A inspiradora história de doadora e receptora que se conheceram após transplante e viraram irmãs
Você já pensou em salvar a vida de alguém que você não conhece e nem mesmo viu? Essa é a experiência de quem se cadastra como doador e encontra um receptor compatível. Esse é um ato de humanidade que oferece esperança a milhares de pessoas que aguardam ansiosamente por uma segunda chance. Hoje, trazemos a história de Giovanna e Eduarda, doadora e receptora que desenvolveram uma linda amizade depois de um período difícil. Confira!
Essa história começa em 2020, quando Eduarda de Castro Saraiva, na época com 22 anos, recebeu o diagnóstico de Leucemia Mieloide Aguda (LMA). Em seu Instagram, Eduarda contou que chegou no hospital com 70% de células cancerígenas, descrevendo que o dia de seu diagnóstico foi o mais triste e doloroso de sua vida. Apesar de todo medo, ela estava certa de que conseguiria se curar e se manteve esperançosa.
Eduarda passou por três ciclos de quimioterapia e a crença de que tudo daria certo se concretizou quando, após três meses de diagnóstico, chegou a notícia de que uma doadora 100% compatível havia sido encontrada. Após o transplante, ela passou por algumas intercorrências que a deixaram extremamente debilitada e, assim, se iniciou o longo processo de recuperação, que ela considera não ter terminado ainda.
Melhor a cada dia, Eduarda permanecia com a vontade de conhecer quem salvou sua vida. Um ano e meio após o transplante, o REDOME (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea) finalmente permitiu acesso às informações da doadora e Eduarda pôde finalmente entrar em contato com Giovanna Venarusso Crosara.
Nossa equipe conversou com Eduarda e Giovanna e elas nos contaram como foram as experiências de cada lado dessa história. Confira a entrevista abaixo!
Eduarda
1 — Como está a vida após a cura?
A minha vida não voltou totalmente ao normal porque eu ainda me sinto debilitada em alguns momentos. Ainda sinto cansaço e, às vezes, fico mal psicologicamente, porque o pós-transplante é muito difícil. É literalmente viver um dia de cada vez. Hoje eu tenho outros olhos para a vida. Sou muito grata.
2 — Você mudou muito após ter passado pelo câncer e ter conseguido se curar?
Sim, minha mudança foi radical! Foi algo que mudou de dentro para fora. Eu ainda estou me reabilitando do câncer e estou sendo muito bem acompanhada pelos meus médicos. Ainda estou na luta para me curar, mas minha médica já me considera curada, após dois anos de remissão completa. Tudo isso faz com que eu seja grata pela vida, grata à minha irmã, Gi, pelo ato de amor, bondade e generosidade e principalmente sou grata à minha família por todo amor e suporte.
3 — Você esperava criar um vínculo tão forte com a Giovanna?
Eu sempre tive a certeza que o nosso vínculo seria muito forte, porque o fato dela ter doado a medula foi um ato de amor e humanidade. É impossível não sentir o poder do amor depois desse gesto tão lindo.
4 — E agora? Amigas para a vida?
Agora o nosso vínculo é muito familiar. A Gi é minha irmã de medula, minha amiga e minha motivação para seguir em frente.
Giovanna
1 — Você sempre quis ser doadora de medula? Como tomou essa decisão?
Não foi algo que sempre quis. Já tinha visto uma pessoa conhecida que havia doado, mas nunca foi um sonho, nem nada disso. Eu vi uma reportagem sobre um trote solidário ocorrendo em uma faculdade da minha cidade, que estava arrecadando doações de sangue e cadastros de doadores de medula, e resolvi me cadastrar como doadora. Isso foi em agosto de 2016.
2 — Como foi o processo de doação de medula?
Em outubro de 2020, o REDOME me contatou dizendo haver uma paciente que precisava de transplante de medula e que essa pessoa poderia ser compatível comigo, fizeram várias perguntas para saber se eu ainda tinha interesse em doar a medula. Eu consenti e eles me orientaram a ir ao hemocentro mais próximo, para coletar sangue e fazer um exame para confirmar a compatibilidade entre nós.
Recebi uma nova ligação no fim de dezembro de 2020, informando que a compatibilidade havia sido confirmada em 100%. Sendo assim, fui convidada a ir para Recife, para conhecer a equipe médica, fazer os exames e realizar a doação da medula. Fui com acompanhante nas duas vezes, primeiro com minha mãe, depois com uma amiga.
Realizei o procedimento em 25 de janeiro pela manhã, com sedação e anestesia geral, tive alta no dia seguinte e voltei para casa dia 27 de janeiro. Não vi nem senti nada durante o procedimento, a recuperação é tranquila e a medula se recompõe dentro de duas semanas.
3 — Você esperava criar um vínculo com a Eduarda? Como foi esse processo?
Não esperava porque a gente nunca sabe o que esperar do outro lado, não temos informações nem contato sobre a pessoa que receberá a medula, então é um mistério. Mas nosso vínculo foi certeiro desde o início e a partir do nosso primeiro contato, ele só cresceu cada vez mais!
Então, resolvi fazer uma surpresa para ela, entrei em contato com os pais dela, sem que ela soubesse, para combinar uma visita surpresa para nosso encontro após a quebra do sigilo (que pode ocorrer após 18 meses da doação, se ambas as partes se interessarem). Foi muito legal e muito emocionante, ela nem imaginava!
4 — O que você diria para quem tem medo de se tornar doador?
Eu diria que é um processo seguro, tranquilo e sem grandes riscos, que está ao alcance de muitos de nós. Para se cadastrar, basta ir ao hemocentro mais próximo de onde você mora e dizer que tem interesse em se cadastrar como doador de medula, você vai preencher um formulário e será feita a retirada de alguns mililitros de sangue, como em um exame de rotina, e pronto!
Eu diria também que existem muitos mitos em volta desse tema e que, por vezes, eles acabam influenciando a visão negativa que muitas pessoas têm da doação de medula. Desmistificando alguns deles: doar medula não há risco de ficar paraplégico, se em algum momento alguém de sua família precisar você pode doar de novo, não há sequela nenhuma após a doação e é muito mais simples do que imaginamos. Busquem informações seguras e confiáveis no site do REDOME!
Histórias como a de Eduarda e Giovanna nos dão esperança de que o mundo pode se tornar mais generoso e solidário. Eduarda e sua família passaram por momentos de medo e incerteza e foi preciso muita perseverança dos médicos e no tratamento até que ela recebesse a notícia de um doador compatível. Nesses casos, o tempo é sempre decisivo no que diz respeito à cura e Eduarda foi agraciada com um doador compatível pouco tempo após seu diagnóstico.
Se cadastrar como doador é um ato de humanidade. Há muitas pessoas na fila esperando para receber a doação de algum órgão, existem famílias inteiras que gostariam de salvar seus parentes, mas infelizmente não são compatíveis e a única alternativa acaba sendo confiar na generosidade de um anônimo. Seja um doador! Você pode ajudar a salvar vidas.