E se uma bola de aço fosse jogada na Fossa das Marianas?

Curiosidades
há 8 meses

Este é um dos locais mais intrigantes do mundo. Coberto pela escuridão e quilômetros abaixo d’água, esse ambiente hostil abriga algumas criaturas e fenômenos estranhos. Estamos falando da Fossa das Marianas, a fossa oceânica mais profunda da Terra. E, talvez por isso, a mais difícil de se explorar! As condições são arriscadas, então não é possível explorar o local sem equipamentos apropriados. Mas o que aconteceria se jogássemos uma bola de aço lá dentro?

Vamos começar conhecendo um pouco mais sobre este lugar. Como é que se descobriu este buraco profundo no oceano? O HMS Challenger identificou ele em 1875. O navio tinha equipamentos avançados para a época, mas não eram suficientemente bons para explorar totalmente o local. Algumas décadas depois, em 1951, outro navio, o HMS Challenger II, voltou à localização melhor equipado. A embarcação tinha uma ecossonda e conseguiu tirar medidas precisas do que parecia ser o ponto mais profundo da superfície do nosso planeta.

Se pudesse olhar para a fossa em uma imagem 2D, você veria que ela mede aproximadamente 2.500 quilômetros de comprimento por 69 quilômetros de largura. Ela também se parece com uma cicatriz com formato crescente quando é observada de cima. Nada fora do comum até agora, né? Bem, se esticarmos um fio da superfície do oceano até o ponto mais profundo da fossa, ele medirá incríveis 11 quilômetros. Se pudéssemos deslocar o Monte Everest — que é a montanha mais alta da Terra para tampar a Fossa das Marianas, não seria suficiente: o monte cairia por pouco mais de 1 quilômetro.

Por ser tão profunda, a Fossa das Marianas é praticamente coberta pela escuridão, já que a luz não consegue entrar em pontos tão distantes da superfície. A temperatura também não é muito agradável: apenas alguns graus acima do ponto de congelamento. Mas o que é mais perigoso por lá é a pressão da água. No seu ponto mais profundo, a quantidade de pressão é cerca de mil vezes mais alta que a pressão atmosférica padrão.

Poucas pessoas tiveram coragem de tentar descer pela Fossa das Marianas. Na verdade, a primeira tentativa organizada ocorreu mais de 60 anos atrás. Ela foi feita por Jacques Piccard e Don Walsh em um submersível. Eles passaram cerca de cinco horas descendo e meros 20 minutos no fundo. Infelizmente, não conseguiram tirar nenhuma foto.

Antes de esses dois cientistas conseguirem descer, especialistas acreditavam que havia pouca chance (ou nenhuma) de ter vida lá embaixo, considerando as condições extremas e a forte pressão. Mas enquanto estavam no fundo, o refletor do submersível iluminou uma criatura! E ela era muito achatada.

Como você pode imaginar, os recursos lá embaixo são muito escassos. Que tipo de criaturas vivem lá? E como elas conseguem sobreviver, considerando a hostilidade do ambiente? Surpreendentemente, há muitas espécies vivendo na Fossa das Marianas. Algumas dessas criaturas dependem de substâncias químicas para sobreviver, como metano e enxofre, enquanto outros tipos de peixe se alimentam de espécies marinhas que, bem... são mais fracas que eles na cadeia alimentar.

As criaturas mais comuns encontradas lá são o xenofóforos, anfípodes e pequenos pepinos-do-mar. Alguns se adaptaram endurecendo a pele, usando o alumínio presente na água do mar. Criaturas menores, como micróbios, se adaptaram comendo substâncias químicas emitidas quando a água do mar bate nas rochas. Elas consideram o peixe-caracol das Marianas o maioral de lá em termos de vida selvagem. Esse peixe é pequeno — tem de 8 a 23 centímetros — translúcido e sem escama alguma, mas é o maior predador daquela área.

