É por isso que os olhos azuis são apenas uma ilusão
Os olhos azuis das pessoas não são azuis. Não é que os castanhos tenham pigmento castanho e os azuis tenham pigmento azul. A íris do olho, a parte que tem uma cor, consiste em duas camadas: a frontal e a posterior, e outra camada entre elas — o estroma. Cada uma delas contém um pouco de melanina, um pigmento presente no corpo que determina a cor da pele, do cabelo e dos olhos e que protege esses órgãos do sol. Quase todas as pessoas têm pigmento marrom escuro ou amarelo na camada posterior da íris.
Mas é a camada frontal que é responsável pela cor dos olhos, e a quantidade de melanina é o que determina isso. Pessoas de olhos castanhos têm muita melanina em ambas as camadas da íris. No caso dos azuis, não há melanina na camada frontal. Então, basicamente, eles não têm cor, mas parecem azuis devido à luz. É assim que acontece. Portanto, as camadas posterior e frontal de um olho castanho possuem melanina. Quando a luz entra na íris, a maior parte dela é apenas absorvida, e a cor fica marrom do jeito que é.
Isso é diferente nas pessoas de olhos azuis. A camada de trás tem um pouco de melanina, mas a da frente não. O estroma entre elas possui algumas partículas que interagem com a luz. Portanto, a que entra não é absorvida, mas reflete de volta ou se espalha, fazendo com que os olhos pareçam azuis. Essa é a razão pela qual o céu ou a água também parecem ser dessa cor. Se as partículas no estroma são maiores, também espalham luz branca. Juntos, o azul e o branco espalhados fazem os olhos parecerem cinza.
Pense no céu novamente. Quando há muitas nuvens brancas, ele também parece cinza. Os olhos verdes têm um pouco de pigmento amarelo na camada frontal da íris. Então, quando a luz entra, parte dela é absorvida, mas parte é refletida de volta. O pigmento amarelo misturado com o azul refletido dá a cor verde. Já a cor de avelã concentra um pouco de marrom, um pouco de amarelo e um pouco de reflexo azul.
Houve um tempo em que as pessoas com olhos azuis nem existiam. Os cientistas acreditam que, originalmente, os de todos os humanos eram castanhos. Mas então, cerca de 10.000 anos atrás, apareceram pessoas com olhos azuis. Agora, o azul é a segunda cor mais comum, ocorrendo em 8% da população. Ainda assim, os de 80% dos humanos são castanhos. Mas passamos de zero olhos azuis para cerca de 700 milhões de pessoas com eles. Os cientistas acreditam que aconteceu alguma mutação genética que limitou a produção de melanina em muita gente. Quando duas pessoas com essa habilidade limitada se conheceram, a primeira com olhos azuis nasceu.
Ganhamos metade dos nossos genes da mãe e a outra metade do pai. Os genes responsáveis pela cor dos olhos estão envolvidos na produção e armazenamento da melanina, e eles são oito. Para manter as coisas simples, vamos contar todos esses genes como um só. Pode haver dois tipos. O primeiro é um grande A que produz muita melanina e significa olhos castanhos. É o dominante.
O outro é um pequeno a, que não produz melanina e carrega a cor dos olhos azuis. É recessivo. No início, cada pessoa tinha a combinação de genes parecidos com um grande A mais outro grande A(AA). Cada geração seguinte recebeu um grande A da mãe e um grande A do pai, e todos tinham olhos castanhos como resultado. Aí, quando a mutação aconteceu, algumas pessoas receberam o gene recessivo dos olhos azuis — um pequeno a. Então, algumas delas passaram a ter a combinação de um grande A e um pequeno a(Aa).
Mas os olhos ainda eram castanhos, porque os grandes As são dominantes, então não importa se alguém carrega este gene. Mas pode transmiti-lo mais adiante na linhagem. Agora, há uma pessoa que leva o gene do olho azul, e ele encontra outra que não o possui. (Aa) (AA) Este casal tem chances iguais de transmitir qualquer um dos tipos de genes em sua linhagem, mas em qualquer caso a próxima geração terá olhos castanhos. Porém, se a pessoa que carrega o gene da baixa melanina (Aa) encontrar outra que o carrega (Aa), a história será diferente.
Em 75% dos casos, aqueles que vierem depois deles ainda terão olhos castanhos porque terão uma combinação de A grande e a pequeno, ou de dois grandes As. (Aa) (AA) Mas em outros 25% dos casos, obterão a combinação de dois pequenos as (aa) e terão olhos azuis. É assim que os cientistas acham que a primeira pessoa de olhos azuis apareceu. Primeiro, a mutação rara aconteceu, e então duas pessoas com ela se encontraram e criaram uma família. Muito provavelmente, aconteceu na Europa. Os países europeus ainda são aqueles com a maior proporção de gente com olhos azuis.
