“Cresci com um bailarino dentro de mim, que só agora deixei sair”, uma história que nos inspira a seguir os sonhos de infância

Gente
há 1 ano

A maioria das crianças tem um sonho para quando for adulta. Alguns são realizados, outros são substituídos, mas muitas delas crescem com aquele sonho enraizado, sem poder concretizá-lo. Foi o que aconteceu com Pablo, fascinado desde criança pela dança, mas que cresceu pensando que não poderia fazer isso por ser homem. Por mais de 30 anos, esse sonho cresceu dentro dele, até que não pôde mais ser abafado. Essa é a história de como esse sonho de criança floresceu e transformou a sua vida.

Por um acaso do destino, Pablo nasceu e cresceu muito próximo a um centro cultural da sua cidade, no interior de São Paulo

A casa em que Pablo nasceu, em 1990, ficava bem na frente de um Conservatório Municipal de Salto, onde havia aulas de música e dança. Por isso, ele cresceu vendo menininhas entrando e saindo para as suas aulas de ballet, com sapatilhas nas mãos e usando tutus, o que despertou a sua curiosidade logo cedo. “Isso é muito presente na minha memória. Não lembro se cheguei a entrar para ver uma aula, mas certamente vi apresentações nas festinhas da pré-escola”, ele recorda.

Pablo vem de uma família muito tradicional e rígida em vários aspectos, então nunca manifestou a vontade de fazer parte daquele mundo. Ele se conformou que aquilo não era para ele, por ser menino. E, mesmo que fosse menina, sua família preferiria outros caminhos para o seu futuro. Por isso, ele foi abafando a vontade, mas sem esconder a sua admiração. Suas brincadeiras com os dois irmãos mais novos frequentemente envolviam apresentações de dança, sempre por sugestão do Pablo.

Pablo colocou pedacinhos da dança na sua vida através de brincadeiras, amizades e frequentando apresentações

Na adolescência, Pablo conheceu um amigo que se tornaria não apenas o seu primeiro crush, como também o alvo da sua admiração: ele dançava ballet contemporâneo desde muito novo. Logo, ele tomou mais gosto por esse tipo de dança e começou a ser convidado para as apresentações. Ele ia e ficava até o fim, para cumprimentar e conversar com o grupo no camarim. “Eu queria fazer parte daquilo, nem que fosse pelos bastidores. Estar no meio deles era tudo pra mim, e me encantava.”

Eventualmente, Pablo chegou à idade adulta e se formou em Design de Interiores, sem nunca ter se aberto sobre o seu sonho. O amigo bailarino acabou se mudando para outra cidade, mas Pablo continuou frequentando as apresentações sempre que podia. Sua mãe notou que isso podia ser mais do que interesse em assistir e reclamava sempre que ele ia às apresentações. “Eu cheguei a comentar com ela que, se eu pudesse, estaria dançando, mas se só podia assistir, era isso o que eu faria.”

Sem a dança, Pablo encontrou outro meio de manifestar as suas inclinações artísticas e culturais

Poucas pessoas sabiam sobre o sonho do Pablo e uma delas era o Kawã, seu primo, confidente e melhor amigo. Kawã tocava oboé no Conservatório Municipal e aconselhou o primo a entrar para a orquestra, já que o Pablo tocava flauta na igreja. “Eu gostei da ideia e pensei que talvez fosse uma forma de me expressar artisticamente, além de ser mais aceitável para a minha família.” Funcionou, mas não durou muito, porém a orquestra acabou proporcionando um belo encontro com o destino.

Mais uma vez, o destino colocou o seu dedo na história do Pablo, levando-o de volta ao Conservatório Municipal

Acontece que a orquestra ensaiava no mesmo Conservatório Municipal onde o pequeno Pablo sempre via as menininhas entrando e saindo de tutu cor-de-rosa. Assim, ele voltou a ver bailarinas circulando pelo lugar, dessa vez adultas e, coincidentemente, soube que duas antigas clientes estavam num grupo de dança em Itu. O sonho voltou a despertar dentro dele, mas Pablo agora tinha outro motivo para abafá-lo: a idade, que já passava dos 30 anos. No entanto, ele foi investigar o Instagram delas.

