Se os humanos pudessem fazer coisas inusitadas como os Insetos
O detetive Barbosa olhou para os arquivos na frente dele e franziu a testa. Ele estava investigando uma série de assaltos a banco pela cidade, e nunca tinha visto nada tão brutal e tão bem feito. As portas do cofre foram apenas partidas, e a única pista para o que aconteceu foram as bordas das aberturas dele derretidas. Era como se alguém tivesse usado um maçarico, que devia ser tão quente quanto o sol!
O detetive bocejou e se levantou da mesa quando o telefone tocou. “Detetive, outro assalto no centro da cidade, no banco central desta vez, venha com urgência!” O Barbosa suspirou e vestiu sua capa. Esta seria uma noite longa.
Quando ele chegou, já havia um esquadrão da polícia, mas uma coisa chamou sua atenção: havia testemunhas, ao contrário dos casos anteriores. Duas pessoas estavam sentadas na parte de trás da ambulância, encolhidas sob os cobertores. O Barbosa pediu aos policiais que as mantivessem ali até que ele voltasse e entrou.
A imagem era a mesma de sempre: portas grossas de metal derrubadas, cofre vazio, nenhum outro vestígio. O Barbosa foi interrogar as testemunhas. Depois de ouvi-las, concluiu que elas ficaram até mais tarde para terminar algumas tarefas quando de repente a porta do banco se abriu e três pessoas usando máscaras pretas entraram. Os criminosos ficaram surpresos ao ver alguém no banco, mas um deles puxou a parte inferior da máscara e... Cuspiu no rosto dos funcionários.
Aquilo tinha um cheiro horrível e era obviamente tóxico, mas antes de perderem a consciência, eles ouviram os ladrões entrarem no cofre, viram um clarão forte e quase ficaram surdos com o estrondo. Em seguida, os dois desmaiaram e, quando acordaram, havia apenas a polícia e a ambulância por perto. O Barbosa anotou tudo em seu bloco e correu de volta para o banco, com os olhos fixos no chão. Sim! Algumas gotas da substância viscosa transparente foram deixadas no chão, como ele suspeitava. E pediu aos especialistas que a recolhessem e enviassem ao laboratório para análise.
Portanto, havia três ladrões, e pelo menos um deles tinha poderes de inseto. Essas mutações apareceram em todo o mundo há mais de cem anos como resultado de um cataclismo. Milhões de toneladas de toxinas foram espalhadas no ar e na água, e ninguém sentiu nenhuma diferença até que uma nova geração nasceu. Quase 70% dos bebês receberam genes de insetos e adquiriram habilidades sobre-humanas. E, claro, nem todo mundo as utiliza para fins nobres.
Houve uma batida na porta do escritório do detetive e sua parceira, a detetive Wanda, entrou. Ela era uma ex-treinadora da Unidade K9, pois tinha as habilidades da mariposa-tigre: sinais de ultrassom pulsantes que apenas animais e insetos conseguiam ouvir. A Wanda se aproximou da mesa do Barbosa em três longas passadas e colocou uma pasta ali com um sorriso maroto no rosto. “Dê uma olhada,” ela pediu. Enquanto o Barbosa olhava a pasta, seus olhos se arregalaram. “Mas isso significa... Nós os pegamos com a boca na botija!”, ele finalmente exclamou. “Exatamente”, respondeu Wanda. “Vamos pegá-los.”
Eles dirigiram, sem ligar os faróis para não chamarem a atenção, até o endereço onde o Jerônimo Alves supostamente morava: um cara que eles já haviam capturado dois anos antes. Os resultados do laboratório mostraram seu DNA na amostra do banco. Quando a Wanda parou, eles saíram silenciosamente do carro e entraram no prédio decadente de cinco andares. Os detetives foram até o apartamento na ponta dos pés, cientes do barulho das tábuas do assoalho, pararam diante da porta e se olharam.
Quando o Barbosa se preparava para chutar a porta, ela de repente se despedaçou e uma figura enorme correu até eles, prendendo os dois contra a parede oposta. Atordoado, o detetive percebeu duas outras silhuetas correndo pelo corredor, e então o gigante os soltou e começou a se afastar também. Ele estava aparentemente usando uma pesada armadura preta e branca.
O Barbosa pediu reforços, mas quando o pelotão chegou já era tarde demais: os culpados já tinham partido. No apartamento, eles encontraram mais do fluido viscoso e... Um casco. Uma carapaça vazia preta e branca, que parecia ser feita para servir em um humano. “Ele trocou de casco”, disse a Wanda. “Sim”, respondeu o Barbosa, “e isso nos dá outra pista.”
