E se tivéssemos uma semana com 10 dias em vez de 7
Você chega em casa após uma longa sexta-feira no trabalho e diz para si mesmo: “Por que o fim de semana não pode ser maior?!” A ideia de voltar a trabalhar na segunda o angustia. São apenas dois dias de folga, e você tem tantas coisas para resolver! Aí, assim que liga a TV, ouve o melhor anúncio de todos que já ouviu na vida. A semana foi estendida para 10 dias, em vez de 7! Você pula de alegria, pensando no longo fim de semana que terá. Haverá tempo suficiente para descansar, e talvez até para sair da cidade e ir para o campo.
Mas parece que você não ouviu a notícia inteira. Ao que tudo indica, haverá apenas um dia extra no fim de semana. Os outros dois serão úteis. Mesmo assim, não é nada mal: dois dias a mais no escritório, PORÉM mais um dia inteirinho no fim de semana.
Por que há sete dias na semana, e não 10, ou cinco? A resposta está escondida lá atrás, nos antigos dias da Babilônia, quando as pessoas olhavam para o céu em busca de respostas. Elas eram bastante observadoras, e perceberam que a Lua tinha fases. Depois, descobriram que ela levava 28 dias para completar um ciclo dessas fases. (Curiosamente, hoje em dia esse ciclo dura 29 dias e meio.)
Ele começa com a lua nova — que é quando ela não fica visível. O Sol, a Lua e a Terra ficam alinhadas de tal forma que só vemos o lado escuro da Lua. Depois isso, ela passa pelas fases minguante e crescente. E, na sequência, vem a cheia. A partir daí, o processo é reverso: minguante, crescente, e lua nova mais uma vez. Os babilônios dividiram o ciclo de 28 dias em quatro partes. Foi assim que chegaram a sete dias — que é a semana que usamos até hoje.
Além disso, quando as pessoas olhavam para o céu, viam os corpos celestiais. Eram eles: o Sol, a Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno. Claro, agora sabemos que há muitos outros planetas, estrelas, e demais objetos espaciais. Mas, na época, só esses estavam próximos o suficiente para serem observados. Um dia na terra equivale e uma rotação completa do planeta em seu próprio eixo. O ano acaba quando a Terra termina uma volta completa ao redor do Sol. Isso leva 365 dias e ¼. É por isso que existe um dia extra a cada quatro anos — 29 de fevereiro. O ano em que isso acontece é chamado de bissexto.
Mas vamos voltar à nossa história. Agora é sexta-feira e você está super empolgado! Afinal, terá um dia extra para relaxar neste fim de semana. Mas dois dias a mais de trabalho. Ah, mas isso significa que cada mês terá cerca de 43 dias! Isso vai totalizar 516 dias em um único ano! Tudo o que você já planejou para este ano terá que ser mudado. As férias e os feriados serão maiores. As pessoas passarão mais tempo na escola, nas faculdades e no trabalho.
Isso quer dizer que se houver mais dois dias úteis, as empresas e corporações terão mais lucros, e os funcionários um aumento de produtividade? Talvez. Você está no seu carro, dirigindo para sua cabana perto do lago. Três dias de ar fresco e de pores-do-sol encantadores — que alegria! Assim que chega lá, tira a poeira do seu barco e parte rumo ao meio do lago. Aaah. Finalmente, paz e tranquilidade! O fim de semana acaba rapidinho. Na noite do décimo dia da semana, é hora de voltar para a cidade.
Na manhã seguinte, você acorda para a realidade de sete dias de trabalho. A viagem do último fim de semana não sai da sua cabeça. Não demora muito para se dar conta de que sete dias úteis é algo exaustivo. Na maioria dos países, as pessoas trabalham 8 horas por dia. (Não na Holanda! Lá, as pessoas trabalham por volta de 6 horas, fechando um total de 29 horas na semana. Esse país tem oficialmente a menor jornada de trabalho do mundo!) Mas você não mora na Holanda. Ou seja, tem um total de 56 horas trabalhadas por semana!
