Por que a época do glamour e das compras está desaparecendo e o que vai ocupar o seu lugar

Curiosidades
há 4 anos

Nos últimos anos o ritmo acelerado de nossas vidas se viu plasmado também na maneira como consumimos produtos e serviços. A cada passo que damos encontramos ofertas tentadoras de objetos que as empresas dizem que precisamos adquirir. Contudo, embora as marcas queiram vender o máximo e o mais rápido possível, elas estão encontrando resistência. A sociedade acostumada a consumir começou a resistir às compras exageradas. Hoje, parece que a simplicidade vem substituindo o consumismo de roupas, alimentos e todo tipo de produtos e serviços.

O Incrível.club decidiu pesquisar como surgiu a tendência da simplificação e como ela vem se manifestando na sociedade. Confira agora mesmo.

Os consumidores estão cansados de comprar

moda está penetrando rapidamente em todas as áreas da economia e está ganhando impulso ano após ano. As marcas de roupa, por exemplo, produzem várias coleções por temporada, os fabricantes de celulares lançam o “melhor modelo”, o “substituto do melhor modelo” e o “substituto do substituto do melhor modelo”; há tanta variedade em cada segmento de preços que há algum tempo paramos de tentar diferenciar uns dos outros. Antes, esperávamos um novo celular revolucionário e fazíamos fila para comprá-lo; hoje, a procura vem acompanhada da pergunta: “Que iPhone é relevante em 2019?” Há modelos demais no mercado.

cultura do consumismo se baseia no prazer de comprar tudo no curto prazo, e a economia estimula esse comportamento: “Não pense. Compre, use, jogue fora e compre outro”. Mas as pessoas já estão cansadas disso. Cansadas dos novos produtos, da publicidade e da mudança constante da moda. A sociedade parou de estar atenta às novidades. Além disso, embora a moda tenha ficado massiva, todas as marcas parecem ter os mesmos produtos.

Em 2018 e na primeira metade de 2019 pela primeira vez as vendas de celulares não aumentaram, mas diminuíram. O mercado de smartphones não se recuperou após uma queda recorde em 2018 e agora continua tentando voltar ao que era. O mercado de automóveis, que antes era dinâmico, também está fracassando; e pela primeira vez em 20 anos os fabricantes chineses também viveram uma queda no seu faturamento.

As marcas perceberam que precisam encontrar novas formas para vender. Muitas estão alugando produtos; outras investem em produtos de alta qualidade, mais caros e que duram mais tempo; outras trabalham sob encomenda. Todas, sem exceção, estão investindo em novos tipos de publicidade, porque perceberam que o método antigo simplesmente parou de funcionar.

A credibilidade da publicidade em breve chegará ao fim

Não apenas estamos cansados de comprar, como estamos cansados de escutar que devemos comprar. Todos os dias vemos de 4 a 10 mil anúncios. Não é surpresa para ninguém que estejamos cansados. Pesquisas mostram que a cada ano diminui a credibilidade da publicidade, e a geração dos millennials vem mostrando níveis recordes de resistência.

Hoje em dia, apenas a publicidade honesta funciona. As marcas entenderam esse movimento e se uniram a essa tendência: há cada vez vemos menos retoques em fotos e as propagandas procuram mostrar seus produtos e serviços de maneira mais humana. Nesse sentido, aparece a ideia de que “o homem precisa do homem”: as pessoas acreditam mais nos comentários reais do que nas campanhas de publicidade.

Por tempo limitado!
Parte de baixo de graça
pela compra da parte de cima de um biquíni Aerie.

PS: Ser você mesma é sexy. Essa garota não foi retocada.

A empresa Aerie, por exemplo, não retoca mais as fotos de suas modelos. Em seus anúncios, há mulheres de todos os tamanhos, lindas e naturais.

O reflexo na moda

A moda não é apenas roupa, é o estado de ânimo da sociedade. A tendência à simplificação se transformou no estilo normcore (mistura das palavras “normal” e “hardcore”), cuja essência é se vestir de qualquer maneira, sem pensar muito ao escolher a roupa e permitir um leve descuido. É como quando saímos de casa com a primeira roupa que vemos no armário.

normcore se relaciona com a comodidade, já que consiste em não perder tempo na escolha das roupas. Ele nasceu como uma antimoda, mas se transformou em uma tendência. Entretanto, esse comportamento já era típico de algumas personalidades como Steve Jobs, Mark Zuckerberg, Nick Woodman, Keanu Reeves e Leonardo DiCaprio.

Muitas marcas adotaram o conceito do normcore e começaram a lançar roupas com apenas uma cor e com um corte simples. A popularidade do armário básico não para de crescer e cada vez mais marcas incluem em suas coleções modelos fora do tempo e das tendências. Se antes a moda exigia que as pessoas usassem as últimas novidades, hoje em dia ela parece apostar na ideia de que nada sai de moda.

O princípio do “menos é mais” aparece com força no vestuário. Claro que as marcas continuam lançando tendências — e mais de uma vez ao ano -, mas quase todas elas têm uma linha de produtos de qualidade que fica por alguns anos.

Consumo consciente

As pessoas chegam ao consumo consciente de diferentes maneiras: umas querem economizar dinheiro, outras não querem encher a casa de tranquieiras, existem aquelas que não querem escolher a roupa pela manhã e há também aquelas que sabem que por trás de todo produto há uma indústria que consome muitos recursos.

