O astronauta que ficou preso sozinho no Espaço por 311 dias

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há 1 ano

Muitas pessoas gostariam de voar para o espaço. Gravidade zero, uma vista deslumbrante da Terra de um lado e a escuridão assustadoramente ilimitada do outro. Sim, tudo muito legal, mas não esqueça que essa jornada pode se transformar em um pesadelo. Falta de oxigênio, flutuar no espaço sideral e ficar muito tempo em uma nave espacial sem entender quando pode voltar para casa. Esta última coisa aconteceu com um astronauta russo, ou cosmonauta. Sua permanência no espaço foi uma das mais longas do mundo. O engenheiro de voo Sergei Krikalev, de 33 anos, passou 311 dias em gravidade zero na estação espacial Mir. Mas essa não é a parte mais interessante do episódio. A longa jornada de Sergei começou em 18 de maio de 1991. Naquele dia, ele embarcou em uma nave de transporte e foi ao espaço para a estação espacial Mir. No dia 20, o acoplamento com a estação foi concluído.

Lá, junto com outro engenheiro, desempenhou suas funções espaciais. Os dois fizeram várias caminhadas espaciais e reparos, cuidaram da estação e realizaram experimentos científicos. Quando se tem companhia e muito trabalho, viver no espaço não é tão difícil. Mas as coisas pioraram no dia em que Sergei deveria voltar para casa. De acordo com o plano, a missão deveria ter durado 5 meses. Um novo cosmonauta deveria substituir os antigos. A nave de transporte finalmente atracou na estação. Mas, no dia 10 de outubro, apenas um deles retornou à Terra. Sergei foi deixado sozinho na estação Mir. Ele continuou a trabalhar como o único engenheiro de voo da tripulação. A estação não podia ficar vazia, era necessário enviar alguém para substituir o rapaz, que não estava pronto para uma estadia tão longa no espaço, já que não tinha treinado para isso. Mas não havia escolha. Ele não podia simplesmente sair da estação. Um mês se passou. Sergei foi informado que voltaria para casa em breve, mas algo inesperado aconteceu. O dia 25 de dezembro de 1991 foi o último da União Soviética.

O cosmonauta foi contatado e informado de que não poderia voltar, já que o país que prometia levá-lo para casa não existia mais. Durante este tempo, uma grande crise começou na Rússia. O retorno dele era impossível, pois não havia dinheiro para isso. Imagine a condição do cara. Você está a centenas de quilômetros de casa, na escuridão do espaço sideral, completamente sozinho e não tem ideia de quanto tempo vai ficar ali. Os dias passavam lentamente. Semanas, depois um mês... Seria muito fácil permanecer no espaço se isso não fosse prejudicial à saúde. Mas em condições de gravidade zero, o corpo humano sofre sérios danos. Primeiro, um enfraquecimento dos músculos, que não recebem a carga necessária e estão constantemente em estado de relaxamento, levando à distrofia. Sim, os astronautas fazem uma série de exercícios todos os dias, mas isso não é suficiente para manter a forma. Além dos músculos, os ossos começam a enfraquecer, a pessoa fica fraca. Depois de 6 meses levando essa vida, qualquer astronauta precisa de muito tempo para voltar à forma anterior no retorno para casa.

Além disso, há muita radiação no espaço que é perigosa para as pessoas. Ela é proveniente de várias fontes ao mesmo tempo. A principal vem do sol. Na Terra, estamos protegidos disso, graças ao campo magnético do planeta. Quase toda a radiação se acumula na atmosfera superior e não chega até nós. Esse acúmulo ali também é ruim para os astronautas. Mas a pior é a galáctica. Ela chega de estrelas e galáxias distantes e tem um efeito poderoso em todos os seres vivos. A radiação provoca muitas condições desfavoráveis ​​e destrói o corpo no nível celular. Agora, todas as naves espaciais e a Estação Espacial Internacional são equipadas com escudos e revestimentos que refletem a radiação. Mas ainda assim, isso não fornece 100% de proteção.

No espaço, o sistema imunológico do astronauta muda. Não há condições sob as quais a imunidade possa melhorar. Parece que não há nada de errado com a ausência de muitas bactérias e micróbios. Mas a defesa do corpo está enfraquecendo. Uma pessoa se torna mais vulnerável a micróbios que podem ser trazidos por alguém que esteve no espaço. Também há sérias restrições alimentares. As comidas em tubos não contêm tantas vitaminas úteis quanto os produtos naturais. Sem vitaminas, o corpo enfraquece ainda mais.

