11 Impressões de um brasileiro sobre como é a vida na Austrália

Sou jornalista e editor do Incrível.club e, no final do ano passado, viajei para a Austrália com minha esposa e meus dois filhos. Amo viajar e considero cada viagem um novo aprendizado. Viajar é conhecer novos lugares, novas culturas...mas, mais do que tudo, viajar é descobrir que mundo é feito de pessoas que veem o mundo de maneiras diferentes da nossa. E essa é uma lição que livro ou site nenhum é capaz de ensinar.

Por isso, por mais que viajar com crianças pequenas seja um desafio que exige um enorme planejamento — e uma enorme capacidade para lidar com imprevistos -, minha esposa e eu fazemos questão de levá-los. Conhecer o mundo (e o Brasil) é um legado que não tem preço.

A seguir, conto aos leitores do Incrível.club como foi minha experiência nesse país tão fascinante.

1. Há playgrounds por todo lado

(e todos são públicos e super arrumados)

Uma das coisas que mais me chamaram a atenção na Austrália foi a quantidade de parquinhos e playgrounds públicos existente por lá. Grandes, pequenos, futuristas, naturebas, com riozinhos artificiais (adorei!) e até basicões, estilo escorregador-balanço-gangorra, como os que temos aqui.

Parquinhos por todo lado, limpos, sem pichação nem lixo. Apenas a cidade de Perth, onde fiquei, possui cerca de 2,2 mil playgrounds. Isso para uma população de cerca de 1,5 milhão de habitantes. Investir em parquinhos e playgrounds significa valorizar as crianças e pensar no país que queremos para daqui a 20, 30 anos. Eles são um espaço em que os pequenos não só desenvolvem habilidades motoras, mas também aprendem a conviver com outras crianças e a observar questões básicas de cidadania, como não jogar lixo no chão e esperar sua vez para usar um brinquedo, por exemplo.

2. Prepare-se para desaprender a dirigir

Diferentemente de países como Brasil, Argentina, EUA e Portugal, a Austrália adota a chamada ‘mão inglesa’. Ou seja, o volante dos carros fica do lado direito e, nas vias, a orientação é ficar à esquerda, e não à direita, como aqui. Se você for dirigir por lá, nos primeiros dias vai ‘desaprender’ a dirigir. É normal, por exemplo, acionar sem querer o limpador de para-brisa na hora de dar seta ou passar por cima das guias.

A boa notícia: mesmo cidades maiores da Austrália têm pouco trânsito. Então, mesmo enfrentando dificuldades no início, o risco de você causar algum tipo de acidente é relativamente pequeno. Ah, e você pretende dirigir por lá, não se esqueça de, antes de viajar, providenciar uma Permissão Internacional para Dirigir, que pode ser obtida sem muita burocracia nos Detrans.

3. Supermercados

Os supermercados australianos são proibidos de vender bebidas alcoólicas. Se você quer comprar esse tipo de bebida, tem de ir a uma liquor store (loja de bebidas).

Por outro lado, os supermercados australianos são autorizados a vender medicamentos que não necessitam de prescrição médica — analgésicos e anti-gripais, por exemplo. Outra curiosidade: muitos supermercados simplesmente não têm operadores de caixa: o próprio cliente passa as mercadorias no leitor de código de barras e, em seguida, utiliza seu cartão de crédito para pagar as compras. Você acha que um sistema desses funcionaria aqui no Brasil?

4. Os australianos são apaixonados por praias

(e lá elas são limpas e frias)

A população australiana é quase toda concentrada na costa. As maiores cidades ficam no litoral e os australianos, como nós brasileiros, amam uma praia. E elas são lindas. O mar é azul-esverdeado e as águas, transparentes.

Só que, diferentemente daqui, por lá não são permitidas bebidas alcoólicas na faixa de areia. Além disso, não há vendedores ambulantes e as pessoas levam a própria comida — os australianos são apaixonados por piqueniques, como mostrarei mais adiante. Mas o mais interessante: não há lixo nas praias ou som alto. Em uma das praias que conheci havia até uma campanha criada por crianças e que convidava cada banhista a recolher três peças de lixo que eventualmente encontrasse — não o próprio lixo, mas qualquer lixo visse na praia, como garrafas e embalagens de refrigerantes. Nem preciso dizer que a praia era limpíssima.

Ah, e a água do mar é gelada. Mais que a de praias brasileiras consideradas um pouco mais frias, como as de Florianópolis (SC). Por isso, embora haja muita gente na areia, poucos se arriscam a ir para o mar.

5. Os australianos amam a natureza

As reservas naturais fazem parte da paisagem australiana. Apenas o Estado da Austrália Ocidental, onde estive, possui mais de 100 parques nacionais e outros 30 parques marinhos, além de reservas estaduais. Para se ter uma ideia, o Brasil inteiro, com um território três vezes maior, possui pouco mais de 70 parques nacionais.

Mas o mais importante é a relação dos australianos com esses parques. Diferentemente daqui do Brasil, eles frequentam seus parques e os utilizam como verdadeiros espaços de lazer e de convivência. Prova disso é que apenas os parques da Austrália Ocidental recebem, em um ano, cerca de 20 milhões de visitantes, o dobro do número de visitantes dos parques nacionais de todo o Brasil. O que nos leva ao item seguinte.

