A vida na China segundo a campeã mundial do idioma (Spoiler: 5 dias de férias, o aterrorizante número 514 e nada de decotes)

Curiosidades
há 1 ano

Anna Kuzina é a vencedora do concurso global de língua chinesa, embaixadora dessa língua e sua cultura no mundo e tradutora-intérprete responsável por traduzir discursos de presidentes. Anna vive em Pequim há 12 anos. Durante esse tempo, ela conseguiu se formar em duas universidades, participar de uma dúzia de programas de televisão e uma série, trabalhar como modelo e se tornar mãe das gêmeas bilíngues Zlata e Sofia. Ela conta de uma maneira cativante e divertida os detalhes dos costumes e tradições chinesas em sua conta no Instagram.

Anna compartilhou com o Incrível.club os fatos mais interessantes sobre a vida em seu país favorito.

1. Quanto mais barulho os chineses fazem ao comer, mais eles gostam da comida

Quando os chineses comem, eles não têm vergonha de fazer todos os tipos de sons, de levar o prato até a boca para não deixar cair o macarrão ou o arroz ou de mastigar com a boca aberta e falar ao mesmo tempo. Eles podem colocar os ossos de frango não em seu prato, mas diretamente na mesa, e no final de uma refeição emitem o som característico que todos nós conhecemos.

Um dia, quando eu estava almoçando com uma família local, eles me perguntaram surpresos: “Por que você nunca faz barulho com a boca? Tem alguma coisa que você não gosta?”. Eles acreditam que fazer sons ao mastigar mostra que você gosta da comida. Embora, atualmente, sob a influência da cultura ocidental os chineses se comportem de maneira cada vez mais próximas à nossa, e alguns até frequentem cursos de etiqueta ocidentais, para não passarem vergonha em eventos de negócios.

2. As férias duram apenas 5 dias

Essa é a duração exata das férias de um funcionário iniciante. Com uma experiência de 10 anos, o descanso dura até 10 dias e, aos 20 anos, até 15. As exceções são funcionários públicos, militares e da educação: no caso da função pública, os recessos duram cerca de 2 semanas, e nas escolas há férias de inverno e de verão, embora o trabalho seja estritamente realizado no horário estabelecido, sem horas extras.

A licença maternidade nesse país dura 98 dias: 15 dias antes do parto e o resto depois. Em caso de complicações, mais 15 dias são adicionados e, com gestações múltiplas, 15 dias são dados para cada criança. Durante este período, o salário líquido é pago, sem qualquer acréscimo. A lei permite que mulheres trabalhadoras solicitem uma licença de lactação de até 6,5 meses, mas as empresas têm o direito de recusar tal solicitação.

Os chineses recebem uma multa por se atrasarem ​​para o trabalho, mesmo que tenham uma boa razão para fazê-lo.

3. Os números são muito importantes

Na língua chinesa, cada número tem seu próprio significado: o 1 significa “eu quero”, o 4 “morte”, o 5 “eu”, o 6 “sorte”, o 8 “riqueza” e o 9 “para sempre”.

Em muitos edifícios desse país não há 4º e 14º andares, estes simplesmente são pulados ou adotam números como 3A, 3B, 13A e 13B. Nos nomes de sites da Internet, a combinação de 51 (“Eu quero”) é frequentemente usada com uma continuação, por exemplo: “trabalho”, “casa” e “automóvel”. Nenhum chinês sensato aceitará a combinação 514 (“Eu quero morrer”), especialmente para a placa de um carro. E todos adoram os números 6, 8 e 9, e até pagam dinheiro extra para os terem em seu número de telefone ou apartamento! Estes números também devem estar presentes em datas importantes — por exemplo, 186, 286 (“dois são ricos e sortudos”).

4. As chinesas não usam decote, mas adoram as minissaias

As chinesas nunca usam roupas com um decote profundo. Ver uma senhora vestida assim é impossível, a menos que seja parte de um espetáculo moderno. No entanto, as meninas não têm medo de mostrar as pernas: elas podem usar normalmente shorts e vestidos muito curtos, o que não é considerado indecente.

Acredito que essa moda seja resultado da influência do tradicional vestido “qipao”, que esconde a parte superior do corpo até o pescoço, mas nos lados tem cortes tão grandes que revelam as pernas quase em todo o seu comprimento, principalmente ao caminhar.

