A história de Douglas Silva, que vendia comida para a ajudar a mãe e conquistou uma carreira internacional
Geralmente, vemos um ator nas novelas e nem imaginamos como é a vida dele fora dali, ou melhor, como foi e onde tudo começou. Douglas Silva, iniciou sua carreira ainda na infância, com papéis de destaque que ficaram marcados não apenas no cinema nacional, mas também mundo afora. E desde então, o jovem garoto não se desvencilhou mais da atuação, comprovando cada vez mais a sua capacidade na atuação.
Ainda na Kelson’s
Douglas Silva, apelidado carinhosamente de DG, começou sua carreira de ator ainda na favela da Kelson’s, no Complexo da Maré, Rio de Janeiro, onde nasceu e foi criado. Foi lá que o artista deu os primeiros passos em direção à carreira que seguiria para o resto da vida, a de ator.
Foi na escola que a oportunidade do teatro surgiu; ele tinha 8 anos, e alguns projetos eram implantados nos centros educacionais do Complexo da Maré. Todavia, a vida não era tão fácil para Douglas, em paralelo aos estudos e ao cursinho, ele trabalhava para ajudar a mãe, que tinha dois empregos. Com isso, DG trabalhou com vendas de embutidos, ainda na comunidade.
O ator ficou um ano fazendo o curso e afirma que a professora, Marcela Moura, já o via com outros olhos, dizendo que o menino tinha tino para a atuação. E foi graças ao teatro que Douglas teve a primeira oportunidade no cinema, no filme Cidade de Deus. A produção procurava jovens atores, preferencialmente rostos ainda não conhecidos.
Entretanto, tudo parecia jogar contra DG, já que, no dia da visita da produção na escola, eles precisaram desmarcar. Ainda assim, o teste aconteceria, mas agora em outra localidade. Portanto, o pequeno garoto pediu que a mãe fosse com ele, porém, Clarinda tinha dois empregos e seria um pouco difícil. Contudo, ela tentou e conseguiu dispensa, com isso, acompanhou Douglas ao que seria a virada de chave na vida dele: “Precisei acreditar muito em mim para tirar a minha família do buraco de onde tirei”.
Cidade de Deus e Palace II
Foi em Cidade de Deus que o rosto de Douglas Silva ficou marcado na história do cinema, nacional e internacional. O filme estreou em 2002, em cerca de 90 salas de cinema pelo Brasil. Mas não ficou só por aqui, pouco a pouco foi ganhando espaço no exterior, sendo lançado no Festival de Cannes e recebendo quatro indicações ao Oscar: Melhor Direção para Fernando Meirelles, Roteiro Adaptado para Bráulio Mantovani, Montagem para Daniel Rezende e Fotografia para César Charlone.
Apesar do tamanho sucesso, Douglas não tinha noção do que estava participando, a princípio: “Na época, eu não tinha muita noção da importância do meu personagem pro longa. Foi legal ter a preparação de dois meses para fazer o personagem. Depois de ver o trabalho feito e ver a repercussão do trampo, pô, foi o máximo, né?”
Outra consequência positiva do teste para Cidade de Deus foi a série televisiva Brava Gente. Nela, Douglas participou do episódio Palace II, lançado ainda em 2001. Ele serviu como um laboratório para os atores e para a produção que estavam trabalhando em Cidade de Deus. Palace II ganhou um prêmio no Festival de Brasília e também na mostra Panorama, do Festival de Berlim.
Consolidando a carreira
Se Cidade de Deus foi a porta de entrada, Cidade dos Homens foi o momento de consolidar a carreira de ator. Ele tinha 14 anos quando estreou no papel de Acerola e foi com esse personagem que ele foi o primeiro ator brasileiro a concorrer ao Emmy Internacional. Durante a premiação, ele conheceu nomes de destaque internacional, como a apresentadora Oprah Winfrey.
A trama de Cidade dos Homens segue dois protagonistas, Laranjinha, vivido por Darlan Cunha, e Acerola, protagonizado por Douglas. Juntos, eles vivenciam problemas da adolescência e, também, coisas mais específicas relacionadas ao local que moram: “O bom é que cada temporada retratava um problema social diferente e o mais importante de tudo é saber que eu fiz um trabalho que representa várias pessoas dentro da favela, que quando eu ia pra pista a galera se identificava. Ali no Cidade dos Homens que caiu a ficha, virei referência”.
Artista completo
Se engana quem acredita que só de atuação vive Douglas Silva, o rapaz também tem dom para outra vertente artística, a música. Inclusive, ele fez parte do grupo Soul Mais Samba. O amigo Feyjão recorda que DG entrou de última hora na banda: “No dia que fui comprar roupa pra tirar foto pra primeira capa do grupo, Douglas foi comigo. Lá, ele disse ’pô, queria fazer parte’. E ele já tinha aprendido a tocar percussão. Falei com os moleques e todo mundo ficou animado. Éramos seis e viramos sete no dia da foto”.
Com o tempo, a banda acabou se desfazendo, alguns foram seguir carreira solo, enquanto Douglas não conseguiu conciliar a vida de ator com a musical. Entretanto, durante o tempo reunido, o grupo fez diversos shows, não só pelo Brasil, como também no exterior.
Big Brother Brasil e uma nova oportunidade
Desde então, DG não se permitiu mais sair dos holofotes, ano após ano, ele foi conquistando outras oportunidades. Prova disso foi a sua participação na 22ª edição do Big Brother Brasil, que ele terminou em terceiro lugar. No início, estava meio em dúvida sobre a participação, afinal, ser acompanhado por milhões de pessoas durante três meses não é tarefa fácil: “No Big Brother Brasil, falar um grão de areia pode pesar toneladas”.
No programa, ele conquistou novas oportunidades. Além de apresentar ao Brasil outra face de si, o DG pai de família. Durante as festas, ele sempre estava na pista fazendo dancinhas que aprendeu com a filha mais velha, Maria Flor.
Também foi no reality que ele reverberou falas sobre oportunidade: “Minha essência é a favela! Quando eu vejo a oportunidade de pretos se ascenderem socialmente, eu falo: ‘Mano, vamos em grupo, fazer a parada acontecer pra nós’. Imagina quantos moleques, quantos Douglas Silva, quantos Buiu da Kelson vendo isso e pensando que podem também”.
Você conhecia a história do Douglas Silva? Sabe de outra trajetória que passou por dificuldades, mas ainda assim chegou lá? Compartilhe com a gente nos comentários!