Estes trigêmeos foram separados na infância por uma experiência. A grande pergunta é se o resultado valeu a pena

Para Robert Shafran, então com 19 anos, o primeiro dia na universidade foi mais que estranho: pessoas desconhecidas o receberam como se ele fosse um velho amigo, perguntando como ele estava. Algumas estudantes chegaram até a beijá-lo. Robert ficou totalmente confuso, até que um dos alunos perguntou a ele qual era sua data de nascimento e se ele tinha sido adotado por sua família. Ao ouvir a resposta afirmativa, o novo conhecido exclamou: “Você tem um irmão gêmeo!” Robert ficou um tanto assustado, pois nunca pensou que tivesse um irmão, imagina dois!

Nós, do Incrível.club, não estamos falando de um roteiro de filme, e sim de uma história real, ocorrida em 1980 em Nova York. Continue lendo para descobrir os detalhes sobre esse caso, que de fato renderia uma ótima trama para Hollywood.

Encontro acidental

Quando Robert Shafran entrou na universidade, foi confundido com seu irmão gêmeo, sobre quem nunca tinha ouvido falar. Seu irmão era Eddy Galland, aluno do segundo ano. Um dos alunos deu a Robert o número de telefone de Eddy. Robert ligou e ficou paralisado ao ouvir uma voz tão parecida com a sua vindo do outro lado da linha. No mesmo dia, os irmãos se encontraram e ficaram em choque: um parecia ser cópia do outro. Os pais adotivos também ficaram impactados, já que nenhum deles suspeitava da existência dos gêmeos.

Não demorou para que a história sobre o encontro dos irmãos chegasse ao conhecimento da imprensa local. Uma das notícias publicadas foi vista por um estudante de outra universidade, chamado David Kellman. Na foto, ele viu que os dois rostos eram exatamente idênticos ao que via quando ficava diante do espelho. David conseguiu o número do telefone dos pais de Eddy e ligou para eles. “Deus, eles estão saindo de todos os lugares!” gritou, de forma bem humorada, a mãe adotiva após a conversa.

Os trigêmeos no filme Procura-se Susan Desesperadamente

Enfim, os irmãos puderam se reunir: Robert, David e Eddy. Não apenas a aparência física era evidente, mas os rapazes tinham também as mesmas preferências, por exemplo, ligadas a esportes (praticavam luta livre), cigarros (todos fumavam Malboro) e mulheres (gostavam das mais velhas). Os carismáticos trigêmeos logo viraram astros e se tornaram queridos pelo público: eles viraram personagens de matérias em jornais e revistas, foram convidados para participações na TV e para trabalhos no cinema. Foi assim que os três apareceram no filme Procura-se Susan Desesperadamente, com Madonna no papel principal. E a fotógrafa Annie Leibovitz, especializada em retratos de famosos, pediu que os jovens posassem para ela.

O encontro realmente mudou a vida de cada um dos irmãos, e não só por conta da fama. Eles ficaram tão felizes por terem se conhecido que posteriormente afirmaram: “é como se estivéssemos apaixonados”. Eles completavam as frases uns dos outros, fazendo, inclusive, gestos parecidos. Os jovens alugaram um apartamento para os três e, em 1988, abriram o restaurante Triplets (“Trigêmeos”) em um bairro badalado de Nova York.

Por que os irmãos foram separados

Enquanto Robert, David e Eddy eram só alegria com o reencontro, seus pais adotivos ficaram muito surpresos com o fato de a agência de adoção nunca ter informado nada a respeito dos trigêmeos. Quando eles procuraram a entidade, ouviram que dar os três irmãos para uma única família seria uma tarefa muito difícil. Mas claro que aquele não era o motivo real. Até aquele momento, os pais não vinham obtendo respostas honestas.

Na verdade, os trigêmeos, sem sequer saberem, participaram de uma experiência que tinha o propósito de verificar a influência da educação na personalidade de alguém. À época, os especialistas não levaram em conta a questão ética ao desenvolver a experiência.

