“Não sabia ler nem escrever até os 18 anos”, a história do autista que se tornou o professor negro mais novo de Cambridge
Aos 37 anos, Jason Arday se tornou o homem negro mais novo a ocupar uma cadeira na Universidade de Cambridge, centro de ensino que formou nomes como Isaac Newton, Charles Darwin e Emma Thompson. Jason foi diagnosticado, aos 3 anos, com atraso global no desenvolvimento e Transtorno do Espectro Autismo, TEA. Aos 11 anos ele ainda não falava e com 18 não lia ou escrevia.
Em Cambridge, Jason Arday ocupa o posto de professor de Sociologia da Educação, um dos poucos preenchidos por negros, pois existem somente 155 professores em meio aos mais de 23 mil em todo o Reino Unido. Para muitos, o caminho pode ter sido árduo e até improvável, mas não para Jason, que mesmo quando ainda não falava, já questionava o mundo: “Por que há pessoas sem-teto? Por que há guerras?”.
Seu desenvolvimento se deu muito graças à mãe, que tentou ao máximo auxiliá-lo, apresentando uma grande variedade de músicas a ele. A ideia era permitir que Jason entendesse melhor a linguagem. Isso ajudou o jovem a se interessar pela cultura popular, o que se reflete até hoje em algumas das pesquisas desenvolvidas por ele.
Outra pessoa que foi muito importante para o desenvolvimento de Jason foi o seu mentor, tutor universitário e também amigo, Sandro Sandri, foi por meio dele que o professor de Sociologia começou a ler e escrever. Após a alfabetização, Jason estudou Educação Física e Ciências da Educação na Universidade de Surrey, na Inglaterra, e posteriormente se formou como professor de Educação Física.
Com essa primeira formação, Jason decidiu trabalhar como professor em escolas. Foi seguindo esse caminho que ele começou a entender as desigualdades que jovens de minorias étnicas passam durante a vida, principalmente quando o assunto é educação. Por meio desse olhar, ele decidiu fazer pós-graduação e contou com a ajuda do mentor para trilhar mais esse caminho. Para Jason, foi nesse momento que passou a acreditar mais em si: “Muitos acadêmicos dizem que foram parar ali por acaso, mas a partir daquele momento fui determinado e focado. Sabia que esse seria o meu objetivo”.
A trilha para alcançar o sucesso como acadêmico foi mais difícil, já que ele teve pouco treinamento e orientação de como deveria fazer os trabalhos, com isso, teve muitos exercícios rejeitados: “O processo de revisão por pares era tão cruel que chegava a ser engraçado, mas eu administrei como um aprendizado e, sem nenhuma lógica, comecei a gostar”.
Depois de tanta tempestade veio o arco-íris. Com isso, ele obteve dois mestrados e um doutorado em Estudos Educacionais. Sua carreira no mundo universitário começou após ter um artigo publicado e, assim, obteve a primeira cadeira titular, na Universidade de Roehampton, se tornando um dos professores mais jovens do Reino Unido.
Agora, em Cambridge, ele será um dos cinco docentes negros que integram o quadro de ensino da universidade. Lá, Jason Arday planeja melhorar a representação das minorias étnicas presentes no ensino superior: “Meu trabalho se concentra principalmente em como podemos abrir portas para mais pessoas de origens desfavorecidas e democratizar verdadeiramente o ensino superior. Espero que estar em um lugar como Cambridge me forneça a alavancagem para liderar essa agenda nacional e globalmente”.
Para Jason, se existe uma mensagem que sua história pode deixar é que tudo é possível: “Eu sabia que não tinha necessariamente muito talento, mas sabia o quanto queria e sabia o quanto queria trabalhar”. Mas claro, sem esquecer que nem tudo depende do esforço unilateral, o sistema também precisa mudar para que mais pessoas sejam abraçadas e beneficiadas por ele.