Pablo descobriu que o professor de dança delas, Leandro Peron, também tinha uma turma em Salto, a sua cidade. Ainda que, a essa altura, ele já estivesse morando sozinho e meio que fazendo o que queria da vida, apenas guardou essa informação e não fez nada. Muitas dúvidas e inseguranças ainda rondavam a sua mente. “Puxei conversa com elas, e elas chegaram a me convidar. Mas eu ainda estava preso naquelas ideias de ’não é pra mim, não posso’ e tal.”

O empurrãozinho que faltava para Pablo tomar uma decisão veio de um jeito inusitado: um dorama!

A “chavinha” mudou no meio de 2022, quando Pablo assistiu a uma série coreana chamada Navillera, em que um homem de mais de 60 anos começa a dançar e chega a fazer uma apresentação. “Isso me deu um certo incômodo. Fiquei pensando até quando eu esperaria para realizar o meu sonho? Até que idade eu sufocaria essa vontade, essa paixão pela dança?” Sem pensar muito, Pablo marcou uma aula experimental. Um spoiler: não ficou só nessa aula, claro!

Pablo deu os seus primeiros passos na dança, literalmente, e encantou quem estava à sua volta

“Fui, fiz a aula e foi incrível”, Pablo relata. “A maioria das ’meninas’ estava na casa dos 40 e até 50 anos. Também tinha algumas mais gordinhas. Ou seja, não me senti deslocado em nenhum momento. Ao contrário, fui muito bem recebido, me senti em casa.” Pablo explicou na aula que nunca tinha dançado, mas ninguém acreditou. Ele tinha um alongamento excelente e absorvia os movimentos com muita naturalidade. O professor Leandro logo o convidou para o outro grupo também.

Sim, o seu sonho estava se realizando em dobro! Pablo também foi muito bem recebido no grupo de Itu, e elogiado também. “Elas falaram: ’Ah você mentiu pra nós, na verdade você sempre dançou’. E eu expliquei que não, eu só sempre gostei e tentava repetir em casa desde criança, sabe? As apresentações que eu assistia e os alongamentos que eu via na internet, eu tentava reproduzir.” Claro que Pablo não sabia os nomes e as técnicas perfeitamente, mas em pouco tempo aprendeu tudo.

A estreia do Pablo nos palcos aconteceu em pouquíssimo tempo e o deixou transbordando de felicidade

Menos de seis meses após iniciar no mundo da dança, Pablo já fez sua estreia no palco nos dois grupos em que participa. Quem o vê dançando, não acredita que ele começou há tão pouco tempo. “Muita gente me diz coisas assim, e me faz pensar se as pessoas nascem pré-dispostas a certas coisas. Só sei que cresci com um bailarino dentro de mim, um bailarino que só agora eu deixei sair e dançar por aí.”

Na noite em que fez a sua primeira apresentação, Pablo fez questão de comemorar no seu Instagram: “Por muito tempo me fizeram acreditar que isso não era pra mim e calei aquela criança interna que olhava fascinada e muito curiosa pra esse universo. Agora consigo perceber o quanto isso me transformou e a quantidade de barreiras que ultrapassei, colocando à prova todas as minhas inseguranças de uma só vez! Me permiti errar, me permiti ser imperfeito e me permiti ser feliz”.

Foi uma história breve, de uma pessoa que jogou para o alto os preconceitos e aceitou os desafios que impuseram para poder realizar o seu sonho. De quebra, mostrou para o mundo que não há nada de errado em ser homem e bailarino, ou de dar uma virada na vida depois dos 30. E ele finaliza: “Hoje posso dizer que sou um bailarino e pretendo continuar até que meus joelhos não aguentem mais. Siga os seus sonhos! ✨”.

E quanto a você? Tem algum sonho de infância que realizou depois de muitos anos? Ou talvez algum sonho esperando para ser realizado? Não deixe de compartilhar a sua história nos comentários.

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