Permacultor mantém-se há mais de uma década sem geladeira e vivendo a “custo zero” (ele nos contou alguns segredos)
Muitas pessoas optam por abandonar a vida na cidade para viver e desfrutar da tranquilidade do campo. O sonho de muitos virou realidade para o geólogo e permacultor mineiro Peter Cézar do Nascimento, que saiu de Belo Horizonte e desistiu de um emprego financeiramente estável, para viver com sua família, mais conectados à natureza.
O Incrível.club adora te mostrar novidades, por isso traz a história desse rapaz que mostra como podemos viver de forma simples, a custo quase zero e de forma sustentável.
Quem é Peter?
Peter nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1974 e se formou em geologia pela UFMG. Depois de formado, trabalhou por um tempo com mineração, mas acabou se apaixonando pela permacultura. Assim, decidiu se mudar para a cidade interiorana de Moeda (MG), onde fundou o Instituto de Permacultura Ecovida São Miguel.
“Larboratório” Guia de Permacultura
Anos depois, Peter se mudou para o povoado de São Gonçalo de Rio das Pedras, na cidade mineira de Serro, e lá fundou o “Laboratório Guia de Permacultura”. Lá, Peter vive com sua companheira Marina e os filhos, além de outras pessoas da comunidade local e que colaboram com os projetos ambientais no lugarejo.
O que é Permacultura?
A permacultura é uma ideia que ganhou esse nome através dos estudiosos Bill Mollison e David Holmgren, na década de 1970. Também conhecida como cultura permanente, visa unir a ecologia, usar as energias disponíveis, criar ambientes sustentáveis, entender e ler a paisagem ao redor, trabalhar o equilíbrio e a harmonização do lugar, além de reconhecer os padrões que a natureza nos oferece.
É uma mistura do saber científico com a experiência e a sabedoria popular, tendo como meta cuidar da terra, das pessoas e do futuro do planeta. David Holmgren escreveu livros que explicam esse modo de vida que tem como base a interação com a natureza, de forma a conseguir suprir as necessidades básicas do ser humano. Isso se dá através de um melhor uso dos recursos naturais renováveis, sem degradar o meio ambiente e com a minimização do desperdícios.
Dentro dessa perspectiva é que a comunidade de Peter utiliza terra, pedras e madeira para construir casas, fazer sistemas integrados de peixes e hortas com “retroalimentação”, placas solares para carregar equipamentos elétricos, compostagem para aquecimento da água do chuveiro, etc. São inúmeras as técnicas que aproveitam o que a natureza nos proporciona, interferindo o mínimo possível no meio ambiente.
Geladeira sem eletricidade (Fresquera Holmgren)
O objetivo é viver da natureza e de tudo o que ela nos proporciona quase de graça, com pouca ou nenhuma industrialização. Uma das ideias é, por exemplo, substituir a geladeira tradicional pela Fresquera Holmgren ou Poço Canadiano, um recurso antigo que, nesse caso, usa a temperatura mais baixa do subsolo para enviar à fresquera uma temperatura inferior a do ambiente, conservando assim alguns alimentos.
Com essa técnica, a conservadora, ou fresquera, não utiliza energia elétrica e pode ser feita artesanalmente. Nela são guardados alimentos como ovos, verduras e frutas, porém, carnes e outros perecíveis não são indicados. Algumas pessoas da comunidade inclusive evitam o consumo de proteína animal. A maioria dos alimentos são consumidos frescos e, de preferência, colhidos, pescados ou abatidos no mesmo dia.
A dieta das pessoas da comunidade se baseia em alimentos que eles mesmos plantam, além disso, evitam comidas congeladas e industrializadas. Por isso, não há a necessidade de uma geladeira elétrica e outros eletrodomésticos comuns nas casas modernas. Eles aproveitam o que a natureza proporciona de graça, com a sabedoria de quem mora no campo.