Para os australianos, os parques nacionais são mais que apenas áreas de preservação da natureza: são espaços de lazer

6. São mestres do piquenique

Como forma de aproveitar o contato com a natureza proporcionado pelos parques, os australianos adoram fazer um piquenique. Aparentemente, toda família australiana possui um kit super avançado para esse tipo de atividade, que inclui cadeiras de praia, coolers para cerveja, vinho, água e sucos, mesinhas, pequenas barracas de camping e até mini-churrasqueiras a gás. E é comum ver centenas de famílias nos parques em dias de sol. Até festas de aniversário são comemoradas nos piqueniques. Detalhe: tudo sem lixo no chão e sem som alto. É um programa relativamente barato e que coloca adultos e crianças em contato com a natureza.

7. E como nós, brasileiros, também amam um churrasco

Sim. A Austrália é o segundo maior exportador mundial de carne bovina, perdendo apenas...para o Brasil. Só que, diferentemente do churrasco brasileiro, feitos na brasa, com carvão, por lá a prática mais comum é a de usar churrasqueiras a gás. Elas são super práticas e dá pra fazer um churrasco em minutos quando se recebe a visita de amigos, por exemplo. Mas aqui entre nós: a carne assada na brasa fica muito mais saborosa.

8. Animais selvagens

Existe um estereótipo de que a Austrália é um país em que animais selvagens — como cobras e crocodilos gigantes estão por toda parte. Mas essa é apenas uma meia verdade. O que presenciei foi, isso sim, um enorme respeito a espécies nativas, como cangurus, cacatuas (equivalente à nossa arara) e os cisnes negros — esses bem característicos da região de Perth, onde fiquei. É comum ver, por exemplo, os cisnes no rio da cidade nadando ao lado de banhistas e dos barcos sem serem importunados. As cacatuas também estão por toda cidade e é possível presenciar lindas revoadas delas no final do dia.

Quanto aos cangurus (animal símbolo do país), eles podem ser vistos em áreas mais distantes dos centros urbanos, mas também são bastante respeitados pela população. Em uma viagem que fizemos dentro do país, pude ver vários deles na estrada. Pensar na Austrália como um país em que há crocodilos nas ruas não é uma atitude muito diferente da de alguns gringos que imaginam que todo brasileiro vive no meio da selva, em meio a onças e sucuris...

Ah, para não dizer que não tivemos um contato um pouco menos agradável com a vida selvagem, durante a viagem ao Interior do país, um lagarto de uns 40 centímetros (equivalente a um teiú brasileiro) se enfurnou na mala de minha esposa. Mas bastou nos aproximarmos mais da mala que o bicho se mandou pra fora da casa em que estávamos hospedados.

9. Tomar sol por lá pode ser perigoso

Existe uma ideia errônea, mesmo entre os australianos, de que há um buraco na camada de ozônio sobre o país, o que não é verdade, conforme mostram os cientistas da Universidade de Melbourne. Mas o fato é que a Austrália possui uma das mais altas incidências de câncer de pele do mundo e o governo realiza inúmeras campanhas publicitárias para estimular as pessoas a usarem protetor solar. Se você for à praia por lá, capriche no protetor.

10. O café é bem diferente do nosso

A Austrália não é um grande produtor de café como o Brasil. Talvez por isso, o café tomado no dia a dia é solúvel. Em cidades grandes, há diversas cafeterias onde é possível tomar um expresso de boa qualidade, mas eles são relativamente caros. Se você é, como eu, um fã de café de coador, vai sentir saudade do Brasil pela manhã.

11. A viagem pra lá é longa... muito longa

Se você quer conhecer as belezas da Austrália, prepare-se para encarar muitas horas de avião. Se você vai para Sydney, por exemplo (na costa Leste), a viagem levará no mínimo 20 horas — ou até 30, dependendo do tempo de escala. No caso da nossa viagem, foram 28 horas, contando com as escalas. Portanto, programe-se para ficar pelo menos 15 dias por lá, para compensar o tempo de viagem. E, se você vai com crianças pequenas, como foi o meu caso, procure pensar em estratégias para distraí-las durante o voo. Já fizemos alguns posts sobre esse assunto aqui no Incrível.club.

Bônus: os animais selvagens que mais nos traumatizaram na Austrália

Você pode até não acreditar, mas um país que tem a fama de ser o lar de feras super selvagens, como tubarões brancos e crocodilos gigantes, um dos animais mais temidos é...a mosca doméstica. Parecida com a que existe aqui no Brasil, ela está por toda parte na região das praias. E, diferentemente dos borrachudos existentes no litoral brasileiro, ela não pica, mas incomoda bastante e muitas vezes faz questão de tentar entrar em nossa boca e em nosso nariz. O incômodo em certos lugares é tamanho que cheguei a ver alguns australianos com chapéus com véus, parecidos com aqueles usados por apicultores. Se você for pra Austrália no verão, capriche no repelente.

Você já esteve na Austrália? Vive no país? Como foi ou é sua experiência?