Autora do Incrível conta com honestidade por que deixou de ser uma mãe ideal

Psicologia
há 4 anos

Olá! Me chamo Juliana e tenho um filho de 11 anos. Desde os primeiros dias de maternidade precisei enfrentar uma série de atitudes muito estranhas de outras pessoas. Todo mundo parecia saber melhor do que eu como alimentar, dar banho, trocar e criar o meu filho. Até que eu percebi que não havia nada de errado comigo: hoje em dia, quase todas as mulheres que têm filho sofrem com os palpites e comentários dos outros.

Hoje, quero contar a vocês, caros leitores do Incrível.club, como eu consegui superar os medos que me foram impostos e como passei a me sentir uma mãe de verdade.

***

Meu filho nasceu em um pequeno hospital. Ele foi imediatamente levado a uma sala com outros recém-nascidos e só ficava comigo dentro do horário indicado. Nos primeiros dias, uma enfermeira costumava caminhar pelo hospital com um carrinho com muitos recém-nascidos, todos chorando. O bebê tinha que ser rapidamente alimentado e devolvido.

Meu pequeno envelopinho tinha uma cara de bravo e quase sempre estava com os olhos fechados.

Eu olhei para ele e pensei: quando vai acontecer aquilo que as revistas descrevem como amor e carinho puro? Naquele momento, eu ainda sentia a dor dos pontos e meus braços estavam cansados e doídos das injeções. Além disso, eu estava morrendo de sono.

Contudo, a minha curiosidade era mais forte do que todos os incômodos. Assim como as outras mulheres que estavam na mesma sala, eu não pensava em beijar e abraçar o meu bebê, eu apenas olhava para ele e pensava: “É incrível, eu coloquei no mundo uma pessoa real. Com dedinhos, cílios e todas as coisinhas no seu devido lugar”.

Entretanto, por alguma razão, aquele amor prometido não foi despertado.

Foi então que eu senti vergonha

Aparentemente, esse sentimento é muito comum. Uma mãe deve sentir vergonha o tempo todo e por qualquer razão. Talvez isso seja uma maneira de motivá-la a fazer coisas incríveis em nome dos filhos.

É preciso fazer parto normal (porque a cesárea não é parto), viver a fase da amamentação o maior tempo possível (mamadeira é apenas para as mães preguiçosas), participar do crescimento do filho desde o primeiro dia, protegê-lo enquanto ele estiver no jardim de infância, na escola e até quando entrar na universidade.

Se isso não acontece, a mãe é condenada: as pessoas não têm o menor problema de olhar para essa mulher como verdadeiras inquisidoras.

Às vezes, me peguei dando desculpas para pessoas que eu nem conhecia. Alguma nova enfermeira, um novo pediatra, professoras no jardim de infância, uma vizinha e até mesmo as mulheres idosas que vinham até mim no supermercado e que davam bala ao meu filho, algo que eu nunca gostei de fazer. Ou até mesmo para as outras mães, cujos filhos aprenderam a andar e a falar antes que o meu.

Contudo, em algum momento eu me senti aliviada

Este ano, meu filho completa 11 anos. Há pouco tempo, percebi que ele e eu estávamos cansados da pressão dos outros e finalmente pudemos admitir que eu não era uma mãe ideal.

Não tenho vergonha de ter feito cesárea. Não tomei anestesia geral. E não sei o que é mais difícil de aguentar: as horas de parto ou as horas que nos obrigam a caminhar após o parto (eu tive que caminhar umas 12 horas por dia). E, para completar, tinha que me preocupar com o bem-estar do meu filho e com a cicatriz na barriga.

Sim, aos 6 meses meu filho começou a tomar mamadeira. Ele não queria mais o peito. No pediatra, as pessoas me olhavam como se eu fosse a mais preguiçosa das mães. Além disso, a minha sogra fazia questão de me dizer que as mulheres magras não costumam ter leite.

Eu não colocava música clássica para o meu filho e não pendurei letras na parede. Ele tinha uma estante com seus brinquedos incríveis e tinha uma colher especial.

Mais ou menos 3 meses após o parto, parei de ferver as mamadeiras e de passar a roupa do meu filho. Isso não afetou de maneira nenhuma a sua saúde e facilitou muito a minha vida.

Quando meu filho fez 4 anos, eu me separei. Percebi que não aguentava mais o mesmo ritmo frenético: esposa ideal, mãe, dona de casa e principal fonte de renda. E não tenho vergonha de dizer que o meu filho cresceu sem pai.

A mãe também é uma pessoa

Parei de sentir vergonha quando percebi que meu filho e eu não tínhamos que ser como as famílias de revista sobre maternidade. Não somos robôs, somos pessoas reais e cada um de nós tem o direito de ter emoções boas e más e um espaço pessoal.

Não tenho vergonha de ter feito as tarefas com o meu filho. Eu conferia as tarefas difíceis e explicava algumas regras de ortografia. Acordei algumas vezes durante a noite para retocar o desenho da escola. Por alguma razão que eu não sei explicar, isso também é cuidado.

Não acordo às 6 horas da manhã para fazer bolo e não faço todas as tarefas domésticas. Não tenho vergonha de dizer que estou ocupada e falo sem problema nenhum que ele pode preparar o sanduíche sozinho.

Não participo de nenhum grupo de pais, porque não me interesso. Fui apenas uma vez à escola e espero que isso só aconteça de novo na formatura.

Aprendi a sair das lojas sem muitas roupas para o meu filho. Se quero um vestido novo, compro sem peso na consciência.

Tenho o direito de estar sozinha. Posso escapar durante algumas horas para ir ao cinema, para falar no celular, para ir na padaria ou para tomar um bom banho. Essas são as pequenas férias que todas nós precisamos para passar do modo “mãe” para o modo “também sou uma pessoa”.

E é claro que o amor apareceu

Algum tempo depois, dona dos meus sentimentos e da minha consciência, fico emocionada de ver como o meu filho cresce e muda, como ele enfrenta as dificuldades e como ele consegue encontrar a sua linguagem com as outras pessoas.

Quando temos tempo, jogamos pingue-pongue ou andamos de bicicleta. Gostamos de explorar o mapa-múndi e procurar cidades com nomes divertidos. Também gostamos de saber como as pessoas viviam em outras épocas. Mostrei ao meu filho como é importante amar os livros e expliquei que um computador não tem apenas jogos, tem também programas muito úteis.

Além disso, sempre dou um beijo nele antes de dormir. E nunca digo: “Tenho vergonha de você”.

Porque a opinião dos outros definitivamente não importa.

Você já sentiu que não era uma boa mãe? Conte nos comentários como foi essa experiência e o que você fez para enfrentá-la.

Comentários

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As pessoas julgam todas as mães q n seguem os padrões q todos acham q é o certo. Eu tb tive cesárea, dei mamadeira e tudo mais

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Uau Juliana! De fato também me senti envergonhada por várias vezes em "não ser uma boa mãe", ao querer ter um tempinho para mim como mulher, também por não seguir os padrões do que a sociedade julga o que é certo e errado ao educar os filhos. Tenho duas filhas, uma de 8 e outra de 2 anos. Hoje não me importo com a opinião alheia, sigo apenas as minhas opiniões.

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Algumas pessoas têm seu conceito de mãe ideal e se acham no direito de julgar quem faz diferente.

Parto normal, cesárea, amamentar, dar fórmula, deixar com a babá ou creche pra poder trabalhar, poxa,cada um com sua realidade.

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