Frases inofensivas e carinhosas que nos transformam em fantoches nos relacionamentos

Psicologia
há 4 anos

O psicólogo clínico Leon F. Seltzer acredita que existem certos tipos de frases que podem ser uma ferramenta eficaz usada por manipuladores. Mas há outras situações em que mesmo as palavras mais gentis das pessoas próximas assumem um significado perverso. Nem sempre é uma questão de mentiras: o casal pode acreditar em suas declarações sinceramente, mas implementá-las seguindo um roteiro inesperado. Além disso, este artigo não é sobre como procurar más intenções em um simples “bom dia”. Baseado na opinião dos professores Preston Ni e Suzanne Degges-White, iremos dizer quando e por que deveríamos ficar alarmados.

Algumas expressões são maravilhosas quando as ouvimos, mas elas podem ter diferentes interpretações, dependendo da natureza do relacionamento. O Incrível.club irá falar neste post sobre quando e por que devemos nos preocupar.

1.

Pode acontecer que o parceiro queira obter algum benefício ou resolver algum problema de acordo com suas próprias vontades. Existem muitos exemplos: desde comprar um videogame a crédito até participar de uma aventura financeira sem respaldo. É o famoso “eu quero” que não possui recursos monetários suficientes, e os pedidos para esperar até que as coisas melhorem são ignorados. Como resposta, o parceiro diz que fará qualquer coisa para liquidar todas as dívidas.

Naturalmente, existem muitas situações nas quais devemos assumir riscos e enfrentar algo às cegas. E a pessoa pode realmente pensar que fará seu máximo para melhorar a situação... mas isso em algum momento, mais tarde.

Se você quiser entender se existe uma ameaça no otimista “vamos ficar bem”, é preciso avaliar as ações de seu parceiro em circunstâncias semelhantes, que já ocorreram antes. Se não há predisposição para acreditar que milagres podem acontecer, as promessas escondem outro significado: “O importante agora é fazer o que eu quero. Depois esperarei até que tudo seja resolvido de alguma forma”.

Uma pessoa que é impulsiva não deve ser acusada injustamente. Mas você não pode confiar em sua palavra se isso já aconteceu antes. O papel de um estrategista sóbrio cabe a você.

2.

Certamente, a maioria das pessoas gosta de ouvir frases como: “você é a coisa mais preciosa que eu tenho”, ou “você é o ar que eu respiro”. Porém, mesmo quando essas frases não são apenas adulação banal, vale a pena refletir sobre seu significado. Esse tipo de pensamento é muitas vezes expresso por um parceiro que não consegue obter outras realizações fora do relacionamento. Em suma, ele não tem mais nada para fazer, sendo assim, sua vida é a vida dele.

Não são motivos claros para “fugir” ou terminar o relacionamento, mas pode gerar um sentimento de vitória desonesta na luta pelo amor ou até mesmo de desconforto, em que na verdade você é tudo o que o outro tem e sem você, ele não é nada. O que deve ser feito? Não deixe seu parceiro se anular no relacionamento, nem desistir de seus próprios desejos e sonhos. Se o problema for ignorado, o enredo do próximo ponto pode se tornar realidade.

3.

Estamos falando de casos em que uma pessoa se colocou no lugar de vítima e inventa uma série de testes que é capaz de superar bravamente. Em nome do relacionamento, claro. A intenção de realizar proezas pode ser justificada:

  • Para tentar entender sua inconsistência em outras esferas.
  • Com a esperança de que o parceiro expresse sua gratidão eternamente.

Os pesquisadores advertem: o sacrifício afeta um relacionamento dessa forma. Os “benfeitores” permanecem sem “recompensas” e os “beneficiários” são marcados como “devedores”. A moral da história? O bem deve ser autêntico, feito sem esperar nada em troca.

4.

Essa situação é pertinente para os casais cujos relacionamentos se basearam no princípio de que “o homem é o provedor e o chefe da família, e a mulher é sua inspiração”.

