“Eu vou em paz, pois vivi intensamente” A história de Aracy Balabanian, a veterana que venceu preconceitos para atuar e hoje, consagra-se uma lenda brasileira
No cenário artístico brasileiro há figuras que se destacam não só pelo talento, mas pela sua inegável capacidade de inspirar e emocionar o público ao longo dos anos. Esse é o caso, portanto, de Aracy Balabanian, uma das mais icônicas atrizes da televisão brasileira, que influenciou gerações de artistas e segue até hoje, tendo a sua arte como uma grande contribuinte para a cultura do país. Abaixo, contamos a inspiradora história dessa musa que fez diferença na história da TV tupiniquim.
Desde muito nova, sabia o que queria ser e lutou por isso
Filha de imigrantes armênios, Aracy Balabanian nasceu no Mato Grosso do Sul, mas viveu grande parte da vida em São Paulo, para onde se mudou ainda na infância, e onde encontrou de prontidão, o “amor de sua vida” no âmbito profissional: o teatro. O primeiro contato com a encenação se deu quando foi levada pelas irmãs mais velhas para assistir a uma peça do famoso dramaturgo italiano Carlo Goldoni. E apesar de ter sido um momento realmente mágico, que definiu os rumos do seu futuro, foi também um episódio de muita reflexão, pois ela se deu conta do quão difícil seria trabalhar no ofício pelo qual se encantara.
“Eu chorei muito. Estava emocionada porque era aquilo que eu queria. É muito difícil para uma criança de 12 anos, ainda mais naquela época, querer ser atriz e já perceber que ia ter muitas dificuldades”, contou. Além dos percalços que rodeiam a profissão, ela teve que enfrentar os preconceitos de seu próprio pai, que não a apoiava, em relação à sua escolha de carreira: “Eu comecei numa época em que não era bonito fazer televisão, nem teatro.”
Abriu mão de muitas coisas por sua verdadeira paixão
Aos 14 anos, assistiu no colégio a uma palestra do então diretor do Teatro de Arena, Augusto Boal, e foi convidada pelo próprio para fazer um teste, que seria por fim, a sua porta de entrada para o Teatro Paulista do Estudante. Já em seu primeiro trabalho, na peça Almanjarra, os críticos escreveram: “Aracy Balabanian: guardem esse nome”. Ao ler o comentário, a atriz contou que “Ficou possuída”. Em 1962, alguns anos depois, Balabanian prestou o vestibular para o curso de Ciências Sociais, por influência dos pais, e para a Escola de Arte Dramática de São Paulo, por escolha própria. Passou em ambos. E apesar de ter aplicado certo tempo para o primeiro, no terceiro ano de graduação, decidiu dedicar-se somente ao teatro, que era a sua verdadeira paixão, e disse adeus aos estudos sociais.
Sua estreia na TV foi com a peça Antígona, de Sófocles, na extinta TV Tupi. Depois disso, deslanchou nas novelas, tendo como o seu primeiro sucesso a protagonista de Antônio Maria de 1968 — Papel que lhe rendeu prestígio não somente entre a crítica especializada da época, como também o respeito de seus próprios parentes, que a partir da trama, passaram a respeitar a sua opção profissional. “Eu costumo dizer que o Brasil parou nessa novela e o meu pai parou em mim”, revelou. Na grande Rede Globo, estreou em 1972, com a trama O Primeiro Amor. Mas essa foi a primeira de uma série de grandes novelas que viriam a encher o seu currículo cravejado de bons papéis, e que conta com mais de 30 produções renomadas. Uma verdadeira artista, não é?
Nas telas, interpretou grandes matriarcas, na vida real, optou por não ter filhos
Dentre os inúmeros papéis incríveis que passaram pelas mãos da musa da atuação Aracy Balabanian, é possível afirmar que muitos deles foram de matriarcas. Mas não toda e qualquer matriarca, seus papéis maternos como “Dona Armênia” de Deus nos Acuda, marcaram uma geração e sem dúvida alguma, a história da teledramaturgia brasileira. Apesar disso, fora das telas, contou que não sentia necessidade de ter filhos. Foi tia muito cedo, e tinha crianças a sua volta comumente em seu ambiente de trabalho, com as quais tinha uma relação realmente fraternal, o que foi suficiente para suprir seu “lado materno”.
