Comprovei se era possível viver uma semana sem Internet em uma grande cidade

Psicologia
há 4 anos

Meu nome é Paulina e eu sou viciada em Internet. Cheguei a essa conclusão quando decidi cortar, por uma semana, qualquer possibilidade de conexão virtual. Grande parte da minha vida está vinculada ao World Wide Web, um termo técnico que foi traduzido para a língua portuguesa como “rede mundial de computadores”, também conhecido como Web. É lá que eu trabalho, me comunico, aprendo coisas novas, me divirto, faço compras e muito mais. Durante os 7 dias em que fiquei desconectada, percebi quanto tempo eu podia dedicar aos assuntos familiares e se eu poderia ou não viver fora desse fluxo de informação.

Decidi compartilhar as minhas impressões sobre o meu experimento com o Incrível.club contando como eu passei por 5 etapas que me mostraram o inevitável: eu não sabia fazer nada sem a Internet.

O que eu costumo ver na Internet e o que eu sentia falta

1. WhatsApp — Uso sempre. Além de mensagens importantes, eu uso para conversar com meus amigos e familiares. E também para não pagar as ligações.

2. Google Maps + outros navegadores — Deixo ligados assim que eu entro no carro. Eles me ajudam a relaxar, já que eu evito trânsito e aproveito melhor o trajeto.

3. Clima — Eu planejo o meu dia de acordo com a informação que aparece no aplicativo. Preciso ter bastante tempo para passear com o meu filho antes que comece a chover.

4. Facebook + Instagram — Costumo usar no meu trabalho. Por meio deles eu encontro contatos de pessoas que me interessam, inspiração para o trabalho e acompanho as últimas tendências da moda. Além disso, descubro o que as pessoas estão vendo, com o que elas se preocupam etc.

5. Aplicações bancárias — Pagar contas, fazer compras, transferir dinheiro, faço tudo isso por meio delas.

6. Email — Uso com pouca frequência e apenas para o trabalho.

7. Google + Safari — Tenho um filho pequeno e procuro tudo no Google. É um hábito que eu tenho como mãe e que eu desenvolvi desde o nascimento do meu filho.

8. YouTube — Para ver vídeos. E para ver mais vídeos. Vocês sabem como isso acontece.

Aqui começa o experimento.

Dia 1. Negação

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A nova vida não era o que eu esperava. Como todo mundo que usa Internet de maneira ativa, depois do alarme tocar a minha mão foi correndo atrás do celular. Eu sempre faço o mesmo: passo de 10 a 15 minutos com o celular e depois vou ao banheiro. Não é porque eu tenha que ver algo urgente, é apenas um hábito. Assim que acordei, me lembrei do experimento e deixei o celular no lugar dele. Eu senti que perdi o controle da situação, e a sensação de perda me acompanhou por toda a manhã. Sentia meus pensamentos completamente fora de ordem. Como estão os meus amigos? O que está acontecendo no mundo? E se eu desse uma olhadinha no Facebook?

***

A Internet me fez muita falta no trabalho. Eu sempre tento me concentrar e a cada meia hora eu fico com vontade de pegar o celular para saber como o tempo vai estar no dia seguinte, ou para ver o que está rolando no Instagram. Eu acho que é assim que o meu processo de relaxamento funciona: de 10 a 15 minutos nas redes sociais para assuntos pessoais e depois de volta ao trabalho. Como eu trabalho em casa, tive que encontrar essas pequenas distrações em outras atividades, como colocando a roupa para lavar e limpando a casa. Isso fez com que a minha tarde ficasse muito mais produtiva.

Com um pouco de imaginação, a massa tradicional se transformou em um prato delicioso. Eu tinha muito mais tempo para cozinhar, e não via razão para reclamar. Pelo menos não disso.

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Durante a noite, senti fome de informação. Eu sempre escutava um resumo dos jogos de futebol que meu marido via no celular, apesar de não me interessar muito por esporte. Tive que recusar a isso também. Meu marido não acreditou muito no sucesso da ideia. Eu acho que sou a primeira mulher na vida dele a recusar completamente os meios de comunicação. Para acalmar os nervos durante a noite, tomei um banho demorado e depois li um livro. Nem vi o tempo passar a dormi muito bem.

Dia 2. Ira

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Não sei se algum dia a vontade de procurar o meu celular pela manhã vai desaparecer. São 7h da manhã, eu começo a trabalhar às 10h. Nessas 3 horas eu cuido do meu filho, tomo banho, passeio com o cachorro e preparo o café da manhã. Faço tudo muito rapidamente. Durante o café da manhã, eu ficava meia hora na Internet, lendo emails e notícias e olhando o meu Facebook e o Instagram.

