Por que a Europa não constrói arranha-céus como os EUA ou a Ásia
Em sua maioria os arranha-céus da Europa estão concentrados em cinco cidades: Londres, Frankfurt, Paris, Moscou e Istambul. Mesmo juntos, estes lugares têm menos dessas construções do que a cidade de Nova York! Para um edifício ser considerado um arranha-céu moderno, precisa ter 150 metros de altura, ou seja, pelo menos de 40 a 50 andares. Cada andar tem, em média, 4 metros e 25 cm de altura do chão ao teto.
Se você tivesse visitado os EUA antes dos anos 70, teria encontrado apenas um desses edifícios. O Home Insurance Building, em Chicago, foi o primeiro alto do mundo, com 10 andares. Uau! Na Europa, os primeiros arranha-céus surgiram em Moscou. Eles formavam um grupo chamado Sete Irmãs, mas foram erguidos só em meados dos anos 90. A América do Norte começou a subir prédios cada vez mais altos. Isso aconteceu porque as cidades estavam ficando superpopulosas. Então, cada pedacinho de terreno era muito valioso.
O horizonte de Nova York é tão famoso que você provavelmente o reconheceria mesmo se nunca tiver ido a essa cidade antes. O mesmo acontece com Paris. Mas você consegue imaginar a Torre Eiffel cercada ou até mesmo bloqueada por arranha-céus? Isso certamente ofuscaria todo o seu brilho! O distrito de Lá Défense é onde podem ser encontrados os arranha-céus em Paris. Assim, eles não interferem no cenário romântico e turístico da cidade.
Em Londres, as coisas são um pouquinho diferentes. Alguns arranha-céus de lá têm formatos inusitados. Uma dessas construções é o “Pepino”. Outro com formato interessante é o Shard, algo como fragmento, em Português. E tem mais um, apelidado de “ralador de queijo”. Esses não são os nomes oficiais, claro. Mas fazem sentido se você observar o formato desses prédios gigantes.
Mas eles não têm um conceito arquitetônico qualquer. Os formatos foram pensados para não esconder a catedral de Saint Paul. (Aliás, o topo dessa construção monumental é visível até do Monte Rei Henrique VIII. E olha que esse local fica beeem distante!) De qualquer forma, há também outros pontos turísticos, como a Torre de Londres e o Palácio de Westminster. Eles têm seus próprios mirantes. Então, para não prejudicar a vista do horizonte de Londres, não é permitido construir nada que bloqueie esses monumentos.
A maioria das cidades europeias já existia quando os EUA começaram a erguer seus primeiros arranha-céus. É por isso que elas não tinham muito espaço para colocar prédios gigantes. Cidades bem niveladas resultam de um crescimento estável ao longo dos anos. Por exemplo, em Lisboa há um miradouro no parque Eduardo Sétimo. Desse lugar, dá pra ver todos o parque e o rio. Se de repente surgisse um monte de edificações de 150 metros de altura por lá, essa vista maravilhosa seria perdida. Não daria para ver a icônica avenida, nem o rio — em seus lugares haveria apenas os prédios.
Assim como Lisboa, muitas outras cidades na Europa não querem que arranha-céus atrapalhem sua herança cultural. Na Alemanha, por exemplo, a maioria deles fica em Frankfurt. Em outras cidades, a preferência é por proteger e restaurar os edifícios que já existem. E mesmo que, digamos, Berlim quisesse construir alguns arranha-céus, não conseguiria fazer isso. O solo de lá simplesmente não permite. Coloque um prédio desses por lá e ele afundará! Construir uma fundação para um prédio super alto na cidade requer um investimento alto, pois o solo é muito macio e arenoso.
Mas e se fosse ignorada toda a herança cultural de uma cidade europeia e se resolvesse encher, por exemplo, Praga, com arranha-céus? Primeiro, seria preciso demolir um monte de imóveis que já existem lá. Isso faria uma multidão furiosa de pessoas reclamar que a cidade que elas conhecem e amam está sendo destruída.
Bruxelas, na Bélgica, já passou por algo parecido. Tem até uma palavra que surgiu desse fenômeno — Bruxelização. Em termos simples, significa não se preocupar com o lugar em que serão colocadas novas edificações altas. “Aqui tá bom”. “Ah, põe mais uma ali também.” Elas poderiam ser chamadas de couves-de-bruxelas. Mas na maioria dos casos as autoridades locais não querem que as novas construções mudem a aparência histórica do lugar. Algumas cidades europeias maiores podem até seguir o exemplo da França e escolher um bairro separado para isso — ou seja, um lugar só para arranha-céus.
