O Saara está crescendo e lentamente incorporando áreas verdes

Curiosidades
há 1 ano

Você está na África, terra de uma vida selvagem única, berço de uma grande variedade de culturas e línguas e, acima de tudo, local do maior deserto quente do mundo: o Saara. É de dia e você está louco por uma sombra e água fresca. Afinal, está andando há dias, tentando encontrar um daqueles oásis que parecem preciosos. E sente que está perto, mas o horizonte continua esticando e esticando. Sua mente está cansada e seu corpo está sentindo todo o calor. É como se tivesse comido um prato cheio de pimenta, pelo tanto que está suando. E quando digo quente, pense em quase 38 graus.

Não é de admirar que isso esteja acontecendo. Afinal, você se encontra no maior deserto quente do mundo. Eu digo deserto quente, pois as maiores paisagens desérticas são, na verdade, as frias, localizadas na Antártida e no Ártico. O deserto congelado da Antártida gelada tem mais ou menos do tamanho de 1 milhão de vezes o Aeroporto Internacional de Los Angeles. O deserto do Ártico é um pouco menor que isso. Agora, caso você não saiba, o do Saara está situado no norte da África, estendendo-se desde o Oceano Atlântico até o Mar Vermelho. Ele ocupa uma área grande o suficiente para colocar cerca de 100.000 parques temáticos da Disney World lado a lado.

Segundo os cientistas, as fronteiras dele estão se expandindo. Os desertos geralmente se formam nos subtrópicos por causa do que é chamado de célula de Hadley. O ar sobe no equador e desce para os subtrópicos. Essa circulação de ar tem um efeito de secagem que ajuda na formação de paisagens desérticas. Desde a década de 1920, considera-se que o Saara cresceu mais de 10%. Como isso está acontecendo? Bem, vamos começar do início. Você provavelmente conhece o Saara como um dos locais mais inóspitos da Terra hoje. Apenas para conhecimento, para um lugar ser considerado um deserto, tem que receber menos de 10 centímetros de chuva por ano. Devido ao índice de precipitação muito pequeno, trata-se geralmente de uma região seca e árida. Há pouca umidade no ar e as temperaturas diurnas podem chegar a 54 graus.

Normalmente, não há tanta vida animal e vegetal por causa da falta de água. Mas no caso do Saara, nem sempre foi assim. Pode ser difícil imaginar o norte da África sem as toneladas de areia de hoje. Mas cerca de 20.000 anos atrás, ele era na verdade um grande oásis. Descobertas recentes mostram evidências claras do que os cientistas agora chamam de Saara Verde. Em meados de 1800, um explorador alemão cruzando a região encontrou algumas pinturas e gravuras que artistas nômades haviam deixado para trás. O que ele viu não se parecia em nada com o que conhecemos na atualidade.

Em vez de uma paisagem árida apenas com camelos e vegetação desértica, as imagens rupestres retratavam animais da selva como girafas e hipopótamos. Havia até gado e animais de pastoreio, como bois e ovelhas — algo que parece impossível para o Saara atual. Os artistas geralmente desenham o que veem ao seu redor, então essa descoberta realmente intrigou o explorador alemão. Os desenhos eram tão detalhados que os autores devem ter tido contato próximo com aqueles animais. Você pode encontrar estas artes rupestres espalhadas na parte norte do continente africano, do Saara Ocidental à Arábia Saudita.

Os geólogos logo se interessaram e encontraram as primeiras pistas do que isso poderia significar. Eles conseguiram confirmar que, de fato, o norte da África já foi muito mais úmido. E encontraram evidências de sedimentos de águas profundas nas proximidades da costa da Mauritânia. Amostras de areia e lama subaquáticas, também conhecidas como Aporte de Poeira do Saara, mostraram que, de fato, um Saara Verde era possível. Quanto mais poeira é soprada do deserto para o fundo do oceano, mais seco é o clima na região. As amostras de sedimentos mostram que saía muito menos poeira — apenas metade — do norte da África durante o período úmido, que tem a ver com os ciclos naturais da Terra. Normalmente, nosso planeta gira a uma inclinação de 23 graus e meio. Mas esse ângulo não é constante e muda com o tempo. A inclinação terrestre é responsável pela quantidade de luz solar que cada hemisfério recebe. Isso afeta várias funções do ecossistema no planeta.