É por isso que algumas pessoas começaram a acreditar que o antigo Megalodonte pode ainda estar vivendo lá! “Mas quem é esse tal Megalodonte?”, você pode estar se perguntando. Ele foi o maior predador já conhecido na história do nosso planeta, basicamente o maior e mais voraz tubarão que já viveu por aqui. Cientistas acreditam que ele foi extinto há algum tempo, e a ideia de que ele ainda pode estar escondido na Fossa das Marianas não tem muito embasamento científico. O Megalodonte precisaria ter aprendido a navegar na total escuridão. Então, ele teria bioluminescência ou teria que evoluir para que seus olhos ficassem maiores. Outra coisa: por ser praticamente do tamanho de um ônibus escolar, ele precisaria comer muito. E micróbios e pequenos peixes-caracóis não seriam suficientes.

Se uma bola de aço fosse jogada dentro da fossa, o que aconteceria? Será que a bola seria forte o suficiente para aguentar tamanha pressão?
Vamos fazer uma análise científica aqui. Considerando que é uma bola de aço sólida, a pressão encontrada no fundo da fossa não seria suficiente para afetá-la e causar algum dano permanente. Ela levaria 12 minutos para chegar ao fundo do oceano. E a temperatura? Bem, parece que a diferença de temperatura entre a superfície e o fundo da fossa é considerável (uma diferença de cerca de 30 °C). Então, isso faria a bola encolher um pouco. Mas assim que ela voltasse para a superfície, voltaria ao normal.

Se a bola ficasse presa lá embaixo, será que a corrosão a afetaria? Bem, a corrosão do aço depende muito da quantidade de oxigênio da água. E essa quantidade permanece constante em profundidades maiores que 5 quilômetros. Vou te poupar dos cálculos, mas o aço levaria mais de 10 mil anos para enferrujar totalmente no fundo do mar.

Agora não consigo parar de pensar no seguinte — o que nós, humanos, precisaríamos para conseguir sobreviver em profundidades tão grandes? Vamos analisar o que foi usado no passado para explorar esse local misterioso: uma coisinha chamada espuma sintática. Por quê? Pois esse é o único material que pode flutuar e resistir à quantidade de pressão existente lá. Sem esse tipo de proteção, nossos pulmões estourariam rapidinho. E mais: a pressão da água empurraria líquido para dentro da nossa boca, substituindo o precioso oxigênio por água. Aí, precisaríamos conseguir voltar para a superfície caso alguma coisa saísse fora do planejado.

Uma das embarcações que fizeram esse mergulho profundo aqui tinha pesos de aço de 450 quilos presos a ela para garantir que afundasse. Esses pesos foram conectados ao navio com um tipo especial de fio que tinha um tempo de corrosão aumentado de 11 a 13 horas na água do mar para caso alguma coisa desse errado lá embaixo e eles precisassem voltar mais rapidamente.

Considerando as condições extremas da Fossa das Marianas, ter um bom suprimento de oxigênio é muito importante também. Qualquer embarcação que queira descer lá de novo precisaria considerar algum aparelho capaz de reciclar o ar para reduzir a quantidade de oxigênio que precisa ser transportada para lá.

E por último, mas não menos importante: outro problema seria a eletricidade! Não há tomada alguma lá embaixo para você recarregar seu celular. Então, é preciso levar baterias suficientes para manter todos os equipamentos funcionando: os de comunicação, de suprimento de oxigênio, de iluminação e outros. Mas parece que esses problemas já não são tão desafiadores, pois, hoje em dia, é possível até comprar um passeio pela Fossa das Marianas!

Três sujeitos sortudos fizeram parte desse projeto em 2020. Eles foram submersos dentro de uma esfera de titânio com 9 centímetros de espessura. Isso garantiu que não sentissem nenhuma mudança de pressão e nenhum estresse fisiológico. Cada um dos turistas fez uma viagem individual que tinha uma duração estimada de cerca de 14 horas. Só para descer, eles levaram quatro horas! Assim que chegaram ao fundo, tiveram a chance de ver algumas das criaturas mais extraordinárias do planeta. Depois, foi hora de começar a subida de quatro horas para voltar para a superfície.

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