Outras ideias
1. Liquidificador Manual
Outro equipamento doméstico, que causa um pouco de estranheza para quem está acostumado a ligar um aparelho na tomada e usá-lo, é o liquidificador manual. Essa engenhoca também é usada há anos e é muito útil em locais sem fornecimento de energia elétrica. A única diferença em relação aos que conhecemos é uma manivela, com o usuário usando a força física para triturar os alimentos.
2. Energia biotérmica para o aquecimento de água
Um sistema que aquece a água da casa (banheiro e cozinha) sem eletricidade e sem gastar quase nada. A explicação de como fazer e como o aquecimento acontece, você pode conferir aqui e aqui nesses links. Basicamente, Peter usou uma mangueira enrolada a um suporte e em volta foram colocadas folhas e “cama de frango”. Essa mistura atinge uma temperatura alta, que aquece a água ao passar pelo cano.
O sistema é muito interessante e funciona sem usar eletricidade, somente a compostagem. O aquecimento da água acontece na passagem da água pela mangueira e esse processo envolve transformações bioquímicas complexas. Tudo acontece naturalmente pela reação dos micro-organismos presentes na matéria orgânica in natura no processo de decomposição, que acaba promovendo o aquecimento.
3. Tinta de terra
A tinta à base de terra (ou barro) é uma opção barata e ecológica para fazer pinturas internas e externas de edificações de todo tipo. Ela não possui componentes químicos industriais que liberam os denominados Compostos Orgânicos Voláteis (COVs), altamente prejudiciais à saúde, encontrados na maioria das tintas usadas em nossas casas.
Esse tipo de tinta, como já citamos, também é uma opção bem mais econômica, já que se consegue fazer um galão de 18 litros de tinta de terra com aproximadamente R$4,50. Uma boa ideia para reunir a família toda e fazer um trabalho em grupo, tendo ainda a satisfação de preparar você mesmo a sua tinta ecológica. O passo a passo está descrito nesse link (aqui).
4. “Bomba” de sementes
Uma boa opção para ajudar no reflorestamento é fazer a chamada bomba de sementes, inclusive você pode reunir as crianças para ensinar consciência ambiental e juntos se divertirem em uma atividade coletiva. O modelo básico é feito de: argila, composto orgânico, água e sementes. Misture os três primeiros ingredientes, faça uma bola, depois insira as sementes escolhidas.
A importância do reflorestamento ou da inserção das árvores nas grandes e pequenas cidades é imensa, pois elas promovem a estabilidade da temperatura, a melhoria da qualidade do ar, além da saúde física e mental das pessoas. Influenciando inclusive na redução da poluição visual e sonora, além de ajudar na conservação do equilíbrio do meio ambiente.
Existem outras receitas da “bomba de sementes”, uma opção para quem mora na cidade e também quer ajudar. Esses materiais podem ser comprados em lojas especializada e também são fáceis de fazer:
- Adubo semi-seco e argila vermelha intensificada: A mistura é três medidas de adubo para cinco de argila, forme uma bola com um pouco de água e insira as sementes dentro. Deixe secar;
- Caixas de ovos feitas de papelão e terra vegetal: Coloque a terra úmida nas cavidades do papelão e insira uma ou mais sementes, deixe secar.
Ao escolher as sementes, lembre-se de pesquisar bem quais são as que fazem parte do ecossistema onde deseja ajudar no reflorestamento. A inserção de plantas e árvores não nativas pode causar um desequilíbrio ambiental incalculável.
A vida e a família de Peter passam uma linda mensagem de como podemos viver aproveitando o que a natureza tem para nos oferecer sem degradá-la. As sabedorias antigas aliadas a estudos científicos, também nos ajudam a economizar. Algumas ideias e equipamentos, inclusive, podem ser usados em casas pequenas, condomínios e apartamentos: basta adaptar.
Achou interessante a ideia de ter algumas alternativas para nossas necessidades do dia a dia? Já fez ou conhece alguém que tenha em casa algo com essa ideia de sustentabilidade? Conte para a gente nos comentários.