A história de Maria Montessori, uma brilhante pedagoga que abandonou o próprio filho

Psicologia
há 3 anos

Há muitas controvérsias acerca de Maria Montessori. Alguns ficam encantados com sua contribuição incontestável para os sistemas pedagógicos. Outros não compreendem como uma mulher, que “abandonou” o próprio filho, poderia dizer algo sobre educação de crianças. Mas a verdade talvez esteja em um meio-termo: nem tudo é assim tão “preto no branco”.

Nós, do Incrível.club, ficamos fascinados pela biografia dessa mulher extraordinária e decidimos estudar mais a fundo a história dela, que foi marcada por lutas constantes contra convenções sociais e estereótipos. Acompanhe!

A italiana que se tornou médica, apesar de ter sido intimidada pelas pessoas ao seu redor

A italiana Maria Montessori, filha de um oficial, sempre foi uma criança brilhante que gostava de ciências exatas e, desde a infância, sonhava em ser médica ou engenheira. Mas o pai dela não achava que ela deveria estudar: para a sociedade italiana do século XIX, seria algo impensável uma mulher se tornar médica.

Maria não desistiu da ideia, passou em exames muito difíceis e entrou para a faculdade de medicina. Biógrafos acreditam que ela foi aceita apenas por ser algo inesperado: até então não havia tal prática. Durante as aulas, os estudantes consideravam a presença dela inconveniente. Tanto professores quanto alunos expressavam abertamente suas insatisfações. Nas aulas práticas, todos os cadáveres eram corpos masculinos e estavam nus. Como uma mulher poderia presenciar tal coisa?! Por conta disso, ela praticava sozinha e era caçoada pelos colegas com frequência.

Apesar da atmosfera tóxica, ela teve muitas conquistas no meio acadêmico, incluindo a oportunidade de ganhar conhecimentos práticos nos hospitais. Nos últimos dois anos de faculdade, Maria estudou pediatria e psiquiatria e trabalhou nos serviços de pronto-socorro como consultora pediátrica. Tornou-se, então, uma especialista da medicina infantil e uma das primeiras mulheres da história da Itália a receber o título de doutora em ciências.

Ela decidiu salvar crianças consideradas “casos perdidos”

Após lidar com diversas crianças e conhecer os sistemas nos orfanatos, Maria notou que algumas formas de retardo mental, o que na época era considerado uma sentença absoluta, poderiam ser tratadas. Constatou, assim, que tais crianças poderiam receber acompanhamento médico para se desenvolverem e terem uma vida melhor. Por isso, estudou os trabalhos de médicos e pedagogos.

Baseando-se nos estudos realizados e na sua experiência, ela começou a desenvolver o próprio sistema. Em congressos, ela disse que tais problemas nas crianças estão mais relacionados à pedagogia do que à medicina: decidiu, dessa forma, que trabalharia como pedagoga e não como médica.

Quando criaram a Escola Ortofrênica, uma instituição especial para preparar professores para o trabalho com crianças com diversas deficiências intelectuais, Maria foi designada como codiretora.

Maria Montessori desenvolveu uma metódica e a aplicou em crianças de uma turma especial, que havia sido criada no próprio instituto. Foram convidados alunos que haviam sido listados nas escolas comuns como “deficientes mentais” por conta de suas peculiaridades de aprendizado. Nem sempre, aliás, tratava-se de atraso mental. Os primeiros reconhecimentos surgiram quando as crianças conseguiram passar, com facilidade, nos exames escolares destinados às “crianças normais”.

Jardim de infância baseado no sistema de Maria Montessori. Alemanha, 1925

Segredos da vida pessoal e rompimento com o filho

Em comparação com o sucesso na carreira, este capítulo da vida da pedagoga não é muito feliz. Quando ainda trabalhava como médica, Maria conheceu o colega de profissão Giuseppe Montesano e teve um filho com ele. Ela optou por manter o relacionamento e a criança em segredo e, assim, deu o filho a uma família adotiva. Mas não por não o amar. Como ele havia nascido fora do casamento, ela ficaria com o estigma de mãe solteira, o que, para a época, a impediria de continuar sua carreira. Esse foi um “capítulo vergonhoso” na vida de uma grande mulher. A escolha foi tão dolorida, que ela passou por uma longa depressão e acabou se tornando uma católica praticante. Após o filho crescer, Maria se reencontrou com ele e o levou para morar com ela.

Mario não apenas perdoou a mãe, como também apoiou todas as ideologias dela, trabalhou como intérprete para ajudá-la, expandiu seu legado e passou a vida inteira defendendo fervorosamente os métodos de ensino do sistema Montessori.

Na idade adulta, ele admitiu que se chateava muito por as pessoas considerarem Maria uma péssima mãe. Ele mesmo nunca achou isso e sempre soube a mulher que ela era, antes mesmo do reencontro dos dois, que foi um momento de enorme felicidade para Mario.

Maria Montessori e Mario Montessori com amigos na Índia

Como começou o percurso até a fama mundial

Maria Montessori continuou seus estudos e aprimorou sua metódica, sempre defendendo os direitos da criança e da mulher. Em um certo momento, percebeu que seus métodos poderiam ser aplicados à educação de qualquer criança, não só as “especiais”, mas só pôde começar a desenvolver melhor essa ideia após ser convidada para trabalhar com jovens de áreas pobres. Foi a partir daí que começou o projeto “lar das crianças”, que seguia uma programação separada e foi ganhando cada vez mais espaço em toda a Itália.

Um dos motivos para a propagação rápida de suas ideias foi receber o apoio de pessoas influentes, que contribuíram para que o projeto se desenvolvesse e progredisse.

Ela começou a viajar para fora da Itália, ganhando mais e mais notoriedade. Em um belo dia, a quieta estudante de medicina começou a ser reconhecida no mesmo patamar dos grandes líderes mundiais. As escolas sob o método Montessori começaram a ser abertas em todos os cantos do mundo.

Mas o que há de tão especial nesse sistema? O conceito é simples: a criança deve poder escolher as atividades que prefere fazer e precisa desenvolver independência e responsabilidade. Mas é necessário que ela encontre as respostas por conta própria e sinta quais são suas necessidades e afinidades. Os adultos podem ajudar, mas não devem, de forma alguma, pressionar ou direcionar.

Os momentos difíceis. Durante a Segunda Guerra Mundial, Maria se recusou de implementar em suas aulas ideologias relacionadas ao fascismo. Por conta disso, ela foi perseguida e precisou viver com o filho por um tempo na Índia, onde encontrou uma fonte de inspiração para novas ideias.

Ao voltar para a Europa, após a guerra, ela viveu o resto de sua vida nos Países Baixos.

Maria Montessori tem muitos seguidores, e não só seu método de ensino, mas também sua história de vida e personalidade ainda cativam milhares de pessoas ao redor do mundo.

Independentemente de lados, a história dessa mulher não foi fácil. Você já conhecia o método de ensino Montessori? E o que achou da decisão dela de “largar” o próprio filho? Queremos saber sua opinião!

Imagem de capa EAST NEWS

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