Parei de me sacrificar em nome de meu filho para que ele não cresça com um sentimento de culpa

Crianças
há 4 anos

Meu nome é Vera e sou uma mãe ruim. Quando meu filho nasceu, jurei que seria a melhor mãe possível para ele. No entanto, não fui capaz de alcançar essa perfeição. Em minha luta para conseguir isso, acabei perdendo algumas coisas importantes, e, como consequência, meu filho parou de me trazer alegria, me fazendo sentir culpada e infeliz.

Gostaria de compartilhar com os leitores do Incrível.club como reavaliei meus pontos de vista sobre a vida e educação do meu filho e, assim, percebi que ser uma mãe feliz não tem nada a ver com uma série interminável de sacrifícios.

Fiz tudo como minha mãe me ensinou

Eu e minha irmã estávamos sempre em primeiro lugar nas prioridades da nossa mãe e ela nos lembrava disso diariamente. Mamãe tinha orgulho de ter sacrificado tudo por nós e falava com desgosto sobre mulheres que tinham a audácia de pensar em si mesmas. Seguindo o exemplo dela, também coloquei meu filho em primeiro lugar. Ele tinha de tudo: roupas caras, comidas saudáveis e saborosas, infinitas canecas e os melhores brinquedos. Dei a ele liberdade de escolha, restrições mínimas, de modo que não tinha de seguir qualquer regra. Brincava com ele, o entretinha e acompanhava de perto todo o seu desenvolvimento. Eu o compreendia, dava carinho e o beijava sempre. Cheguei, inclusive, a abandonar meu emprego para poder estar sempre com ele.

Mas isso não era o suficiente

Não era só para o meu filho que eu tinha de dar o meu máximo, mas também para minha mãe. Era necessário visitá-la com mais frequência, fazer compras com ela e, nos finais de semana, ir à sua casa para ajudá-la com as tarefas domésticas.

Tudo isso me deixou em pedaços: por um lado havia meu filho, para quem eu queria ser uma mãe perfeita; por outro, minha mãe, que se sacrificou por mim por tantos anos. Até que um dia, mamãe disse: “Me sacrifiquei a vida toda por você e você nem ao menos está tentando. Deveria dedicar mais tempo a mim”. Um sentimento forte de culpa e remorso tomou conta de minha alma.

E então tudo começou a desmoronar: passei a me enxergar como uma péssima filha, minha carreira praticamente acabou com o nascimento do meu filho, e, para completar, o relacionamento com meu marido estava se deteriorando. Quase não tínhamos mais tempo juntos e se conversávamos, o assunto era sempre nosso filho.

Uma manhã, percebi que não queria e que não tinha forças para me levantar da cama

Enquanto meu filho chorava do meu lado, eu só continuava deitada olhando para o teto. Naquele dia, entendi que não era isso que tinha sonhado para mim. E me dei conta do óbvio: o princípio de que “a criança tem de ser o centro do universo da mãe” não funciona. Afinal, se tivesse continuado seguindo ele, em 20 ou 30 anos, me transformaria em minha mãe, que deu tudo de si para suas crianças e agora espera o mesmo em retorno. Meu filho, por sua vez, sentiria a mesma culpa que sinto agora. Não, eu não queria esse futuro para meu filho.

E decidi lutar

Esse problema era mais comum do que eu pensava. Todos os psicólogos advertem: ter um filho não significa abandonar sua própria vida. E, pior ainda, colocar o filho em um pedestal é mais prejudicial às crianças do que aos pais.

Depois de ler alguns livros sobre Psicologia, eu e meu marido tomamos a liberdade de nos fazer uma pergunta desconfortável: “Como amar outra pessoa plenamente se não amamos nós mesmos?” E a resposta nos fez tomar a difícil decisão de que não iríamos mais colocar os interesses do nosso filho antes dos nossos próprios. Dessa forma, ficou decidido que deveríamos rever todo o estilo de vida de nossa família.

Fizemos algumas mudanças simples, mas bastante eficazes

  • Adotamos um conjunto de regras. Antes, eu não queria restringir a liberdade do meu filho; no entanto isso acabava tirando a liberdade de todos na casa. Ele brincava até a exaustão, então fazia escândalo e acabava dormindo em qualquer lugar e em uma hora pouco conveniente. Era praticamente impossível fazer um planejamento para o dia e terminar todos os meus afazeres. Uma semana após introduzir novas regras de sono, comida e passeios, meu filho tornou-se mais calmo, os momentos de histeria praticamente sumiram e consegui algumas horas para mim.

