Trabalho como detetive particular e aqui estão 12 coisas que muitas pessoas não sabem
Muitas pessoas se admiram quando eu digo que trabalho como detetive particular. Essa não é uma profissão muito comum e a maioria se baseia em filmes, séries e livros para imaginar como somos. Trabalho com isso há mais de dez anos e posso afirmar que o meu dia a dia é bem diferente da ficção. Pensando nisso, me prontifiquei a acabar com a curiosidade dos internautas e respondi a várias perguntas deles. Aqui estão as principais.
1. Como você entrou nesse ramo?
Comecei a trabalhar nessa área aos 18 anos, quando estava tentando me tornar um escritor. Entrei em uma empresa de um amigo da família como investigador particular. A maior parte do meu serviço consiste em investigar pessoas suspeitas de fraudar lesões para conseguir uma indenização das empresas em que trabalham. Então eu passo muito tempo seguindo trabalhadores para fazer vídeos deles em atividades que comprovem que, na verdade, eles estão bem de saúde.
2. Você já foi contratado para investigar ou seguir outro detetive particular contratado para te espionar? Como isso funcionaria exatamente? Tipo, vocês descobririam imediatamente?
Boa pergunta! Não, isso nunca aconteceu. Costumo brincar com um dos meus colegas de trabalho que seria impossível um espionar o outro porque eu já conheço todos os hábitos dos investigadores. Quando digo “hábitos”, me refiro a onde estacionar o carro ou como seguir alguém, por exemplo. Então, mesmo que o outro investigador fosse muito competente, acabaria se frustrando com os meus conhecimentos, e eu também!
3. Você tem algum método de trabalho? Por exemplo, como conseguir informações mais rapidamente?
Tenho uma forma de trabalhar que chamo de “truque”, e que consiste basicamente em conhecer a vizinhança. Geralmente, as únicas informações que temos do investigado são o seu nome e endereço, então a primeira coisa a fazer é confirmar que ele ainda mora lá. Para isso, eu recorro aos vizinhos.
Eu quase sempre estou segurando uma câmera, então bato no vizinho da frente e digo que trabalho para uma produtora de filmes e digo que queremos gravar naquela rua algo que invento na hora. Logo as pessoas começam a se animar e falar sobre a rua. Então digo algo como: “Sim, a rua é ótima, mas estamos realmente interessados naquela casa”, e aponto para a suposta residência do investigado. O vizinho diz “ah, sim, a casa do Fulano”. A partir daí, posso obter mais informações sobre a pessoa.
Também já aconteceu de eu ter que bater na própria casa do investigado. Nesse caso, eu mostro a foto de um carro batido, digo que o acidente aconteceu ali e pergunto se alguém testemunhou. A conversa flui e eu consigo as informações que preciso!
4. Como é o dia a dia de um investigador? Quanto de emoção você tem na sua rotina?
Você pode se desapontar ao saber que o meu trabalho é ficar parado, observando, filmando e esperando algo acontecer. Chego a ficar de seis a oito horas no carro e tento me distrair com músicas, redes sociais ou conversando com alguém no celular. É preciso um grande esforço para não dormir, pois assim eu poderia perder algum acontecimento importante. A “emoção” só começa quando o investigado finalmente se movimenta. Então eu tenho de segui-lo e conseguir um vídeo dele, sem que ele perceba.
5. Existe algum filme que retrate os investigadores com precisão?
Infelizmente, não. Nossa realidade é mesmo muito entediante para que alguém faça algo parecido, por isso eles incluem tanta ficção nas histórias. Porém, é engraçado, mas uma produção que se parece muito com o que faço é Assassinato por Encomenda, de 1985. Como nesse filme, passo muito tempo fingindo ser outras coisas como um produtor de cinema, reparador de extintores de incêndio, etc., para poder entrar em certos lugares. Se você mostrar confiança no que diz, as pessoas acreditam!
6. Você usa aquelas câmeras com lentes que alcançam super longe? Ou algum outro equipamento especial?
Não possuo uma câmera fotográfica com lente teleobjetiva, pois não usamos fotografia estática. Geralmente, apenas o vídeo é útil nesses casos. Para falar a verdade, nosso ramo não tem nada muito avançado tecnologicamente, como nos filmes do James Bond. Além disso, passamos muito tempo do lado de fora da casa das pessoas, esperando elas saírem, então uma teleobjetiva não teria utilidade.
