13 Tirinhas sobre como o normal de antigamente virou o luxo de hoje

Embora os bailes vitorianos nos pareçam hoje ser o auge do glamour, a realidade é que estavam cheios de regras inusitadas, costumes peculiares e detalhes que quase nunca aparecem nas telas. Mais do que simples festas, eram verdadeiros rituais sociais. Os fatos a seguir revelam um lado pouco conhecido — e muito mais fascinante — dessa época.
No século XIX, as luvas eram um item indispensável do guarda-roupa feminino. Muitas vezes, eram escolhidas em tamanhos menores para se moldar bem às mãos e destacar sua delicadeza. O comprimento variava conforme a moda vigente, mas a ausência delas em um baile era vista como um ato extremamente indecente.
As cores aceitáveis eram apenas o branco ou um rosa muito suave, e o acessório era considerado tão íntimo que chegou a constranger até a própria Rainha Vitória, quando precisou emprestar suas luvas à irmã.
Mais do que elegância, elas também serviam como código secreto de comunicação. Um exemplo curioso: ao deixar cair as duas luvas, uma jovem declarava silenciosamente seu amor.
Todas os salões de baile precisavam ser bem iluminados. Antes da invenção das lâmpadas a gás, usavam-se velas, não qualquer tipo, mas de cera de abelha, que eram caras, custando até mais do que a comida e a bebida servidas nas festas.
Centenas delas produziam uma iluminação comparável à de algumas lâmpadas de 25 watts. Para ampliar o brilho, os lustres de parede eram decorados com pingentes de cristal e espelhos eram colocados atrás deles para refletir a luz. Sem esse recurso, os cômodos pareciam sombrios. Além disso, as chamas das velas consumiam muito oxigênio, liberavam dióxido de carbono e, sem uma boa ventilação, os convidados podiam ficar tontos.
Organizar um baile não era fácil. Normalmente, cabia à anfitriã cuidar de todos os preparativos. Se a casa não tivesse um salão adequado, era possível alugar um em outro prédio. Como nem todas as mansões possuíam salões próprios para baile, o jeito era adaptar o maior cômodo disponível, retirando os móveis supérfluos para abrir espaço.
As paredes eram revestidas com tecidos e enfeitadas com flores e plantas. Cortinas escuras eram trocadas por modelos claros, já que a cor mais indicada para o ambiente era o amarelo claro. Às vezes, não havia cadeiras suficientes para os convidados descansarem entre as danças. Nesses casos, os móveis eram alugados.
Nos bailes vitorianos, os anfitriões geralmente convidavam mais pessoas do que cabiam no salão de baile, contando com o fato de que algumas não compareceriam.
Esse truque fazia com que a recepção parecesse um sucesso, pois os salões ficavam lotados. Um baile era considerado grande se cerca de 100 pessoas comparecessem. Já com menos de 50 presentes, recebia apenas o nome modesto de “reunião dançante”.
Além do salão principal, costumava haver vestiários separados para homens e mulheres, onde os convidados deixavam os casacos e roupas pesadas. No vestiário feminino, geralmente duas empregadas ficavam encarregadas de costurar vestidos rasgados, arrumar penteados e resolver qualquer imprevisto. Esse espaço costumava ficar no andar térreo, para que as mulheres não precisassem subir ou descer escadas.
Também era necessário reservar um cômodo para “necessidades delicadas”. No início do século XIX, nem todas as casas tinham um sistema de esgoto, portanto, eram fornecidos vasos sanitários e uma empregada ajudava as damas a não estragarem seus vestidos no processo.
Os mictórios também eram espalhados em locais estratégicos da casa, como atrás de biombos ou em cantos escuros. Se alguém estivesse urgência durante o jantar, poderia se levantar e se esconder atrás de algumas cortinas. Algumas senhoras até carregavam seu próprio bourdaloue (penico) em suas bolsas.
Se não houvesse um banheiro disponível por perto, os vestidos possuíam bolsos fundos que permitiam pressionar discretamente o abdômen ou a bexiga para aliviar o desconforto. Há até a teoria de que, para evitar urinar, algumas mulheres se agarravam às dobras internas do traje, restringindo o corpo dessa forma.
Durante a era vitoriana, uma jovem não podia recusar o convite de um cavalheiro para dançar. Recusar não era considerado apenas como falta de respeito com ele, mas também ofensivo para os anfitriões do evento. Isso dava a impressão de que a anfitriã havia convidado pessoas indignas da companhia de damas respeitáveis.
Mas e quando a moça não queria dançar com alguém insistente? Nesse caso, podia alegar que já tinha companhia para todas as danças. Para isso, as damas carregavam cartões onde registravam os nomes dos seus parceiros de baile durante toda a noite.
Embora hoje não existam regras rígidas sobre quais danças escolher, na era vitoriana essa decisão era tomada com extremo cuidado. A sociedade seguia padrões morais severos, e as danças precisavam transmitir modéstia e decoro.