Uma adolescente deu à luz os trigêmeos em 12 de julho de 1961. Ao que parece, eram quatro bebês, mas um deles morreu no parto. Com 6 meses de vida, os irmãos foram separados: eles viraram participantes de uma experiência comandada pelos pesquisadores Peter Neubauer e Viola Bernard. Através de uma renomada agência de adoção, a Louise Wise Agency, os meninos foram propositalmente entregues a três famílias diferentes, cada uma com um nível de renda e prioridades diferentes. A primeira família era de classe média, a segunda era operária e a terceira, rica. Em comum, as famílias tinham o fato de haverem adotado meninas na mesma agência dois anos antes.

Nenhum dos pais adotivos foi informado sobre a experiência, e também não sabiam da existência dos gêmeos idênticos de seus filhos. As visitas feitas periodicamente por especialistas eram justificadas como parte da prática habitual em casos de adoção. Inicialmente, os cientistas visitavam os meninos mais de quatro vezes por ano. À medida que eles cresciam, os encontros passaram a acontecer uma vez por ano. Os trigêmeos realizavam testes de capacidade cognitiva, e todos os encontros eram gravados em vídeo. Oficialmente, o estudo durou 10 anos, mas segundo relatórios, os meninos continuaram sendo observados ao fim desse prazo.

Robert, David e Eddy não foram as únicas crianças participantes da experiência. Há várias outras, mas o número exato é desconhecido. Alguns resultados do estudo de Peter Neubauer foram publicados em um artigo e em um livro, publicados em 1986 e 1990, respectivamente. O estudo completo não foi divulgado até hoje. Tudo está guardado na Universidade de Yale, nos EUA, e o acesso ao material é restrito até o ano de 2065.

Como a vida dos irmãos se desenrolou

David Kellman e Robert Shafran na cerimônia de premiação do The 3rd Annual Critics’ Choice Documentary Awards.

Os irmãos não apenas pareciam iguais, mas também tinham gostos parecidos. De acordo com os pais adotivos de todos eles, durante a infância os meninos tinham o hábito de bater na cabeça usando as barras da cama sempre que estavam irritados. David tem certeza de que aquilo era um sinal de ansiedade decorrente da separação. Mais tarde, ficou comprovado que os três irmãos tinham baixa capacidade visual e ambliopia (conhecida como “olho preguiçoso”), mas só um deles recebeu tratamento (algo que deixou os outros dois ressentidos).

Além disso, todos apresentavam problemas de saúde mental. Quando estudantes, David e Eddy frequentaram clínicas psiquiátricas, enquanto Robert foi detido e colocado em liberdade condicional por conta de um roubo. “Os especialistas sabiam que tínhamos problemas. E poderiam ter ajudado. Mas o que incomoda é que eles não fizeram isso”, relembra David.

O encontro trouxe alegria às vidas dos trigêmeos, mas descobrir a verdade sobre a experiência causou consequências negativas no lado emocional de todos eles. Já adulto, Robert disse: “Nos chamaram de voluntários para testes. Mas somos vítimas. Essa é a grande diferença. Nos trataram como ratos de laboratório. Mas somos seres humanos”.

Com o tempo, os trigêmeos se casaram. David teve duas meninas, Robert foi pai de um menino e uma menina, enquanto Eddy teve uma filha.

Eddy era mais apegado aos irmãos, e se mudou várias vezes para ficar mais perto deles. Ele teve um relacionamento difícil com o pai adotivo, por isso, após reencontrar os irmãos, sentiu que havia finalmente encontrado uma família, e passou a fazer o que podia para estar junto deles. Infelizmente, em decorrência do transtorno bipolar, Eddy se suicidou em 1995. À época, a relação entre os trigêmeos não era mais a mesma por conta da saída de Robert do negócio que mantinham juntos. A tragédia foi um duro golpe para David e Robert, que começaram a se afastar, até que perderam o contato.

Os dois voltaram a se comunicar durante a filmagem do documentário Three Identical Strangers. O filme foi lançado em 2018, e a estreia arrancou lágrimas de vários espectadores. Depois disso, um casal se aproximou de David e Robert com as palavras: “Em nome de todos os psicólogos de pesquisa do mundo, pedimos perdão”.

Qual sua opinião sobre experiências desse tipo? Acha que vale tudo em nome da ciência? Comente!