Nós temos, sim, aquelas câmeras espiãs, que ficam escondidas em chapéus, botões ou canetas. Mas elas costumam ser de péssima qualidade e quebram muito facilmente. Por isso, uso apenas a minha velha e comum câmera Cannon. Também não uso uma acoplada no painel do carro, porque dificilmente preciso filmar alguém enquanto dirijo.
7. Eu só consigo te imaginar como um homem grisalho, usando casaco e chapéu. Que tipo de roupas você usa? Já precisou usar roupas específicas, como um disfarce?
Isso foi divertido! Você ficaria surpreso se me visse, então. Tenho 28 anos e geralmente uso shorts de basquete e uma regata quando estou trabalhando, por minha cidade ser muito quente! Eu sempre carrego algumas roupas no meu porta-malas, caso precise entrar em algum lugar onde bermuda e regata não sejam apropriadas. Mas, não, casacos eu só usaria se morasse em algum lugar frio, aqui eu sufocaria!
8. Você tem alguma autoridade perante a lei para prender alguém ou algo parecido? Já teve de fazer algo fora da lei?
Quem me dera! Não posso prender ninguém, até porque os casos que costumo pegar não são criminais. Como cidadão, já testemunhei coisas ilegais acontecendo, mas, nesses casos, tudo o que posso fazer é chamar a polícia. Também não posso grampear o telefone de ninguém, meu trabalho seria muito mais simples se eu pudesse. Quanto a agir à margem da lei, o máximo que faço é dirigir segurando a câmera e já fui parado por isso. Mas os policiais compreendem quando explico o motivo.
9. A vida de um detetive não pode ser tão entediante assim. Você nunca correu perigo na sua profissão?
Mais uma vez, sinto muito decepcionar, mas quase sempre evito situações perigosas. Já aconteceu, por exemplo, de pessoas tentarem arrombar o meu carro comigo lá dentro, porque pensaram estar vazio. Eu apenas saio, dou um susto na pessoa, e ela sai correndo, chega a ser engraçado. O mesmo acontece quando estou em um bairro perigoso, quando pessoas fazem coisas ilegais ao lado do meu carro. Mas, normalmente, ninguém encrenca comigo.
10. Alguma vez a pessoa percebeu estar sendo seguida? Se sim, como ela reagiu?
Apenas quatro vezes em dez anos. Eles geralmente vêm gritar comigo e eu apenas discuto um pouco e cada um vai para o seu lado. Mas teve um cara de muletas que percebeu que eu o estava seguindo e veio na minha direção para tirar satisfações. Me afastei e ele resolveu correr atrás de mim. Como eu estava investigando se ele realmente precisava das muletas, aproveitei para filmá-lo correndo atrás de mim sem elas. Consegui uns 15 minutos de vídeo e chamei a polícia em seguida.
11. Conte alguma situação curiosa envolvendo as suas investigações.
Certa vez, estava seguindo um sujeito que alegava ter se acidentado. Vi enquanto ele saía de uma consulta usando um colar cervical e muletas. Até precisou de ajuda para entrar no carro. Segui-o até a sua casa e fiquei esperando por cerca de quatro horas. Então, ele saiu todo animado, mas dessa vez usando roupas de futebol, sem colar e sem muletas.
Eu o segui novamente até chegar a um campo de futebol. Me sentei na arquibancada e aguardei. Quando o jogo começou, filmei o investigado jogando bola por cerca de duas horas. Ele jogava muito bem, até torci por ele, mas enviei as provas ao meu cliente logo depois.
12. Você já teve de investigar alguém que você já conhecia? Como isso aconteceu?
Isso aconteceu no ano passado e é uma coisa muito maluca! Como renda extra, trabalho como roteirista, então conheci um produtor e ficamos em contato profissional por alguns meses. Certo dia, estava com ele ao telefone marcando um almoço de negócios, enquanto chegava ao meu escritório. Quando cheguei na minha mesa, havia uma pasta com o nome dele!
Os documentos diziam que eu deveria investigá-lo e fiquei tão confuso que falei ao telefone “vamos marcar a vigilância para quinta-feira”, em vez de dizer “vamos marcar o almoço”. Rapidamente, me corrigi e ele não percebeu o deslize, acho. Depois, expliquei a situação para o meu chefe e ele concordou em passar o caso para outro investigador.
Porém, ao saber que eu ia almoçar com o investigado, meu colega perguntou a data e local e tratou de ir também. No dia, lá estava eu, almoçando com o produtor e vendo, no outro lado da rua, o outro detetive nos filmando. Ele até mandou trechos da filmagem para o meu celular! Foi uma situação muito estranha.