Como é a rotina de uma família formada por uma brasileira, um canadense e uma pequena mexicana que falam três idiomas dentro de casa
Educar uma criança conversando apenas em português já é um desafio. Agora, imagine ensinar a um pequeno ou pequena mais de um idioma desde o nascimento? Dividindo algumas responsabilidades entre o casal, é possível que o bebê cresça aprendendo outras línguas, basta o pai e a mãe o incentivarem de forma respeitosa e divertida. Foi assim que aconteceu na família da Jessica, que é brasileira. Ela se casou com um canadense de família chinesa e teve uma filha mexicana.
Nós, do Incrível.club, ficamos curiosos com essa mistura cultural e conversamos com a mamãe da pequena Zoe para falar sobre bilinguismo. Venha com a gente!
Jessica conheceu Nathanael dentro de um navio
Do teatro para o alto-mar. Assim foi o salto quântico de Jessica da Costa Dantas, de 37 anos, carioca e professora de teatro. A vontade de desbravar o mundo era tão grande que ela decidiu trocar os palcos em terra firme pelas apresentações em embarcações. “Eu não tinha muito dinheiro na época, descobri que poderia fazer o que gosto viajando”, recordou a moça.
E quem diria que, ao se aventurar profissionalmente em um navio, Jessica conheceria seu companheiro de vida, Nathanel Loh, 38 anos. Ele ensinava inglês aos navegantes mirins. Já no primeiro dia que Jessica entrou no navio, foi amor à primeira vista. E, logo no final da viagem, decidiram construir uma família em terra, em um lugar mais barato que o Brasil. O destino escolhido foi o México.
O sonho de ser mãe se tornou realidade
Já estabelecidos em terras mexicanas desde 2014, Jess e Nath — como chamam os amigos íntimos — decidiram ter um filho. Em 2020, nasceu a pequena Zoe. “Por mais que você olhe para o mundo, meio esquisito, sentia a necessidade de trazer alguém para fazer a diferença. Criar pessoas menos aferradas ao consumo, considerando a criança como uma voz para ser ouvida e não apenas fazer com que ela acate tudo o que um adulto fala”, ressaltou a mamãe.
“O Nath sempre foi uma inspiração para educar a Zoe”, afirmou Jessica. Não por menos: ele cresceu dentro de uma casa ouvindo inglês, espanhol e chinês. E, antes mesmo de conhecer sua futura companheira, já sabia falar um pouco o português. Ao avaliar todo esse contexto, a mamãe percebeu que era possível educar Zoe com estratégias respeitosas dentro do bilinguismo.
Desde a barriga da mamãe, Zoe escutava vários idiomas
Desde a gravidez, a mamãe sempre se comunicou com sua filha em português. O papai somente falava em inglês. E com Tapioca, o cachorro deles, a comunicação sempre foi em espanhol. “Quando fiquei grávida, comecei a me policiar para falar com todos somente em português. Já era um treino. A criança já está te escutando o tempo todo”, garantiu.
Jessica conta que, desde que a Zoe nasceu, outra estratégia superimportante que adotou é a de narrar tudo o que faz. Ouvir músicas no idioma que deseja ensinar também é funcional. “Podíamos ter ensinado o cantonês também, mas Nath não estava tão seguro quanto à gramática para ensinar, além de que o único contato que a Zoe teria para colocar em prática seria o pai dela. Então, preferimos focar no inglês com o pai”, disse.
A família respeita as decisões de Zoe e em qual idioma ela quer se comunicar
Tanto o pai quanto a mãe incentivaram bastante Zoe lendo livros, mostrando ilustrações e narrando as ações. “É preciso que os pais confiem na criança, que ela realmente está entendendo o que você está falando. E a criança vai começar a misturar as falas, soltar algumas palavras em inglês, outras em espanhol, quem sabe em português”, aconselhou Jessica. Ela afirma que não é somente por causa do bilinguismo que Zoe começou a falar precocemente na escola, mas o estimulo dentro de casa contribui bastante.
“A gente acorda e decidimos juntas o que preparar para levar para a escola. Se vamos preparar o café da manhã, damos uma colher para ela mexer algo ou participar. Não deixar a criança somente assistindo aos seus atos é o segredo. E vai narrando aquilo, sempre comentando o que está fazendo. Claro, sem demonizar as ferramentas que temos acesso como televisão e tablet, pois tem dias que estamos atrasados e deixamos tudo isso para outro momento”, esclareceu Jessica.
“Deixar para trás essas maneiras clássicas, tradicionais e, às vezes, até um pouco violentas de criar”
O uso da tecnologia está ligado aos ensinos das novas gerações, principalmente quando famílias moram em outros países e decidem seguir o bilinguismo. “Todos os domingos ligamos para os familiares da Zoe. Mantemos o vínculo e praticamos por vídeo vários idiomas”, afirmou Jessica. “Agora, eu sei que ela está fora do meu controle, que as expectativas para que a Zoe fale outros idiomas são minhas, não são delas. Tenho de respeitar se ela quiser parar de falar o português, por exemplo”, ponderou.
Outro tópico importante ressaltado pela família da Zoe é que o bilinguismo não deve ter um foco somente no sentido laboral do futuro da criança. “É importante a criança entender que falar outros idiomas é também estudar novas culturas, poder viajar, ser entendido, se comunicar com familiares, amigos, manter a língua afetiva. Essa é a motivação principal, qualquer coisa acadêmica ou laboral é consequência”, pontuou a mamãe, que hoje é professora de português para estrangeiros.
A mamãe buscou outras famílias que queriam manter o português como idioma de herança
Hoje, a família de Zoe vive em Mérida, no México. A mamãe buscou famílias com idades próximas à da Zoe para reunir os pequenos e colocarem em prática o português com brincadeiras, trocas de livros e festas típicas. Todos os meses acontece um encontro, que está vinculado ao projeto Pula e Brinca, criado por Jessica. “Era algo que eu queria fazer, dar aulas para crianças com brincadeiras. Eu quero me certificar de que a Zoe e todas as outras crianças vão se divertir aprendendo”, finalizou.
Ensinar mais de um idioma é um desafio, não é mesmo? Conte para a gente o que você achou do relato da família da pequena Zoe. Você conhece alguma família que pratica o bilinguismo?