A história desta esposa e mãe mostra que a vida do casal deve ser mais do que apenas cuidar dos filhos

Histórias
há 5 anos

— E se nos divorciássemos, você se casaria de novo?
Observo atentamente a reação do meu marido. Depois de uma breve pausa, ele responde, sem alterar a expressão:
— Depois de estar casado com uma mulher tão maravilhosa, inteligente, bela e cheia de virtudes, dificilmente eu poderei ser feliz com outra pessoa.

Meu nome é Nina Arkhipova e trabalhei como humorista durante quase metade da minha vida. Nos últimos 17 anos, meu marido e eu tivemos 4 filhos, pagamos parte da hipoteca e construímos uma casa de campo no interior. Deixamos para trás 3 grandes crises no relacionamento — as famosas crises que acontecem de 5 em 5 anos. Há pratos sujos na pia, brinquedos espalhados pelo chão, sopa na panela e eu preciso fazer a unha. Meu marido sempre nota quando faço as unhas. “Nem todos os homens se preocupam tanto com sua amada”, exclama ele, de maneira dramática.

“Queime o meu corpo e jogue as cinzas no mar”. Estou com 39 de febre; meu marido passa uma toalha úmida pelo meu corpo porque o remédio ainda não começou a fazer efeito. Ele fecha a cara e afirma: “Se você morrer, não tenha dúvida: vou te enterrar em um caixão vermelho com babados. E colocarei uma estátua em cima com uma foto de quando você era loira”. Esse é o melhor incentivo para eu melhorar. Odeio babados.

Ninguém acredita no sucesso do nosso casamento. Pessoalmente, até hoje eu não acredito. Somos pessoas muito diferentes, com temperamentos distintos. Parece que não somos capazes de ficar em paz: já tentamos algumas vezes, mas acho que a separação é o melhor caminho. Um irrita muito o outro.

Hoje, vi um casal de velhinhos em um estacionamento. Eles andavam devagar, um segurando o outro. Uns jovens que iam na direção contrária olharam para eles e gritaram: “Viva a velhice!”. Em seguida, o velhinho disse para a esposa: “Anda logo!”.

As almas das outras pessoas são grandes mistérios. A família do outro representa uma enorme dúvida, algo invisível e secreto que foge da relação. Quando se decide o destino de uma família? Como é possível tomar essa decisão? Com ternura ou com crueldade? Com indiferença ou com sensibilidade? Com humildade ou com autoridade? Compaixão ou violência? Alguém sabe? Eu não. Às vezes, um simples tubo de creme dental pode ter um efeito fatal na vida de uma família.

Meu marido pode me ligar e avisar que virá pra casa com amigos de última hora. Eu vou fazer tudo correndo, vou cozinhar e arrumar a mesa rapidamente. Não porque eu seja uma esposa submissa, mas porque sei que a hospitalidade é um tema importante para ele. Assim como a liberdade para escolher o que comer, o que beber, que roupa vestir ou com que frequência ir pescar.

Para mim, a liberdade também é muito importante. Em uma grande família, os adultos têm uma quantidade enorme de restrições. Controlamos a nossa ira e a nossa irritação, censuramos algumas falas (ao invés de dizer “Me deixe em paz”, dizemos “O que você sente?”) e ajustamos nossos horários de acordo com o passatempo das crianças.

Se, nessas condições de cativeiro voluntário, nós, adultos, começarmos a nos distanciar e passarmos a controlar nossos assuntos pessoais, a vida em família se transforma em um inferno. É preciso aprender a confiar na outra pessoa. É preciso ser franco e acreditar que nossas palavras não serão usadas contra nós. E é preciso sempre ter um lugar secreto, um espaço pessoal onde temos um respiro de tudo e de todos.

Querem um exemplo? Uma vez, fiquei muito irritada. Não lembro qual foi o motivo que me fez sentir tanta raiva, mas meus sentimentos queriam sair pela garganta. Apenas o meu bom senso e o meu conhecimento do Código Penal me impediram de cometer determinados atos. Eu comecei a pesquisar sobre divórcio no Google, como uma louca.

Após algum tempo, as crianças trouxeram um violão. Com ele, meu esposo, com sua aparência jovem para a idade e com uma enorme franja, tocou a música que havia composto para meus poemas. De repente, me lembrei de como ele me ajudou quando eu briguei com a minha melhor amiga. Como me ajudou quando eu li vários comentários maldosos sobre um artigo que havia escrito (isso foi há mais de 10 anos), como me defendeu contra a minha família, como me prepara o café da manhã aos sábados e como leva as crianças para a escola enquanto eu fico dormindo. Do meu lugar secreto, ouvi uma voz me perguntando quanto tempo eu demoraria para achar outro rapaz que me beijasse tão bem quanto o meu marido.

A família não é apenas a maternidade ou a paternidade. Pessoas solteiras podem ser pais. A família não é um conjunto de estratégias de sobrevivência. Os amigos podem conviver e formar relações estáveis. A família não são os projetos e os gostos em comum.

A família é a união entre duas pessoas. É quando um planta e colhe amor no outro. As crianças são pessoas temporárias na família. Da mesma maneira que chegam, elas encontram seus caminhos e vão embora. E nós ficamos. Tristes, felizes e cheios de lembranças. Juntos, iremos fazer coisas de velhinhos, um segurando a mão do outro. E quando ele me disser: “Vai logo!”, eu vou responder: “Não me enche o saco! Sou uma mulher independente, apesar de não saber viver sem você”. E juntos daremos risada de tudo isso.

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