E se você tivesse nascido com um rabo

Animais
há 1 ano

Milhões de anos atrás, muitos animais usavam suas caudas para ajudá-los a nadar. Quando alguns deles deixaram a água pra trás, esses prolongamentos mudaram, ou simplesmente deixaram de existir. Agora imagine se você vivesse em um mundo onde essa última parte não aconteceu, e todo mundo tivesse rabo — inclusive as pessoas. Isso daria habilidades especiais a elas. Mas tudo depende do tipo de cauda. Digamos que você nasceu em uma cidade grande, e tem uma bem peluda, como a de um gato. Pra quê ela serviria?

Nossos bichos de estimação usam seus rabos para a comunicação entre si. Eles podem mostrar o que o animal está sentindo. Da mesma forma, os prolongamentos demonstrariam as emoções das pessoas. Enquanto você caminha pela rua, uma mulher passa ao seu lado. Ela está falando ao telefone. Alguém deve estar dando uma boa notícia para ela, pois a cauda dela está balançando rápido de um lado para outro.

Ao longe, você vê dois caras conversando. Os rabos deles estão para cima, como dois pilares, o que mostra que estão irritados e prontos para um confronto. Mesmo à distância, dá pra ver que eles não estão só conversando, e sim discutindo um com o outro.
Seria bem difícil para as pessoas controlar esses prolongamentos quando estivessem sentindo fortes emoções. Se um amigo estivesse sorrindo para você, mas a cauda dele estivesse abaixada, seu impulso seria de tentar animá-lo, pois entenderia que ele não está bem. Os especialistas que conseguem ler expressões faciais para saber se alguém está falando a verdade também teriam que aprender a decifrar os movimentos dos rabos. Seria super difícil jogar baralho — o balanço frenético da sua cauda mostraria para todos da mesa que você tem cartas boas. Poxa vida.

Você chega ao escritório e vê um colega conversando com a chefe. O rabo dele está literalmente entre as pernas, o que indica que está com medo. A chefe deve estar dando um sermão nele por causa de um relatório mal feito, você pensa. Aí, vê sua amiga, e fica tão feliz em vê-la que sua cauda começa a balançar. Ontem foi seu aniversário, e ela lhe dá de presente hoje uma passagem de volta ao mundo. Que amigona, hein?!

Você vai para casa após o expediente e arruma sua mala. Lembra de pegar todas as roupas e acessórios que precisa para sua cauda. A moda é um pouco diferente neste mundo. Algumas pessoas gostam de usar anéis nas caudas, enquanto outras gostam de fazer cortes estilosos ou raspá-las e fazer tatuagens.
Mas as pessoas mais descoladas usam caudas de pavão. Esse animal usa a dele para espantar os predadores e também para impressionar outros da mesma espécie. Assim, os humanos utilizam os prolongamentos dessa ave exibida para ficarem mais bonitos. A maioria trabalha na indústria de moda e passa metade do dia cuidando delas, o resto do tempo é usado nas passarelas e em sessões de fotos.

Sua mala está feita. Você sai de casa e se dá conta de que está tarde para o voo. Então corre até o táxi, se movimentando muito mais rápido do que os humanos comuns. Isso porque seu rabo não serve apenas para se comunicar, mas também para proporcionar mais equilíbrio. Você consegue andar em cima do meio-fio sem cair e saltar facilmente sobre qualquer obstáculo.

Ao chegar ao aeroporto, embarca e parte para o Norte. É verão, então em vez de neve encontra campos verdes e aquele clima agradável da fazenda. Há vacas e cavalos pastando ali perto, e seus rabos ajudam a afugentar as moscas e outros insetos chatos. Você vê pessoas com o mesmo tipo de prolongamento — pequeno, com um topete na ponta. Como é ótimo para varrer, elas os usam como vassouras. As ruas ali são muito limpas. As caudas também são ótimas para a noite, quando surgem muitos mosquitos. Com elas balançando pra lá e pra cá o tempo todo, essas pessoas raramente são picadas por algum mosquito.

