Agora eu sei o que é estar em uma mesa de operação em um país estrangeiro (um seguro médico não é apenas um pedaço de papel)
Se você não é um blogueiro de viagem, muito provavelmente organiza as suas férias com muita antecedência, como a maioria das pessoas. Hoje eu vou contar a minha história em um país não tão visitado, a Turquia. Durante duas semanas de férias realizamos nossos desejos e estávamos prontos para voltar muito felizes para casa quando o destino decidiu nos passar a perna e nos jogou em uma espécie de filme super dramático.
Os problemas de saúde podem pegar todos de surpresa, em qualquer parte do mundo, mas quase nunca achamos que nós seremos os atingidos. Contudo, o nosso último dia de férias quase foi o último da vida minha.
Eu ainda não me apresentei. Meu nome é Mariana, e eu sou autora do Incrível.club. Hoje, vou contar a minha história que mostra sobretudo como agir em uma situação em que o importante é tomar decisões, mesmo quando elas não parecem fáceis.
Episódio N° 1: nada cheirava a problemas
Nosso penúltimo dia começou como todos os outros: um café da manhã preguiçoso e um passeio na praia até ficarmos cansados de respirar o cheiro do mar. Durante a noite, a ideia era jantar e arrumar as malas, já que no dia seguinte tínhamos um voo noturno. Minha alegria começou a desaparecer por uma sensação incômoda no abdômen e uma dor leve no estômago. Pensei: não é nada, daqui a pouco passa. Tomei um remedinho contra dor e durante um tempo esqueci o incômodo. Quando me senti melhor, me despedi do mar com meu marido e meus filhos, arrumamos algumas coisas e fomos dormir. Mas o meu estômago começou a protestar.
Episódio N° 2: quando nenhum remédio parece ajudar
No começo, pensei que era indigestão ou intoxicação. Comecei a tomar remédios para eliminar os sintomas, mas eles não ajudaram. A dor começou a aumentar e eu decidi tomar analgésicos, que tampouco funcionaram. Comecei a ficar nervosa. Isso nunca tinha me acontecido. Foi então que eu comecei a imaginar que poderia ser algo mais sério. Tentei me acalmar e me convenci de que não era nada. Nessas horas, o importante é ficar calma e voltar para a casa.
A perspectiva de ir ao médico na Turquia me dava medo — sempre escutamos muito sobre os seguros médicos para turistas, e isso não saía da minha cabeça. Um pouco mais tarde, além da dor, comecei a ter diarreia e vômitos. Pensei que poderia ser apendicite e fiz alguns exercícios, mas nada parecia funcionar. À 1h em ponto meu marido insistiu em avisar o seguro e ligar para um médico. Eu resisti um tempo, até que finalmente fomos até a recepção do hotel para ligar para o seguro. Nos disseram que em 20 minutos viria um carro para me levar ao médico. A partir desse momento, a contagem regressiva começou, mas isso eu só entenderia mais tarde.
Episódio N° 3: aguentar a dor
O carro chegou no hotel rapidamente. Era uma espécie de taxi, e eu fui levada a uma clínica médica pequena, com apenas um médico e um assistente. Preenchi um formulário e paguei o equivalente a 100 reais pela abertura de um caso estrangeiro. Depois, o médico me escutou e assumiu imediatamente que se tratava de uma intoxicação. Aplicou um analgésico na veia, me receitou um remédio e me mandou de volta ao hotel.
Antes de ir embora, ele me disse: “Se a dor persistir, volte”. Por volta das 3h da manhã, cheguei ao meu quarto e dormi. Entretanto, após algum tempo eu acordei com uma dor aguda. Imediatamente depois, decidi que não aguentava mais e que precisava ir a um hospital e não a um posto de saúde pequeno para turistas que beberam demais.
