Por que a desextinção é impossível (mas poderia dar certo mesmo assim)
Em meio aos arbustos do noroeste da Tasmânia, na Austrália, um lobo-da-tasmânia vigia sua presa. Ele observa um distraído wallaby (uma espécie de canguru pequeno), que está comendo mato. O lobo-da-tasmânia, como o próprio nome sugere, tem corpo igual ao de um lobo e listras distintas nas laterais. Por ser um marsupial, também apresenta uma bolsa no abdômen. Ele adora emboscadas, então espera pacientemente o momento perfeito para atacar. De repente, o wallaby se assusta com o barulho de um galho se quebrando. Mas o lobo-da-tasmânia salta rapidamente, capturando sua presa.
Ele foi o maior predador terrestre do continente australiano. Mas os humanos migraram para lá e levaram os dingos, então os lobos passaram dificuldades para competir por comida. E quase desapareceram cerca de 2 mil anos atrás. Mas havia um último santuário sem dingos, na ilha da Tasmânia.
Lá eles continuaram a se reproduzir, até a chegada dos europeus, em 1803. O lobo-da-tasmânia foi considerado uma peste e culpado injustamente pelo sumiço do gado. Um erro tremendo — a mandíbula dele não tinha força suficiente para derrubar nem uma ovelha! A quantidade de espécimes foi diminuindo gradativamente ao longo do século seguinte, e o último viveu em cativeiro até 1936. Encontrar esse animal especial por aí se tornou cada vez mais raro com o passar dos anos. Por fim, ele foi declarado extinto em 1986.
Só que hoje, com a ajuda da clonagem, o lobo-da-tasmânia pode ter a chance de voltar para o mundo selvagem.
Um grupo de cientistas norte-americanos e australianos se uniu para trazer o lobo-da-tasmânia de volta à vida. O primeiro passo seria estruturar o genoma dele. Genoma é um conjunto inteiro de instruções de DNA que fornece todas as informações para entender como um animal se desenvolve e funciona. Mas para extrair essa informação, o DNA precisa estar perfeitamente preservado.
Felizmente, apenas 100 anos atrás, muitos lobos-da-tasmânia foram armazenados do jeito certo. E melhor ainda: foram usadas várias tecnologias, e algumas mantiveram o DNA em perfeito estado de conservação.
O DNA será utilizado para ajudar a reconstruir um genoma dentro de outro animal muito próximo dele: o dunnart-de-cauda-grossa. Esse marsupial, do tamanho de um camundongo, é o parente mais próximo do lobo-da-tasmânia. As duas espécies estão separadas por 40 milhões de anos — uma diferença tão grande que o processo de criar um lobo-da-tasmânia a partir de um dunnart é o mesmo que transformar um cachorro em gato.
Isso é uma missão colossal que envolve construir o genoma a partir de cerca de 3 bilhões de letras. Os primeiros 96% dos genomas deles são idênticos e já foram mapeados. Mas os 4% restantes serão como juntar peças de um quebra-cabeças de um céu azul sem nuvens. Essa parte levará muito mais tempo!
Assim que a receita da vida for criada, o embrião com genes totalmente editados pode ser inserido na mamãe dunnart. A gestação dos lobos-da-tasmânia dura poucas semanas, mas todos os marsupiais nascem pouco menores que um grão de arroz. Aí, durante um tempo, eles se alimentam em sua mãe. E será criada uma bolsa sintética para ser utilizada depois, para evitar qualquer estranheza quando o lobo ficar grande demais para a mãe carregar! O resultado final, porém, será de apenas 90% de um lobo-da-tasmânia, pois as tecnologias atuais não possibilitam a recriação exata de um animal extinto. Só que essa nova espécie, um híbrido, será um novo animal muito interessante!
Após conseguir ressuscitar com sucesso o lobo-da-tasmânia, vem o desafio de reintroduzi-lo em seu velho habitat. Apesar de os animais possuírem instintos, seus comportamentos não podem ser extraídos de um genoma. Este lobo vai precisar aprender a viver do zero. Ele não saberá como se alimentar e se defender, o jeito certo de interagir com sua própria espécie, como evitar ser presa de outro animal, como escolher um parceiro para acasalamento ou como cuidar de filhotes. Sem outros integrantes de sua espécie para ensiná-lo essas valiosas lições, o processo de soltá-lo no meio selvagem levará muito tempo.
