Abri mão das reuniões de pais e mestres e quero contar como isso mudou a minha vida

Curiosidades
há 3 anos

Quando eu era aluna de escola, as reuniões de pais e mestres eram a única forma certeira de passar as informações necessárias para os pais, porque não havia Internet e nem todos tinham telefones fixos. Porém, os meios de comunicação modernos e a regra tácita de não mencionar alunos específicos, mas a turma como um todo, fazem com que as reuniões de pais estejam lentamente virando coisa do passado.

Estive presente em todas as reuniões de pais desde o momento em que o meu filho começou a frequentar o jardim de infância, acreditando que isso fosse minha responsabilidade como mãe. Naquela época, não havia messengers nem redes sociais, então apenas os encontros presenciais com os professores poderiam resolver boa parte dos problemas. Mas assim que o meu menino passou a estudar no oitavo ano do ensino médio, há três anos, parei de ir às reuniões e me arrependi de não ter feito isso antes. Portanto, quero contar para os leitores do Incrível.club por que tomei essa decisão e o que mudou na minha vida desde então. Alerta de spoiler: não mudou nada, exceto por eu ter me tornado uma pessoa mais calma e ganhado mais tempo livre.

“Algumas meninas usam roupas provocantes, enquanto alguns meninos roubam a comida de outros alunos”

Nos anos 2000, os professores progressistas já evitavam fazer comentários sobre cada um dos alunos isoladamente, e ultimamente essa tendência tem ganhado mais espaço mundo afora. Ou seja, há professores que preferem não revelar os nomes de alunos. Assim, os pais de crianças que tiram notas baixas sentem-se mais confortáveis em comparecer às reuniões, pois não correm o risco de receber olhares de julgamento dos outros pais.

Ao mesmo tempo, essas reuniões perderam seu significado principal. Afinal, a maior parte dos pais está mais interessada no sucesso do próprio filho, e não no desempenho da turma em geral. Isso significa que, muitas vezes, receber informações sobre o comportamento e as notas de seu filho é possível apenas em um encontro pessoal com o professor responsável pela turma, ou procurando evidências indiretas no discurso dele durante as reuniões.

Quando o meu filho estava no oitavo ano do ensino médio, a professora da turma, sem citar nomes, comentava que algumas meninas usavam uma maquiagem muito chamativa e roupas provocantes, e alguns meninos costumavam roubar a comida dos outros. Durante os primeiros 15 minutos da reunião, a professora e os pais das meninas tentavam definir o que era, de fato, uma aparência “vulgar” na opinião da administração da escola, enquanto os pais dos meninos mexiam nos celulares. Já nos 15 minutos posteriores, quando os pais do segundo grupo discutiam os “ladrões de comida”, quem estava entediado eram os do primeiro grupo.

“Seus filhos não vão conseguir passar no próximo teste”

Alguns professores usam a frase “vocês são a pior turma da escola” para assustar não só os alunos, mas também seus pais. Uma professora adorava fazer a gente acreditar que os nossos filhos eram uma decepção e incapazes de passar em testes, provas e vestibulares.

É claro que vários alunos acabam tirando boas notas e entrando na faculdade. Mas ainda existem professores que escolhem dar um grande susto nos pais ao invés de quebrar esse padrão e dizer: “Não se preocupem: vocês têm filhos maravilhosos, e eles certamente serão bem-sucedidos”.

“Dividam-se em duplas: uma pessoa vai fechar os olhos e cair para trás, e a outra deve segurá-la”

A primeira professora do meu filho era uma mulher inteligente, positiva e proativa em todos os aspectos. Ela conduzia reuniões abordando todos os assuntos relevantes e raramente nos dispensava antes das 21h00. Além de questões organizacionais, ela levantava problemas de educação importantes.

Por exemplo, um menino lhe contou ser repreendido em casa por suas notas baixas. Então, ela nos deu uma palestra, explicando por que isso não deveria ser feito, dando exemplos da vida real e recomendações de psicólogos. A professora tinha razão, sem dúvida, mas por que eu, que não repreendo o meu filho por notas baixas, deveria assistir àquela palestra depois de um dia cansativo de trabalho em vez de ir para casa e dar atenção ao meu menino?