O exame de laboratório mostrou que a carapaça pertencia a outro velho conhecido da polícia: o Junior Silva. Ele tinha a armadura de um besouro da família dos zopherinae, considerado o material mais resistente do mundo, pois apenas uma serra circular de diamante consegue cortá-lo.
O Barbosa enviou um oficial com asas e visão de libélula para cuidar do Junior na vizinhança e convidou a Wanda para ir ao seu escritório. “Veja, eu desenhei um mapa das atividades deles. Vê o padrão?” “Não.” “E se eu fizer... Assim?” O Barbosa olhou para a Wanda para ver a reação. “É um... Espiral?” “Quase. É um camarão. Acho que sei quem é o terceiro cara, e por que ele é o chefe”.
Os detetives estavam esperando perto do banco que seria o próximo alvo dos ladrões de acordo com o mapa. Eles passaram três dias inspecionando a vizinhança e se preparando para o ataque. Finalmente, no quinto dia, quatro horas após o fechamento da agência, eles viram três figuras se aproximando do prédio. Uma delas era enorme e empurrou as portas do banco sem parar. O Barbosa sinalizou aos oficiais de tocaia que se preparassem e foi para a agência com a Wanda.
Não havia ninguém lá dentro, conforme combinado com o gerente. Os detetives seguiram os ladrões quase até o cofre, parando atrás de um canto. A Wanda pegou um espelho de bolso para que eles pudessem ver o que estava acontecendo. O homem enorme e o outro deram dois passos para trás, enquanto o terceiro se aproximou das portas do cofre e tirou uma de suas luvas.
Ele tinha uma grande e assustadora garra de caranguejo, com sua parte menor levantada como um gatilho. O homem direcionou seu braço mutante para a porta, a garra estalou e um clarão ofuscante com um estrondo ensurdecedor fez os dois detetives taparem os ouvidos com as mãos. Quando conseguiram ver e ouvir novamente, viram que a porta do cofre estava partida novamente e ainda fumegava.
Os ladrões entraram e um grito ecoou de dentro: “Parados!” Um grupo especial ficava alocado no cofre todas as noites, e todos eles tinham os poderes do besouro-bombardeiro. Quando os criminosos se viraram para correr, quatro jatos de um líquido avermelhado voaram nas costas deles. O homem enorme, o Junior, vinha por último e sofreu todo o impacto. Ele foi arremessado de cara no chão, e suas roupas se desintegraram com o ácido, mas a armadura por baixo permaneceu intacta. Seus cúmplices correram em direção ao canto, direto nos detetives.
O Jerônimo arrancou a máscara e cuspiu, mirando no rosto da Wanda, mas errou e caiu no chão. O Barbosa viu que a Wanda estava com a boca aberta — ela estava derrubando o Jerônimo com o ultrassom. O líder da gangue passou por eles e continuou correndo, e o Barbosa se mandou atrás.
Enquanto o criminoso saía correndo pela porta da frente, foi cercado por policiais armados exigindo que ele erguesse as mãos. O Barbosa o viu parar e fazer o que lhe foi dito, mas quando percebeu o motivo já era tarde demais. Ele saltou para trás de uma mesa e cobriu os ouvidos com força. A garra estalou novamente, enviando um feixe de luz e um barulho estrondoso por tudo. Os policiais gritaram e caíram no chão. O líder da gangue aproveitou os espaços, e sua garra foi lentamente entrando em posição armada no caminho.
O Barbosa deu início à perseguição e solicitou reforços da central. Eles correram por quase um quilômetro, ziguezagueando pela vizinhança e escalando obstáculos, o criminoso era surpreendentemente ágil apesar de sua garra desajeitada. Mas em uma curva ele parou de repente e foi levantado do chão, caindo de costas. Foi o oficial libélula que o Barbosa enviara antes: ele fisgou o ladrão por cima e o jogou no chão.
O Barbosa só conseguiu gritar “Protejam-se!” e, quando viu, como se estivesse em câmera lenta, a garra malvada se ergueu novamente e se fechou com um estalo. A explosão o deixou cego e surdo por um segundo, e o Barbosa tropeçou, mas permaneceu em pé e capturou o culpado que estava prestes a fugir novamente. O oficial libélula estava deitado próximo, atordoado, mas seguro.
O Barbosa agarrou o criminoso por trás, pegou-o pelos pulsos e soltou-o após um segundo. O ladrão tentou correr, mas caiu de cara, incapaz de separar as mãos. Elas estavam cobertas por um espesso fio prateado.
“Camarão pistola, hein?” Perguntou Barbosa, arfando, mas sorrindo. “Bem, eu sou a aranha Caerostris darwini, e é melhor você não mexer com gente como eu. Venha, eu vou te levar para a central. ”