Uma história comovente mostrando a importância dos pais na nossa vida
A vida moderna impõe um ritmo acelerado e dita suas próprias regras, que muitas vezes acabam afetando negativamente o dia a dia. Frequentemente, muitos acabam se esquecendo de ligar para seus pais, argumentando que estão ocupados com a carreira ou passando o tempo com seus próprios filhos, que exigem toda a atenção do mundo. No entanto, laços estáveis com pais podem tornar uma pessoa mais forte, confiante e fazem acreditar no melhor e a escritora russa Lyudmila Klimova, autora da emocionante história “Filhinha”, prova isso.
O conto deste post deixou a equipe do Incrível.club comovida e pensativa, pois é uma história que poderia ter acontecido com qualquer um de nós.
Natália começou a ter vergonha de sua mãe, Alexandra, aos 13 anos, quando se tornou adolescente e passou a se interessar por “coisas de menina”. Foi então que ela percebeu que sua mãe não era nada parecida com outras mulheres de sua cidadezinha.
Alexandra não gostava de roupas refinadas, de cosméticos nem fazia manicure. A falta de educação se manifestava em seu discurso “ignorante e retrógrado”, como descrevia Natália. Além disso, Alexandra era criadora de galinhas, dando mais um motivo para que sua filha sentisse vergonha dela e de seu trabalho “longe de ser digno”.
Desde então, Natália ficou apegada à ideia de se tornar adulta, se mudar para uma cidade grande e romper todas as ligações com a cidadezinha. A propósito, ela puxou o pai, que nunca conheceu pessoalmente: era uma garota inteligente e uma aluna exemplar. Certa vez, Natália perguntou à mãe sobre o pai.
— Só Deus sabe onde ele está — Alexandra respondeu, e Natália nunca mais fez questão de perguntar novamente.
Alguns anos depois, ela entrou na universidade em uma cidade grande, passou a morar no dormitório, mas não pretendia visitar sua mãe durante os estudos, nem nas férias. Alexandra, por sua vez, estava com saudades de sua filha e vinha com frequência, trazendo grandes potes cheios de galinhada e de vários bolos, entre outras delícias. Constrangida com boinas e blusas de crochê ridículas, presentes carinhosos de sua mãe, Natália nunca a deixou ficar por muito tempo no quarto do dormitório junto com suas colegas.
— Mãe, por que não nos sentamos lá fora?
Sincera e ingênua, Alexandra não suspeitava dos tormentos de sua filha. Ela continuava amando Natália com todo o coração. Aliás, Alexandra era uma mãe bastante jovem, pois tinha apenas 20 anos quando Natália nasceu.
Os frutos da vida independente também não demoraram a aparecer — durante a universidade, a menina conheceu Sérgio, seu futuro marido. Natália não convidou Alexandra para o casamento, pois tinha medo de que sua mãe a deixaria constrangida. O casal também abriu mão de um casamento pomposo. Natália simplesmente ligou para sua mãe no dia anterior à cerimônia.
— Filhinha! Mas como assim?
— O que foi, mãe? Não vamos fazer nada de especial, apenas um simples casamento de estudantes. Você pode vir na semana que vem para conhecer seu genro.
Agoniada, Natália estava esperando o dia do encontro. Ela tinha gostado tanto de sua sogra, idealizando a personalidade da mulher, que ignorava as características de sua mãe, as quais não lhe agradavam, diferentemente das “qualidades” de sua sogra: penteados estilosos, manicure, maquiagem, roupas de grife e acessórios, entre outras. O sonho de Natália era fazer amizade com ela, embora fechasse os olhos para o egoísmo e a ignorância da mulher. Além disso, sua sogra não interferia na vida dos cônjuges e até parecia estar contente em ter deixado seu filho sob os cuidados de outra mulher. O problema da moradia também foi resolvido: o casal se mudou para o apartamento da avó paterna de Sérgio, que, por sua vez, passou a morar no antigo quarto de Sérgio na casa do filho.
