Steve Fossett: o recordista mundial que desapareceu misteriosamente
Você vai fazer uma trilha caminhando nas montanhas íngremes de Mammoth Lakes, na Califórnia.
O terreno é acidentado e difícil. A neve dificulta a caminhada. No meio do caminho, percebe algo fora do comum. De longe, vê coisas espalhadas no chão rochoso. Ao se aproximar um pouco para ter uma visão mais clara, avista o que parecem ser os restos de um avião. Aparentemente, os destroços pertenciam ao piloto recordista Steve Fossett. As autoridades o procuravam havia quase um ano. Ninguém conseguiu encontrá-lo e explicar o que causou a queda da aeronave dele. Parecia um voo bem fácil para um piloto experiente. Então, o que pode ter acontecido?
Anos antes desse trágico acontecimento, Fossett estava tentando um feito muito mais arriscado: ser o primeiro piloto a voar ao redor do mundo sozinho em um balão de ar quente! Você consegue imaginar passar duas semanas em um pequeno compartimento? Só para quebrar um recorde mundial? Se estiver se perguntando, aqui está o que é preciso para voar ao redor do mundo: um sistema de navegação de som, um patrocinador rico e resistência interminável. Embora os balões sejam o veículo voador mais antigo, ninguém até Fossett conseguiu voar ao redor do mundo com um. E, com certeza não foi moleza!
É o primeiro dia da segunda tentativa dele de voar ao redor do mundo em um balão. O ano é 1997, e uma multidão ansiosa se reúne em St Louis, esperando a decolagem. Ele entra no estádio com um grande sorriso e certamente não parece um aventureiro tentando alcançar o impossível. Mas esta é a viagem de sua vida. Para se preparar, Fosset treinou para se habituar a uma altitude de 3.700 metros. As condições são duras! Ele está voando em uma cabine despressurizada e entre as nuvens. Parece improvável que vá até o fim, mas lá vai o cara! O balão é lançado no ar! A multidão abaixo está aplaudindo e acenando.
O vento de cerca de cinco nós permite o lançamento do balão. Na primeira noite, um dos aquecedores quebra. Está congelante do lado de fora da cabine, mas Fosset consegue passar a noite. Sua arma secreta é o primeiro piloto automático de balão do mundo. É solitário lá em cima, e a necessidade constante de foco deixa a pessoa muito cansada. Então ele liga o piloto automático para dormir um pouco. E dispara os queimadores em uma sequência programada por computador para manter o balão na trajetória de voo. É preciso acordar e operar os queimadores para mudar a altitude.
Depois de três dias, uma primeira vitória! A travessia do Oceano Atlântico! Ele voa sozinho, mas uma equipe o acompanha em solo. Os integrantes dela se comunicam principalmente por e-mail enviado via satélite. No final da primeira semana, o Centro de Controle da Missão recebe uma mensagem alarmante de Fossett. Nuvens escuras estavam se formando no horizonte. Parece que o clima estava se voltando contra ele, que conseguia ver a tempestade do balão, mas não tinha como prever a força dela. O aventureiro estava determinado a passar através das nuvens, apesar dos riscos, voando 300 metros acima do solo sem visibilidade. De alguma forma, conseguiu passar por ela!
O voo dele continuou pela Líbia, Irã e Índia. Parecia que nada iria atrapalhar, mas Fosset já estava exausto e sem a certeza de quanto tempo mais conseguiria continuar. Dentro do balão, as refeições eram pequenas rações, e era preciso usar um balde como vaso sanitário. Infelizmente, ele perdeu muito combustível durante a travessia do Atlântico. No meio da Índia, o balão bateu em uma árvore. Mas voou surpreendentes 15.500 quilômetros de St Louis até o local de pouso. O pilotou não atingiu seu objetivo, mas não desistiu.
Para finalmente ter sucesso, era preciso mudar a estratégia. O novo plano era sobrevoar o Hemisfério Sul. Era a primeira vez que alguém tentaria isso. A ideia era simples: na parte sul do globo, o voo aconteceria principalmente sobre a água. Isso ajudaria a ir mais rápido, pois só era necessária a permissão de voo de cinco países ao longo do caminho. Se você estivesse no chão, talvez se perguntasse o que era aquele objeto voador no céu! Enquanto o cara sobrevoava a Cidade do Cabo, na África do Sul, mais de cinquenta pessoas relataram ter visto estranhos objetos voadores. Desculpe decepcionar sua imaginação, pessoal, mas eram apenas Fossett e seu balão!
