Esta pequena ilha é um local perigoso para ataques de tubarão, e ninguém sabe o motivo

Animais
há 1 ano

Você já ouviu falar de uma ilha que é regularmente atacada por tubarões? Há anos, os habitantes dali não conseguem encontrar uma maneira de acabar com isso. Eles também não entendem por que os animais vão até lá com tanta frequência. Então... o que está acontecendo? Por que esses predadores continuam incomodando esta ilha específica enquanto ignoram completamente as outras na região? Vamos até esse lugar misterioso e tentar descobrir!

Em 22 de julho de 2015. As águas do oceano perto da Ilha Reunião estavam limpas e transparentes. A parte ocidental, Saint-Leu, sempre foi um ótimo local para surfar. Mas neste dia ensolarado e agradável, um dos moradores quase perdeu a vida.
Um tubarão-cabeça-chata de quase dois metros apareceu do nada. Quando estava perto da costa, ele de repente atacou o surfista Rodolphe Arriéguy. Seu amigo, médico e professor de geografia da Universidade de Reunião, Erwann Lagabrielle, estava por perto, conversando com outros dois surfistas naquele momento.

De repente, eles ouviram um barulho. Percebendo que era seu amigo, Lagabrielle correu para ajudar. O tubarão estava a 20 metros dele. O homem disse que tudo aquilo parecia uma espécie de filme de terror. Ele correu até Arriéguy, embora não soubesse o que exatamente havia acontecido.
A princípio, o corpo do amigo estava coberto por uma espuma branca, que passou a ficar rosa e, depois, vermelha. O médico disse mais tarde que foi uma das coisas mais assustadoras que já viu na vida. Felizmente, quando nadou para mais perto, o tubarão já havia sumido. Lagabrielle sabia que, na maioria dos casos, não há um segundo ataque. Então correu para ajudar Arriéguy. Eles levaram algum tempo para voltar até a praia. Quando Lagabrielle puxou o amigo para a areia, imediatamente fez um torniquete com a cordinha da prancha de surfe. Depois disso, Arriéguy foi levado às pressas para o hospital.
Felizmente, a história teve um final feliz. Embora o homem de 45 anos tenha perdido o braço, ainda sobreviveu. Mas ele foi um dos poucos sortudos, pois essa história terrível é apenas uma das dezenas que aconteceram no local nas últimas décadas.

A Ilha Reunião é um dos territórios da França. Ela está localizada perto de Madagascar, próximo das Ilhas Maurício. Ambas ficam na mesma latitude da Austrália. Essas duas ilhas são muito parecidas: têm quase o mesmo clima e aspectos naturais, línguas e culturas semelhantes. Mas há uma grande diferença entre elas.
Em Maurício, as pessoas podem relaxar e se divertir nas águas quentes do oceano Índico, nadar com equipamento de mergulho e observar golfinhos. Enquanto isso, em Reunião, os moradores têm medo de colocar até os dedos na água. Mas por quê? Infelizmente, o local agora ganhou a fama de “ilha de tubarões”.

Em 2018, 56 ataques ocorreram lá. De 2011 a 2016, o número desses casos representou 16% dos ataques desse animal em todo o mundo. Agora, há placas de alerta por toda a ilha. Moradores e pescadores locais começaram a discutir as opções de captura de tubarões em larga escala. As autoridades proíbem as pessoas de nadar em quase todos os lugares, exceto em alguns mais ou menos seguros — como uma lagoa de coral.

Qualquer pescador ou cientista sabe que os tubarões podem facilmente entrar nesses “anéis de coral”. Em outras palavras, ninguém pode se sentir completamente seguro em nenhum lugar dali. Enquanto isso, nas Ilhas Maurício, o último ataque de tubarão aconteceu na década de 1980. As pessoas vão para lá querendo relaxar e tudo é perfeitamente bom. Portanto, a pergunta é: “Por que a Ilha Reunião é tão azarada?”.

O Dr. Lagabrielle, o herói que mencionei antes, se propôs a explicar esse estranho fenômeno. Seu estudo mostrou que, nos últimos 30 anos, a probabilidade de um ataque de tubarão no local aumentou 23 vezes! E em 9 de 10 casos, acaba sendo um cabeça-chata. Se você ainda não ouviu falar dele, se parece exatamente com o que você imagina quando ouve a palavra “tubarão”. É uma das espécies mais populares e que se costuma ver nos filmesdesenhos animados. Vive em águas tropicais e subtropicais em todos os oceanos. Na maioria das vezes, é encontrada — sim, você provavelmente já adivinhou — nas águas do sul entre a Austrália e a África do Sul. Esse lugar é até apelidado de “rota dos tubarões”, pois esses predadores realmente gostam de relaxar por lá.

