Mesmo com nossos problemas, ainda prefiro o Brasil.
Uma russa se muda para Seul e conta como é a vida na Coreia do Sul
Você acha que é fácil para um estrangeiro viver na Coreia do Sul? A blogueira Svetlana Son contou a sua própria experiência e mostrou que nada nessa vida é impossível. Ela nasceu em Yakutsk, na Rússia, e aos 16 anos foi para Vladivostok para estudar. Lá, conheceu seu futuro marido, um coreano. Hoje, Svetlana vive em Seul e conta aos seus seguidores as particularidades da vida nesse país.
O Incrível.club achou muito interessante a percepção de uma mulher estrangeira sobre a realidade das pessoas na Coreia do Sul. As histórias são realmente inesperadas e muito interessantes. Confira agora mesmo.
1. Aqui, é muito difícil fazer uma manicure de qualidade
Se por um lado a indústria cosmética na Coreia do Sul é incrível, o mesmo não acontece, por exemplo, com os tratamentos de estética. No país, é muito difícil fazer uma boa manicure, pedicure ou conseguir alguém que saiba colocar cílios postiços.
Um dia, fiquei um bom tempo esperando a pessoa tentar fazer um desenho de meia lua na minha unha. As profissionais dessa área não sabem dar um bom formato às unhas e não fazem um bom tratamento, apenas cortam, lixam a passam um fixador. Por isso, certa vez cheguei em casa com as unhas muito feias e 200 dólares a menos no bolso.
2. Muitas pessoas comem com blogueiros de comida
Você já deve saber que na Coreia do Sul as pessoas adoram comer e falar sobre comida. Uma das hashtags mais populares no país é #먹방 (alimento). Se você digitar essa palavra no Google — na forma como é escrita em coreano — vai encontrar mais de 20 milhões de publicações relacionadas com o consumo de comida na frente das câmeras.
Na Coreia do Sul, não é considerado de bom tom comer sozinho. Como resultado, os blogueiros de comida gravam vídeos comendo e ficam muito populares, já que as pessoas ligam seus celulares e comem diante deles, como se estivessem acompanhadas. Essa tendência passou também para as redes sociais e recebeu o nome de ’muk-bang’ - vídeos que mostram apenas os blogueiros comendo. Da mesma forma, todos os influenciadores fazem ruídos com a boca ao mastigar. Para eles, isso não é sinal de falta de educação, mas apenas uma demonstração de que a comida está boa.
3. Raramente os adultos tomam banho antes de dormir
Quer saber o que mais me surpreendeu nos hábitos do meu marido quando começamos a morar juntos? Que ele só toma banho pela manhã. Contudo, depois de um tempo, percebi que isso acontece com todo mundo no país.
As crianças tomam banho à tarde, mas os adultos sempre tomam pela manhã. Na temporada de frio, as pessoas saem na rua com o cabelo molhado, ou seja, não mudam o hábito. Fazem isso para se sentir bem no trabalho e para acordar.
4. Nos casamentos, tudo acontece no seu devido tempo
Fomos convidados para o casamento de um colega de trabalho do meu marido e a minha tarefa foi muito simples: me vestir da maneira mais simples possível, como se fosse ao shopping. O código típico para um casamento coreano inclui calça preta e blusa branca. Vestidos longos e penteados extravagantes não são aceitos.
O casamento não é uma festa para você ficar bêbado, com música e dança. A festa inteira dura no máximo duas horas. Há uma cerimônia, um momento para fotos e um jantar. O jantar é concedido apenas às pessoas que dão um envelope com dinheiro como presente. Ao dar o presente, você anota o seu nome em um caderno e ganha um cupom que dá direito ao jantar.
5. Os homens dão presente úteis
Os homens coreanos não costumam ser muito românticos e meu marido não é exceção. No nosso primeiro Natal, ele me deu um secador de cabelo. Sim, isso mesmo.
Eu comecei com insinuações sutis, como “Em breve é Natal, vamos começar a pensar nos presentes”. Se eu não tivesse dito isso, muito provavelmente nem um secador teria recebido.
6. O estilo de vida coreano é conhecido como ppaleun ppaleun
Conseguir dar conta de todas as tarefas é uma corrida eterna. No país, tudo acontece de maneira muito rápida: tudo é feito com rapidez, assim como os casamentos (já mencionei), e uma consulta médica não dura mais do que alguns minutos — falarei a respeito mais adiante.