5. A coisa mais terrível para um chinês é perder a honra

Todos as relações na sociedade chinesa são baseadas no princípio de não perder a honra e a boa reputação, e isso é algo aprendido desde a infância. Não só é importante cuidar de si mesmo, como evitar que isso aconteça com outra pessoa. Os chineses evitam disputas abertas, acusações, rejeições diretas e apontar os erros dos outros. Mesmo que um amigo deva dinheiro a um chinês e não o pague por um longo tempo, o devedor não será cobrado diretamente sobre quando irá pagar a dívida, mas será informado de que quem lhe emprestou quer comprar algo, mas não tem dinheiro suficiente.

Para os chineses, dizer “sinto muito” implica uma terrível perda de honra. Não é um pedido de desculpas por ter pisado no pé no metrô, nesses casos eles pedirão seu perdão e seguirão adiante. Mas se eles são seus amigos, conhecidos ou parceiros de negócios, então as coisas são diferentes. Mesmo que um chinês tenha claramente cometido um erro, ele vai rir de nervoso, abaixar os olhos e, na pior das hipóteses, dizer algo como “tenho vergonha”, mas evitará dizer “sinto muito” até o fim. E se você ainda forçá-lo a se desculpar, ele nunca mais vai querer vê-lo ou dará um tempo na comunicação entre vocês até que esqueça o quanto ele foi desonrado.

6. É pouco provável que um casamento se concretize sem a aprovação dos pais

Os pais chineses estão ativamente envolvidos na escolha de um par para seus filhos. Muitas vezes, eles próprios procuram cônjuges por meio de parentes e conhecidos, em sites de namoro e em “reuniões de casamento”. Nessas ocasiões, eles levam uma foto e o currículo do candidato para o evento e os trocam com outros participantes.

Depois disso, ocorre o clássico encontro às cegas: às vezes sozinho e em outras ocasiões com a participação de amigos ou parentes. Uma mulher chinesa me disse uma vez como ela deixou a mãe saber que um rapaz não gostava dela. A senhora perguntou-lhe: “Como está o chá?” E ela respondeu: “Mais ou menos, você tem que fazer outro”.

É claro que quando duas pessoas se encontram e se apaixonam, nada disso é necessário. Mas se os pais não gostam do candidato, na maioria das vezes o casal se separa. Os chineses dizem: “A porta deve ser a adequada, e o quintal deve ser o certo”. A ideia é que o casal tenha a mesma origem e status social. Embora os chineses adorem a história de Cinderela e o filme “Titanic”, eles acreditam que a garantia de um casamento forte e feliz é o status de igualdade do casal. E não só em referência ao econômico, mas também à educação, caráter e até hobbies.

7. Os homens chineses são dominados por suas mulheres? Não, são esposos exemplares!

Uma esposa chinesa é uma verdadeira rainha e exige muito do marido. Ele entrega seu cartão de débito e lhe oferece um apartamento e um carro. Muitas vezes acontece de uma propriedade comprada com o dinheiro do marido ser registrada no nome da esposa. Um chinês sabe cozinhar muito bem, enquanto muitas mulheres não. Se a esposa não quiser trabalhar, ela ficará em casa, mas se optar por fazê-lo, o marido procurará obedientemente por uma babá.

Se um marido é culpado de algo contra sua esposa, ele fará um discurso de desculpas: “Eu estava errado, deixe o diabo me levar, para que eu possa passar para o outro mundo, seja generosa, me perdoe!” Para aumentar o efeito, ele pode cair de joelhos, começar a bater nas bochechas e até deixar cair uma lágrima. Mas a mulher chinesa não é tão fácil de convencer. Ela pode declarar uma guerra fria ao seu parceiro e, quando se acalmar, exigir uma compensação na forma de presentes.

Um pai chinês ama seus filhos e passa muito tempo com eles: brinca com as crianças, leva-as para passear e vai buscá-las no jardim de infância ou na escola. Ele orgulhosamente coloca suas fotos nas redes sociais e se vangloria de seus sucessos. Se a criança ficar doente, é o pai que não dormirá à noite e cuidará dela.

8. As grávidas e as mães jovens são sagradas

Desde os primeiros dias de gravidez, a gestante é cuidada por toda a família: eles a alimentam, a mimam, não permitem que se mova demais e a levam para o médico de mãos dadas. Os membros da família compram para ela um avental especial para proteger a criança da radiação nociva dos computadores e telefones celulares. Algumas mulheres deixam de usar cosméticos para que os “produtos químicos” não prejudiquem o feto, e não bebem chá, porque o bebê pode nascer não suficientemente branco.

