Especialista conta onde acertou e errou na criação dos filhos

Crianças
há 5 anos

pediatra e psicoterapeuta britânico Donald Woods Winnicott foi o criador do conceito de ’mãe suficientemente boa’, segundo ele uma mãe que faz tudo que está ao seu alcance e que reconhece que pode cometer erros. Em vez de seguir certas regras, ela escuta a si mesma e ao filho, com quem constrói uma relação inteligente. À medida qe a crianças cresce, ela o solta pouco a pouco e dá a oportunidade de que possa ser independente e responsável.

No artigo de hoje, Olga Nechaeva, uma empresária, escritora, ex vice presidente do 20th Century Fox e mãe vai aprofundar este conceito por meio de sua experiência pessoal. Olga tem um blog pessoal chamado ’A Mulher de Marte’, onde ela escreve sobre a sua vida e sobre a educação dos filhos.

O Incrível.club publica o texto de Olga Nechaeva para mostrar o que é ser uma mãe suficientemente boa. Sua experiência não significa que todas as mães devam agir da mesma maneira com seus filhos, mas funciona como um bom exemplo de como é possível olhar para a maneira como somos, para entendermos melhor o que funciona e o que não funciona.

A fase que vai dos sete aos 11 anos pode ser vista pelos pais não apenas como um respiro, mas também como um tempo para refletir e tirar conclusões. Agora, meus filhos estão nesse momento maravilhoso. Não são muito pequenos, mas já são autossuficientes, com um certo nível de independência. Escrevo sobre o que eu alcancei, o que eu não alcancei e o que eu faria diferente.

1. O que eu não fiz e lamento

  • Sempre pensei no seguinte: por que obrigar uma criança a ficar sentada na mesa se ela já comeu tudo em dois minutos? Por isso, eu sempre os deixei sair. Hoje, meus filhos não têm o hábito de se comunicarem na mesa; eles acabam de comer e vão embora. Eu sinto falta desses momentos.
  • Eu preparava o que as outras crianças comiam e não o que eu comia. Como resultado, eles gostam de uma quantidade muito limitada de produtos, e tudo simples demais. Se me dessem outra oportunidade eu daria sopa com curry, ou sopa oriental, ao invés de arroz ou hambúrguer.
  • Eu não acostumei os meus filhos aos audiolivros. Mas eles são ótimos para ensinar a perceber a informação pelo ouvido. Além disso, são uma ótima ocupação.
  • Meu medo de dar comida com a televisão ligada fez com que meus filhos não quisessem ver filme nenhum e sempre exigissem comer com a televisão desligada. Mas eu gosto de comer de vez em quando vendo um filme no domingo. E adoro ir ao cinema.
  • Eu não os obriguei a ajudar com as tarefas domésticas. Eles só fazem algo se eu pedir, mas é sempre um acordo. Seria muito mais fácil se isso tivesse se transformado em um hábito, como escovar os dentes.

2. O que eu não fiz e tudo bem

  • Eu sempre deixei que eles comessem em qualquer lugar da casa. Agora, todo mundo come onde quiser, e eu também. As coisas são assim.
  • Eu não comprava sapatos com cadarço. Como resultado: eles não sabem amarrá-los. Não sei se conhecer essa habilidade é realmente importante na vida, mas algo me diz que não. E eles ainda podem aprender.
  • Eu não os levava a concertos de música clássica. Como resultado, eles não querem ir de jeito nenhum. E, obviamente, eu também não vou.
  • Não os forçava a aprender a tocar um instrumento musical. Em geral, eu nunca os obriguei a estudar nada. Como resultado, a Tessa, minha filha, primeiro aprendeu a tocar flauta, depois violino, piano e violão. No final, largou tudo. Ela adora desenhar.
  • Eu não os vestia de acordo com o ’protocolo’. A escolha era deles. Como resultado, é impossível colocar um vestido na Tessa. Meu filho, Danilo, não veste jaqueta, tênis ou calça de jeito nenhum. E isso tem alguma importância?
  • Não os obrigava a arrumar o quarto. Ou seja, o quarto da Tessa era sempre um desastre; já o quarto do Danilo estava sempre arrumado. Acho que isso é normal.