Quanto maior o salário da mulher, mais infeliz será seu parceiro. Em momentos de franqueza, ele pode até admitir que quer ganhar mais... mais do que ela. Em um primeiro momento, podemos pensar que não há nada errado com esse desejo. Os problemas surgem quando não combinam com as tentativas do homem de ganhar mais. Portanto, existem dois cenários possíveis:

  1. A carreira da mulher é colocada em segundo plano por diferentes razões. Por exemplo, a crise financeira global, a reorganização da empresa, o nascimento de uma criança. Quando o nível de sua renda cai, seu marido se acalma. Porque, afinal de contas, seu desejo foi cumprido, não importa de qual maneira, nem importa se a mulher está infeliz com o resultado.
  2. O sucesso da mulher é sabotado: com pressão moral, com discursos extremistas e, às vezes,
    até com ultimatos.

As possibilidades de chegar a um acordo são viáveis até que o segundo cenário seja implementado. Se a situação chegou ao nível de sabotagem, vale a pena rever o relacionamento.

5.

Que a base de um bom relacionamento é a confiança, todos sabemos. Ponto. Só que esse é um direito inerente das duas partes. Quando abrimos nossa alma e coração para uma pessoa, temos que ter certeza de que ela não a transformará em cinzas.

Não ignore os fatos alarmantes:

  • O companheiro exige acesso ilimitado às profundezas da sua alma, mas abre a sua própria aos poucos, dependendo do seu humor.
  • O parceiro anseia por confissões abertas, mas é periodicamente pego em mentiras. Embora pareçam pequenas ou inocentes, à primeira vista.
  • As informações fornecidas em um momento de “vulnerabilidade” são usadas contra você.

Se todos os itens acima são um pouco familiares no seu caso, é preciso considerar ficar mais alerta e observar seu parceiro mais de perto.

6.

Digamos que o seu parceiro não esteja feliz com o relacionamento que você mantém com alguns amigos ou parentes. Reflita sobre suas razões. Ele demonstra seu interesse em proteger os “limites familiares” desta forma:

  • “Vicente toda hora se intromete...”, “a sua tia Lili aconselhou...”.
  • Acusa sua família de não parar de frequentar sua casa, de estar a todo momento por perto, não respeitar sua intimidade;
  • Não recusa uma maratona de cerveja (compras ou brincadeiras virtuais) com amigos, mesmo tendo um compromisso com a família ou estando em um jantar familiar. Por quê? Porque o parceiro vai entender, mas é difícil resistir às reprovações de amizades ofendidas.

É normal que uma pessoa se defenda contra influências negativas e conselhos que acredita ser “inúteis”. O que não é normal é um relacionamento com uma pessoa narcisista. Os cientistas advertem: esse tipo de pessoa não gosta quando não é capaz de “trabalhar” na vítima e, portanto, tenta isolá-la de seus possíveis defensores ou daqueles que podem abrir os olhos para os excessos cometidos por seu parceiro. Se as tentativas de se comunicar com outras pessoas conhecidas forem sabotadas, é preciso verificar o nível de toxicidade da relação.

7.

A frase “Eu não seria nada sem você” tem várias conotações:

  • “Você é uma boa influência na minha vida”.
  • “Seu amor me salva”.
  • “Estou disposto a mudar por você”.

E todas elas adquirem tons negativos, em uma relação codependente. A um dos companheiros, é atribuído o papel de “Salvador”. Ao outro, o de “Perdido”, que gosta de seu apoio e até aprecia a influência positiva. Os pecados do segundo “personagem” podem ser de qualquer tipo: desde a preguiça até maus hábitos.

Ao mesmo tempo, ele não abandona seu mau comportamento no passado, mas o Salvador ainda tem que justificar a confiança depositada nele: deve sempre inspirar, apoiar, entender, “ser melhor”. Caso um dia falte ou não esteja bem, será acusado de traição.

