Um homem ficou preso por 3 dias no fundo do oceano
Ouvimos histórias sobre pessoas que sobreviveram por semanas no deserto, na floresta amazônica e em ilhas desabitadas. Tais histórias mostram como elas podem ser fortes e resilientes. Mas entre todos esses casos, tem um que pode surpreender. É o de um homem que passou três dias dentro de um navio afundado no fundo do Oceano Atlântico. Sem tanques de oxigênio, sem eletricidade, sem comunicação e sem comida, mas sobreviveu. Tudo aconteceu em 2013, em um rebocador que seguia pelas águas do Atlântico ao longo da costa da Nigéria. Naquela manhã, bem cedo, houve uma pequena tempestade. O rebocador estava puxando uma embarcação com tanques de óleo. Então, de repente, uma enorme onda se formou, bateu no navio e rompeu o cabo. Às 4h30 da manhã, o rebocador virou de cabeça para baixo. Todo o convés ficou debaixo d’água, e o casco ficou na superfície. A embarcação começou a afundar lentamente. A tripulação de 12 pessoas ficou presa, pois todas estavam trancadas em suas cabines.
Elas haviam fechado as portas de suas cabines por precaução, já que é uma região de muitos piratas, mas isso os impediu de sair. Porém, o cozinheiro Harrison Okene, estava naquele momento no banheiro, que virou de ponta-cabeça. Ele caiu no teto e todas as roupas e prateleiras do cômodo despencaram na cabeça dele. O homem ficou atordoado e sem entender o que estava acontecendo. Quando ouviu os gritos dos outros membros da tripulação, percebeu que o navio estava afundando. Então se esforçou para ficar em pé. Segurando-se nas paredes, lentamente saiu da cabine. O nível da água passou da cabeça dele. Ele respirou fundo. E intuitivamente, impulsionado pelo medo, chegou à sala de engenharia. Havia um pequeno espaço com ar. O local não estava totalmente inundado, já que a água ainda não havia chegado, e o ar não tinha saído.
Harrison percebeu que aquele era o lugar mais seguro no momento. Ele não tinha água fresca nem comida, e estava em um cômodo frio e úmido. O chão estava inundado e seus pés começaram a congelar. Quase não havia chance de sobrevivência. O homem encontrou uma garrafa de refrigerante no local e um colete salva-vidas com duas lanternas. Nesse momento, o navio havia descido para o fundo do oceano a uma profundidade de cerca de 30 metros. Esta é a altura de um edifício de 10 andares. O casco foi espremido e fez barulho de ferro raspando devido à pressão da água. Então o tripulante ouviu um movimento estranho do outro lado da porta. Eram tubarões e outros peixes que estavam investigando o convés. Neste momento, ele começou a perder a esperança.
A falta de suprimentos e a pressão não foram os maiores problemas. O espaço com ar era pequeno, o que significava que o oxigênio era pouco. A cada 24 horas, uma pessoa consome em média cerca de 10 metros cúbicos de ar. O que significa que havia menos de um dia para respirar. Mas, apesar disso, ele viveu em tais condições por cerca de 60 horas. Isso aconteceu graças à água. A pressão ao redor do navio era tão intensa que comprimiu o ar em cerca de 4 vezes. Outro problema era a respiração dele. Quando inalamos, absorvemos oxigênio. Ao expiramos, liberamos dióxido de carbono. Esta substância é perigosa para a saúde em concentrações de 5% no ar. Harrison encheu lentamente a sala com dióxido de carbono. E não conseguia sair. A cada hora, ficava mais difícil respirar. Mas aqui, novamente, o homem teve sorte. A água absorve dióxido de carbono. E Harrison se moveu e expirou em diferentes direções. Assim, sem saber, aumentou a área da água e manteve a concentração de dióxido sem chegar a um nível crítico.