Tudo era permitido, exceto a valsa, considerada o cúmulo da indecência. Ela era estritamente proibida porque os dançarinos ficavam muito próximos uns dos outros. Havia muito contato físico e giros em que o cavalheiro levantava uma moça solteira nos braços, o que poderia arruinar sua reputação.
A anfitriã tinha a obrigação de receber pessoalmente cada convidado do baile. Por isso, permanecia à entrada até o jantar ou até que todos tivessem chegado. Em geral, isso não representava grande dificuldade.
A complicação surgia quando aparecia um cavalheiro desconhecido, convidado pelo marido ou por um dos filhos. Nessa situação, a anfitriã não podia se dirigir a ele sem uma apresentação formal, o que exigia que o responsável por sua presença estivesse por perto. Já as filhas, ao contrário, podiam aproveitar o baile desde o início.
O leque era um acessório indispensável no traje de qualquer jovem. Com a quantidade de velas acesas e a multidão reunida no salão, o ambiente logo ficava quente e abafado, tornando-o essencial.
Além de evitar desmaios, o leque também funcionava como um meio de comunicação com admiradores. No século XIX, as mulheres não podiam demonstrar seus sentimentos abertamente, sobretudo diante da sociedade, e por isso recorriam a uma linguagem secreta feita com o movimento do acessório.
Se uma dama o segurasse na mão esquerda e o agitasse suavemente, indicava que desejava conhecer o cavalheiro a quem se dirigia. Pressioná-lo contra a testa significava que estava sendo observada. Já para expressar desagrado ou até ódio, ela estendia o leque com a mão fechada. E, quando o balançava lentamente, revelava ser uma mulher casada.
A etiqueta nos salões de baile era muito rigorosa. Isso afetava não apenas as damas, que não podiam dar um passo sem estarem acompanhadas por outra mulher. Nessas condições, até mesmo atravessar o salão de baile ou ir ao vestiário era um verdadeiro desafio.
Os homens também não estavam isentos das regras. Se um cavalheiro se cansasse de dançar, não poderia se sentar em uma cadeira, se houvesse uma dama ao seu lado que ele não conhecesse. Além disso, ele não deveria ficar muito tempo no baile. Caso contrário, corria o boato de que ele era impopular e raramente era convidado.
Quando o baile era organizado por sua mãe, esposa ou um parente próximo, o cavalheiro tinha ainda mais responsabilidades: ele precisava garantir que todas as damas tivessem parceiros para dançar. Se não houvesse homens suficientes, ele tinha de dançar com todas elas, inclusive com as senhoras mais velhas.
Uma das figuras centrais do baile era o mestre de dança. Cabia a ele garantir que as regras fossem seguidas, anunciar o jantar e cuidar de diversos detalhes da organização.
Antes do início da festa, o mestre recebia os convidados à porta do salão e distribuía cartões numerados a todas as damas, com exceção das nobres. Esse cartão precisava ser usado em local visível, pois definia a posição que o casal deveria ocupar em cada dança.
As damas tinham de usar seu número durante toda a noite. Se o perdessem, deveriam pedir outro ao mestre. Antes do início da dança, os casais entravam no centro um a um, conforme seus números eram anunciados. Se alguém não chegasse a tempo, teria de esperar até o final.
As damas dedicavam longas horas não apenas ao vestido, mas também ao penteado. Para conseguir mais volume, recorriam aos chamados “ratos”, mechas de cabelo retiradas da própria escova e enroladas em pequenos coques falsos. Esses enchimentos eram feitos na mesma cor do cabelo para passarem despercebidos.
Além disso, aplicava-se um pó brilhante feito de folhas de ouro ou prata trituradas, acessório de luxo reservado às mulheres mais ricas. Existiam versões mais baratas, mas que deixavam os fios com com uma aparência ruim.
Os adornos recebiam atenção especial. As mulheres costumavam enfeitar os cabelos com flores naturais ou artificiais, fitas e joias.
O estilo do penteado também facilitava a distinção entre mulher casada e solteira. As casadas podiam usar modelos mais elaborados, decorados com joias e penas. Já as solteiras precisavam manter a discrição: só podiam usar flores.
Participar de um baile exigia uma boa disposição física. As festas começavam por volta das 21 horas e se estendiam até o amanhecer. A refeição só era servida tarde da noite, e quem não tivesse jantado antes precisava suportar a fome até a 1h da manhã.
Os vestidos volumosos tornavam a dança em salões lotados pouco confortável. Para completar, muitas mulheres recorriam a métodos extremos em nome da beleza, como aplicar sanguessugas atrás das orelhas para conquistar uma pele mais clara.
Na Era Vitoriana (1837–1901), quando a Inglaterra vivia sob o reinado da Rainha Vitória e se firmava como potência mundial, a moda refletia um tempo de guerras, epidemias e rígidas normas sociais. O resultado? Uma moda tão curiosa quanto extrema, de espartilhos sufocantes a vestidos envenenados, que ainda hoje nos deixam intrigados.