Alexandra veio para a cidade de trem. Quando Natália e seu marido a encontraram na estação, a menina ficou apavorada. Ela encarou a mulher perdida, olhando para os lados e procurando a filha, que já estava atrasada. Alexandra estava carregando uma mochila enorme nas costas, duas sacolas pesadas nas mãos e estava vestindo uma boina colorida, uma jaqueta camuflada e botas de borracha.
— Mãe, finalmente nos encontramos! Este é o meu marido, Sérgio.
— Feliz em te... em conhecê-lo, Sérgio — Alexandra disse timidamente.
— Prazer em conhecê-la, dona Alexandra — Sérgio respondeu alegremente, pegando as sacolas e a mochila dela. — Que peso! O que você colocou aqui?
— Trouxe alguns potes de galinhada, legumes da horta...
— Aposto que são gostosos! — Sérgio ficou empolgado e seguiu em frente.
— Por que não se vestiu direito? Afinal, veio a uma cidade grande! — Natália falou para sua mãe, resmungando de raiva.
— Filhinha, mas quem é que vai olhar para mim?
Natália revirou os olhos. Assim que eles chegaram em casa, ela tirou da geladeira um prato com minissanduíches, fatias de laranja e queijo. Confusa, Alexandra olhou para a mesa.
— Filhinha, por que o pão é tão pequeno?
— Mãe, qual é? Isso se chama ca-na-pé!
Alexandra, ainda mais perdida por ter encarado sua filha irritada, murmurou:
— Está bem... Não querem esquentar a galinhada?
Cansado das iguarias que Natália costumava fazer o tempo todo, Sérgio subitamente se animou:
— Por que não? — o homem olhou severamente para sua esposa.
— Também dá para fazer uma salada — Alexandra disse tirando os legumes das sacolas.
Sérgio gemeu de felicidade. Encorajada pelo apoio de seu genro, Alexandra começou a esvaziar suas sacolas com presentes, descrevendo cada um:
— Estes são bolinhos de chuva para comer no lanche. E estes são os rocamboles de carne moída, feitos com a receita da minha avó. Aqui estão os legumes, bem fresquinhos, bons para a saúde. Sérgio, você vai adorar o meu arroz-doce...
Num piscar de olhos, a mesa ficou cheia de potes de diferentes tamanhos, empurrando os pratinhos de Natália para a borda da mesa, fazendo com que corressem o risco de cair a qualquer momento.
Enquanto isso, Sérgio gritava, entusiasmado:
— É o melhor presente de casamento! A minha família nunca faria isso. Esta é a minha sogra! Natália, que rosto carrancudo é esse?
Algum tempo depois, quando ainda faltavam duas semanas para o parto de Natália, Alexandra voltou a aparecer na porta do apartamento de sua filha, levando uma geladeira inteira nas mãos, como sempre.
— Mãe, o que é isso? Por que veio sem avisar?
— Filhinha, estou de férias. Vim visitar vocês e ajudá-la. Por que avisar?
No dia seguinte, Sérgio voltou do trabalho e disse:
— Natália, vou ter de viajar a negócios, então temos sorte de ter sua mãe aqui.
— Como assim? Por muito tempo?
— Volto na semana que vem.
— Então, está tudo sob controle. Vou dar à luz só daqui a duas semanas.
— Nunca se sabe o que pode acontecer. Dona Alexandra, você poderia ficar com Natália enquanto eu estiver fora?
Após dar um beijo no nariz de sua esposa, Sérgio começou a arrumar as malas. Na verdade, ele não pretendia trabalhar. O homem sentia uma necessidade enorme de fugir dos caprichos de sua esposa, das reclamações frequentes e das mudanças de humor durante a gravidez. Aliviado, ele foi passar o fim de semana com um amigo que morava no interior à beira de um lago, descansar da companhia de sua mulher e pescar.
Na manhã seguinte, Natália sentiu uma dor na barriga. Primeiro, não deu atenção, mas à noite a dor piorou.
“Mas a data do parto ainda não chegou”, pensou Natália. “Será que devo ligar para a minha sogra?”
