12 Frases que os alunos gostariam de nunca ter ouvido de seus professores
Crianças e jovens passam boa parte do seu dia nas escolas, sendo educadas para se desenvolverem como cidadãos. E estão o tempo todo acompanhados de uma enorme diversidade de pessoas, cada uma com suas formas, costumes e opiniões. Dentre elas, os professores.
Eles são os profissionais preparados para transformar os jovens em adultos educados e conscientes. Porém, a rotina diária pode transformar o ato de educar na repetição de frases costumeiras, que muitas vezes não são adequadas a todos. Algumas dessas falas podem até magoar os alunos.
Sendo assim, nós do Incrível.club reunimos exemplos de como os professores podem melhorar a comunicação e o relacionamento com os alunos através de pequenas, mas significativas mudanças.
1. “Foi só uma brincadeira”
Nenhum professor deveria ignorar quando um aluno relata ter sofrido com bullying. Para que isso não aconteça, é preciso cultivar uma política de violência zero, mesmo que seja considerada “leve”. Isso cria um ambiente seguro que encoraja o aluno a informar quando algo acontece com ele. Quando a denúncia acontecer, o professor deve acolher com empatia e nunca culpar a vítima. Deve investigar a natureza da agressão e informar ao aluno os caminhos que pode tomar.
2. “Isso não é problema meu”
Alguns alunos enxergam em seu professor a melhor pessoa para aconselhar em algum problema que estejam enfrentando, seja na escola ou fora dela. Mas existem professores que não ouvem nem tentam ajudar. Por outro lado, muitos optam pelo caminho de ouvir, tentar compreender o problema do aluno e ajudar. Algumas vezes, a solução pode envolver a coordenação da escola ou até mesmo os pais do aluno. Não excluir o aluno e seus problemas é essencial para a construção do seu aprendizado.
- Eu sou estudante de Matemática Latina, e desde o meu primeiro ano no ensino médio (na Bélgica o ensino médio é do 7º ao 12º ano) todo professor que tive sempre deu a desculpa: “Vocês são estudantes latinos, podem se virar”, enquanto dava tanta lição de casa, que nossa agenda ficava cheia de tarefas, trabalhos, testes, projetos, etc. para cada período, todos os dias, todas as semanas durante um ano letivo inteiro. Pode parecer que estou sendo muito dramático, mas não estou, todos os dias estão cheios de estresse para mim e meus colegas de classe. Eu nem tenho uma folga para fazer as coisas que eu gosto. Neste momento, não tenho vontade de fazer mais nada, mas eu tenho muito medo de desapontar minha família. Conversamos com o Conselho Escolar sobre isso e eles mencionaram outras classes em nosso ano e em outros anos que também trouxeram à tona esse problema, mas nunca fazem nada porque querem passar a impressão de que são a melhor escola. © journaeos / Reddit
3. “Vejam onde esse aluno errou”
Corrigir trabalhos e provas e dar uma nota para o aluno não é uma tarefa fácil, e nem é o final do aprendizado. Algumas vezes é necessário analisar os erros cometidos pelos alunos e discuti-los em sala, principalmente quando o erro revela a necessidade de discutir algum assunto novamente. Esses são chamados de “erros construtivos”. Mas a exposição do erro nunca deve ser feita de maneira que fique evidente qual aluno errou.
Além disso, nem todo erro deve ser exposto à classe. Algumas vezes uma prova em branco pode indicar que o aluno não compreendeu o conteúdo ou o que deveria fazer. Nesses casos, o ideal é conversar com o aluno individualmente, para compreender o motivo que o levou àquele resultado e como proceder para ajudá-lo.
- Da 6ª à 8ª série, tínhamos um professor de Matemática muito engraçado, cujo apelido era Taio. O professor Taio toda a vida reservava o dia seguinte a uma prova para corrigir com a classe questão por questão. Depois da correção, se algum aluno ainda tinha dúvidas ou discordava da correção do professor, era só ir até a mesa dele que ele explicava individualmente e até corrigia seu próprio erro, se fosse o caso. Um ano ele experimentou pedir que os alunos com melhores notas fossem à escola fora do horário para dar um tipo de reforço aos que tiveram notas “vermelhas”. Eu fui um dos escolhidos para ajudar os alunos. Na prova seguinte, uma das colegas, graças ao reforço, tirou nota melhor que a minha!
4. “Sua pergunta é inapropriada, não vou responder”
Quem se lembra da famosa “tolerância zero” para perguntas idiotas do Seu Saraiva? Está tudo bem rir dessas situações num programa humorístico, mas isso não pode acontecer numa sala de aula. Os professores devem encorajar os alunos a manifestar suas dúvidas e estar sempre dispostos a respondê-las. Além de colaborar com a educação do aluno, que é a função do professor, as dúvidas servem como termômetro para avaliar se o conteúdo está sendo bem passado.