Mas comprar uma camiseta extra é realmente muito errado? Sim, principalmente se pensarmos que a sua produção exige 2,7 mil litros de água (o mesmo que uma pessoa consome em 900 dias). Para a fabricação de uma calça jeans são necessários 7 mil litros. E isso sem pensar nos resíduos perigosos e nos produtos químicos usados para tingir os tecidos. Não trocar de roupa com frequência e não jogar as roupas no lixo também é algo importante. Em Hong Kong são jogadas fora 1,4 mil camisetas por minuto.

O consumo consciente não exige que as pessoas parem de comprar, ele apenas pede que elas pensem antes de comprar: “Eu realmente preciso disso?”

O consumo consciente tem o seu lado mais extremo: o freeganismo, uma corrente que nega a filosofia do consumo. Os freeganistas tentam participar o menos possível no sistema econômico e preferem reciclar. Eles chegam a pegar objetos e até alimentos no lixo.

Apesar de sua natureza radical, o movimento freeganista está cada vez mais forte de acordo com a opinião pública.

Economia da troca

Outra forma de consumir é recusar o consumo. A economia colaborativa é considerada a economia do futuro. A sociedade sempre procura maneiras de aplicá-la, pensando em como o acúmulo de objetos e de riqueza não é positivo. Nesse sentido, o aluguel e a troca se transformam em características importantes e muito presentes.

  • Serviços como o Airbnb permitem que quartos e apartamentos sejam alugados por temporadas curtas para férias ou para viagens de trabalho, eliminando os intermediários.
  • couchsurfing abre novas possibilidades para viajar.
  • O uso compartilhado de carros adquire cada vez mais popularidade.
  • A Semana Mundial da Troca foi visitada por 100 milhões de pessoa este ano.
  • As festas-swap (eventos para trocar roupas ou outros objetos) estão na moda e muitas pessoas param de comprar e decidem alugar roupas.
  • Todo ano aparecem novos serviços compartilhados, como os espaços coworking.

Redefinição do conteúdo: assinatura

O conteúdo também parou de ser objetivo de posse. As pessoas cada vez armazenam menos livros, filmes, músicas e jogos. Em vez disso, elas usam contas: é crescente o número de assinaturas, fazendo, portanto, aumentar essa modalidade.

Hoje em dias as pessoas têm contas para tudo. Isso ajuda na economica de tempo e dinheiro. O negócio das assinaturas cresce cada vez mais e encontra modalidades mais variadas.

Compre menos, viva de maneira mais simples

sharing (uso compartilhado de bens e serviços) e o consumo consciente nos dão mais liberdade. Sem acumular coisas e sem estarmos presos a um só lugar nos transformamos em pessoas “móveis” e podemos trabalhar em qualquer lugar do mundo.

Atualmente, as pessoas não querem mais se sentir poderosas como antes, não querem sentir que elas podem ser, ter e comprar o que quiserem.

A recusa à posse liberta as pessoas. Quando não existe a necessidade de dedicar toda a sua vida a ganhar dinheiro a pessoa pode se concentrar em outras coisas, como na família, no descanso e nas experiências. Elas estão cada vez mais minimalistas e o slow-life (“vida lenta”: um movimento que vai na contramão da pressa e do estresse e valoriza um ritmo desacelerado) e o essencialismo ganham mais força.

Sara e Alex James são um claro exemplo de casal moderno: eles trabalham onde quiserem e levam tudo que têm em uma van onde vivem, viajam e trabalham.

Aonde isso nos leva?

A simplificação e a consciência penetram em diferentes áreas de nossas vidas. Agora, não é tão fácil nos deixarmos convencer pelos prazeres rápidos. Pensamos no que realmente queremos e no que realmente precisamos.

A tendência a simplificar permeia nossas ações o tempo todo. Cada vez mais pessoas preferem investir em conhecimento e em experiências. Essas últimas são até mais importantes do que ter o celular mais moderno.

Hoje em dia a simplificação está mudando o mundo. Quando olhamos para a situação atual, é possível esperar por algumas mudanças:

  • Segundo pesquisadores, em 2025 o volume da economia compartlhada aumentará 20 vezes e vai chegar aos 335 bilhões de dólares.
  • O modelo cliente-vendedor está ficando obsoleto e no novo esquema o cliente também pode ser um empreendedor.
  • Não compartiremos apenas valores materiais, mas também conhecimento, ajuda profissional e serviços.
  • A tendência à simplicidade eliminará as fronteiras entre as classes sociais. Será mais difícil determinar visualmente quanto uma pessoa ganha.
  • As relações também vão mudar. Para dar lugar ao sharing, teremos que resolver o problema da desconfiança, encontrar novas garantias de segurança e aprender a lidar com novos compromissos. A comunicação, portanto, vai adquirir um novo sentido.
  • Cada vez haverá menos produtos disponíveis, o que beneficiará o meio ambiente. O serviço de foodsharing, por exemplo, fará com que milhares de toneladas de alimentos não sejam jogadas fora.

Claro que isso tudo não vai acontecer da noite para o dia, mas é importante que passemos a tratar o consumo de uma maneira consciente, para garantir um bom futuro para todos nós.

E você, está cansado da moda, das propagandas e das compras? Compartilhe a sua opinião sobre esse tema nos comentários.

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