Uma história sobre pais que não se importam com o conforto dos próprios filhos

Histórias
há 2 anos

Talvez, a ideia de que temos uma dívida eterna com os nossos pais seja realmente uma verdade. Mas, às vezes, alguns pais não apenas exigem o pagamento dessa dívida, mas também cobram “juros”. Esse será o tema do artigo de hoje escrito pelo autor do canal “Não precisa de um agente imobiliário!”

E nós, do Incrível.club, esperamos que você não tenha de passar por situações como as que a protagonista da história a seguir viveu.

Sônia ainda estava dormindo no seu primeiro dia de folga de verdade, quando seu telefone tocou. Já que a chamada entrou até mesmo no modo “Não perturbe”, significava que eram os seus pais.

— Alô, sim. Aconteceu alguma coisa?

— Ainda está dormindo? Às 10h da manhã?

— Mãe, é meu dia de folga. O que foi?

— Seu pai e eu pensamos e decidimos que seria mais confortável para nós ficar na cidade por um tempo. Ar puro e silêncio são ótimos, mas a cidade traz conforto. Então arrume as coisas. Estaremos aí na segunda-feira.

— Espere! Vocês querem vir aqui, para o meu apartamento?

— Claro, para onde mais? Não se esqueça de que nós demos o dinheiro para você comprar esse apartamento!

— Em primeiro lugar, apenas metade do dinheiro. Em segundo lugar, já disse centenas de vezes que sou grata por isso. Mas este é o meu apartamento.

— Sônia, não seja uma criança mimada. Você vai gostar da casa. É calmo e perto do trabalho. Você adora morar aqui.

Sônia deu um suspiro cansado. Todo ano a mesma coisa. Ela deixou de lutar há muito tempo.

— Está bem, como quiser.

 É esse o espírito, filha. Então amanhã iremos com as nossas coisas!

Sônia se mudou para a casa de campo dos pais, e eles, para o apartamento. Realmente, era mais conveniente para ela — mais perto do trabalho, ninguém a incomodava por viver como queria. Sim, no inverno ela teria de se esforçar um pouquinho, mas enquanto era outono, não queria pensar nas dificuldades do inverno.

Em outubro, os pais ligaram com a notícia de que seu irmão Bernardo estava vindo com a família e que iria trazer os netos! Ela respondeu: “Fico feliz por vocês!” Seus pais sempre colocavam o irmão mais velho como exemplo: trabalho legal, família, filhos — enfim, tudo o que ela não tinha. E agora, com certeza, Bernardo simplesmente iria deixar as crianças com os avós e sair para resolver seus assuntos.

— Então, precisamos voltar para casa. Por duas semanas. Você sabe, ficar com os netos em um apartamento, ainda mais em um apartamento de um cômodo... será muito apertado para nós. Então se prepare para voltar para cá!

— Eu não posso. Já me acostumei aqui. Combinamos até a primavera. Por isso, vou ficar aqui.
— Não seja teimosa! — disse o pai. — Tenha pena de mim e da sua mãe, não dá para ficar em um apartamento pequeno com duas crianças. Arrume as coisas!

Sônia ficou arrasada, mas não tinha forças para lutar. Ela arrumou suas coisas e voltou para seu apartamento em três dias. Nem viu Bernardo, pois ele já tinha ido embora. Dessa vez, por algum motivo, ele estava sem a sua super-esposa-mãe e simplesmente lindíssima mulher.

Sônia chegou ao seu apartamento e não o reconheceu. Tudo estava lá, mas reorganizado. E meio sujo. Como se não arrumassem há semanas, mas não disse nada aos pais. Seria apenas um desperdício de energia.

Depois de quase três semanas, Sônia voltou a receber uma chamada dos pais: “Bernardo virá buscar as crianças. E nós já estamos entediados aqui. Então, arrume as coisas, precisamos ficar na cidade. Mais perto dos hospitais”. Para a surpresa de seus pais, Sônia nem se opôs. Ela concordou, apenas pediu três dias para se preparar. Quando chegou o dia da mudança, os pais, com suas inúmeras coisas, tentaram abrir a porta do apartamento.

Surpresos que a chave não funcionava, ligaram para Sônia.

— Não sei o que há de errado com suas chaves. Talvez tenham se confundido? Tentem tocar a campainha.

— Quê? Você está em casa?

— Estou no trabalho. Mas vocês podem tentar.

Sem entender nada, o pai tocou a campainha. Para sua surpresa, um jovem apareceu na porta e disse: “Olá. Vocês são os pais da Sônia? Perfeito. Ela me pediu para lhes entregar algo”.
Com essas palavras, o jovem entregou um envelope para a mãe e fechou a porta. Havia um pequeno bilhete no envelope: “Aluguei o apartamento. Não vão poder morar aqui. Voltem para a casa de campo. E não se esqueçam de verificar o aquecimento e o poço antes do inverno!”

Depois de ler o bilhete três vezes, os pais ainda não entendiam o seu significado. Em busca de uma resposta, voltaram a ligar para a filha:

— O que você fez? Deixou seus pais sem lugar para morar!

— Não, que isso! É meu apartamento. Sim, eu sei que vocês me deram de presente. Eu sei o quanto se esforçaram. Mas é meu apartamento. E eu posso administrá-lo como eu quiser. Então decidi alugá-lo.

— Como assim você “decidiu”? Por que não nos consultou?

— E por que deveria?

— Porque queríamos morar nesse apartamento! Você não tem consideração por nós? Despeje o seu inquilino imediatamente e nos dê as chaves do apartamento!

— Não! O apartamento é meu. E vou alugá-lo. O que vão fazer caso não queiram viver na casa de campo não é problema meu.

— Espere, e onde você está morando?

— Com meu namorado.

— Namorado?

— Já estamos juntos há dois anos. Claro, durante todo esse tempo vocês nunca me perguntaram sobre minha vida pessoal. Enfim, tenho de trabalhar. Boa sorte no inverno!

Os pais cortaram relações com a filha por um longo tempo. Eles não conseguiam acreditar que Sônia os “trairia assim”. Pediram ajuda do filho para encontrar uma moradia na cidade — à medida que ficava mais frio, eles gostavam da casa cada vez menos. No entanto, Bernardo não pôde ajudá-los. Além disso, deixou os pais ainda mais tristes: se divorciou, e as crianças ficaram com a mãe, que até agora não permite que os filhos se encontrem com os avós.

Sônia nem desejou aos pais um Feliz Natal e Ano-Novo. Ela estava feliz sem saber nada sobre eles e seu irmão. Embora ele mesmo tenha contado tudo a ela quando pediu para morar no seu apartamento. Para a pergunta sobre o apartamento dele, para o qual os pais também deram dinheiro, ele apenas sorriu com tristeza e contou sobre o divórcio, a divisão de bens e os julgamentos. Mas nada disso importava para Sônia. Ela tinha uma vida própria e um apartamento próprio. Uma vida de verdade.

O Incrível.club publica essa história com a permissão do autor.

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