Você viaja mais para o Norte — lá tem neve, e está bastante frio. Então se agasalha e coloca uma capa quentinha na cauda. Mas os moradores de lá não precisam desses acessórios. Assim como as raposas, utilizam os rabos felpudos como cobertor. Além de aquecê-los, também retêm muita gordura, assim como os de jacaré. Isso ajuda as pessoas a se sentirem dispostas e animadas até no inverno. Mas você está congelando de frio, então resolve voar para o Sul.

Como lá é quente pra caramba, coloca um pequeno chapéu em cima da sua cauda para protegê-la do sol escaldante. As cidades dessa região são cercadas por florestas tropicais e matas. Devido ao clima, muita gente raspa as caudas para se refrescar. Ao chegar ao hotel, lhe oferecem um quarto comum e um dentro de uma árvore. Você fica intrigado e acaba escolhendo a última opção.
Nesta região, as casas são construídas dentro das árvores mesmo. É difícil para você subir até lá com sua cauda normal, mas quem mora ali não tem problema algum, muitos têm rabos de macaco. E os usam para subir nas árvores e para se pendurar nos galhos. Esse tipo é como uma terceira mão, dando às pessoas muita agilidade e velocidade.
Essa “mão” extra tem muitas vantagens. Ela pode ser usada para preparar o almoço e mexer no celular ao mesmo tempo. As pessoas também conseguem usá-la como cadeira. Mais o mais legal mesmo é que conseguem saltar de um galho para outro, se pendurando com o rabo.
Você conhece alguns dos moradores dali. Eles estendem as caudas em vez das mãos para cumprimentar. Aí, seus novos amigos o levam para um show. Os cantores têm rabos barulhentos, semelhantes aos chocalhos das cascavéis. Esses animais geralmente usam suas caudas barulhentas para afugentar seus inimigos, mas para os músicos servem como instrumentos, como se fossem maracas.

No show, você conhece pessoas que têm rabos de répteis, então não precisam se preocupar muito — se acontecer algum acidente e o prolongamento for arrancado, crescerá de novo e voltará ao normal em dois meses. Os répteis usam esse truque para fugir dos predadores. Para as pessoas daqui, porém, isso lhes permite fazer shows de mágica espetaculares.

Você também vai ficar muito impressionado com quem tem cauda de escorpião. Esse animal usa o ferrão para atacar os inimigos, mas para o pessoal de lá serve como medicamento. Pesquisas recentes revelaram que o veneno de escorpião pode ser utilizado para curar algumas doenças. Então, por mais assustadores que pareçam, os indivíduos com cauda de escorpião são ótimos médicos.

Depois de passar alguns dias nesse clima tropical, você parte para o litoral.
Ali encontra pessoas com rabos de peixe. Elas parecem mais sereias, mas não conseguem respirar debaixo d’água. A cauda as ajuda a nadar mais rápido e mergulhar e serve como prancha de surfe. Tem o pessoal com rabos de canguru também, que criou novos tipos de esportes, como salto de cerca e queda de ‘braço’ usando seus prolongamentos. Essas pessoas adoram ir à academia para deixá-los musculosos.

No fim da sua jornada, você conhece pessoas com os rabos mais inúteis de todos — os de porco. Eles não têm utilidade alguma, mas são sofisticados e bonitos. Com um desses, você pode se tornar uma modelo ou uma estrela de cinema.

A vida certamente seria bem diferente se as pessoas tivessem caudas. Mas se tudo isso soa absurdo, pense no seguinte: existe um ossinho no fim da nossa coluna chamado cóccix. É o que restou dos rabos que nossos ancestrais tinham milhões de anos atrás. Mas esse pedaço escondido não é inútil — é ele que nos ajuda a sentar corretamente.

E assim chegamos ao fim da nossa história.

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