A primeira tentativa dele de voar ao redor do mundo pelo Hemisfério Sul quase deu certo! Ele teve sorte. Quando chegou à Austrália, pegou uma corrente de jato que o ajudou a acelerar para cerca de 115 nós. Isso é três vezes a velocidade de uma gazela. O aventureiro estava orgulhoso, pois já havia quebrado seu recorde de distância voando mais de 22.000 quilômetros. Sob seus pés, a bela paisagem australiana era repleta de desertos e lagos secos. Fosset cruzou a costa australiana às 8h22 da noite do horário local, e seu próximo desembarque esperado seria no Chile, a mais de 12.000 quilômetros de distância. Mas, novamente, uma enorme tempestade cruzou seu caminho. Depois de entrar nela, o balão mostrou como era frágil. Os raios e os ventos ferozes o rasgaram. Desta vez, ele não conseguiu atravessar, e caiu no oceano quando o balão pegou fogo. Uma equipe de resgate esperou até de manhã para fazer a procura. E um avião Hércules o resgatou em mar aberto.
Em sua sexta tentativa, Fossett deu a volta ao mundo em um balão de ar quente, o ’Spirit of Freedom’, que pousou em Queensland, na Austrália, após um voo de duas semanas ao redor do mundo. Ele alcançou velocidades de mais de 320 km/h e viajou mais de 31.000 quilômetros. O aventureiro conseguiu! E se tornou o primeiro piloto solo a cruzar o mundo em um balão! No entanto, não parou por aí. Logo depois de quebrar esse recorde mundial, quis fazer o mesmo em um veículo diferente. Então convenceu Richard Branson, proprietário da Virgin Atlantic, a financiar uma aeronave a jato, mais tarde chamada de “Virgin Atlantic Global Flyer”. No dia 8 de fevereiro de 2005, o Global Flyer decolou. Ele partiu para circunavegar o Trópico de Câncer, uma distância incrível de cerca de 37.000 quilômetros. Por sorte ou pura ingenuidade, Fossett quebrou mais um recorde mundial! Para isso, superou uma grande perda de combustível no início da jornada e voltou para Salina, no Kansas, de onde partiu originalmente. Essa história lhe deu vontade de embarcar em um balão de ar quente?
Fossett era especialista em aventuras aéreas e condições extremas. Por isso seu desaparecimento nas montanhas de Sierra Nevada foi cheio de mistério. O que poderia ter acontecido para derrubar um piloto tão experiente? No dia 3 de setembro de 2007, ele decolou de um rancho em Nevada com seu avião monomotor chamado Super Decathlon. Era um voo diurno simples e tranquilo que sofreu uma guinada sombria. O aventureiro nunca conseguiu voltar ao rancho. Uma equipe de busca e resgate foi enviada para encontrá-lo, mas voltou de mãos vazias. Somente um ano depois, uma pessoa fazendo trilha encontrou alguns dos pertences de Fossett perto de Mammoth Lakes. Então, uma busca aérea localizou os restos da aeronave dele de dois lugares a uma altitude de 3.000 metros.
O mistério foi resolvido com a ajuda de tecnologia avançada. Na primeira estrutura de túnel de vento hexagonal do mundo, especialistas recriaram as condições climáticas do dia do voo do piloto. Eles estavam tentando entender se as correntes de ar das montanhas de Sierra Nevada poderiam ter derrubado a aeronave. Com a ajuda de uma réplica de um avião menor, fizeram uma descoberta perturbadora. Naquele dia, a visibilidade estava normal, mas as correntes de vento sopraram o monomotor como uma folha. Uma queda repentina provavelmente desorientou Fossett e o fez perder o controle da aeronave, que caiu diretamente nas montanhas. O motor não era forte o suficiente para superar o vento que forçava em direção ao solo. Acontece que isso estava totalmente fora do controle dele. A descoberta dos escombros encerrou este caso infeliz.