  • Meu filho aprendeu a palavra “espere”. Parei de abandonar todos os meus afazeres para realizar os desejos imediatos do pequeno quando fazia escândalo. Com o tempo, ele entendeu que o mundo não gira em torno dele e que todas as pessoas têm sentimentos e necessidades. E ele precisa levar isso em consideração.

  • Nós paramos de brincar o tempo todo com ele. Excesso de atividades recreativas além de provocar muito cansaço pode ser prejudicial, pois quando uma criança não tem tempo sobrando para si, não desenvolve a imaginação. E a criatividade é justamente uma das funções mais importantes exercidas pelo cérebro. Quando nosso filho começou a ter tempo livre, passou a criar jogos e brincadeiras sozinho.

  • Paramos de comprar brinquedos em excesso. Observamos que a criança mal conseguia se orientar dentro do mar de brinquedos coloridos e decidimos nos livrar da maior parte dos que já estavam velhos, não substituindo por novos. Como resultado, nosso filho aprendeu a dar valor e importância a cada brinquedo. E, claro, eu e meu marido economizamos um pouco.

  • A mãe-taxi, que se ocupava integralmente em transportar e acompanhar o filho de uma escola para outra deixou de existir. Inclusive, decidimos que, até os quatro anos, nosso filho não deveria frequentar atividades extracurriculares. Em vez disso, passávamos tempo com ele. Passeávamos, líamos e conversávamos. E seu desenvolvimento não foi afetado de maneira alguma.

  • Eu e meu esposo começamos a pedir uma vez por semana que as avós cuidassem um pouco do neto para que pudéssemos sair a sós. E, com o tempo, o pedido de só algumas horas pode se prolongar, passando para mais de um dia e até algumas semanas. Dessa forma, há tempo suficiente até para visitar os amigos e colocar o papo em dia.

  • Passamos também a ser contra a ideia de que tudo que é melhor e mais gostoso tem de ser dado à criança. Tudo deve ser dividido de maneira igual. Assim, o filho aprende que os pais também gostam de comer sobremesas deliciosas.

  • Consegui voltar a fazer o que mais amo: desenhar. E meu filho, surpreendentemente, acaba sentando-se do meu lado e desenhando junto comigo. Ou então fica brincando sozinho de construtor com seus blocos de montar. Quando voltei a fazer o que me faz bem, me tornei mais feliz e equilibrada, e meu filho, consequentemente, tornou-se mais calmo.

  • Algumas atividades domésticas tornaram-se responsabilidade também do nosso filho. Inicialmente ele nos ajudava nos afazeres da casa como uma forma de brincar. Depois, isso se tornou um hábito. Além disso, hoje ele entende que tem de arrumar a própria bagunça.

Retomamos o controle de nossas vidas

Hoje em dia, meu pequeno tem cinco anos. Ele cria seus próprios jogos e brincadeiras e faz amigos facilmente. Inclusive já se enturmou com os outros garotos da rua. Além disso, entende muito bem as frases “mamãe está trabalhando”, “mamãe está cansada” ou “mamãe quer ficar sozinha”, e compreende que não é só ele que precisa se divertir e relaxar. Mas o mais importante é que sabe que o amo muito e sempre vou encontrar um tempo para ele.

Eu e meu marido já não nos sentimos à beira do abismo há muito tempo e eu não sinto mais que minha vida está atrelada exclusivamente aos passos de uma outra pessoa. Por isso, tenho certeza de que nunca vou colocar uma culpa no meu filho por ter me dedicado excessivamente a ele.

Eu entendo que meu filho um dia vai à terapeuta e terá algo para contar. Isso acontece com todas as crianças e a criação que lhes damos nunca é perfeita. Mas o mais importante é que ele aprenda a dar valor à própria vida, sentir e defender seu espaço pessoal e não se sentir sobrecarregado pelo fardo do destino de outra pessoa atrelado ao seu.

Como você organiza seu tempo entre as atividades pessoais e as do seu filho? Uma boa mãe também pode pensar em si, ao invés de apenas nas crianças? Deixe sua opinião na seção de comentários.

Comentários

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Isso é o que chamo de egoísmo do bem.Às vezes pensamos tanto nos outros, que negligenciamos nossas próprias necessidades.

Precisamos estar bem para fazer o bem.

A parte mais difícil pode ser lidar com pais manipuladores,que agem como se os filhos lhes devessem favor .

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Resposta

Após estas mudanças a relação com sua mãe também melhorou?

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Resposta

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