5. “Já expliquei, não vou explicar de novo”
Da mesma forma, os professores nunca devem se recusar a repetir uma informação quando um aluno pede. Cada aluno é diferente do outro, com histórias distintas e maneiras diversas de absorver conhecimentos. Sendo assim, quando um aluno pede para explicar de novo, é bem provável que outros também tenham a mesma dúvida. Ou talvez tenham entendido errado.
6. “Você está muito quieto, explique o que eu disse”
Por outro lado, os professores não deveriam forçar os alunos a participar da aula, seja respondendo perguntas, dando opiniões ou tirando dúvidas. Cada aluno tem uma forma de aprender e prestar atenção, muitos preferem ficar quietos. Assim, quando um professor chama o nome de um aluno e pede que ele continue a explicação, o aluno pode se sentir intimidado e envergonhado. Pode até causar um trauma que será carregado por muito tempo.
- Quando era estudante de Letras, eu fazia uma bolsa de iniciação à docência em uma escola municipal e a nossa supervisora era uma professora muito sem noção. Em uma das nossas monitorias, conheci uma aluna com muita dificuldade de aprendizado. Essa aluna tinha quase 20 anos e ainda estava no 2º ano do ensino médio! Ela sentia dificuldade para ler e escrever e morria de vergonha. Sentei ao seu lado para trabalhar uma redação com ela, explicando calmamente onde ela precisava melhorar. Quando ela acabou a redação, a supervisora sem noção pegou o texto dela e leu na frente de todos os outros alunos, se certificando de apontar todos os erros que ela cometia para “ninguém fazer igual”. Coitada da menina. Entendi na hora de onde vinham os bloqueios de aprendizado dela.
7. “Você não tem talento para isso”
O talento do aluno, seja ele qual for, não deve ser ignorado. Além de educar, é um dos papéis dos professores identificar os talentos dos seus alunos e inspirá-los a desenvolver. Algumas vezes, pode ser difícil para a escola ou até mesmo para a família, ter os recursos necessários para incentivar o aluno. Mas o apoio é essencial para transformar histórias. Uma pesquisa do Instituto Gallup concluiu que o bem-estar e o engajamento no trabalho dos alunos formados depende das experiências que tiveram na escola.
- Quando eu estava na 1ª série, minha professora chamou minha mãe na escola dizendo para ela não desenhar por mim, porque eu não poderia ter feito aquele desenho sozinha, sendo que fui eu que fiz. Hoje sou desenhista de moda. © Priscila T Bittelbrunn / Facebook
- Na 8ª série a professora de português passou para a turma uma atividade onde cada um teria de escrever uma redação de tema livre com no mínimo 15 linhas. Eu, que sempre amei escrever e já sabia que meus textos geralmente eram mais longos, perguntei se ela esperava um número máximo de linhas. Ela disse que não e que não haveria necessidade, eu fiquei feliz em saber e fui para casa. Então me pus a escrever minha redação. Digitei uma história sobre um jovem que saltava de paraquedas e caía numa ilha misteriosa e mágica. Ao entregar a minha redação de 14 páginas, a professora na hora de dar nota disse que leu e que eu havia copiado de algum livro ou filme e que o texto não era de minha autoria. Ela acabou por me dar nota 7 numa escala de 0 a 10, por não crer que eu havia escrito. Meu pai teve de ir até a escola e conversar com a professora em minha presença para que ela revisse a injustiça que cometera, desse a nota devida e acreditasse que fui eu quem escrevi.
8. “Você não fez porque é preguiçoso”
Ninguém gosta de ser chamado de preguiçoso, mas quando isso acontece em uma sala de aula, as consequências podem ser desastrosas. Se um aluno ouve repetidamente que é preguiçoso, isso vai acabar se tornando parte dele. Em vez de ofender o aluno que não está se esforçando o suficiente, o professor deve investigar o porquê dessa atitude e buscar soluções para o problema.
- Eu fui professora e, quando estava estagiando, um professor me deixou sozinha com 42 alunos. Eles tinham de copiar o que ele deixou no quadro para poder sair para o recreio e teve um aluno que disse: “Eu não vou fazer”. Então eu disse que ele seria o último a sair da sala, já que eu não tinha como obrigar ele a copiar se ele não quisesse. Ele foi mesmo o último, e antes de sair da sala ele me disse: “Eu não copiei porque não sei escrever”. Meus olhos se encheram de lágrimas, a turma era do 7º ano na época que tinha aprovação automática no Rio de Janeiro.
9. “Você não é bom nessa matéria”
Ainda falando sobre influenciar e encorajar os alunos; não apenas os talentos extras devem ser encorajados, mas também a sua capacidade de realizar as tarefas da escola. Dizer que um aluno nunca será capaz de algo tem potencial para destruir os seus sonhos e futuro. Os professores devem mostrar um caminho para alcançar o sucesso, mesmo que seja um caminho difícil. Professores não têm o papel de prever o futuro, mas sim de conduzir o aluno ao seu futuro promissor.