Às vezes, ela ia mais longe. Um dia, pediu que todos os pais se dividissem em duplas. Uma pessoa deveria fechar os olhos e cair para trás e a outra, segurá-la. Foi assim que trabalhamos a confiança.

Praticamos várias atividades durante os primeiros quatro anos do ensino fundamental do meu filho: desenhamos nas costas um do outro, rasgávamos algumas folhas e escrevíamos cartas ao nosso “eu” do passado. Mas tudo isso seria muito mais interessante se fosse em condições diferentes, com outras pessoas e por vontade própria.

Realizar várias reuniões no mesmo dia pode ser conveniente para os professores, mas não para os pais

Uma vez, no início da primavera, eu estava atrasada para uma reunião de pais. Tive de estacionar o carro a 300 metros da escola. Enquanto corria no escuro pela calçada molhada, caí em uma poça e molhei os pés. E tudo porque a administração decidiu adotar a prática de fazer reuniões para todas as turmas no mesmo dia, “para a comodidade de todos”. Por isso, os carros dos pais acabaram ocupando uma rua inteira.

Além disso, há pais com mais de um filho e apenas um deles pode participar de reuniões, mas fisicamente não pode estar presente em duas/três reuniões simultâneas. Infelizmente, essa solução “inovadora” desmotiva mais ainda os pais a comparecerem a esses encontros.

Conversas irrelevantes

Os pais brincalhões e proativos podem fazer algumas reuniões durar mais do que o normal. As mesmas perguntas, piadas inapropriadas e conselhos não solicitados parecem ser parte essencial de quase todas as reuniões.

Em uma conversa on-line, é possível pular discussões desinteressantes e insignificantes, ao contrário de uma reunião presencial.

“A turma não quer estudar! A professora de Matemática está reclamando dos alunos”

Por alguma razão, as situações em que os professores reclamam para os pais da turma inteira, e não de alunos despreocupados e valentões em particular, têm se tornado mais frequentes nos últimos anos. Porém, a frase “seus filhos nunca fazem o dever de casa” vinda de apenas um professor pode ser um sinal de incompetência.

Quando o meu filho estava no sexto ano, durante uma reunião de pais, uma nova professora de Matemática entrou na sala e declarou: “Seus filhos não querem estudar. Ninguém tirou uma nota boa na última prova. Vocês devem fazer algo a respeito”. Todos os pais ficaram indignados, mas não disseram nada, quando um dos pais murmurou: “Existe uma coisa que podemos fazer — trocar de professora”. Ela não lhe deu ouvidos, mas eu concordo plenamente com ele.

Não entendo por que sou obrigada a fazer o trabalho do professor e não quero perder tempo ouvindo o quão ruim o meu filho é em uma determinada matéria.

Se eu tivesse participado de todas as reuniões durante 11 anos, eu teria perdido 5,5 dias da minha vida

Quando o meu filho estava no oitavo ano, tivemos uma reunião de pais e mestres no início do ano letivo. Discutíamos uma feira escolar, que acontece anualmente em forma de competição. A professora do meu filho, como sempre, elogiava a turma paralela: um ano antes, o pai de um dos alunos, um militar, fez galinhada em uma grande panela, na quadra poliesportiva da escola, o que trouxe a vitória para essa turma. Naquele ano, nós deveríamos superá-lo.

Enquanto outros pais discutiam como montar uma barraca de pizza, contei mentalmente quanto tempo por ano eu perdia com essas reuniões e eventos “maravilhosos”. Descobri gastar em torno de 12 horas, incluindo os trajetos de ida e volta. Ou seja, durante 11 anos, eu teria gasto 132 horas da minha vida com coisas que não me interessavam e não faziam a mínima diferença na minha vida, ou na do meu filho. Foi então que me dei conta de que estava na hora de dar fim a isso.

“E se todos os pais parassem de frequentar as reuniões?”