Às vezes os astronautas precisam fazer caminhadas espaciais, que não são fáceis. Um traje espacial é enorme e desconfortável. Restringe os movimentos e coloca pressão no corpo. O trabalho no espaço pode durar várias horas. Durante esse tempo, transpira-se muito. Um dos filtros do traje pode estar estragado e o fluido liberado pelo corpo se espalhar por toda a roupa e atingir o rosto. Os olhos podem lacrimejar e as gotas interferirem na visão. Milhares de perigos podem esperar um astronauta durante uma missão no espaço sideral.

Imagine que você faz reparos e algo dá errado. A chave escapa do parafuso e voa longe, por exemplo. Você tenta pegá-la e, inconscientemente, sai da nave. Consegue recuperá-la, mas seu corpo já está voando longe. Não há nada em que se segurar, mas felizmente tem uma corda de segurança. De qualquer forma, ela pode se soltar do seu traje espacial por ter sido presa incorretamente. Assim que a corda se rompe, seu corpo muda o ângulo de voo. Agora você não está apenas voando para longe, seu corpo está girando neste momento: a Terra e o espaço escuro piscam em seus olhos. Então, deu pra entender. Com certeza há riscos. Mas nada disso aconteceu com Sergei. Todos os astronautas passam muitas horas treinando para estarem prontos para qualquer problema. Eles ganham boa forma física... mas a perdem durante a missão.

Adicione a tudo isso o fator psicológico. Seu corpo enfraquece, você não respira ar puro, não pode ver seus amigos e não tem a oportunidade de voltar para casa. Uma pequena camada de parede o separa do vácuo frio do espaço. Tudo isso causa estresse, que também enfraquece a imunidade e prejudica o sistema nervoso. Felizmente, os astronautas também passam por um treinamento psicológico sério. Eles podem manter o autocontrole nas situações mais estressantes. Mas quando se está sozinho no espaço por mais de seis meses e sem saber quando voltará, é razoável ficar seriamente nervoso. Felizmente, Sergei não entrou em pânico. Ele cumpriu os deveres diários, treinou e, claro, sentiu saudades de casa. Um mês depois, recebeu a mesma resposta: “Ainda não podemos trazê-lo de volta. O país está em uma situação difícil”.

Ele se sentia pior a cada dia, a força dele estava acabando. O cosmonauta não tinha certeza se conseguiria sobreviver. O mais interessante é que a estação tinha uma cápsula desenvolvida para retorno à Terra. Mas Sergei não a usou porque ninguém iria para a Mir. E a Rússia vendeu os assentos dela para outros países. Além disso, o país esperava vender a estação. Isso significava que Sergei tinha que manter o local funcionando. A missão dele durou o dobro do planejado. Como resultado, o cara passou 10 meses, ou 311 dias no espaço, e estabeleceu um recorde mundial. Durante este tempo, voou ao redor do nosso planeta cerca de 5.000 vezes. Finalmente, recebeu a tão esperada mensagem, a de que poderia voltar para casa! A Alemanha pagou cerca de US$ 24 milhões por uma passagem para a estação. Eles iriam substituir o astronauta, que entrou na cápsula e voou para a Terra. Muita gente estava esperando por seu retorno lá embaixo. O cosmonauta pousou e todos correram para ajudá-lo. Ele parecia muito magro, suado e exausto.

Quatro homens o ajudaram a sair e a ficar no chão, lhe deram um casaco de pele e o serviram com uma tigela de caldo. Parecia que tal voo deixaria uma marca na vida dele para sempre, mas o humor do cara estava excelente. Dois anos depois, ele foi ao espaço novamente e se tornou o primeiro cosmonauta a voar em um ônibus espacial da NASA. E dois anos depois, foi um dos primeiros a viver na EEI. Em 2005, fez seu 6º e último voo. Sergei foi para a Estação Espacial, onde passou cerca de seis meses, e depois voltou para casa no módulo de pouso. Com este voo, estabeleceu um recorde mundial para a duração total da estadia no espaço, de 803 dias. Apenas 10 anos depois, alguém conseguiu quebrar esse recorde — mas essa já é outra história.

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