Só que os perigos não tinham acabado. Ele ainda podia sofrer com hipotermia por estar em uma sala escura e fria. Essa é uma condição na qual a temperatura do corpo cai abaixo de 35 graus. Com isso, a percepção do mundo fica distorcida. A pessoa passa a não entender onde está e o que está acontecendo, pode perder a memória e até mesmo experimentar “terminal burrowing”, ou algo como “refúgio terminal”, em português. Esse comportamento estranho ocorre durante a hipotermia quando alguém tenta encontrar um pequeno abrigo, mesmo que esteja em uma sala fechada. Então pode até começar a cavar o chão frio com suas próprias mãos. Ao mesmo tempo, deve congelar rapidamente e perder a consciência em duas horas. O cômodo em que Harrison se encontrava estava cheia de água gelada. Ele não teria sobrevivido em tais condições se tivesse ficado no chão por várias horas. Mas conseguiu construir uma pequena plataforma com um colchão. Isso o manteve um pouco acima do nível da água. A cada hora que passava, o medo e o desespero cada vez mais tomavam conta da mente do sobrevivente.
Ele não podia sair dali por muitas razões. Uma delas era porque apenas um pouco de luz solar chega a tal profundidade, e Harrison não conseguia vê-la. A garrafa de refrigerante estava quase vazia e as lanternas pararam de funcionar. O homem estava na escuridão total. Mas a sua salvação estava próxima. Enquanto os socorristas procuravam sobreviventes nas proximidades, ele estava pensando na família e na sua vida. Então notou raios de luz através de um buraco nos destroços. Os mergulhadores estavam examinando o fundo do mar. Era a única chance de sobreviver. O cozinheiro saiu do local e nadou em direção aos socorristas, através da escuridão. O raio de luz vindo da lanterna do mergulhador desapareceu. Harrison tentou cegamente encontrar a equipe, mas ela estava do outro lado do convés. Seu oxigênio estava acabando, então ele decidiu voltar. Quase não sobrou ar em seus pulmões. E começou a sufocar, mas ainda chegou à cabine onde estava antes.
O principal era não se desesperar, pois era sua única chance de salvação. Após recuperar o fôlego e reabastecer o suprimento de oxigênio em seus pulmões, Harrison fez uma segunda tentativa. Saiu da sala e viu os mergulhadores. Nadou em direção a eles com todas as suas forças. O salva-vidas não viu o homem, que então bateu no pescoço dele por trás e agarrou sua mão com força. O mergulhador inicialmente levou um susto, mas percebeu que uma pessoa viva estava na frente dele. Harrison nadou para a sua cabine e liderou o resgatista enquanto o seu oxigênio se esgotava. Você pode facilmente encontrar na Internet uma gravação da câmera do mergulhador, onde o assustado cozinheiro estava em sua cabine de resgate durante um encontro com ele.
Os socorristas lhe deram uma máscara de oxigênio. E não acreditavam no que estavam vendo: havia uma pessoa viva na frente deles. Harrison não podia chegar imediatamente à superfície devido à pressão. Afinal, havia passado cerca de 60 horas no fundo do mar, então precisou mudar o nível de pressão lentamente para evitar danos à sua saúde. Assim, os mergulhadores o colocaram em uma câmara de descompressão para reduzir gradualmente a pressão externa. Quando Harrison saiu, viu as estrelas. Ele pensou que fazia um dia inteiro que estava no fundo do oceano. E ficou surpreso quando descobriu que eram 60 horas. Além disso, supôs que todos os outros membros da tripulação haviam escapado e esquecido dele. Muitos anos se passaram desde então, mas Harrison ainda tem pesadelos sobre a sua sala de ar. Às vezes acorda no meio da noite e diz para esposa que a cama está afundando e que eles estão no mar.
Um caso semelhante ocorreu em 1991 com o mergulhador Michael Proudfoot. Ele estava estudando um submarino afundado na costa de Baja, na Califórnia. Durante o mergulho, acidentalmente quebrou o regulador de respiração e ficou sem as reservas de oxigênio. Michael não conseguia chegar à superfície por estar muito fundo. E não teria ar suficiente nos pulmões. Felizmente, encontrou um bolsão de ar dentro do navio. Então nadou até lá e esperou pelos socorristas. Por dois dias, ficou debaixo d’água em completa escuridão. Comeu ouriços do mar crus e bebeu uma pequena quantidade de água morna de uma panela. Felizmente, os socorristas o encontraram. Michael Proudfoot saiu do submarino e permaneceu vivo.