Você consegue levar os dois primeiros dias de boa. Mas no terceiro chega no escritório sonolento e sem energia. E olha que nem é o meio da semana ainda! Na sexta, já perdeu todos os prazos do trabalho e chegou atrasado em várias reuniões. Esqueceu o que iria falar quando estava fazendo apresentações. E não come direito desde o fim de semana! Mas já conhece bem esse sentimento — também o sentia antes, quando trabalhava cinco dias por semana. Então, junta seu resto de coragem e termina primeiro a semana, depois o mês.
Mas as coisas não melhoram. A cada vez que você chega ao escritório, só consegue pensar em acampar e descansar em sua cabana. Ao olhar pela janela, vê um céu limpo, mais azul do que nunca. Então desvia seu olhar para a tela do computador, e fica tonto. Suas costas estão doendo de tanto ficar sentado, e sua postura está cada vez pior.
Seu chefe não está nem um pouco satisfeito com seu desempenho, e o pressiona para melhorar. Mas não é só você — seus colegas também estão exaustos, e também não sabem como lidar com essa situação.
Um dia, você percebe que tudo (e todos) no escritório o irritam. Isso o faz descarregar sua raiva nas pessoas. E elas também fazem isso com você. Parece que até seus amigões, com quem você trabalha há mais de cinco anos, não o suportam. Ser grosso, não atender o telefone nem responder e-mails só piora a situação.
Seis meses depois, você mal consegue olhar para seu computador. Três dias de folga não são suficientes para compensar os sete trabalhados. Todos no escritório sentem a mesma coisa. Muitos de seus colegas já pediram demissão. Eles resolveram procurar empregos com melhores condições de trabalho. Você teve que arranjar óculos para trabalhar no computador. Com sete dias forçando seus olhos, semana após semana, sua visão ficou bem pior.
Você continua lembrando a si mesmo de que só faltam dois meses para o feriado. Mas são 86 dias, em vez de 60, como era antes. Mas vamos acelerar as coisas e ir direto para o Natal. É a última semana de trabalho, antes que todos saiam de férias. Você não para de sonhar com um passeio na praia. Mas aí, outro anúncio é feito. Por algum motivo misterioso, a folga de fim de ano foi reduzida.
Ou seja, pode desistir de seus planos de surfar, se bronzear e nadar no oceano. O mais longe que você conseguirá ir é até sua cabana. O que vai fazer lá em pleno inverno — construir castelos de neve?! Todos ao seu redor também parecem estar desesperados. As pessoas estão começando a perder a esperança. Um professor que está acostumado a ensinar alunos cinco dias por semana agora tem que se preparar para sete dias de estudo. Isso não significa que os semestres serão mais curtos. Serão longos como sempre — ou até maiores. As férias de verão serão iguais também.
Os funcionários de construtoras ficarão exaustos após sete dias trabalhados. Assentar tijolos, operar um guindaste ou britadeira, dentre outas atividades, será mais cansativo do que antes. A maioria das construções leva meses para sair do papel. E quando os funcionários estão cansados e não descansam há muito tempo, erros podem acontecer. E em se tratando de construções, o menor dos erros pode custar caro.
Você precisará de mais combustível para o seu carro, já que terá que ir para o trabalho com mais frequência — sete dias na semana, em vez de cinco. E como haverá uma alta demanda, o preço certamente aumentará. Pouco depois, poderá haver escassez de combustível também. Cada vez mais pessoas passarão a usar o transporte público. E, em breve, ele será abastecido por eletricidade.
Trabalhar a mais mudará o comportamento das pessoas. Uma pessoa comum, com um emprego fixo, ficará muito mais estressada e irritada. O fim de semana de três dias não conseguirá compensar os sete trabalhados. Cada vez mais pessoas irão procurar médicos para tratar seus problemas recém-adquiridos. Mas os médicos também estarão trabalhando a mais, então terão seus próprios problemas também!
As pessoas que precisam trabalhar em dois empregos para sustentar suas famílias é que sofrerão mais. Elas não conseguirão lidar com a pressão ainda maior para tentar pagar suas contas. Todos terão que se deslocar mais. As plantas e fábricas irão trabalhar sem parar sete dias por semana, em vez de cinco. Isso vai piorar a poluição do ar. E por trabalharem mais horas, as indústrias precisarão de mais recursos naturais. Tudo o que você espera é que esse experimento insano acabe o quanto antes.