Após o parto, uma chinesa fica na cama por cerca de 30 dias, enquanto o pai, a avó e a babá cuidam do bebê. Uma jovem mãe não deve pegar peso, fazer limpeza, tomar banho ou escovar os dentes. Essa tradição tem uma base na medicina tradicional: acredita-se que, depois de dar à luz, o corpo de uma mulher é muito vulnerável, e se ela pegar um resfriado durante esse período, poderá ter uma doença crônica grave. Uma mulher pode até ir a um hotel especial para descansar após o parto, onde é ensinada a cuidar do bebê, ajudada na amamentação e na recuperação pós-parto.

9. Para dar um nome a um bebê, um profissional é contratado

Os chineses dão grande importância aos nomes. As crianças não recebem um “pronto para usar”, mas hieróglifos eufônicos com significado vital. O nome deve ter um significado positivo (independentemente da pronúncia) e consistir em símbolos que tragam sorte para a pessoa. Por esta razão, na China há muitos “especialistas em nomes”. Por uma quantia considerável, eles revisam os dicionários e buscam a maior sorte para o bebê. Por exemplo, um amigo meu se chama Tsun Tsun, que significa “inteligente”. Existem nomes com significados como “Conhece tudo”, “Montanhas de ouro”, “Orgulho Celestial”, “Broto”, etc. ⠀

Os pais também dão aos filhos um apelido, ou o chamado “Nome de Leite”. E este tem seus próprios requisitos: deve consistir em dois hieróglifos e ser, de preferência, feio e afugentar os maus espíritos. Nem todo mundo acredita nesse presságio e simplesmente nomes amorosos são inventados para boa sorte. As crianças os usam até começarem a escola. Por exemplo, no nosso jardim de infância há meninos chamados Batata, Tigrinho, Dragãozinho e Gordinho, e também meninas Arrozinho, Neve, Pequena e Alegria.

Os sobrenomes chineses são muito simples e, geralmente, consistem em uma sílaba, raramente em duas. O sobrenome mais popular é Lee (“Ameixa”), que é usado por 8% da população do país. As mulheres não tomam o do marido depois de se casarem.

Pelo nome, até é possível adivinhar a idade da pessoa, porque cada época tem suas próprias tendências. Na década de 1950, as crianças foram chamadas de “Criação do Estado” e “Ajuda à Coreia”; nos anos 60, “Guardião Vermelho” e “Revolução Cultural”; e nos anos 70, “China Bonita” e “Estado Novo”. Nos anos 80 os nomes se tornaram mais simples, como “Cume” e “Amanhecer”. Nos anos 90, mais elegantes, com um duplo hieróglifo: “Fragrância das Flores” e “Charme” (Fei Fei). Desde os anos 2000, os nomes com um significado profundo são populares: “Bondade Celestial” ou “Reflexão sobre o Conteúdo”.

A mim, chamam-me de Binlan (“Orquidea de Gelo”) e Fanley (“Broto Cheirosa”).

10. Os chineses são pais severos

Já com três anos de idade, as crianças chinesas se comportam de maneira calma e disciplinada: elas sabem que não podem perder aulas, mas devem permanecer sentadas e fazer as tarefas que o professor manda. A partir de então, os pais educam os filhos com rigor, não os estragam e os castigam. Se os elogiam, é por uma boa razão: por exemplo, no caso da criança ter feito algo que não poderia fazer ou esforçou-se por algo mais do que o habitual.

Muitas crianças passam o ano inteiro sem usar um gorro, considerando que a temperatura em Pequim no inverno chega a 10 graus abaixo de zero. Quando perguntei a uma mãe por que isso acontece, ela respondeu: “Ele não quer, por que forçá-lo?”. As crianças chinesas não têm medo de correntes de ar e frio. E os adultos até criam deliberadamente essas condições e se expõem a elas, dizendo: “É um ar fresco”.

Desde cedo, as crianças usam calças rasgadas para se aliviarem, e o frio não é um obstáculo! Os pais acreditam que este método é mais higiênico, econômico e ajuda a criança a se acostumar a usar o penico mais rápido.

Embora os chineses sejam considerados pais severos, eles adoram crianças: são movidos pelos pequenos, sempre sorriem para eles e tentam fazê-los rir. Além disso, nunca expressam descontentamento quando um bebê chora num lugar público.

