E se o maior terremoto de todos os tempos fosse duas vezes mais forte
Você recebe os amigos para jantar, coloca sua bebida sobre o aparador e vai ajudar seu amigo a servir a sobremesa. Quando volta, observa o líquido no seu copo. Ele está chacoalhando e os cubos de gelo parecem navios no mar agitado. Agora você também sente.
No teto, o lustre balança loucamente. Então dá pra ouvir alguém gritar “terremoto!”. A casa e tudo nela... balançando para frente e para trás. Você tenta correr para se proteger, mas o tremor o mantém parado no lugar, lutando para se equilibrar. Os armários parecem possuídos e os copos e pratos voam se espatifando no chão. As estantes de livros tombam e tudo que está pendurado nas paredes balança e cai.
Você se abaixa sob a mesa da sala de jantar, tentando não se machucar com todos aqueles pratos quebrados. Sim, você já passou por terremotos antes, mas nenhum como este. Olhou seu telefone? Típico, sem sinal. Não dá pra acreditar no que está para acontecer. Os gritos ficam mais altos e de repente a casa inteira desaba. O maior terremoto já registrado aconteceu no Chile em 1960. O desastre aconteceu à tarde, bem quando todos estavam fora de casa.
Para causar danos sérios que alterem a vida, um terremoto precisa ter uma magnitude de cerca de sete em diante na escala Richter. Este foi de nove ponto cinco! Essa parte do Chile fica bem próxima ao chamado “Círculo de Fogo”, a área vulcânica e sísmica mais ativa do mundo, ao longo da costa do Pacífico. O tremor inicial durou cerca de 10 minutos e, após dois dias, muitos tremores secundários ainda eram tão fortes que um vulcão entrou em erupção no sul do país.
Mas não terminou aí. O terremoto desencadeou uma série de ondas gigantes em todo o Oceano Pacífico, algumas atingindo mais de 25 metros de altura! As ondas e o terremoto foram tão fortes que afetaram até o Havaí, o Japão e as Filipinas! Isso causou danos de cerca de meio bilhão de dólares em 1960. Muitos ficaram desabrigados. Grande parte da infraestrutura também foi destruída. Prédios enormes vieram abaixo e havia pilhas de destroços por toda parte.
Os cientistas estimam que esse terremoto foi tão forte que mudou o eixo da Terra, deixando nossos dias 1,26 microssegundos mais curtos. Isso pode não parecer muito, mas pense bem: apenas um desastre natural foi forte o suficiente para alterar o tempo! Muitas das cidades costeiras foram arrasadas e as inundações se espalharam. A economia caiu em espiral. De acordo com estudos, se esse terremoto acontecesse hoje, causaria mais de 20 bilhões de dólares em danos.
Então, o que aconteceria se um terremoto com o dobro desse tamanho ocorresse sem nenhum aviso? Para começar, provavelmente os efeitos seriam percebidos ainda mais longe. Os maremotos não atingiriam apenas as costas do Japão e das Filipinas: eles chegariam até a China, Coreia, Vietnã e até mesmo Austrália. E essas ondas seriam significativamente mais altas do que 25 m. Talvez o dobro disso! O que seria o equivalente a oito girafas empilhadas cruzando o seu caminho! Se você morasse perto da costa, perceberia as ondas. Se visse a água recuar de modo que pudesse praticamente ver onde todos os peixes moram, saberia que era hora de correr. Provavelmente, um tsunami estaria vindo em sua direção.
Digamos que isso realmente aconteça. Você é resgatado sob os destroços sem saber nem o que está acontecendo. Então consegue se soltar e escapar para respirar ar fresco. E não está sozinho, pois todas as casas do bairro se transformaram em pilhas de tijolos e entulho. As pontes também desabaram, deixando as pessoas presas em ambos os lados. Você olha em volta, sacode a poeira e corre para encontrar ajuda. Caminhões de bombeiros e ambulâncias passam entre os carros danificados e os escombros. Você tenta chegar no seu carro, mas os tremores secundários ainda estão ocorrendo e o jogam na calçada. Com todas as torres de celular desativadas, não dá para ligar para ninguém do seu telefone. Seus joelhos estão tremendo, mas você consegue continuar firmemente.