- No ensino fundamental, estávamos em uma aula discutindo algo sobre sonhos e coisas do tipo até que a professora deu risada quando eu disse que queria ir aos EUA e quem sabe um dia ir para a Nasa se eu virasse cientista. Quando eu menos esperava, ela disse que eu nunca teria a capacidade de sair do país. No fim, anos depois eu não só fui aos EUA duas vezes, como também fui a outros quatro países. Visitei a Nasa, ESO, Greenbank e outras instituições de pesquisa científica, sem pagar nada. Todas as viagens foram para pequenos cursos de especialização ou visitas técnicas. © Kesia Barbolli / Facebook
10. “Banheiro, só na hora do intervalo”
Algumas escolas têm regras rígidas quanto às idas ao banheiro ou bebedouro. Antes de tudo, é preciso dizer que esse é um direito do aluno e escolas já foram punidas por proibir alguém de ir ao banheiro. Dito isso, regular a ida ao banheiro é um erro porque foca nas consequências de se ausentar da aula, em vez de nos motivos. Se o professor desconfia que os alunos pedem para sair muitas vezes por estarem entediados com os estudos, é de sua responsabilidade deixar a aula mais atrativa.
- Professores que se recusam a deixar os alunos usarem o banheiro. Mas... por quê? Estão tentando mostrar sua autoridade sobre as crianças? Legal, agora eles se ressentem de você. © Cyrakhis / Reddit
- Como aluna, passei por uma situação específica e estranha: ao lado da minha sala, havia um bebedouro. Nos intervalos das aulas, nós saíamos para beber água, mas num belo dia decidiram que não podíamos mais sair da sala para isso. Porém, quando passaram avisando dessa nova regra, eu havia faltado porque estava doente. Fui eu, toda serelepe beber água. Na volta, o professor me proibiu de voltar para a sala e me mandou à diretoria porque não acreditou em mim quando eu disse que não sabia dessa nova regra.
11. “Vocês vão ficar todos sem intervalo”
Nós concordamos que manter a disciplina é um dos maiores desafios dos professores. E, para isso, alguns deles recorrem à punição coletiva, ou seja, fazer com que uma turma toda sofra as consequências pela indisciplina de um só. Isso, além de desagradável, não é a forma ideal de lidar com os problemas. Aqui, mais uma vez, é essencial que os professores desenvolvam aulas participativas e agradáveis, de forma a despertar o interesse dos alunos. Assim, a indisciplina cairá.
- No ensino fundamental, nós tínhamos uma professora de geografia que não podia ver ninguém conversando que achava que era sobre ela. Uma vez tivemos a última aula do dia com ela, mas logo antes de bater o sinal, uns colegas trocaram uns bilhetes e ela viu na hora em que um deles levantou para jogar no lixo. Ela foi até o lixo e revirou tudo até achar um bilhete diferente, que falava dela (mas não era nada demais, também). Ela trancou a porta e disse que ninguém ia sair da sala por causa disso. Foi bem assustador, ela estava nervosa e falando muito alto. Depois disso, fizemos um abaixo assinado com assinaturas de vários colegas em todos os turnos, pedindo providências à direção. Ela continuou na escola, mas saiu das salas de aula e foi trabalhar na biblioteca, que era mais sossegado. Isso foi em 1999, 2000 e até hoje ela se lembra disso.
12. “Não faço questão que meus alunos gostem de mim”
Você já teve algum professor ou professora que parecia se orgulhar do fato que nenhum aluno gostava dele? Pois esse é um erro tremendo. O ato de ensinar é uma troca de conhecimentos e sentimentos. Quando professor e alunos não têm empatia entre si, as aulas se tornarão um martírio e será muito difícil para os alunos se desenvolverem. E, se o aluno não progrediu, a missão do professor falhou. Sendo assim, os professores devem procurar que os alunos gostem deles, para garantir o sucesso e o bem-estar.
- Eu estava no último ano do ensino médio na escola técnica e todos os grupos da minha sala estavam a todo vapor trabalhando em seus projetos de Química. Minha sala era uma referência em toda a escola em ousadia, criatividade e força de vontade, principalmente por lutar por melhorias na escola. Eram trabalhos sobre métodos naturais e mais baratos de limpeza de rios, papel feito de taboas, plástico extraído de batatas, fitoterápicos para substituir a nicotina e por aí vai. Ao mesmo tempo enfrentávamos dificuldades burocráticas como o trancamento do laboratório que antes podíamos usar livremente e a professora orientadora mal avaliava nossos trabalhos. Certo dia colocamos essas e outras questões na mesa e ela nos chamou de megalomaníacos (quem tem mania de grandeza). Ao final, achando que todos ficariam calados e “respeitariam” (por medo) a hierarquia como “alunos disciplinados” ela desafiou a quem estivesse insatisfeito com ela que fizesse uma reclamação formal na coordenação. Moral da história: a sala se levantou em peso de suas cadeiras, e fizemos uma enorme fila para, um por um, registrar a reclamação no livro da escola, com a rubrica de cada um.
Temos certeza que essas situações fizeram você se lembrar de pelo menos uma experiência vivida em sala de aula, seja como professor ou aluno. Então, conte-nos, que outras histórias você viveu na escola?