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Hoje, comeceu a minha jornada de trabalho mais cedo, sem perder tempo com as redes sociais. Fiz uma entrevista e anotei algumas ideias boas para futuros artigos. Geralmente, eu envio tudo aos editores por email, agora eu tenho tudo anotado em uma agenda. Há muito tempo eu não escrevia no papel. A mão fica cansada rapidamente, mas há algo de real e de vivo no contato entre a tinta e o papel. Espero que as ideias continuem atuais no momento em que eu voltar a ter acesso à Internet.

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Por enquanto, quem está mais feliz com o experimento é o meu cachorro: nossos passeios são mais longos e eu tenho até forças para ir correr com ele no parque.

“Quando vamos para casa?” — essa é a pergunta que eu leio nos seus olhos, já que antes caminhávamos 20 minutos e hoje andamos uma hora.

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Eu tento ser positiva, mas fico incomodada com as pessoas que estão completamente mergulhadas em seus dispositivos eletrônicos. Contudo, eu entendo que sinto um pouco de inveja. Tentei dirigir pela cidade sem os mapas e acabei entrando em ruas completamente paradas.

Eu não sabia como evitar o trânsito, já que eu sempre me deixo guiar pela Internet. É realmente desgastante seguir os sinais de tráfego e simplesmente deixar o acaso decidir se vou ou não cair em uma rua congestionada.

Dia 3. Negociação

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Hoje, troquei o hábito de começar o dia revisando o celular pelas "páginas da manhã". Essa é a famosa meditação desenvolvida por Julia Cameron, autora do livro O caminho do artista. Você precisa pegar 3 folhas de papel e anotar tudo o que vier na sua cabeça, qualquer pensamento, por mais aleatório que ele possa parecer. O texto não precisa ser relido ou analisado. Isso ajuda a liberar o cérebro de emoções, gerando também um maior autoconhecimento.

Gratidão, negatividade, lembranças: nunca entendi o que eu comecei a escrever. A principal regra das “páginas da manhã” é não analisar.

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Está complicado, mas estou aguentando. É sempre uma luta não olhar as mensagens no celular. Tenho muita curiosidade por saber se alguém me escreveu. Começo a negociar com a minha consciência: "Bom, ninguém vai saber, só vou dar uma olhadinha, apenas para saber se há algo urgente. Como o trabalho está parado, mande uma mensagem para os seus amigos". Mas eu percebo que apenas um momento de fraqueza é suficiente para perder todo o experimento e ficar completamente decepcionada comigo mesma.

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Antes, sempre que eu passeava com o meu filho no parque, eu via vídeos no YouTube e conversava com meus amigos pelo celular. Percebi que a falta de Internet era uma boa desculpa para me encontrar com uma amiga. Além de me acompanhar, ela deu um presente para o meu filho. Os encontros ao vivo são muito melhores. Claro que eu vesti a roupa errada. Quando saí de casa hoje cedo, vesti roupa de calor, mas começou a chover e a ventar muito. Se eu soubesse - e se eu tivesse olhado a previsão do tempo no celular - teria colocado outra roupa e teria levado um guarda-chuva. Sim, a vida fica cheia de surpresas quando você passa 3 dias sem o celular.

Dia 4. Depressão

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Quando você está sem Internet, você demora mais tempo para resolver algumas coisas. Por exemplo, tive que ir até a bilheteria para comprar ingressos para um show. Há quanto tempo eu não ia até uma bilheteria! Normalmente, eu pagaria com o cartão de crédito e não pensaria em mais nada até o dia do show. Eu nem me lembro quando foi a última vez que segurei entradas para um show em papel. Depois do deslocamento até a compra dos ingressos, achei uma conta na caixa de correio e lembrei que tinha de ir ao banco. Fiquei completamente desanimada.

Eu não tinha dinheiro em papel na carteira há muito tempo. Compro quase tudo pela Internet.

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Eu adoraria compartilhar detalhes da minha vida no Instagram. Hoje, replantei um cactus e preparei um prato de um livro de receitas, mas ninguém sabe. Mas eu confesso que passei a me comunicar mais com as pessoas ao vivo. Por meio delas eu descubro as últimas notícias. Eu tenho televisão e sempre acabo vendo algum filme antigo. Hoje, eu vi Doce Novembro, sobre uma mulher que faz o namorado desligar o celular por um mês. Coincidências da vida.

Dia 5. Aceitação

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O lema de hoje é: “Se você mudar de vida, mude completamente!” Tirei todas as roupas do armário e separei o que era desnecessário. Em algumas horas, enchi uma grande sacola. Isso não teria acontecido se eu tivesse Internet.

