A história de Manoel Soares mostra que até mesmo os sonhos mais incompreendidos podem se realizar

Famosos
há 2 anos

O jeito carismático e irreverente de Manoel Soares ficou bastante conhecido pelos brasileiros nos últimos anos. Baiano de Salvador, foi em terras gaúchas que o então repórter da RBS TV, afiliada da TV Globo no Rio Grande do Sul, despontou como uma promessa do jornalismo, ainda em 2002. Após integrar a equipe do Profissão Repórter e do Encontro com Fátima Bernardes, alçou voos ainda maiores e conquistou o posto de apresentador no É de Casa. Hoje, Manoel é coapresentador do Encontro com Patrícia Poeta e, de segunda a sexta-feira, está presente nas manhãs da TV Globo.

Nós, do Incrível.club, admiramos o trabalho de Manoel e ficamos ainda mais emocionados com sua história de vida, que, em alguns aspectos, pode remeter à trajetória de muitos brasileiros. Por isso, te convidamos a conhecer esse profissional que conseguiu escrever o próprio destino e trilhar um caminho de sucesso. Confira!

A mãe fortaleza

Impossível tentar contar parte da história de Manoel Soares sem falar de dona Ivanete Pereira, sua mãe, que além de ser uma verdadeira fortaleza na criação dos filhos, foi a única pessoa que incentivou Manoel a perseguir seus sonhos, independentemente de quantas dificuldades aparecessem em seu caminho.

Dona Ivanete criou um mantra, que repetia para o filho a cada vez que o menino desanimava: “Manoel, por cima do medo, coragem”, conta ele. A frase parece ter ficado gravada não só nas memórias, mas também nos afetos do, hoje, repórter, apresentador, escritor e instrumentista.

“Toda vez que eu falava que queria trabalhar na televisão, riam de mim. Toda vez que eu tentava tocar violão implicavam comigo. Eu era o chato metido a besta da família porque queria ler livros e ser o ’inteligentão’. Quando minha mãe fez quatro faxinas a mais na semana para que eu fizesse um book de fotos, ela foi chamada de boba; hoje dizem que ela foi visionária”, postou.

Dona Ivanete também foi a grande responsável pelas memórias afetivas de Manoel durante a infância e adolescência: “O mundo tentou me dar memórias ruins, mas minha mãe lutou com o mundo e venceu. Eu tenho memórias ótimas, sei fazer pudim, sei fazer bolo, sei fazer carrinho de rolimã, sei pular corda, sei brincar, sei cantar. Eu tive uma infância linda: sei identificar cantos de pássaros, minha mãe me ensinou muita coisa linda e o meu povo me ensinou muita coisa linda”, diz.

Consciente de todo o esforço da matriarca, seja trabalhando, no passado, como faxineira de dia e como gari à noite, seja empreendendo uma fuga cinematográfica de Salvador para São Paulo, para tirar os filhos do contexto familiar complicado em que viviam na capital baiana, Manoel reconhece:

“Qualquer possibilidade de sucesso ou de ganho financeiro que eu tenha veio adubada de uma realidade delicada. Eu adoraria poder comprar um novo nervo ciático para minha mãe ou dois discos novos para a coluna dela, e não vai dar. Os sonhos que a minha mãe abandonou nesses últimos 50 anos para que eu ficasse vivo não vão voltar”, conta.

A ida para Porto Alegre

Após alguns anos morando no interior de São Paulo, Manoel já estava na segunda fase da infância quando sua mãe, mais uma vez, fez uma manobra arriscada para retirá-lo de um contexto social que o deixava próximo da marginalidade:

“Minha mãe me mandou para Porto Alegre para trabalhar com o meu tio em uma gráfica. Trabalhei nessa gráfica durante mais ou menos uns 11 meses. Quando a gráfica faliu, tentei vários empregos e, nesse caminho todo, acabei vivendo em situação de rua por uns quatro ou cinco meses”, contou.

Durante esse período de vulnerabilidade intensa, Manoel passou por vários trabalhos, até que, um dia, foi abordado por uma equipe de reportagem da TVE RS. Após conceder a entrevista, a equipe perguntou se havia alguma forma de ajudá-lo. Manoel não titubeou e respondeu que poderiam o ajudar com um emprego. Foi dessa maneira inesperada que a trajetória de sucesso do repórter, que mais tarde seria convocado ao vivo por Fátima Bernardes, começou.

O trabalho oferecido pela equipe da TVE era para montar e desmontar as arquibancadas. Depois disso, Manoel também começou a fazer faxina. Eventualmente, atendia o telefone e, aos poucos, foi aprendendo a fazer outras coisas: “[um tempo depois] Me ensinaram como imprimir um texto, e quando eu vi, já estava corrigindo alguma letra no gerador de caracteres. A partir daí eu saí da rua, comecei a ganhar R$ 150 por mês e quando vi, estava na televisão”, conta.

A professora exigente

Além do apoio e incentivo da mãe, Manoel fala sobre uma das pessoas que atravessaram seu caminho, mais tarde, e mudaram sua vida: a professora Vilma. O apresentador conta que a professora era firme com ele, muitas vezes, colocando-o em “suspensão preventiva”, ou seja, fazendo ele sentar quieto na cadeira, no canto da sala, antes mesmo que ele aprontasse alguma coisa.

Certa vez, a professora Vilma insistiu para que Manoel estudasse tudo sobre uma certa personalidade que estava em evidência na época. O garoto achou um trabalho muito cansativo e o apresentou de maneira bem mediana, no fim das contas, recebeu uma nota 6 ou 7.