Episódio N° 4: no hospital
Eu e toda a minha família fomos até a recepção e eu já estava toda torta de dor. Meu estômago já não me deixava caminhar normalmente ou manter as costas retas. Outra vez ligamos para o seguro e explicamos a situação. Depois de um tempo, o mesmo carro com o mesmo motorista apareceu. Meu marido ficou com meus filhos e eu fui rumo ao desconhecido. O médico ficou surpreso que eu tinha voltado por uma simples intoxicação. Insisti que me levassem a um hospital para ser examinada e falei sobre a minha suspeita de que poderia ser apendicite (embora eu estivesse torcendo para não ser). As pessoas ficaram preocupadas e em 15 minutos eu estava na frente de um hospital.
Episódio N°5: a operação é inevitável
Já no hospital, me deram um acompanhante e me enviaram para fazer exames. Mais tarde, fui examinada por um clínico geral e minha suspeita se confirmou. Em seguida, um médico alemão realizou uma ecografia e, sem nenhuma dúvida, disse se tratar de uma peritonite e explicou que eu precisava ser operada urgentemente. Os exames mostraram um processo de inflamação. Rapidamente, comecei a ser preparada para a operação (batimento cardíaco e reação à anestesia).
Quando me deram um quarto, meus sentimentos ficaram intensos e confusos. Eu tinha uma mistura de medo, desespero, dor, falta de esperança e incerteza. Consegui ligar para o meu marido e para os meus pais e expliquei a situação. Eu tinha de me acalmar e não sentir pena de mim. Com medo da operação, perguntei ao médico: “Há alguma possibilidade de que eu volte para a casa hoje?”. Ele me olhou com pena e disse que era impossível, a não ser que eu quisesse correr risco de morte.
Meu estado começou a piorar rapidamente e havia uma espécie de névoa na minha cabeça. De repente, uma equipe médica apareceu e eu fui levada à sala de operação. A apendicite era grave e a operação durou uma hora e meia.
Eu acordei no quarto, tocada pela luz do Sol, e fiquei muito feliz de saber que o pior já tinha passado. Antes de ir embora, meu marido e meus filhos vieram ao hospital. No final, precisei esticar as minhas férias por mais uma semana.
Episódio N° 6: as diferenças do período de recuperação e do tratamento cobertos pelo seguro
Um médico entrou no quarto para comprovar o meu estado e comentar detalhes da operação. Ele disse que eu não teria chegado viva em casa sem ela. Ainda que a ideia de ser operada me deixasse aterrorizada, eu sabia que era a única decisão que poderia ter tomado. Infelizmente, no meu caso foi impossível realizar uma laparoscopia, e eu tive de passar por uma cirurgia abdominal. Contudo, a diferença do pós-operatório é enorme: não tinha nenhuma dieta a seguir e já podia tomar banho no segundo dia.
Toda noite me faziam caminhar e eu inclusive criei um caminho que ia até a varanda com limoeiros. Uns dias depois, o seguro me ligou e me ofereceu passagens de volta. Os médicos e os atendentes do hospital foram super amáveis e atenciosos. Eu inclusive recebi a visita de um funcionário que trabalhava apenas com estrangeiros. Quero enfatizar que a empresa de seguros pagou todos os gastos; eu não paguei um centavo, apenas pela abertura de um caso estrangeiro. Se não tivesse seguro, teria ficado pobre. Mas é fundamental entender a importância de ligar para o seguro em casos assim, e não ir a uma clínica, pagar e depois pedir reembolso.
Episódio N° 7: caminho de casa
Uma semana mais tarde, tive alta e sofri um pouco na viagem de volta. Mas chegar em casa foi uma grande felicidade. Uma semana depois, tirei os pontos e a cirurgiã elogiou muito o trabalho do médico na Turquia. Sempre que me lembro dessa história, eu agradeço ao médico que salvou a minha vida. Descobri pela minha própria experiência que um seguro médico internacional não é apenas um pedaço de papel que fica amassado dentro da mala, é um documento importante e extremamente necessário.
Pós-data
Eu sempre conto a minha história para meus amigos que têm medo de situações como essa. Não fique lutando contra a dor e não espere voltar para o seu país pra começar a resolver o problema. Não tenha medo de procurar ajuda em um país estrangeiro, o resultado por sair caro demais. Claro que há casos e casos, mas estou falando apenas com base na minha experiência, que agora você também conhece. Compartilhe esta história com seus amigos que costumam viajar para que tudo sempre dê certo.