Na maioria desses casos, o término é a única maneira possível de resolver o problema. Se a situação ainda não chegou a um impasse, podem ser tomadas medidas menos radicais. Para começar, os psicólogos recomendam observar se seu apoio ajuda os “perdidos” ou, ao contrário, incentiva suas ações inaceitáveis.

8.

“Todo mundo é ruim, só você é um verdadeiro presente para mim...”. Não se iluda ouvindo esse tipo de elogio. Um especialista em manipulação é capaz de diminuir outras pessoas para aumentar o ego de seu interlocutor.

Primeiro exemplo: o marido reclama sobre algumas mulheres compulsivas por compras e se alegra que sua esposa “não seja assim”. Mas os elogios são válidos apenas até que sua mulher precise ir às compras. “Por que você precisa de coisas novas agora, se as antigas podem ser usadas por mais 5 anos? Oh, talvez você não seja tão perfeita quanto eu pensava”. Sendo assim, a mulher se sente egoísta e desiste de comprar o que precisava, a fim de mostrar que ela é sim exatamente o que ele pensa sobre ela, perfeita. Nos sonhos de um manipulador, a esposa fica satisfeita com o mínimo e apenas assim permanece perfeita a seus olhos, como uma heroína.

Segundo exemplo: o marido tem passatempos inofensivos e a esposa não quer atribuir a ele responsabilidades familiares. “É bom que você seja um homem realmente sério, e não um vagabundo que desperdice seu tempo com besteiras”. O elogio sabota as intenções de realizar atividades consideradas “menos sérias”.

Para evitar cair na armadilha, periodicamente faça a si mesmo a seguinte pergunta: “Nós realmente temos as mesmas opiniões sobre a vida? Ou eu me ajustei às exigências do meu parceiro, temendo sua desaprovação?”.

9.

Um dos dois comete um erro, mais ou menos grave, conforme a importância dada por cada casal. Por exemplo, ele fala sobre as intimidades dos dois para uma terceira pessoa. Ou apaga do computador um arquivo importante para o futuro do casal. Ou, pior! Perde os ingressos para um show importante, bem no aniversário de casamento.

A pessoa culpada se arrepende e pede desculpas. Em seguida, insiste em começar tudo do zero. Aceitar este pedido ou não é uma decisão que depende de muitos fatores. Mas é importante observar se a pessoa não quer simplesmente “resetar” seus erros, evitando uma futura análise de seus fracassos.

10.

Às vezes, nos relacionamentos, ocorre uma concorrência desleal que geralmente se desenvolve de acordo com dois tipos de roteiros.

  • Roreiro n° 1: companheiro vs. companheira.

O protagonista entende que ele é inferior ao seu parceiro em alguns aspectos. Ele não é acusado de “imperfeição”, mas a semente desse pensamento absurdo começa a germinar. O correto seria destruir esses “botões” antes que eles se tornem uma árvore poderosa e desenvolvam suas próprias aflições. Porém, esse método é muito difícil, não funciona. Para ficar no mesmo nível do seu parceiro, o protagonista simplesmente sabotará seu crescimento.

  • Roteiro n° 2: companheiro vs. entorno.

O protagonista vê o companheiro como um tesouro. Deseja esconder essa jóia preciosa da visão “dos ladrões”, mas não é capaz de mantê-la em um cofre, fechada, isolada. Esse diamante brilha em lugares lotados e atrai outros “caçadores de tesouros”. Sendo assim, chamar atenção é perigoso. Por isso, começa a escondê-lo, diminuí-lo. Assim, atrairá poucas pessoas, mas será útil dentro de casa.

Elogios, carinho, afeto: é assim que as más intenções são camufladas. Logo você vai se perguntar: “Por que eu preciso me matar na academia (aprender uma terceira língua, fazer outra faculdade, viajar), se a pessoa me ama do jeito que eu sou?”

A dinâmica do desenvolvimento de relacionamentos, contextos, codependência... Tudo isso é reduzido a um simples conselho de mãe: “Não confie em palavras, mas em ações”. Você concorda?

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