Por que a chuva e a terra molhada cheiram tão bem
Tudo tem cheiro. No dia a dia estamos em contato com centenas de aromas, gostamos mais de alguns do que de outros e isso é algo bastante subjetivo. No entanto, existem certos cheiros que, quase indiscutivelmente, dão prazer a todas as pessoas. Alguém pode negar, por exemplo, que sente uma sensação agradável com o cheiro da terra molhada pela chuva? O que é que provoca essa espécie de alívio que experimentamos quando as gotas de água começam a cair e tudo se torna fresco e úmido?
O Incrível.club quis saber mais sobre esse aroma. O que é exatamente? Por que cheira tão bem? O que descobrimos realmente nos surpreendeu e nos ajudou a compreender, que, na natureza, sempre existe um porquê.
“Cheiramos com a cabeça”
Quem conhece o assunto assegura que o olfato, o cérebro e a memória estão interligados. Isto já deve ter acontecido com todos nós ao menos uma vez: caminhamos pela rua e um aroma nos invade. Sem pensar ou raciocinar um pouco, podem vir à nossa mente cenas da nossa infância. O perfume às vezes é indefinido; “cheiro do verão”, por exemplo, ou, mais precisamente, o cheiro de tília, de café e de terra molhada.
Os cientistas e os neurologistas que investigam essa relação esclarecem do que se trata. Embora pareça mágica, não é. E a explicação é a de que a anatomia do cérebro mantém ligados o cheiro, a memória, o humor e as emoções.
A percepção do odor está envolvida com o bulbo olfatório, uma estrutura neural localizada na parte frontal do cérebro e considerada primitiva. Os cientistas acreditam que ela estava presente no cérebro dos primeiros mamíferos.
Cheiro de chuva e terra molhada: por que é tão bom?
Isto provavelmente aconteceu com todos nós mais de uma vez: após vários dias de muito calor, as tão esperadas nuvens se formam, o céu escurece, a chuva vem e, com ela, o cheiro de terra molhada, de pedra molhada e de grama. É difícil não sentir um bem-estar quando somos envolvidos por esse aroma fresco e doce. Geralmente, somos invadidos por uma série de sentimentos positivos associados a esse momento de conforto.
Se conectamos essa sensação com a principal função atribuída ao olfato — a de detectar os elementos de que o corpo precisa para sobreviver e distingui-los daqueles que podem ser prejudiciais —, faz sentido a teoria defendida por alguns cientistas. Segundo ela, nossos ancestrais estabeleceram uma forte conexão positiva com o cheiro da chuva, pois indicava o fim da temporada de seca, o que, por sua vez, aumentava as chances de sobrevivência. É que a chuva faz renascer as plantas, estimula a colheita e, portanto, a produção de alimentos. Não é nem mais nem menos do que sinônimo de vida.
Petricor, a palavra mágica
Esse aroma único que sentimos tem um nome também único: “petricor”. Em 1964, dois geólogos australianos criaram esse termo para definir um fenômeno descoberto por eles: durante os períodos de seca, as plantas exalam um óleo aromático que é absorvido pela superfície de rochas e solos secos e é liberado no ar, ao entrar contato com a água. Por isso, quanto maior for a duração do período de seca, há um maior acúmulo de óleo e mais forte será o aroma quando a chuva finalmente cair.
Mas esse óleo perfumado tem uma função importante. Os dois pesquisadores observaram que ele inibe a germinação das sementes e, então, concluíram que as plantas poderiam gerá-lo para impedir o seu crescimento em períodos de seca, quando seria mais difícil sobreviver. Mas o óleo aromático é apenas um dos compostos responsáveis por gerar esse aroma especial. Tem mais.
Bactérias perfumadas
Para que esse aroma tão particular seja gerado, esses óleos que estão no ar se combinam com outra substância, a geosmina (outra palavra difícil). Trata-se de uma substância gerada por um grupo de bactérias e alguns fungos que habitam o solo e que é perceptível quando a terra se umedece. Esses organismos secretam o composto ao produzir esporos. Então, a força da chuva que cai no solo envia esses esporos ao ar, que transportam o aroma até o nosso nariz.
Os estudos revelaram que nosso olfato é extremamente sensível à geosmina; algumas pessoas podem detectá-la em concentrações realmente muito baixas. Isso explica por que podemos sentir o aroma quando ainda não está chovendo onde estamos, mas em áreas próximas. Se o vento estiver suficientemente forte, pode levar esse perfume até onde a água ainda não chegou.
A produção de geosmina por esse grupo de bactérias também tem uma finalidade relacionada à preservação da vida. Um estudo demonstrou que o aroma guia os colêmbolos, seres diminutos, com uma aparência próxima da dos insetos, até a bactéria responsável pelo aroma. Eles perseguem o rastro desse perfume porque sabem que ali está seu alimento. Agora, por que as bactérias fariam isso? Por que ajudariam seus “predadores” a chegar até elas?
Tudo tem uma finalidade, até para os micro-organismos: estes, em troca de um “lanchinho”, garantem sua proliferação. Sim. Os colêmbolos, depois de comer, levam com eles os esporos bacterianos e, assim, essa colônia garante a conquista de novos habitats.
As plantas exalam óleos aromáticos para proteger a vida das suas sementes; as bactérias secretam geosmina para garantir sua reprodução; nós sentimos o cheiro de terra molhada e, em algum lugar da memória, nos lembramos de que isso é um claro sinal de sobrevivência. Confirmado: na natureza tudo tem um porquê.
Você tem algum outro dado que não contamos aqui sobre o aroma de terra molhada? Conhece a explicação de outros aromas que também são agradáveis?