Eu não fui ao encontro seguinte, dedicado à celebração do Natal. Eu sabia que o meu filho não tinha nenhum problema com estudos, nem com seus colegas. Se eu precisasse assinar alguma coisa, ele me repassaria os documentos, ou os professores me mandariam informações importantes no chat dos pais. Acontece que ninguém notou a minha falta. Em geral, havia poucos pais que ainda faziam questão de aparecer nas reuniões regularmente.

Depois de algum tempo, a professora responsável pela turma veio me perguntar: “Por que você não estava na reunião? Ficou doente?” Disse que não via nenhum motivo para ir. “E se todos os pais parassem de frequentar as reuniões?”, ela perguntou. “Então, provavelmente, você deixaria de fazê-las”, respondi.

Uma semana depois, a diretora da escola me chamou. Uma mulher de meia-idade começou a explicar que essa era a minha responsabilidade como mãe e, se eu me recusasse a cumpri-la, a escola seria obrigada a contatar os órgãos responsáveis. Essa ameaça foi um absurdo porque não existe nenhuma lei que obrigue os pais a comparecer às reuniões de pais e mestres. Sabendo disso, apenas tentei explicar à diretora por que estava sem a mínima vontade de ir às reuniões.

Nos últimos três anos, percebi que o clima na nossa família melhorou bastante. Antes, eu ainda trazia um pouco de negatividade para casa e, às vezes, começava a intimidar o meu filho: “Mas a professora tal diz que você não faz suas lições de casa, e a professora tal reclama que você mexe no celular durante as aulas”.

Eu nunca voltava satisfeita das reuniões: discordava de várias coisas e ficava indignada, mas não me sentia no direito de mudar a situação, sem falar das vezes em que tive de cancelar os encontros com os meus amigos por conta disso. Agora, nossa família se sente mais aliviada.

A professora responsável pela turma manda todas as informações importantes no bate-papo dos pais. Quando preciso falar com um professor específico, vou à escola; quando preciso dar dinheiro para uma vaquinha, transfiro-o para a conta do comitê de pais. Durante todo esse tempo sem reuniões, não senti que perdi algo importante em nenhum momento. Ao mesmo tempo, vale a pena destacar que não me recuso de forma alguma a me comunicar com outros pais. Meu marido e eu assistimos a concertos e competições escolares, ficamos de plantão em bailes e participamos da organização de viagens. Acredito que, muito em breve, as reuniões presenciais vão deixar de existir, ou adotarão o formato on-line.

Qual a sua opinião sobre as reuniões de pais e mestres? Não hesite em deixar seu comentário.

Comentários

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Eu imagino que qualquer que seja a reunião, se não for planejada será um desperdício de tempo para todos

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Eu nunca fui a uma pq meu enteado sempre foi muito tranquilo e nunca repetiu, eu não tinha tempo porque realmente essas reunioes são no meio do dia e só servem para pais que trabalham em casa ou não trabalham

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eu fui uma única vez pq tbm trabalhava e não tinha tempo para essas reuniões no meio da manhã. Fui lá com grandes expectativas, mas nenhum professor tinha nada de mal para dizer do meu ffilho, saí feliz e frustrada ao mesmo tempo

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eu acho um grande disperdício de tempo para aqueles que cuidam bem dos seus filhos pq não tem nada novo para ouvir e para os que não ligam para a educação dos filhos tambem nao vai fazer diferença

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Eu sempre fui um garoto que conversava muito, então alguns professores reclamavam muito de mim, mas minha mae nunca chegou a aouvir sobre isso nas reunioes

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QUEM IA NA ESCOLA QUANDO AS MENINA ERA PEQUENA ERA A MINHA MULHER PORQUE EU NAO TNHA TEMPO E TRABALHAVA LONGE

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Aquele momento que comprova aquilo que todo professor sabe: os pais não querem se comprometer com a educação dos filhos e não se interessam em ir para a reunião da escola - nem que seja para ouvir coisas boas sobre suas crias! Até para saber se seus filhos são especiais eles não têm tempo - imagina saber que mesmo que seus filhos naõ sejam problema, existem problemas criados pelos filhos dos outros que podem estra prejudicando toda a turma e que eles poderiam ajudar a resolver para não prejudicar a educação de seus bebês!

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