Mas se tudo der certo, um dia o lobo-da-tasmânia retomará seu lugar no topo da cadeia alimentar. E seu retorno ajudará a restaurar o equilíbrio no frágil ecossistema da Tasmânia.
Estima-se que o processo de clonagem do lobo-da-tasmânia leve anos. Alguns especialistas estão em dúvida se isso é o certo a se fazer, já que há muitos outros animais vivos que podem precisar de apoio futuramente. Os milhões de dólares gastos no processo de clonagem podem salvar até 8 espécies já ameaçadas de extinção.
Mas independentemente dos custos de agora, no futuro tudo será mais acessível e fácil, considerando o trabalho que está sendo feito hoje.
Mas o lobo-da-tasmânia não foi o primeiro animal a ser escolhido para um projeto de desextinção. O primeiro foi o Íbex-dos-pireneus, em 2003. Ele estava extinto havia apenas 3 anos antes de ser clonado. Mas na época a ciência não estava tão avançada quanto hoje. Lamentavelmente, ele só sobreviveu alguns minutos, depois entrou em extinção pela segunda vez.
Infelizmente, nem todos os animais extintos foram preservados em potes de líquidos como o lobo-da-tasmânia. Mas alguns, como o mamute-lanoso, congelaram no tempo — literalmente! Ele ficou congelado no pergelissolo do Ártico por até 30 mil anos! O único problema é que os tecidos do mamute não ficaram intactos o suficiente para que pudéssemos ler seu genoma por completo. Então, não será possível fazer uma cópia exata dele.
O DNA dos elefantes é 99% igual ao do mamute. Então, será possível criar uma nova raça de mamutes combinando os genes do mamute-lanoso com o DNA do elefante asiático. Essa nova raça seria praticamente um elefante asiático com capacidade de resistir ao frio, suportando temperaturas baixíssimas, de até 40 graus negativos.
Mas pra que se esforçar tanto para ressuscitar um mamute híbrido?
Na verdade, ele é um elemento importante do ecossistema de tundra e pode ajudar a manter o pergelissolo intacto. O mamute-lanoso seria meio que um geoengenheiro natural. Ele estava constantemente pisoteando musgos e arrancando arbustos e árvores, e essa destruição das plantas permite o crescimento das planícies e dos gramados. A vegetação menor absorve menos luz solar que as árvores, o que faz o chão reter menos calor, mantendo a terra mais fria e o pergelissolo intacto. Esse tipo de solo vem acumulando uma coleção gigante de dióxido de carbono ao longo de milhares de anos, então precisa continuar lá. Estima-se que há duas vezes mais dióxido de carbono no pergelissolo do que em nossa atmosfera. Parece uma ideia estranha, mas isso já está no plano há 20 anos e muitos animais já foram introduzidos na tundra. Isso inclui o bisão, o boi almiscarado, o alce, o iaque e as renas. E dentro da próxima década, espera-se introduzir o primeiro mamute!
A desextinção é vista como uma “ciência de conto de fadas” por alguns especialistas, que a julgam como um desperdício de dinheiro e apenas uma desculpa para ostentar habilidades científicas extravagantes. Mas há coisas boas nela. Como qualquer estudo científico, existe uma série de tentativas e erros — um processo necessário para se obter sucesso em qualquer coisa. E como a clonagem de genes e a extração de DNA começou, já percorremos um longo caminho, com muito mais para ser alcançado no futuro. À medida que o processo de clonagem se desenvolver, também contribuirá e irá melhorar outras descobertas científicas fora da clonagem, criando avanços na ciência médica. Espera-se que as técnicas de clonagem possam ser em breve usadas também para cuidar da saúde. Elas podem, por exemplo, produzir tecidos e órgãos vitais para os humanos. A clonagem também fará a agropecuária evoluir. Nos últimos 10 mil anos, a criação seletiva de bovinos tem sido usada continuamente. Nela, os melhores espécimes são selecionados e multiplicados.
A clonagem pode levar isso a outro nível, garantindo que APENAS melhores espécimes nasçam, com qualidades ainda melhores. E também deixando o processo mais fácil e seguro, com filhotes muito mais saudáveis. Com uma população cada vez maior na Terra, isso traria mais segurança para o futuro. Todos teriam a certeza de que haveria sempre comida disponível. Nos anos que estão por vir, seja qual for o processo usado, as fundações começarão a apoiar animais em extinção que precisam de uma ajudinha. A clonagem irá ajudar a reintroduzir animais ameaçados de extinção ou extintos, reconstruindo ecossistemas inteiros.