É preciso fazer tudo, ou seja, completar as tarefas, não importa com que eficiência. Se uma empresa encerra as atividades, rapidamente outra abre no lugar. Uma cafeteria é substituída por outra, uma marca sai outra entra, e por aí vai. O ppaleun ppaleun não perdoa ninguém. É preciso saber se adaptar a essa frequência; caso contrário, você se deixa atropelar e fica sem nada.
7. Ao invés de ter filhos, muitas pessoas adotam cachorros
Os coreanos adoram cachorros, mas não como estamos acostumados. Existem shoppings onde as pessoas caminham tranquilamente com seus animais e ninguém diz nada se o bichinho faz as suas necessidades no meio do caminho. Além disso, os cachorros são levados em carrinhos de bebê.
Um dia, estávamos perto de um elevador com a nossa filha e um casal chegou com o seu cachorro. Ele era branco e fofo, e estava dentro de um carrinho de bebê de uma marca famosa. A nossa filha também estava em um carrinho, mas um bastante mais humilde que aquele verdadeiro ’trono’ onde estava o cachorro.
8. Uma forma curiosa de entender a personalidade dos outros
Na Coreia do Sul, o caráter de uma pessoa é determinado pelo seu grupo sanguíneo. Um europeu ou um brasileiro costumam perguntar qual é o signo do outro para ter uma ideia sobre o seu possível temperamento. Já na Coreia do Sul, as pessoas perguntam qual é o tipo de sangue para tentar decifrar seus interlocutores.
9. O nascimento e a infância de um filho são muito caros
A Coreia do Sul está se transformando no país com taxa de natalidade mais baixa do mundo. Os casais não querem mais ter filhos e nas ruas é muito raro ver mulheres grávidas. Além disso, a idade média das mulheres que dão à luz o primeiro filho já superou os 32 anos.
Os casais se comportam de maneira muito pragmática em relação ao nascimento de um filho porque entendem que não é fácil sustentar uma criança. As famílias têm entre um e dois filhos. Além disso, há poucas creches no país. É quase impossível entrar em uma que seja pública e com baixo custo e as listas de espera, apesar dos poucos nascimentos, são enormes. O valor da mensalidade de uma creche no país varia entre o equivalente a 800 e 1.000 reais.
10. No país, quase não existem centros de bronzeamento artificial
É lógico pensar que não existem centros de bronzeamento artificial. Afinal, os coreanos são contra tomar Sol. Você pode encontrar espaços assim em Itaewon-dong, um bairro de Seul repleto de estrangeiros.
11. As férias não são suficientes para descansar
Quer saber como os coreanos viajam? Muito rapidamente. Para eles, de três a cinco dias bastam para visitar a longínqua Europa, por exemplo — são mais de 12 horas de voo entre Seul e Berlim.
A duração média de férias de um coreano é de duas semanas por ano, mas eles quase nunca conseguem tirar esse tempo todo de uma vez só. Em vez disso, dividem os 14 dias ao longo do ano. Às vezes, meu marido sai de férias por um dia e meio. E já chegou a ter meio dia de férias.
12. Os principais gastos são com moradia e serviços
Na Coreia do Sul, as despesas com moradia são muito altas. Por exemplo, um apartamento novo em Seul custa o equivalente a no mínimo 3,2 milhões de reais — a moeda do país é o won. Em bairros que estão na moda o valor pode ser ainda maior.
Por isso, aproximadamente metade dos coreanos vive em imóveis alugados. Eles precisam pagar de 1,6 mil a 8 mil reais de aluguel por mês. Além disso, os gastos com serviços variam de 800 a 1,2 mil reais por mês, sem contar os 200 reais com seguros — em wons, evidentemente.
13. Para respirar ar puro, é preciso visitar parques especiais
Este é o Seoul Botanic Park (Parque Botânico de Seul), um lugar muito popular e que já recebeu mais de um milhão de visitantes desde a inauguração. Os habitantes de Seul precisam de espaços como esse para respirar ar puro.
A necessidade de lugares desse tipo é consequência da grande contaminação do ar, que está cada vez pior. A culpa é da produção industrial e das fábricas chinesas, que liberam gases que são levados pelo vento para a Coreia do Sul.