11. As crianças chinesas conhecem bem a competência

A capacidade de lutar e abrir caminho é instigada desde a mais tenra infância. E as primeiras demonstrações de competências já começam no jardim de infância. Na nossa, existe um chat comum para pais e professores. Lá, os mestres (e há 6 deles no total!) descrevem diariamente o progresso das crianças. Por exemplo: “Batatinha, Neve, Frutinha e Arrozinho dormiram rápido durante a sesta, mas Tigrinho, Dragãozinho e os gêmeos demoraram 15 minutos”. Ou: “Zlata, Sofia, Manga e Lan Lan pediram uma porção de comida extra, muito bem... Pais, não esqueçam de elogiar suas filhas! Mas Alegria comeu alguns legumes, vamos continuar fazendo um esforço”. Em resposta, os pais agradecem e prometem solenemente que trabalharão mais em si mesmos e em seus filhos.

12. Os chineses acreditam tanto no espírito do coelho quanto em Buda e no partido comunista

Os chineses acreditam em tudo! O animal na foto acima é chamado de “Coelho de Honra de Pequim”, ou “O coelho avô”. Segundo a lenda, é um espírito que vive na Lua e dá saúde e sucesso no estudo, por isso suas figuras em miniatura podem ser encontradas em lares onde há crianças. E como os chineses gostam que todos tenham um parceiro, o avô tem uma avó coelha.

Os habitantes desse país não têm problema em colocar uma estatueta de Buda em sua casa ao lado de uma cruz cristã, adorar o espírito do coelho, rezar num templo budista, colocar um gato que atrai riqueza no hall da casa e contar aos amigos que são comunistas e acreditam no partido. O princípio é simples: talvez um deles ajude.

Os chineses adoram se comunicar com as árvores: acredita-se que elas absorvem os raios do sol e são fontes de energia positiva. De acordo com o feng shui, as pessoas precisam se conectar com a natureza para serem saudáveis ​​e viverem muito tempo. Os chineses abraçam as árvores antigas, tocam-nas ou inclinam-se ligeiramente contra o tronco, como se estivessem balançando: de acordo com a medicina tradicional chinesa, há muitos pontos biologicamente ativos nas costas, e a “massagem de madeira” os estimula.

Bônus: 5 dicas da Anna para aqueles que desejam viajar para a China

  • Não espere que os chineses aprendam sua língua. Anote os nomes dos locais de interesse e seus endereços no idioma local. A melhor coisa a fazer é obter um cartão SIM local e usar o navegador para guiá-lo.
  • A China tem táxis confortáveis ​​e baratos, mas os taxistas não falam inglês. Eles têm um taxímetro, mas quando veem um estrangeiro que não sabe chinês, eles podem dar algumas voltas extras sem nenhum remorso, especialmente em Pequim e Xangai.
  • A cozinha chinesa é muito variada e, claro, faz você querer experimentar tudo. Mas, para evitar incidentes, leve consigo carvão ativado e antisséptico para as mãos. Também tenha em mente que em muitos restaurantes não há garfos, por isso não se esqueça de praticar comer com hashis antes de viajar, para não passar fome mais tarde.
  • Se tiver cabelos loiros e olhos azuis, esteja preparado para que todos olhem para você, lhe sorriam e tentem conversar. Os chineses podem pedir-lhe para tirar uma foto juntos, e se você disser sim, é possível que uma fila de pessoas que também queiram uma seja formada. Não tenha vergonha de dizer não.
  • Ao comprar lembranças no mercado, prepare-se para negociar. O preço deve ser dividido a partir de duas ou até três vezes, especialmente em lugares onde há muitos estrangeiros.

E estas são as melhores formas de responder à pergunta “Como vai?”:

  • 很好 (hěnhǎo): “Muito bem”.
  • 非常好 (fēi chánɡ hǎo): “Muito bem, excelente”.
  • 一般 (yì bān): “Como de costume, normal”.
  • 马马虎虎 (mǎmǎhǔhǔ): “Mais ou menos”.
  • 还行 (hái xíng): “Bem, aceitável”.
  • 还可以 (hái kěyǐ): “Bem”.
  • 不好 (bùhǎo): “Mal”.
  • 不太好 (bù tàihǎo): “Não muito bem”.

Anna também diz: “Aprendi muitas qualidades úteis dos chineses: ser paciente, não condenar o outro imediatamente e pesar minhas palavras dez vezes antes de falar, para não ofender os outros. Eles me ensinaram a ver as coisas de uma maneira mais positiva, e seus sorrisos e conselhos inspiradores sempre dão esperança de que é possível viver num futuro melhor”.

E você? Conhece a China? Gostaria de se mudar para outro país? Deixe sua opinião na seção de comentários abaixo.

Artigos relacionados