O Burj Khalifa, com seus mais de 828 metros de altura, é o edifício mais alto do mundo!
E não foi fácil colocá-lo em pé, levou seis anos para ser concluído, e dizem que valeu a pena. A construção é tão alta que dá pra vê-la a 95 km de distância em um dia claro. O mais alto da Europa tem apenas metade do tamanho dele. O Lakhta Center, em São Petersburgo, tem pouco mais de 460 metros de altura.
Bem, a pergunta que não quer calar é: se os arranha-céus são tão altos, por que não são derrubados pelo vento? A estrutura deles, desde a fundação até o ponto mais alto, é a resposta.
Vamos pegar o Burj Khalifa como exemplo. O solo onde ele foi erguido não é perfeito. Então, debaixo da fundação de 110 mil toneladas dessa construção gigante há 192 pilares, assentados em uma profundidade de mais de 50 metros. Graças à fricção entre o concreto e o solo, esses pilares não se mexem, criando uma fundação sólida. Mas a maioria dos arranha-céus é construída sobre um alicerce pedregoso, pois quase não se mexe. As estruturas são feitas de aço. Se você olhasse para um deles sem sua estrutura externa (uau!), tudo o que veria seria um monte de vigas de aço.
Quanto mais alto o edifício, mais os ventos o afetam. Domar esse fenômeno da natureza é um dos maiores desafios que os construtores têm que enfrentar. Imagine que você está em um dos andares superiores. De repente, uma rajada forte de vento bate no prédio. A construção inteira começa a balançar, e é possível sentir isso mesmo estando lá dentro. Você pode até cair caso não se segure em alguma coisa. Para evitar que isso aconteça, a maioria dos arranha-céus tem uma estrutura parecida com um pêndulo em seu interior. É ela que absorve a força do vento. Essa cosia é chamada de sistema de amortecedor de massa sintonizada. O mecanismo age como um contrapeso. Quando um arranha-céu é atingido pelo vento, é esse sistema que se move dentro dele.
Algumas construções altas não precisam desse “pêndulo”. O Shard, por exemplo, lida com o vento com a ajuda de seu formato afunilado. E a Torre de Shanghai usa seu giro em 120 graus. Os dois edifícios possuem estruturas incrivelmente inteligentes. É por isso que não balançam muito quando o vento bate neles. O Shard não tem nenhum sistema de amortecimento de massa sintonizada. E o que existe na Torre de Shanghai só serve como atração turística.
Antes de o design de um prédio ser finalizado, ele geralmente passa por um teste em túnel de vento. Uma maquete da cidade é construída e testada com esse edifício super alto. Quando os especialistas ligam “o vento”, isso simula condições da vida real. Vamos supor que o modelo de arranha-céu quebre sob a pressão do vento durante o teste. Nesse caso, é bem provável que ele caia na vida real também.
Os ventos lá em cima podem ser tão fortes que coisas como turbinas de vento se tornaram grandes aliadas dos construtores. O Bahrain World Center tem três delas, bem no meio dele. E tem outros: o Strata SE1, por exemplo, possui turbinas de vento no topo. Existe um fenômeno chamado “efeito downdraught”. São ventos acelerados que passam perto dos arranha-céus. Quando uma forte rajada de vento atinge um prédio muito alto, é empurrada para cima, para os lados e para baixo, em direção à rua. Então, se você estiver passando perto de um prédio incrivelmente alto em um dia de ventania, pode ter que se afastar para não ser levado pelo vento.
Mas digamos que vários arranha-céus quadrados fossem construídos um ao lado do outro. Nesse caso, eles certamente direcionariam o vento para as ruas. Isso poderia criar mini furacões em dias de muita ventania. Uma vez, um estudo examinou os 100 prédios mais altos que estavam prestes a ser demolidos por seus proprietários. E descobriu-se que a maioria deles tinha uma duração média de apenas 42 anos! Mas alguns podem durar muito mais. Por exemplo: o Temple Court Building ainda está de pé até hoje. Com seus 45 metros, é um pouquinho menor que os outros. Mas já viu mais de 100 invernos ao longo de sua existência!
A primeira coisa que nos vem à mente quando pensamos na demolição de algum edifício é poeira, destroços e um barulho ensurdecedor. Mas as coisas não são tão dramáticas assim para a maioria dos arranha-céus. Quando se resolve acabar com um, ele é desmontado, pedaço por pedaço. Esse processo começa pelo topo e vai até chegar à base. E tchã-rã — o prédio desaparece lentamente diante dos seus olhos! Abracadraba!