Por que as filhas têm a sensação de não serem amadas

Psicologia
há 4 anos

Uma mãe que não gosta da sua filha. Uma situação que só parece possível nas famílias em que os pais têm problemas financeiros, dependência química ou tentam resolver os problemas com bebidas alcoólicas. Eu tive uma infância absolutamente normal, cresci em uma família completa, sem esses tipos de problemas. Mas apesar de tudo, acreditava que minha mãe não me amava. Eu achava que éramos pessoas muito diferentes. Eu queria ficar bonita e minha mãe dizia que o vestido não caía bem em mim. Eu fazia o meu melhor, mas ela dizia que não era suficiente.

Hoje eu queria contar para os leitores do Incrível.club uma história de minha infância para mostrar como as crianças veem o comportamento típico dos adultos, e como surge a solidão e a sensação de não ser amado.

Primeiramente o dever de casa

Minha mãe costumava dizer: “Estou muito preocupada com seu futuro!”

Naquela altura eu queria viver no presente e curtir a vida. Minha mãe queria que eu fosse economista, por isso enquanto meus amigos brincavam na rua e assistiam a filmes, eu ficava em casa com um manual de matemática. Eu não conseguia me concentrar nas tarefas: meus amigos brincavam de esconde-esconde e as minhas séries favoritas passavam na TV. Tentei explicar várias vezes que a matemática não era para mim, mas ninguém queria me ouvir. No fim das contas, entrei na faculdade de tradução e interpretação.

Ninguém vai se casar com você!

Minha mãe costumava dizer: “Tem que cuidar mais da sua aparência”.

Ela notava apenas meus defeitos. Dentes péssimos (“Não sorria tanto!”), obesidade (“Você é gordinha! Que vergonha!”), minha postura (“Endireite as costas!”). Quando virei adulta, não acreditava em elogios, sempre achava que estavam mentindo ou brincando comigo. Então, casei-me com o primeiro homem que me deu atenção. Pensei que tinha tirado a sorte grande, porque ele não reparava nos meus defeitos e até dizia que eu era bonita.

Você vai entender tudo quando tiver a sua filha

Minha mãe costumava dizer: “Você é muito fechada”.

Eu invejava as minhas amigas que podiam falar com suas mães sobre tudo: uma nota baixa, o primeiro amor, qualquer coisa. Mas eu não conseguia, pois tinha que lidar com o constrangimento que surgia no momento da conversa. Eu queria tanto que minha mãe desse o primeiro passo, que fôssemos melhores amigas. Infelizmente, isso não aconteceu.

Vai ter más companhias

Minha mãe costumava dizer: “Se algo acontecer com você, eu morro”.

Eu saía à noite muito raramente. O mundo é um lugar muito perigoso e minha mãe dizia que eu atraía desgraças. Ela tinha certeza que eu andaria em má companhia. Então, para que eu não tivesse que lidar com todos esses problemas, ela me levava à escola que ficava bem perto de nossa casa. Meus amigos e colegas da escola riam de mim e eu ficava com muita vergonha.

Por que a nota baixa?

Minha mãe costumava dizer: “Quero que você tenha tudo que eu não tive!”

Minha mãe sempre foi uma aluna ótima, mas eu não. Ela não conseguia entender como eu não tirava as notas máximas em todas as disciplinas. Durante sete anos, frequentei uma escola de música, porque era o sonho da minha mãe aprender a tocar piano, mas os pais dela não tinham dinheiro.

Eu queria dançar, mas ela disse que eu não tinha talento.

Mas você é menina

Minha mãe costumava dizer: “Eu em preocupo muito com você”

Nunca me senti tão indefesa quanto na infância. Se eu perdia alguma coisa, alguém me ofendia ou me machucava, eu nunca contava para a minha mãe. Eu guardava muitos segredos e tinha que lidar com tudo sozinha. Sempre sonhei em ter mais apoio, mas ela só piorava as coisas. Em vez de dizer: “Tudo ficará bem”, ela me culpava o tempo todo.

Agora, as frases da minha mãe são apenas memórias. Eu entendo que ela queria o melhor para mim, mas não sabia como fazer isso. Lamento que minha mãe não conseguiu entender meus sentimentos. Quero que minha dor e a falta de apoio continuem sendo um segredo para ela, uma história que ela já ouviu, mas que nunca enfrentou na vida. Vamos continuar na mesma sob a ótica dela, ela — uma mãe perfeita e eu — uma criança caprichosa.

O tempo passou, e hoje minha filha foi a uma festa estudantil pela primeira vez. Já são 3 horas da manhã e eu não consigo dormir. Será que ela está em má companhia? Se algo acontecer com ela, eu morro.

E como disse minha mãe: “Você vai entender tudo, quando tiver sua filha”.

Sim, agora entendo, mãe. Entendo tudo.

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