“Fui tia aos sete anos. Achei muito divertido. Daqui a pouco, comecei a ser madrinha. Me perguntam muito porque não quis ter filho. E sinceramente? Sei lá! Gostava tanto daquela criançada que estava ali ao meu lado que, até hoje, gosto muito de criança e tenho essa relação com meus colegas mais jovens. Para mim, é um dar e receber ao mesmo tempo. Sou meio mãezona mesmo, ainda que não tenha filhos”, salientou.
Preferiu dedicar seu tempo e energia à carreira, e não encontrou o parceiro ideal para a maternidade
Apesar de não ter optado pela maternidade, Aracy chegou a considerar essa opção nos três “relacionamentos não oficiais” nos quais esteve, pois queria construir uma família. O anseio, contudo, não se sobrepôs a necessidade de investir tempo e energia na carreira, que sempre fora sua prioridade. Já no começo de sua carreira, a questão era um dilema: “Tive um namorado, também ator incipiente que estudava comigo, e que jamais aceitaria que eu pudesse ter mais sucesso na carreira do que ele. Desistiu da escola e queria que eu seguisse o mesmo caminho, que abandonasse meu sonho. E bem, eu não me contentaria em ser ’só’ mãe, como ele queria.”, conta.
Além disso, reiterou que a falta de tempo ao longo da vida não fora um mero detalhe: “Cheguei a trabalhar dez anos praticamente sem folgas. Não poderia fazer isso se tivesse um filho.” Não obstante, completou dizendo que não encontrou um parceiro ideal, que dividisse a experiência da maternidade consigo: “Acho ’pai’ um papel muito importante e não faria uma produção independente. Se meus namorados não eram bons o suficiente nem para mim, tanto que os deixei, menos ainda para ser pai.”
Não se arrepende de não ter sido mãe, e é feliz com a vida que construiu
“Pesei muito a decisão (de ser mãe) e fui honesta comigo mesma. Não casei, nem tive filho e nem me arrependo, porque não acho que temos que cumprir tarefas sociais. Muitos fazem só por obrigação.” disse Balabanian em entrevista, reafirmando que não seguiu padrões na vida e foi feliz à sua maneira. No programa Entrevista com Bial, Aracy falou do rótulo social que recai sobre a mulher que não deseja ser mãe, e embora o assunto em pauta fosse a vida de sua amiga Marilu Bueno, uma citação chamou a atenção dos fãs, que consideram a mensagem um recorte de sua própria vida: “O que significa uma mulher que não casou e não teve filhos, mas viveu intensamente?” Ou em outras palavras: “Não casei, nem tive filhos, mas não importa, pois vivi intensamente!”
Em outra oportunidade, citou: “Não tenho filhos, tenho sobrinhos, afilhados... Como vou fazer com as minhas coisas? Penso nisso. Sei que eles vão sentir saudades de mim, acho que eu vou para outro plano em paz, saudável, como diz minha fisioterapeuta.”
No mais, conta que o seu trabalho na icônica Vila Sésamo, fez com que o seu lado maternal transbordasse, já que a plateia inicial era prioritariamente composta de crianças e idosos. Não fosse suficiente, ainda há os sobrinhos, que encheram a sua vida de amor fraterno: “Fui tia aos sete anos. Tenho 13 sobrinhos e 14 sobrinhos-netos, e cheguei a ampliar a casa para receber os tantos que resolveram estudar no Rio de Janeiro. Criei uma sobrinha e agora estou aguardando seu filho, que vem estudar aqui este ano.” A atriz completa dizendo ainda que não gostaria de ter um filho nessa época, pois considera o mundo perigoso, e que certamente, ficaria louca de preocupação. Uma vida bem vivida, com muitos sonhos realizados e sem rótulos, é o que desejou Aracy, e é justamente o que ela viveu. O que faz da persona, além de super talentosa, uma mulher incrível, não é mesmo?
Além de Aracy, no Brasil, há outros atores que inspiram com suas trajetórias brilhantes, como por exemplo, Silvero Pereira — o ator que nasceu no interior do Ceará, e apesar de ter passado por muitos percalços durante a infância e adolescência, hoje é consagrado nacionalmente. Os detalhes por trás de sua história, você pode conferir aqui. Vai mais uma dose de emoção por aí?