Saiba os perigos da sensação de enxergar coincidências em tudo

Psicologia
há 5 anos

Você estava pensando em determinada pessoa e, de repente, ela entra em contato? Ou então você costuma olhar para o relógio sempre no exato mesmo horário? Ou ainda, passa a ver referências sobre determinado país justo quando está preparando uma viagem para o mesmo destino? Nesses momentos, podemos passar a crer que existe algum tipo de algoritmo fatídico no caminho que você escolheu, e que o acaso está conspirando para que tudo flua ao seu favor. Mas será que isso é real?

Incrível.club pesquisou sobre essa misteriosa “conspiração do destino” e explica tudo a seguir.

Existem razões científicas para essa sensação

Seja bem-vindo ao mundo do fenômeno Baader-Meinhof. Ou melhor: deixemos de lado o assustador nome alemão e usemos um termo mais charmoso: mundo das ilusões de frequência. Trata-se de uma distorção do nosso pensamento, quando, após receber alguma informação nova, ficamos com a sensação de que aquilo aparece em todos os lugares, mesmo onde não deveria aparecer. Tendemos a enxergar a situação como uma coincidência incrível, e em casos graves, ela acaba virando uma ideia obsessiva, paranoica. Há até quem passe a considerar tudo aquilo como um sinal divino.

Como a palavra “ilusão” indica, obviamente apenas nós temos aquela impressão. Tal efeito surge independente da nossa vontade por causa de duas características da mente humana:

  • Nossa atenção permite que a mente escolha pensar apenas na informação que é relevante naquele determinado momento. Todo o resto é “descartado”. Graças a esse enfoque de atenção, um certo detalhe fica preso em nossa mente, e passamos a percebê-lo em todos os lugares.
  • Existe outra distorção do nosso pensamento, como uma tendência a confirmar nosso ponto de vista. Em termos gerais, independentemente da informação que obtenhamos, tentamos “adaptá-la” aos nossos próprios pensamentos. Por isso, até mesmo as mais absurdas das suposições podem parecer verdade aos nossos olhos. Por exemplo, você passa por um grupo de amigos, e todos estão rindo de uma piada. Mas você tem certeza: “Estão rindo de mim!” O mesmo mecanismo funciona quando vemos algo repetidamente. A partir daí, involuntariamente, começamos a inventar coisas em nossa cabeça.

Por exemplo, o cultuado filme francês Cleo de 5 a 7, que pertence ao movimento Nouvelle vague, é totalmente baseado nesse fenômeno. A protagonista suspeita que pode ter câncer. Para confirmar ou não o diagnóstico, ela precisa esperar entre as 17 e as 19 horas. Durante essas duas horas, ela recebe uma previsão estranha de uma adivinha, ouve histórias sobre a morte, quebra um espelho, vê um filme sobre um carro fúnebre e até se vê num engarrafamento ao lado da loja de máscaras africanas que invocam a morte. O efeito da ilusão de frequência é evidente: no decorrer dessas 2 horas, ela pensa constantemente no diagnóstico negativo, e é por isso que sua consciência seleciona imagens sobre o assunto, “adaptando-as” à sua terrível teoria.

  • Outro motivo é bem banal: as pessoas esquecem das probabilidades estatísticas. Por exemplo, alguém resolve ir para Los Angeles para tentar a sorte na área de cinema. De repente, na calçada logo abaixo da sua janela do quarto de hotel, passa Steven Spielberg. A pessoa certamente encararia isso como um sinal especial. Porém, como Spielberg trabalha e circula muito por Hollywood. Seria possível que ele passasse por alguma calçada de Los Angeles, já que mora lá — como a maioria dos astros do cinema, aliás. Assim, é relativamente fácil cruzar com astros como ele na cidade americana.

Qual o perigo desse efeito e por que devemos reprimi-lo imediatamente?

Ainda que a ilusão de frequência apareça, como já dissemos, contra nossa vontade, é possível e recomendável evitar o fenômeno. A razão é a seguinte:

  • As coincidências e a tendência a confirmar seu ponto de vista pode te levar a falsos pensamentos/objetivos e consequências irreversíveis. Por exemplo, como o personagem principal do romance Crime e Castigo, de Fiódor Dostoyevski, que antes de visitar uma idosa agiota que lhe empresa dinheiros a juros altíssimos, ao pensar naquela mulher, começa a ouvir várias pessoas falarem sobre sua vida parasitária. E ele acaba se transformando num assassino.
  • Temos todas as probabilidades de sermos vítimas das campanhas publicitárias. Sim, isso pode parecer trivial, mas a verdade é que várias empresas recorrem à ilusão de frequência em suas estratégias de marketing: logotipos brilhantes, slogans que “grudam” nos ouvidos, novos formatos como posts patrocinados em redes sociais e vídeos promocionais nos cinemas. Tudo isso faz com que as pessoas, inconscientemente , pensem em determinado produto ou serviço. Ao observar constantemente os detalhes de uma oferta ao longo do dia, você acabará achando que as coincidências estão deixando claro que aquela compra é realmente necessária.

Você teve essa sensação alguma vez na vida? Como lida com ela? Comente!

Imagem de capa deviantart

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