Ao chegar no seu veículo, ele está esmagado sob uma rocha. Como uma lata de refrigerante gigante. Você continua andando e, finalmente, chega no centro da cidade. Parece que algum gigante ficou com raiva e derrubou todos os prédios. Hora de seguir em frente e tentar ver se consegue encontrar ajuda. Do nada, seu telefone vibra. Uma rápida olhada e milhares de notificações sobre um terremoto de magnitude 20! Você ainda está tremendo, mas isso é você, pois o chão está calmo por enquanto. Oh oh! Um som de algo à distância, correndo na sua direção. À sua direita, ondas gigantes da altura de prédios vindo em sua direção.
Ainda em choque, sem saber o que fazer, agora você caiu em si. E corre! Sem saber para onde ir. Há um tsunami bem atrás e na sua frente estão os prédios destruídos, com pedras e concreto caindo por toda parte. Espere. Há um prédio que de alguma forma ainda está de pé, você precisa subir nele! E chega no elevador, mas ele está congestionado. Não é de admirar! Aí sobe pelas escadas o mais rápido que pode, tropeçando em vidros quebrados e gesso, mas sempre dando um jeito de se levantar. Então olha pela janela e vê a água, que está muito perto. Você está quase no topo! Mais alguns lances de escada e — Uau!
A água força seu caminho para dentro do prédio e o arrasta por pelo menos dois andares. Você mal consegue ver alguma coisa, mas ainda assim sabe que deve nadar para cima. A água continua forçando-o para baixo! Após cerca de 30 segundos, você consegue escapar e permanece subindo até o topo. Então chega no último andar e sai no telhado. Você está seguro... Por enquanto. O maremoto ainda está forte, abrindo caminho pelo centro devastado da cidade. Seu telefone agora está encharcado e inutilizado. Agora há uma visão perfeita de 360 graus de sua cidade, coberta de água e detritos. O chão começa a tremer novamente.
Talvez você apenas fique sentado até que tudo isso acabe, esperando pelo helicóptero de resgate. Mas então uma forte explosão que quase estoura seus tímpanos sacode o chão e tudo mais. Ao longe, a fumaça vai subindo e, em breve, cobre todo o céu. A escuridão esconde o sol da manhã. É quando dá pra ver a lava disparando no ar e escorrendo nas proximidades. Ela forma um rio, correndo pela cidade, quadra por quadra.
Com tanto movimento sísmico e a alta intensidade do terremoto, as placas tectônicas do mundo mudaram, de modo que o magma está abrindo caminho para a superfície. Da terra, começa a sair vapor. Então o calor o atinge. Você vê o magma cobrindo o chão como um cobertor, devorando todos os carros no seu caminho. O pior é que ele está derretendo as fundações dos edifícios que conseguiram resistir ao terremoto e ao tsunami!
Os edifícios lá longe agora estão afundando e desmoronando na poça de lava que tomou sua cidade. Um por um, cada edifício desaba. Isso significa... Oh-oh. O prédio onde você está também está balançando, e prestes a ruir! É quando vê uma luz! Então olha para cima e vê um helicóptero lá longe. Você balança os braços, corre, pula... Qualquer coisa para ser visto. E funciona. O helicóptero faz alguns círculos e finalmente joga uma escada de corda em sua direção.
Conforme é içado pelo helicóptero, você dá uma boa olhada no mundo abaixo enquanto ele balança como macarrão em uma peneira. Aí pousa a alguns quilômetros de distância e é imediatamente atendido por um médico em um centro de triagem de emergência. Você foi um dos sortudos.
Um ano depois. A água do tsunami recuou, a lava que corria esfriou e todo aquele magma mudou permanentemente o solo abaixo dele, a cidade inteira se foi. O desastre jogou o país inteiro em um pesadelo financeiro que vai durar décadas. Demora meses para inspecionar a cidade, certificando-se de que não há fios elétricos perigosos ou canos de gás rompidos em qualquer lugar. Eles estão reconstruindo sua cidade mais para o interior, onde ela ficava antigamente. Em outras cidades, a reconstrução é feita diretamente sobre as ruínas. E há aquelas em que simplesmente decidiram mudar todos para outro lugar próximo.