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Levei as roupas a um depósito de roupas usadas. Eles vendem as roupas e doam o dinheiro para pessoas que precisam. Claro que nem todas acabam sendo vendidas, alguma são doadas diretamente para pessoas necessitadas. Fiquei orgulhosa da minha ação.

Esses são os depósitos que eu comentei. Quando eles ficam cheios, as roupas são levadas para um centro de classificação.

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Já aceitei a realidade de que é possível encontrar muito que fazer fora da Internet. De repente, meu marido me falou que queria romper o nosso pacto de não ver a nova temporada de Game of Thrones; além disso, queria que fizéssemos isso juntos. Ele disse isso porque não estava pronto para esperar o final do experimento. Deixei o meu filho na casa da minha mãe e, para não me deixar seduzir, decidi ir na academia. Para não ouvir a abertura da série, fechei a porta do quarto onde meu marido estava assistindo, coloquei o tênis e saí. Ao voltar, fiquei muito orgulhosa de mim.

O dia em que eu consegui abrir espacate.

Dia 6. Renascimento

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O mais difícil é não poder procurar nada no Google. Desde que eu virei mãe, eu estou super acostumada a despejar todas as minhas dúvidas lá. Além disso, em breve eu preciso tomar uma vacina, seria bom saber mais sobre ela. Na verdade, fiquei feliz por não encontrar as muitas informações falsas sobre temas médicos na Internet. Afinal de contas, qualquer problema de saúde pode ser mortal segundo o Google.

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Esta noite, fui com meu marido a um bar para participar de um jogo de perguntas e respostas em que é proibido usar o Google. Embora tenhamos ficado na posição 17 de 40 equipes, foi muito divertido. Se eu senti falta do Google? Sim, senti, mas fiquei feliz ao ver que as outras pessoas presentes também sentiram.

Meu marido e eu durante o jogo.

Dia 7. Aproveitando o momento

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Este final de semana eu passei com a minha família ao ar livre. No último dia do experimento meu marido decidiu me apoiar e ao invés de ver um jogo de futebol no celular, ouviu no rádio. É surpreendente como esquecemos que existem outras maneiras que não os olhos para percebermos as informações.

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Pela primeira vez nessa semana, não me sinto incômoda. Depois de tudo isso, percebi que estar ao ar livre, sem Internet e aproveitando a comunicação direta é muito mais agradável. Quando isso acontece, as pausas são eliminadas, ninguém para o tempo todo para olhar o celular e passamos a perceber tudo que acontece ao nosso redor.

No caminho, paramos em uma hípica. Eu morro de medo de cavalos, mas quis tirar uma foto.

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Sinto as mudanças dentro de mim: tiro fotos e não fico pedindo para escolher a melhor, aquela que será colocada nas redes sociais. Em geral, desde que não penso mais em tirar fotos perfeitas, meu corpo, meu rosto sem maquiagem e minha vida ficaram muito mais bonitos. Faltam apenas algumas horas para eu poder ativar a virtualidade da minha vida de novo. Antes, eu esperava por esse momento com ansiedade. Agora, chego a ficar triste. Aprendi a sorrir para as pessoas que me olham nos olhos.

Minha vida depois do experimento

O grande resultado dessa vivência foi ter mais tempo para mim: fui na academia 3 vezes e não duas, li um livro, arrumei meu armário, me desfiz de roupas desnecessárias, saí da cidade, escrevi 67 páginas no meu diário e comecei a me comunicar com as pessoas. Me diverti em um jogo de perguntas e respostas, deixei a minha família super satisfeita com um menu variado e meu cachorro nunca esteve tão feliz.

As grandes mudanças que a experiência causaram na minha vida:

  1. Aprendi a me concentrar no presente.
  2. Parei de achar que devo responder a todos que me escrevem.
  3. Comecei a valorizar o meu tempo e o tempo dos demais.
  4. Comecei a escutar os meus sentimentos e a ter uma opinião própria.
  5. Os dispositivos eletrônicos facilitam a nossa vida, mas não devemos abusar.
  6. No meu caso, uma vida pessoal sem Internet é possível, mas não uma vida profissional.

A minha intenção é me desconectar do mundo virtual pelo menos uma vez por semana. Esse respiro nos enche de energia e nos permite fazer muito mais coisas.

Você acha que seria capaz de passar uma semana inteira sem Internet? Compartilhe a sua opinião nos comentários.

Comentários

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Só uso o Google e o Whatsapp.As demais redes sociais podem desaparecer que não me farão falta.

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Resposta

Uau, me inspirou a fazer esse experimento! Mas vou começar com 3 dias.

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Resposta

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