14. Uma consulta médica é realmente muito rápida
Em geral, a cada dois anos eu tenho uma crise de sinusite. Um dia, tive de ir ao médico perto de casa. Mesmo se a fila de pacientes está grande, as pessoas não precisam esperar muito tempo porque as consultas duram entre dois e cinco minutos.
Na Coreia do Sul, o médico se encarrega de examinar, o resto é trabalho das enfermeiras. Além disso, tudo acontece virtualmente, sem nenhum papel. Os tratamentos de doenças não graves não são caros. No dia em que precisei ir ao médico tive de pagar o equivalente a 52 reais pela consulta, valor que considera também os preços dos remédios.
15. Os padrões de beleza na Coreia do Sul são muito diferentes
É muito curioso como algumas coisas que no Ocidente são consideradas feias na Coreia do Sul são vistas de uma maneira completamente oposta. Na minha infância, sofri muito por ter orelhas grandes demais e recebi muitos apelidos por isso.
Quando conheci o meu marido, me lembro de um dos seus elogios: “Você tem orelhas lindas”. Foi então que eu descobri que na Ásia ter orelhas grandes é sinal de beleza.
16. As festas são coisa séria, até as de Ano Novo
As festas coreanas têm um forte caráter tradicional. O principal objetivo delas é a união da família. Até mesmo no Ano Novo é importante respeitar as tradições e fazer homenagens aos antepassados e às velhas gerações.
Durante as festas, as crianças recebem bons presentes em dinheiro dos adultos e gastam a quantia com os brinquedos que quiserem.
17. Roupas de frio são raras no país
Nunca se deixe guiar pela maneira como os coreanos se vestem no inverno. As mulheres podem andar pelas ruas com sapatos de verão e sem gorro, até mesmo quando os termômetros marcam −10 °C — e, sim, Seul é uma cidade bem fria, onde costuma nevar. Não sei se isso é apenas uma maneira de manifestar um estilo ou se eles simplesmente não sentem frio.
Meus filhos sempre estão mais abrigados do que os coreanos. Os professores ficaram realmente impressionados quando viram os meus pequenos usando ceroulas um dia. Eles não podiam entender como uma criança podia usar algo desse tipo. O mais assustador é que apesar disso os sul-coreanos raramente ficam doentes.
18. Os ’doramas’ coreanos conquistaram o mundo
Todos os anos são gravados centenas de filmes e séries na Coreia do Sul. Os coreanos adoram cinema e são realmente muito críticos. Além disso, têm contagiado o mundo com seu amor pelas séries chamadas de doramas. Os espectadores costumam ficar tão viciados nas séries que fazem autênticas peregrinações aos locais onde elas são gravadas.
19. Os pais não escolhem os nomes de seus filhos
Na hora de escolher o nome de um filho, muitos coreanos recorrem a estatísticas (사주) criadas por especialistas em uma espécie de numerologia. Com base no gênero, data e hora do nascimento, é determinado o melhor nome para o recém-nascido.
É por isso que na Coreia do Sul há mais nomes do que sobrenomes. Eles podem estar escritos no alfabeto coreano, o hangul, ou com caracteres chineses.
20. Tudo é compartilhado nos parquinhos
Os parquinhos são pequenos países com suas próprias regras. As crianças sempre compartilham seus brinquedos e os adultos cuidam de seus filhos e também brincam com eles.
As mães compram doces para todos e é impossível ver alguém chegando com apenas um doce; se você comprar um para si, compra para todos.
21. Vacinas e diagnósticos médicos não se discutem
As crianças coreanas são vacinadas obrigatoriamente e o país conta com um número bem maior de vacinas do que outros. No país, a vacinação não é uma opção.
As pessoas confiam muito na medicina e nos médicos. Se um desses especialistas passa um diagnóstico e uma conduta, as pessoas não discutem. As mães não ficam pesquisando métodos alternativos ou questionando os tratamentos.
O médico é um 선생님 (mestre) e é uma falta de respeito discutir com ele.
22. Os coreanos valorizam o trabalho
No país, não há postos de trabalho suficientes para todos, principalmente para os estrangeiros. As pessoas fazem o possível para se manter no mesmo trabalho por muitos anos e esperam ansiosamente a oportunidade de uma nova oferta.
É por isso que no país a taxa de desemprego após a universidade é tão alta.
O que você achou dessas impressões sobre a Coreia do Sul? Conseguiria se adaptar à realidade desse país? Conte nos comentários.