Em média, 8% das pessoas no mundo têm olhos azuis. Nos Estados Unidos, representam cerca de 17% da população. Mas na Finlândia e na Estônia, esse número chega a 85% da população. Portanto, embora não haja tantas pessoas com olhos azuis, elas não estão desaparecendo. Pelo contrário, a quantidade está aumentando. Muita gente carrega essa mutação, mesmo que seus próprios olhos sejam castanhos. Então, ela pode ser passada adiante.
O mesmo é verdade para pessoas ruivas, que correspondem de 1 a 2% da população mundial. Mas na Irlanda e na Escócia, há um número maior: cerca de 10% na Irlanda e 6% na Escócia. O cabelo ruivo também é devido a uma mutação que causa uma diminuição na produção de pigmento escuro, a eumelanina, de modo que as pessoas com essa característica costumam ter pele pálida. A mesma mutação também aumenta a produção de feomelanina, pigmento que deixa os cabelos ruivos.
Esse pigmento também é responsável pelas sardas, uma forma de a pele se proteger do sol. Sob a exposição solar, as células começam a produzir mais melanina para tornar a pele mais escura e protegê-la. É por isso que as pessoas têm mais sardas durante a época de maior intensidade do sol no ano. Assim como nos olhos azuis, a mutação para os cabelos ruivos é recessiva, e algumas pessoas carregam os genes sem saber. Nunca sabemos o que temos em nós, por isso é difícil prever como será a aparência de nossos descendentes.
Poder beber leite e consumir laticínios é um privilégio que algumas pessoas conquistaram graças à outra mutação. Milhares de anos atrás, quando os humanos envelheciam, perdiam a capacidade de digerir leite e produtos lácteos porque desenvolveram intolerância à lactose. Ninguém podia ingerir um copo de leite sem se sentir pelo menos um pouco enjoado depois. Isso até cerca de 12.000 a 10.000 anos atrás, quando a agricultura se tornou uma grande parte da vida das pessoas e outra mutação ocorreu.
Isso criou uma tolerância à lactose, permitindo que os adultos digerissem a lactose sem nenhum problema. Mesmo hoje, apenas cerca de 35% dos adultos são tolerantes a ela.
Imagine todas as pessoas com cabelos e cores de olhos diferentes, com corpos, rostos e narizes diferentes. Somos todos diversos, mas os humanos são 99,9% semelhantes em seu genoma. Todas as diferenças entre nós devem-se a apenas 0,1% da variação no genoma. Também compartilhamos cerca de 96% do nosso DNA com o chimpanzé e cerca de 90% com o gato doméstico abissínio.
As mutações nos fizeram quem somos. Milhões de anos atrás, mutações em dois genes começaram a construir proteínas que moviam a glicose dos músculos para o cérebro. Esse fluxo impulsionou o desenvolvimento do cérebro e o tornou maior. Outra mutação que aconteceu um pouco mais tarde aumentou a destreza dos humanos, tornando possível controlar melhor nossas mãos e, eventualmente, escrever. Uma mutação que ocorreu há cerca de 3 a 4 milhões de anos ajudou a nos livrarmos da maioria dos pelos do corpo. Com a seguinte, aprendemos a falar. Os macacos, por exemplo, têm bolsas de ar que lhes permitem fazer ruídos altos.
Mas esses sacos de ar tornam impossível dizer sons vocálicos distintos e modificar a fala. Os humanos os perderam e conseguiram aprender a falar. Ainda estamos evoluindo. Os cientistas acreditam que aprenderemos a modificar o genoma natural e seremos capazes de escolher nossa aparência. Isso pode fazer com que a da maioria das pessoas seja ditada pela moda mais do que qualquer coisa, o que significa que podemos ser mais semelhantes entre nós do que nunca. Mas, além disso, se nos permitirmos evoluir naturalmente, os cientistas preveem que iremos sofrer mutações para nos adaptarmos a novos ambientes. Com a ânsia de colonizar outros planetas, provavelmente conseguiremos isso.
Se as pessoas começarem a viver mais longe do Sol, onde há menos luz solar, os olhos possivelmente ficarão maiores. Nossa pele pode ficar mais escura para proteger de radiação UV fora da camada protetora de ozônio da Terra. E nossas narinas podem ficar maiores para facilitar a respiração.