis e perigosas: Tony Ramos, Isis Valverde, Fernando Chien (Velozes e Furiosos 5), Michel Bercovitch, Deborah Secco, Cláudia Raia e outros.
O que é preciso para ser um dublê?
Walter conta que era apaixonado pela profissão desde criança e, quando completou 18 anos, tirou a habilitação e começou a fazer manobras com carros somente por diversão. Foi aí que um amigo que já trabalhava como dublê o convidou para fazer um teste. Foi paixão à primeira vista, conta nosso entrevistado.
Com o passar do tempo, sentiu a necessidade de se especializar em esportes e atividades que complementassem suas atuações, tornando-o um profissional mais versátil. Para isso, passou a ter aulas de alpinismo, tiro, quedas de alturas em colchões de ar, lutas coreografadas e artes marciais diversas (judô, taekwondo, karatê, jiu-jitsu, etc.).
Trabalhos marcantes, desafiadores ou inesquecíveis
Walter nos contou que o seu trabalho mais marcante foi o período em que coordenou toda a parte de ação do programa Linha Direta, por sete anos. Ele conta que foi uma época de muito aprendizado e de bastante trabalho duro. Afinal, foram muitas cenas de ação e de perigo. A série, que fez muito sucesso na década de 2000, foi inspirada em programas norte-americanos como Unsolved Mysteries e contava histórias sobre crimes reais e de ficção.
Mitos e verdades sobre a profissão de dublê
“É comum as pessoas rotularem quem trabalha nessa área como louco. A maioria acha que vamos com a cara e a coragem, sem nenhum treinamento ou equipamento de segurança. Isso não é nem de longe uma verdade. Somos muito conscientes dos riscos e precauções em cada cena; um dublê doido que se machuca não trabalha no dia seguinte”, afirma.
- É preciso ser igual ao ator para ser um dublê? Não necessariamente. Além de contarmos com maquiagem e acessórios como peruca, a computação gráfica pode ajudar a deixar os dublês ainda mais parecidos com os atores originais.
- Eles se machucam em cenas de quedas ou atropelamentos, por exemplo? Há um trabalho de preparação para que tudo aconteça com toda a segurança possível para os envolvidos. Às vezes acontece, porém é raro.
- Qual é a atitude mais perigosa na profissão? Um dublê experiente dificilmente encontra problemas, mas é preciso tomar cuidado e evitar a autoconfiança.
- Onde me especializar caso eu me interesse pela profissão? Existem, no Brasil, vários cursos que preparam de forma séria novos dublês. O interessado deve ter 18 anos ou mais e o curso varia de dois meses a um ano, mais os treinamentos extras.
- Qual o salário médio de um dublê? Um iniciante costuma começar com pequenos trabalhos, mas, em média, o salário inicial mensal pode chegar a 3 mil reais. Os mais experientes podem ter um salário fixo, depende muito da empresa.
- Quantas horas de trabalho por dia ou semana? Não há como calcular horas fixas por semana, já que depende da necessidade da empresa. Uma filmagem pode durar duas horas ou até um dia inteiro. Em média, um profissional iniciante trabalha cerca de cinco dias por mês e um experiente, uns 20 dias no mesmo período.
- Como é o currículo de um dublê? Um pouco diferente dos currículos normais. Além de dados pessoais, deve ter sempre atualizados dados como peso, tamanho do sapato, créditos de trabalhos em filmes e programas de TV e lista de habilidades (artes marciais, mergulho, escalada, explosões, etc.).
- Como se consolidar no ramo? É importante, como em todo trabalho, ser pontual, paciente e fazer seu trabalho com muito cuidado, para que os empregadores chamem você novamente.
- “Dublê não tem medo...” Sim, tem muito... mas tudo que acontece em cena é altamente planejado e treinado. É o que garante que o profissional e todas as outras pessoas envolvidas não corram nenhum risco.
- Com o avanço da computação gráfica, a profissão pode ser extinta? Muito pelo contrário! Para que os movimentos nas animações possam ser captados, os dublês usam roupas com marcações que possibilitam o registro dos movimentos de forma mais realista.
- Outros conselhos: Esteja sempre com um bom preparo físico. Isso ajuda a conseguir mais trabalhos e a não se machucar. Esteja ciente de que nem sempre vai trabalhar perto de casa; hoje, você pode gravar em seu bairro e, um dia depois, gravar no Caribe, por exemplo.
Achou interessante a profissão? Conhecia todos esses detalhes? Conte, nos comentários, o que mais gostaria de saber sobre a vida de um dublê.