Durante a época do Saara Verde, a Terra recebia entre 4 e 8% mais luz solar do que hoje. Então, quando o planeta se inclinou há cerca de 20.000 anos, o hemisfério norte recebeu mais luz solar direta, o que afetou os níveis de umidade da região. À medida que esse hemisfério ficou mais quente, a atividade das monções foi afetada. Mais especificamente, a da África Ocidental. As monções são sistemas de vento que afetam o índice pluviométrico e os níveis de umidade de uma região. Como uma parte do globo fica mais quente, isso permite que mais ar suba, e combina com o vento para atrair a umidade para a atmosfera. Aos poucos, o norte da África também se tornou mais úmido, assim como o Saara, que tinha corpos d’água reais na região. À medida que a vegetação crescia, as plantas retinham a umidade melhor do que somente a areia pura.

Há evidências de bacias naturais em todo o Saara e lagos tão grandes que poderiam abrigar todos os Grandes Lagos dos EUA. Arqueólogos descobriram evidências de sociedades prósperas no que agora são regiões áridas. Parece que as culturas antigas foram capazes de tirar o máximo proveito do Período Úmido Africano. Segundo os pesquisadores, a população humana atingiu o pico no Saara cerca de 9.000 anos atrás. Há vestígios de lareiras, ferramentas de caça, anzóis e até montes de espinhas de peixe. Os registros mostram que houve mais de 230 períodos verdes ao longo de 8 milhões de anos. A radiação solar está sempre mudando devido aos ciclos orbitais naturais. É por isso que a Terra certamente verá outro momento do Saara Verde. Pode ser daqui a milhares de anos, mas vai acontecer.

Da mesma forma que o Saara fica verde, seca novamente. Basta uma inclinação axial significativa e alguns anos de reajuste. No entanto, outro fenômeno está chamando a atenção dos cientistas agora. Estudos recentes da National Science Foundation da Universidade de Maryland mostram que o Saara se expandiu 10% nos últimos 90 anos. Esse fenômeno também é chamado de desertificação, que significa literalmente terra fértil se transformando em um deserto. O do Saara avança agora para a região semiárida do Sahel. Em 1950, essa região abrigava trinta e um milhões de pessoas. Hoje, essa população é superior a 100 milhões de pessoas. Esse rápido crescimento populacional contribuiu em grande parte para a expansão do Saara.

Os agricultores que antes eram nômades começaram a fixar moradia. O uso da terra ficou mais intenso, intensificando o enfraquecimento do solo. A demanda por alimentos causou uma supercultura da terra, então ela está ficando ainda mais seca agora. O estudo também mostra que os ciclos climáticos naturais podem afetar as chuvas no Saara e no Sahel. Os cientistas afirmam que todos os desertos oscilam, não apenas o do Saara. A fronteira de um deles pode se expandir no inverno seco e retrair durante o verão mais úmido. Ao sul do Saara fica a Bacia do Chade, um corpo de água natural que agora serve como indicador da expansão dele. Ela está localizada na região onde o Saara avança para o sul.

Sumant Nigam, especialista atmosférico e oceânico da Universidade de Maryland, explica que as chuvas diminuíram bastante em toda a região. Assim, há menos água em toda a Bacia, e até o Lago Chade está secando. Da mesma forma que o Saara, o deserto do Atacama no Chile, considerado o mais seco do mundo, também está em expansão. Ele fica localizado ao norte da cidade de Santiago, e sua fronteira sul está se expandindo em direção à capital chilena. Como o clima está cada vez mais seco ali, Santiago corre o risco de se transformar em uma região árida ou semiárida. Os vales outrora férteis dos rios locais Choapa e Limari, que viveram da agricultura e pecuária por muitas gerações, estão perdendo suas receitas à medida que as terras chilenas estão se transformando em um deserto.

Desde 2010, Santiago recebeu apenas um terço de sua precipitação média. Fora da cidade, os agricultores estão cavando buracos em busca do ’ouro azul’ ou, simplesmente, água. A situação aqui é muito semelhante à de Sahel. Então me diga: você ficou tão surpreso quanto eu ao descobrir o que está acontecendo na região do Saara? Fique à vontade para compartilhar conosco nos comentários abaixo!

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