3. O que eu fiz e estou feliz

  • Nunca limitei nenhum tipo de comida e não os obriguei a acabar o prato. Eles desenvolveram um hábito de autorregulação e não se descontrolam ao ver um sorvete.
  • Nunca lutei contra os virus. Hoje, eles têm um ótimo sistema imunológico e se recuperam de qualquer problema sozinhos em poucos dias.
  • Nunca vesti roupa demais. Andar descalço, sem gorro, cachecol ou luvas é algo típico entre nós. Por isso, meus filhos nunca ficam resfriados. Nem pelo frio, nem por água gelada, nem pelo vento. Em geral, eles não ficam doentes.
  • Desde o nascimento eu nunca fiquei com eles no meu colo durante muito tempo. A partir dos quatro anos, eu os deixava sozinhos. Era apagar a luz e dormir. Nesse aspecto eles também desenvolveram um bom autocontrole.
  • Sempre mostrei que nunca devemos tocar no que é dos outros. Nunca os obriguei a compartilhar as coisas. Como resultado, eles sempre pedem antes de pegar emprestado e aceitam um ’não’ com muita calma e facilidade.
  • Tentei controlar o mínimo possível as tarefas e as obrigações da escola. Tessa, quase com 10 anos, é completamente autossuficiente nesse aspecto. Danilo pede que eu o ajude, mas ele é consciente de que quem deve fazer é ele.
  • Desde muito cedo eu comecei a dar dinheiro e ensinei a cuidar da conta e das compras. Hoje, eles economizam e compram o que querem.
  • Nunca apliquei castigos, não os privei de nada e nem os mandei ao quarto. Além disso, nunca usei frases como “se você não fizer, nada de videogame”. E ainda não tive razão para isso. Temos uma relação baseada na conversa (claro que, às vezes, subimos o tom de voz).
  • Desde muito cedo e com muita calma eu falei sobre o corpo, sexo, relações, puberdade, etc. Agora, eles não veem nada de muito impressionante nisso, porque já sabem o que precisam saber. E sabem que ainda não é tempo.
  • Eu nunca me horrorizei com os palavrões. Eu expliquei quando eles podem e quando não podem aparecer. Eles conhecem todos, mas não os usam (pelo menos ainda não).
  • Eu sempre falei muito sobre os sentimentos, deles e dos outros. Sobre as razões que levam as pessoas a se comportarem de uma ou de outra maneira. Sobre como podemos dizer ’não’ sem ofender. Por que as pessoas sentem inveja? Por que as crianças inventam fantasias? Por que nem todo mundo é igual? Meus filhos são emocionalmente fortes e sempre defendem os mais fracos antes e aceitam as imperfeições, inclusive as minhas.
  • Os ensinei a não jogar lixo no chão e a não cruzar a rua no farol vermelho. Eles não jogam nada na rua.
  • Nunca disse que os pais devem ficar juntos para sempre, nunca falei que regra é regra e nunca disse que “falei tá falado”. Sempre tentei ser correta, mas não fui muito consequente, a não ser em relação à bondade, honestidade, dignidade e lealdade. Isso só trouxe benefícios, flexibilidade e capacidade de negociação.
  • Eu os carreguei no braço, dei de comer com colher, coloquei um cobertor quando fez frio e sempre tive uma meia extra para quando fizesse frio. Eles amadureceram no tempo deles.
  • Sempre perdoei e sempre dei o primeiro passo na direção deles. Nunca os pressionei. Hoje são eles os que perdoam e dão o primeiro passo.

Dizem que quado a puberdade chegar eles serão mais negativos e vão querer ser quem eles eram antes. Como eu adoro quem eles são hoje, acho que tudo vai dar certo. Acho que eu sou uma ’mãe bastante boa’.

Que erros e que acertos como mãe ou como pai você acha que cometeu na sua vida?

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