Ela conversaria com sua mãe, mas o que essa mulher faria? “Cacarejaria” correndo pelo apartamento como as galinhas das quais cuida. Nesse momento, Alexandra foi tomar banho e Natália aproveitou o momento para ligar para os pais de Sérgio:
— Querida, você deveria chamar uma ambulância ao invés de me ligar — a sogra respondeu em voz alta depois de ter ouvido que Natália estava prestes a dar à luz. — Onde está Sérgio?
— Está viajando a trabalho.
— Que estranho, poderia ter recusado a viagem e ficado com você. Mas como é que posso ajudá-la?
A súbita negligência de sua sogra deixou Natália com ainda mais dor, mas, dessa vez, no coração.
Alexandra desligou o chuveiro e ouviu gritos fracos de sua filha ecoando do quarto. Enrolada em uma toalha, saiu correndo do banheiro e encontrou Natália sentada no chão, se encostando no sofá e contorcendo-se de dor.
— Filhinha! Já começou? Vou chamar uma ambulância!
Num momento, Alexandra chamou a ambulância, agindo tranquilamente e concentrada ao dizer o endereço.
— Filhinha, você já arrumou uma mala?
Natália balançou a cabeça, mal conseguindo abrir a boca de tanta dor. Sem perder um minuto sequer, Alexandra juntou todos os itens necessários para levar à maternidade.
— Filhinha, aguente firme! Logo vai passar! — Alexandra disse abraçando Natália e acariciando a filha até a ambulância chegar.
Natália foi examinada e levada à maternidade. Os paramédicos disseram que ela iria ter um parto pélvico. Alexandra sabia perfeitamente o que isso significava, pois já tinha passado por isso dando à luz sua filha. O parto dela não seria nada fácil.
— Senhora, você não pode ficar aqui. Volte para casa.
— A minha filha está aqui! Não posso...
— Sim, mas não pode ficar aqui. É proibido.
Porém, a teimosa Alexandra continuou sentada em um banco e, em seguida, pegou no sono. Compreendendo a situação, a enfermeira apenas balançou a cabeça e cobriu a mulher com um cobertor velho.
De manhã, alguém empurrou o ombro de Alexandra.
— Sua filha deu à luz. Está me ouvindo? Nasceu um menino, de 3,5 kg. Eles estão bem. Sua filha está descansando. Agora pode ir para casa e voltar à noite para trazer presentes.
Um sorriso feliz fez o rosto sonolento de Alexandra brilhar de alegria. Ela voltou para o apartamento de Natália, lavou o rosto, comeu, depois passou no mercado e, na hora do almoço, já estava caminhando ao redor do hospital. Finalmente, ouviu uma voz conhecida:
— Mãe!
— Filhinha!
A mulher se atirou na janela, atrás da qual estava Natália, pálida e sorridente. O prédio da maternidade era antigo e as janelas do primeiro andar eram baixas, então Alexandra conseguiu conversar com sua filha.
— Filhinha, como está? Está tudo bem? Trouxe alguns presentes para você... — Alexandra jogou uma sacola no parapeito da janela.
— Mãe, para que tanta comida!?
— Filhinha, você precisa comer bem. Já viu seu filho?
— Sim! Tã-ã-ão pequenininho! — emocionada, Natália deixou cair uma lágrima, e Alexandra respondeu caindo no choro.
— Mãe, qual é!?
— Nada, minha filhinha, são lágrimas de felicidade... Filhinha! — exclamou Alexandra depois de uma pausa. — Perdoe-me por ter dito aquilo sobre seu pai naquela vez... Ele mora nesta cidade com a família dele. Contei-lhe sobre você quando tinha 15 anos, mas a única pergunta que ele fez foi: “O que vou dizer para ela se nos encontrarmos?”
— Mãe, não precisamos dele! Nós duas vamos ficar bem, viu? Oh, mãe! — Natália deu risada. — Você se tornou avó, acredita? Aos 40 anos!
— Pois é — Alexandra conseguiu dizer sorrindo antes de deixar caírem mais lágrimas.
— Mãe, vai ficar com a gente durante as férias?
— Sim, filhinha, claro que vou ficar com vocês...