A professora Vilma parecia saber que a história daquela personalidade seria importante para o Manoel do futuro, e não foi diferente: 20 anos depois, já trabalhando como repórter na RBS TV, Manoel foi convidado para fazer a cobertura da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, mas antes precisava entregar um estudo de avaliação cultural sobre o país, que definiria quem da equipe iria viajar.

“Eu sabia tudo, estava tudo aqui dentro. Tudo que as pessoas estavam começando a conhecer, os conceitos, tudo estava aqui dentro”, conta ele. Graças à insistência da professora Vilma, Manoel já havia estudado no passado as matérias que os seus concorrentes estavam vendo pela primeira vez e assim foi selecionado.

Já na África do Sul, trabalhando na cobertura da Copa, Manoel esteve a alguns metros de distância da personalidade que precisou estudar. O jornalista não segurou a emoção. Quando viu Nelson Mandela, acenou e a única coisa que conseguiu gritar, em prantos, foi: “Dona Vilma! Dona Vilma”, como se ela pudesse escutá-lo aqui do Brasil.

“A professora Vilma sempre me deixava em detenção, porque eu costumava chegar atrasado na aula. Quando eu tentei contar essa história para ela, [descobri que] ela já não estava mais entre nós. Eu fui até o túmulo dela, e entreguei um bilhete: ’Desculpa professora, me atrasei de novo”, conta emocionado.

A redescoberta da paternidade

Pai pela primeira vez aos 22 anos e sem uma referência paterna saudável para se espelhar, Manoel conta que as primeiras paternidades foram bastante incisivas: “Eu treinava o meu filho para ser um homem sem medo e acho que os meus primeiros filhos sofreram demais com isso. Hoje, nas minhas últimas paternidades, eu me preparo mais para o afeto. Acho que o mundo mudou, mas eu também mudei. Mais importante do que dar para os meus filhos tudo que eu não tive é dar tudo o que tive: experiências de vida, percepções e visões de mundo que me transformaram”, conta.

O apresentador tem seis filhos, sendo quatro biológicos e dois adotivos. Ele diz que está vivendo um momento familiar muito importante, pois os dois mais novos, recentemente, foram diagnosticados no espectro autista. Uma das maneiras que Manoel encontrou para se aproximar dos filhos foi através da música, que teve um papel fundamental na sua própria caminhada. É que na infância, Manoel era gago.

“O violão me tirou um pouco da gagueira. Mas se não tivesse sido a gagueira eu não teria implantado a arte na minha vida, e eu acho que sou um cara auditivo e a música tem uma função especial”, conta.

Além de ter se transformado em um pai mais presente e preocupado afetivamente com os próprios filhos, Manoel também está mais atento às necessidades da companheira: “Quando Dinorá aceitou ser mãe dos filhos que temos juntos, eu não era um pai. Era um provedor e um ’macho alfa’ do mundo que me cercava. Hoje minha meta é criar espaços no dia para que ela reconquiste sua individualidade diante de tantos seres que estão conectados à sua existência”, escreveu.

“[A minha história] é uma realidade bem brasileira. Vivi quatro ou cinco meses da minha vida em Porto Alegre, em situação de rua. Aos 14 anos mais ou menos, construí, com minhas próprias mãos, uma casa para minha mãe, que ficava em um terreno considerado irregular. Hoje, casa, para mim, é onde tem amor. Onde minha esposa e meus filhos estão felizes, eu também estou feliz”, relata.

A trajetória de sucesso

Desde o início da carreira, Manoel esteve lado a lado com as pessoas simples, em situação de vulnerabilidade ou não, nos lugares onde o jornalismo costuma não chegar rotineiramente — pelo menos não há 20 anos. Essa característica, com a maneira irreverente, a linguagem informal e o gigantesco talento para a comunicação acabaram chamando a atenção de ninguém mais, ninguém menos que Fátima Bernardes. Ela convidou o repórter para integrar o quadro de jornalistas do Encontro em 2017.

“Eu estudo as pessoas. Ao mesmo tempo que estou lendo as pesquisas do Dieese, vou à feira de Paraisópolis de manhã, vou cortar o cabelo em Heliópolis para saber o que as pessoas estão sentindo, se o corte blindado ainda está ativo. Não quero, por conta da visibilidade que obviamente vai ficar cada vez mais intensificada, deixar de ir na 25 de Março, andar, sentar com as pessoas. Às vezes sento com a galera que está lá na Praça da Sé para saber o que está acontecendo, como eles estão sendo tratados, tudo isso faz parte”, contou.

Hoje, coapresentador do Encontro com Patrícia Poeta, Manoel reconhece a importância de uma mulher continuar à frente do programa. Ao mesmo tempo, sabe que sua presença pode ser um reforço positivo para muitos jovens: “Eu sou a consequência de uma luta”, afirma categoricamente, citando todo o empenho de seus antepassados pela liberdade.

“Eu estar em um programa de televisão é a prova de que nós podemos fazer a diferença. Não que seja fácil, não que eu seja uma prova de ’que quando você quer consegue’, porque nem sempre quando a gente quer a gente consegue. Mas a minha colocação nesse espaço é a prova que a luta que os nossos antecessores e nossos antepassados travaram foi uma luta que valeu a pena”, finaliza.

Você acompanha o trabalho de Manoel Soares pela manhã? Já conhecia a história do apresentador ou tem alguma história parecida com as vividas por ele? Deixe sua resposta nos comentários e inspire outras pessoas.

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