Essa também é uma das espécies de tubarão mais agressivas e é muito perigosa para os humanos. Infelizmente, é muito tolerante a diferentes salinidades da água. O que significa que pode nadar mesmo em água doce e ficar totalmente tranquilo com isso. Mas por que todos esses ataques acontecem com tanta frequência por lá? Bem, existem muitas teorias e muitos fatores diferentes que podem desempenhar seu papel nisso tudo.

Marc Soria, pesquisador do IRD (Instituto Nacional Francês de Pesquisa e Desenvolvimento), decidiu realizar um estudo em conjunto com sua equipe. Eles passaram três anos tentando coletar dados de 45 tubarões-tigre e 38 cabeças-chatas que viviam em águas locais. O IRD apoiou este estudo, que também foi financiado por três fundações de pesquisa: regional, nacional e europeia. É aí que se sabe que o problema fica sério. E estas são as principais teorias desenvolvidas pela equipe de Soria e Lagabrielle. A primeira é a pesca excessiva. Especialistas sugerem que a pesca de longo prazo e a captura de pequenos tubarões de recifes, que competiam com os perigosos por comida e território, acabaram levando a essas consequências drásticas. Infelizmente, quando os cabeças-chatas predadores ficaram sem comida, simplesmente tiveram de procurá-la perto da costa.

Para eles, os surfistas da Ilha Reunião parecem peixes doentes e fracos — e, portanto, uma refeição fácil. Além disso, enquanto nas Ilhas Maurício os surfistas tendem a ficar perto de praias arenosas, em Reunião eles escolhem lugares onde as ondas quebram nos recifes de coral, e é exatamente ali que os animais escolhem para procurar comida, então... Sim. A segunda razão possível são as águas lamacentas. Os cabeças-chatas gostam muito dessas condições. E, embora não existam lugares naturais como esses em Reunião, o motivo pode ser a urbanização. A água doce lamacenta chega às baías das cidades. Isso atrai tubarões e é então que os ataques ocorrem com mais frequência. Mas podemos perguntar novamente: “Por que não nas Ilhas Maurício?” Afinal, a urbanização também está em pleno andamento por lá e há muitos lugares onde as águas residuais correm para o oceano.
Bem, então podemos concluir que esse não é o único fator, deve haver outros. Por exemplo, o Piton de la Fournaise, que é um belo vulcão ativo em Reunião. Graças a ele, há uma rica flora e fauna na ilha. E isso poderia ser ótimo se não atraísse muita atenção dos predadores.

Por causa do vulcão, as margens de Reunião são menos íngremes, o que facilita nadar mais perto da costa. E rochas sedimentares que descem das encostas dele podem atrair tubarões-cabeça-chata. Como já sabemos, esses carinhas adoram águas barrentas. Existem algumas outras teorias: Por exemplo, Lagabrielle sugere que os ataques podem estar ligados a um aumento na população desses animais. Ou talvez seja porque essas criaturas ficam mais agressivas durante os períodos de acasalamento. Algumas pessoas acreditam que tudo isso pode ser culpa das Ilhas Maurício, pois lá foi proibida a captura e venda de tubarões para consumo da carne. Mas Soria e outros especialistas discordam totalmente disso. Poucas pessoas nas duas ilhas compraram dessa carne para fazer alguma diferença significativa. De qualquer forma, toda essa situação causou muita tensão em Reunão.

Grande parte da população agora apoia a ideia de capturar tubarões em larga escala. Eles também construíram algumas cercas subaquáticas perto da ilha, e a manutenção delas custa um milhão de dólares por ano. Pode parecer muito extremo, mas tempos difíceis exigem medidas drásticas. Porém, apesar de todas essas histórias terríveis, em geral os tubarões não são tão perigosos quanto pensamos. Eles raramente atacam mergulhadores — a menos que sejam provocados. Mergulhadores experientes costumam comparar tubarões com cães de rua: não é preciso ter medo desses animais, mas eles devem ser respeitados. De qualquer forma, vamos torcer para que Reunião consiga resolver esse problema e as pessoas possam nadar novamente em suas águas mornas e lindas.

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