A história de João e Dindin: pinguim resgatado visita seu salvador após 5 anos sem vê-lo
Os vínculos que criamos com nossos pets podem ser impressionantes, mas existem casos nos quais animais silvestres se apegam a humanos e, assim, nascem as histórias mais lindas e improváveis. Foi o que aconteceu com um homem do Rio de Janeiro, que, após salvar um pinguim, construiu um laço surpreendente com o bichinho, digno de roteiro de filme! Confira!
Em 2011, João Pereira de Souza, morador de Ilha Grande, no estado do Rio de Janeiro, encontrou um pinguim coberto de óleo na praia perto de sua casa, quase sem vida. Nesse dia, João chegou em casa com a ave, a limpou e a alimentou com sardinhas. Já apegado ao bichinho, começou a chamá-lo de Din Din. Chegada a hora de devolver o animal à natureza, João o acompanhou até a praia para que ele voltasse ao mar. Entretanto, para sua surpresa, o pinguim resolveu ficar.
Em sua segunda tentativa de levar o animal de volta a seu habitat natural, João tentou soltá-lo em alto mar. Na volta para casa, porém, Din Din já o esperava. Assim, os dois passaram cerca de 11 meses juntos. O idoso contou que quando o bichinho terminou o processo de troca de penas, voltou para o mar e passou meses fora. Até 2018, Din Din voltava na região e passava meses com João, até não retornar mais.
Durante cinco anos, João continuou indo à praia esperar pelo amiguinho, sem perder as esperanças de que voltaria a vê-lo. Para a surpresa dos moradores da comunidade da Praia do Provetá, região onde o idoso mora, em 2022, o animal retornou à casa de João. Din Din bicou a porta da casa do amigo, entrou, andou pela casa como se estivesse reconhecendo o local e foi até o chuveiro, onde costumava tomar banho durante os anos em que frequentava a casa de seu querido humano.
O reencontrou foi gravado pela família de João e rapidamente viralizou nas redes sociais. Mesmo com toda emoção, algumas pessoas ficaram em dúvida se o pinguim era mesmo Din Din, já que a ave estava mais magra e com uma penugem diferente.
Din Din é da espécie pinguim-de-magalhães, também conhecido como naufragado ou pato-marinho. A ave é sul-americana e habita águas entre 15° C e temperaturas abaixo de zero. Ela leva esse nome porque foi citado pela primeira vez pelo explorador português Fernão de Magalhães, em 1520. No primeiro ano de vida, o pinguim-de-magalhães tem uma plumagem acinzentada e não tem os padrões colares típicos dos pinguins mais velhos.
Após um ano, essa penugem é trocada por penas pretas e brancas, e surgem também seus “colares” em volta do rosto e peito. Todas essas mudanças de aparência que essa espécie de pinguim experiencia ao longo da vida, juntamente com sua troca anual de penas, podem explicar a aparência diferente de Din Din.
Quando o animalzinho fez seu emocionante retorno, em 2022, foi levado para o Centro de Reabilitação e Despetrolização, em Angra dos Reis. Mery Alves, filha de seu João, afirmou que o pai ficou eufórico, muito ansioso: “Somente meu pai acreditava que Din Din estava vivo e esperava por ele. Foi uma sensação maravilhosa”.
Habitante de zonas costeiras da Argentina, Chile e Ilhas Malvinas, o pinguim-de-magalhães migra no inverno para a costa brasileira, nas regiões sul e sudeste, em busca de comida. Também, existem relatos de que algumas aves alcançaram o litoral do nordeste. Suas regiões de colônias reprodutivas são Patagônia, Argentina e Ilhas Malvinas. O Brasil acaba sendo apenas um local de passagem e foi durante essa passagem que Din Din e João se conheceram.
Emocionado, João afirmou: “Eu tenho um amor muito grande por ele como tenho por uma criança e ele também tem comigo. Eu nunca vi um bicho tão inteligente”. Durante anos, Din Din viajou mais de 8 mil quilômetros para reencontrar João, após a época de acasalamento, comportamento que mostra que ele também vê João como um familiar.
No que diz respeito à inteligência, seu João tem razão: uma pesquisa, realizada em 2020, constatou que uma espécie de pinguins observados na Itália foi capaz de se comunicar usando padrões de som parecidos com os da comunicação humana. Os pesquisadores acreditam que isso não se limite a apenas uma espécie de pinguim, mas deve ser uma realidade entre todas.
Seu João afirma que Din Din chama seu nome e isso provavelmente não é um completo equívoco, partindo do princípio da capacidade de comunicação dos pinguins. As aves são os únicos animais, além dos primatas, capazes de se comunicar de forma parecida com os humanos.
O comportamento dos pinguins, no que diz respeito à reprodução, é tipicamente monogâmico. Pesquisadores encontraram um casal de pinguins-de-magalhães que acasalava há 17 anos consecutivos. Eles são extremamente leais e dificilmente traem seus parceiros. São muito sociais e têm características parecidas com os humanos, além da fala, podendo até mesmo posar para fotos.
A história de seu João e Din Din ficou tão famosa que virou filme. Intitulado The Penguin & The Fisherman (O pinguim e o pescador), é uma co-produção entre a Epic Pictures dos Estados Unidos e as produtoras brasileiras Schurmann Filmes e Ocean Films. O filme será uma ficção inspirada na linda história real. Filmado no Brasil e na Patagônia, o projeto dirigido pelo brasileiro David Schurmann reuniu profissionais de 11 nacionalidades diferentes, com vencedores do Oscar e grandes nomes de Hollywood, prometendo muita emoção nas telas.
O filme reúne registros da amizade real entre João e Din Din, mas também cenas com um pinguim feito por computação. Quando questionado sobre a importância do filme, David Schurmann afirmou: “A importância vem do fato de que se trata de uma história real sobre a incrível relação entre dois seres tão diferentes. Historicamente, estamos em um momento extraordinário, em que começamos a entender que os demais habitantes do planeta têm um valor fundamental”.
“Além disso, eu sempre quis fazer um filme de ficção para que meu filho e minha mãe pudessem ver e se emocionar juntos. E para nós, brasileiros, é mais um espaço que conquistamos na grande indústria cinematográfica. É o Brasil ampliando sua presença nas telas do mundo”.
Algumas pessoas ainda têm dúvidas se o pinguim que apareceu em 2022 na casa de João é Din Din. Mesmo que não seja, o acontecimento não deixa de ser impressionante, como comentou Schurmann: “A mágica não é só de ser o Din Din ou não, mas a de o seu João atrair esses pinguins. A magia está no seu João.”
Nosso planeta é abençoado com uma variedade impressionante de diversidade natural. Às vezes damos a sorte de experienciar acontecimentos emocionantes e únicos, como o de seu João e Din Din. Seu caso de amizade mostra que é possível viver em harmonia com a natureza e ajudar quando possível. Dar a devida importância para a vida de qualquer espécie com toda certeza torna o mundo melhor.
Outro exemplo de amor e respeito aos animais é a história de um casal de russos que adotou um filhote de puma muito debilitado que não poderia ser devolvido à natureza e abraçaram a missão de cuidar do animal, mesmo sem a garantia de sua sobrevivência.